Capítulo 54



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




- Espera! Você não pode atirar nele! - Steven que até então estava jogado no chão, conseguiu forças para gritar e impedir a tragédia.
- Me dê apenas um motivo. – Mark olhou friamente para o homem que ele não conhecia.
- Tem uma parte da história que ele não contou. – Steven olhou para o meu pai, que não se manifestou de forma alguma. Ele sabia do que Steven estava falando.
- Mais revelações? Incrível. – suspirou, sem saber como aquilo poderia piorar.
- Eu também tive a minha vingança. – Steven parecia muito nervoso ao falar sobre aquilo. – Quando eu descobri sobre a traição, eu fiquei maluco. Eu... – Ele não sabia como continuar. – Eu precisava me vingar. Eu precisava fazer alguma coisa. – Steven começou a enrolar. Nunca esteve em seus planos contar aquilo daquela forma.
- Diz logo o que você está querendo dizer, pai. – começou a ficar preocupado com a forma que o pai estava agindo. Mark também se surpreendeu ao ver o chamando de pai aquele homem, que até então ele não conhecia. Aliás, Mark nem sabia por que estavam lhe contando tudo aquilo.
- Depois da traição, eu acabei tentando curar as minhas feridas com uma outra garota e ao mesmo tempo, eu queria punir o cara que havia me traído da pior forma possível. – Steven engoliu seco. – Eu sabia que a irmã dele sempre foi apaixonada por mim e eu também sabia o quanto ele era protetor e ciumento com a irmã – Ele referiu-se ao meu pai.
- Tia Janice. – Eu pensei em voz alta e Mark me olhou, surpreso.
- Você também ficou com a Janice? – arqueou uma das sobrancelhas e negou com a cabeça. Quantas mulheres o seu pai já havia namorado?
- Eu não só fiquei com ela. Foi mais do que isso. – Steven olhou pro Mark.
- Eu não sei por que você está dizendo isso, mas eu ainda estou esperando um bom motivo pra não atirar nesse idiota. – Mark voltou a olhar fixamente para o .

- Você não pode matá-lo, Mark. – Steven falou o nome de Mark como se já o conhecesse. – Ele é o seu irmão. – Ao ouvir as palavras ditas por Steven, Mark virou o seu rosto para olhá-lo. O coração disparou e o seu corpo estremeceu. A arma ainda apontada para a testa de foi abaixada, porque Mark não tinha forças para manter a mão levantada. Ele olhou para o meu pai, que confirmava a informação com os olhos. Os olhos de cheios de ódio deixavam de encarar Steven e foram redirecionados para o Mark. Mark também olhou para o , engoliu seco. De longe, eu vi os dois se encararem. Olhos raivosos de um lado e olhos tristes de outro lado. Eu vou levar algum tempo para digerir essa informação: Mark e são irmãos!





Capítulo 54 – Camuflagem



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:



O silêncio no porão se manteve por um longo tempo. Todos pareciam tentar absorver o que havia acabado de ser revelado. Até mesmo Steven e o meu pai, que sempre souberam de tudo, estavam visivelmente tensos. Eu olhava para o e pro Mark e não conseguia aceitar que duas pessoas tão diferentes poderiam ter o mesmo sangue. Eu não conseguia acreditar que o Mark tinha um vínculo familiar com a minha querida tia Janice. Eu estava completamente em choque, mas os dois interessados não. Eles pareciam repudiar a ideia só com os olhares que lançavam um para o outro. Olhares que, apesar de relutarem a mesma verdade, reagiam de forma diferente. Naquele momento, a notícia de que tinha um irmão significava para o uma mentira suja de seu pai, enquanto que para Mark, significava uma resposta de tudo o que ele sempre quis saber.

- Que brincadeira é essa? – Mark deixou de olhar para olhar para o homem jogado no chão, que tinha acabado de dizer todas aquelas palavras que não faziam sentido algum.
- Essa é a verdade que você tanto queria descobrir. – Steven disse antes de cuspir um pouco de sangue e passar uma das mãos pela sua boca. A resposta do pai fez olhá-lo.
- Não. – negou com a cabeça, sem saber como se expressar. – Isso não é verdade. – Não seria fácil para o aceitar. – Diz que você está mentindo. – Ele pediu andando em direção ao pai.
- Filho... – Steven balançou a cabeça negativamente como se não soubesse como se explicar.
- Diz que você está mentindo, pai! – voltou a pedir, enquanto todos em sua volta apenas observavam a cena em silêncio. – DROGA! DIZ QUE VOCÊ ESTÁ MENTINDO! – Ele gritou, quando viu que o seu pai não se pronunciaria. Em meio aos gritos de , Mark olhou para o meu pai, que era uma das pessoas de mais confiança dali e o único que poderia confirmar aquele absurdo.
- Ela sempre foi apaixonada por ele. – A voz do meu pai se sobressaiu em meio ao clima tenso, enquanto ele olhava pro Mark. Ele sentiu a obrigação de dar explicações. – Steven cresceu comigo e ela sempre estava correndo e brincando no meio de nós. – Meu pai mostrou-se um pouco mais emotivo ao falar sobre a irmã. – Quando ele descobriu sobre a minha traição, ele quis me punir. Ele quis se vingar. – Ele percebeu que também tinha a atenção do . – Eu era um irmão protetor e ele sabia exatamente como me atingir. A Janice não sabia de nada. Ela era completamente inocente na época e foi enganada por ele. – Meu pai disse e viu negar com a cabeça e olhar para o pai com desaprovação. Meus olhos acumulavam lágrimas, que souberam reconhecer o sofrimento da minha tia. – Ele acabou engravidando ela. Ela tinha apenas... 17 anos. – Meu pai completou. Steven viu a indignação nos olhos de ambos os filhos.
- Porque eu nunca soube disso? – perguntou ao pai, que simplesmente não tinha coragem e nem cara de pau para responder. Olhei para o Mark por poucos segundos e ele parecia estar em outro lugar. Os olhos fundos e distantes, que tinha poucos vestígios de lágrimas. Eu não fazia a menor ideia de como ele estava se sentindo.
- Quando eu fiquei sabendo de tudo, eu perdi a minha cabeça e fui tirar satisfações com ele. Eu estava cego de ódio. Eu disse coisas horríveis e prometi vingança. – Meu pai achou que ainda tinha explicações para dar.
- É por isso que o Steven acha que você tentou matá-lo. – Eu deduzi em voz alta. Steven me olhou e meu pai confirmou com a cabeça.
- Ele acha que aquele acidente foi a minha tentativa de cumprir a minha promessa de vingança, mas não foi. – Meu pai disse olhando para o , que afirmou com a cabeça como se tivesse entendido tudo dessa vez. – No dia daquele acidente, eu só soube quem estava no outro carro depois. Foi mesmo um acidente. – Ele completou. deixou de olhar para o meu pai e encarou Steven com os olhos cheios de lágrimas, mas também cheio de ódio.
- Mais uma mentira. – suspirou, tentando se acalmar. – Você apontou o dedo para todos nessa sala e o único que estava me fazendo de idiota todo esse tempo era você! – Steven não tinha explicações para dar, porque tudo aquilo simplesmente não tinha explicação.

A decepção no olhar de um dos filhos fez com que ele procurasse ao menos algo bom no olhar do outro. Mark ainda apontava a arma para o , quando sentiu o olhar do pai sobre ele. Acabou olhando para Steven com uma frieza que ele não sabe de onde veio. Ele engoliu o nó na garganta e respirou fundo antes de abaixar a arma, travá-la e colocá-la novamente entre a calça e a parte detrás de sua cintura. Steven esperava ouvir palavras de ódio e até mesmo algumas verdades, mas ele não chegou nem perto. Para falar a verdade, a atitude de Mark o ofendeu de uma forma que nenhum insulto no mundo ofenderia. Mark veio até mim e se agachou em minha frente.

- Você está bem? – Mark me olhou com extrema preocupação, enquanto suas mãos começavam a soltar as cordas que amarravam os meus pés.
- Eu... – Eu estava muito nervosa e mal conseguia terminar a frase. Minhas mãos tremiam e os meus olhos revezavam entre o meu pai e o Mark.
- Eu vou tirar vocês daqui, está bem? – Mesmo depois de descobrir tudo aquilo sobre a sua vida, Mark ainda arrumou forças para me olhar com carinho e me passar segurança. Steven olhava a cena com desgosto e não conseguia enxergar nada além do ódio de seu pai e da confusão dentro de si.
- Nós precisamos tirar o meu pai daqui. – Esse foi o meu único pedido.
- Nós vamos fazer isso, certo? Você confia em mim? – Mark me perguntou, enquanto soltava as cordas que amarravam fortemente os meus pulsos. Eu o olhei e afirmei com a cabeça, enquanto agradecia mentalmente por ele estar ali.

Mark terminou de desamarrar a última corda que amarrava o meu pulso direito e depois que ele o fez, a minha primeira e única reação foi olhar para o meu pai. Eu levantei da cadeira tão rápido, que nem parecia que minhas pernas doíam por causa das cordas que antes a amarravam. Mark deu passagem para que eu passasse por ele e fosse direto a minha maior prioridade ali.

- Pai! – Eu gritei ao correr em direção ao meu pai. Mesmo com tantas revelações, meu pai era a minha maior preocupação. Ele tinha brigado com o Steven e, por isso, estava um pouco machucado.
- Eu estou bem. – Meu pai tentou me acalmar.
- Eu... preciso te tirar daqui. – Eu olhei para o corte em sua sobrancelha. – Vem. Levanta. – Eu tive um pouco de dificuldade ao ajudar o meu pai a se levantar.
- Eu te ajudo. – Mark não pensou duas vezes em ajudar. Agachou-se ao lado do meu pai, passou o braço dele em torno de seu pescoço e o levantou com cuidado. Eu segurei o meu pai do outro lado. Íamos soltá-lo, quando percebi que o meu pai deu uma leve cambaleada.
- Espera, pai. Nós vamos te segurar, está bem? – Eu o tranquilizei. Mark continuava segurando ele do outro lado e fomos caminhando juntos lentamente em direção a saída.

Steven não teve coragem de dizer absolutamente nada, o que foi ótimo pra ele porque eu realmente não sei o que eu faria se ouvisse novamente a voz dele. Eu nem ao menos me atrevi a olhar pra ele. Eu também não olhei pro , mas não foi por precaução, mas sim por decepção e raiva. Eu não sei qual dos dois sentimentos estão no comando do meu corpo, da minha mente e do meu coração agora, mas eu sabia que era algo muito forte e doloroso.

nos observou sair e não conseguiu dizer nada. Ele se sentia tão mal e tão arrependido com o que tinha feito nos últimos minutos, que tinha certeza que eu jamais conseguiria perdoá-lo. No momento, a tristeza de me ver ir embora sem nem sequer olhá-lo era maior do que a raiva que ele sentia de seu pai. já fez muitas besteiras e muitas coisas que me decepcionaram, mas ele sabia e sentia que essa foi a pior besteira de todas.

Mark estava completamente perdido. O seu corpo ainda correspondia aos seus comandos, mas a sua cabeça estava uma bagunça. Tudo o que ele mais precisava era ir embora daquele lugar e não pensar no ou no Steven. Ele precisava parar e pensar sem tê-los por perto. Me ajudar a tirar o meu pai dali foi a melhor maneira que encontrou de fugir dos seus problemas, que era de longe os piores problemas de qualquer outra pessoa que estava ali.

Seguimos aquele enorme corredor. Eu jamais conseguiria ajudar o meu pai a passar por aquela pequena abertura se o Mark não estivesse ali. Aos poucos, meu pai ia recuperando os seus sentidos e dava indícios de que conseguiria andar com as próprias pernas. Eu estava completamente focada no meu pai para não ter que pensar em tudo o que tinha acabado de acontecer, para não ter que pensar no ou no pai psicopata dele.

- Eu perdi ela. – suspirou em meio ao silêncio ensurdecedor do porão. Ele olhava para o chão, enquanto um filme passava por sua cabeça. Um filme com tudo o que vivemos juntos. Um filme que mostrava a ele o quão estúpido ele havia sido por pensar, por um segundo, que tudo aquilo não era real. – Acabou. – Ele completou, sentindo seus olhos lacrimejarem.
- Você pode não acreditar, mas foi melhor assim. – Steven tentou consolar o filho de alguma forma.
- É isso o que você queria, não é? – levantou o seu rosto e revelou os seus olhos pouco marejados, mas que transmitiam um ódio fora do comum. – Foi pra isso que você voltou? – Ele perguntou novamente e Steven não teve coragem de responder. – Era melhor que não tivesse voltado. – completou antes de afastar-se de seu pai e ir em direção a saída do porão.

Eu estava carregando o meu pai até o carro, mas quem parecia estar sendo carregada era eu. Eu sentia meus ombros pesarem, enquanto a minha cabeça e o meu coração tentavam bloquear qualquer sentimento e pensamento a respeito do que tinha acontecido naquele dia, que mais parecia um pesadelo. Quando nos aproximamos do carro do Mark, meu pai perguntou o que faríamos com o carro dele, que também estava ali. Mark não deixou que ele se preocupasse com isso e logo disse que depois eles pensariam naquilo. A porta do carro chegou a ser aberta e eu estava prestes a ajudar o Mark a colocar com cuidado o meu pai lá dentro, quando ouvi passos rápidos atrás de mim. Mesmo sem me virar, senti o meu coração gelar.

- ! – A voz atrás de mim pronunciou o meu nome como ninguém. Eu engoli seco e me convenci na mesma hora a não olhá-lo.

Mesmo impaciente e ansioso para conversar e esclarecer tudo, esperou até o momento em que coloquei o meu pai no banco de trás do carro. Mark estava tão nervoso, que entrou de uma vez no carro e sentou-se no banco do motorista, depois de se certificar que o meu pai já estava confortável no banco detrás. Eu tinha que dar a volta no carro para poder entrar pela porta do passageiro. Esse era o caminho que eu tinha que fazer para poder me ver livre do . Ainda de costas e me policiando para não dizer tudo o que estava entalado na minha garganta, eu não cheguei a dar mais de dois passos, quando senti a mão dele segurar um dos meus braços.

- Espera, por favor. – Quando senti o toque dele, eu paralisei e em menos de 10 segundos canalizei toda a minha raiva. Eu finalmente virei de frente pra ele e a minha primeira reação foi levar uma das minhas mãos até o seu rosto e estapeá-lo com força.



não esperava o tapa, pois mesmo com tantas brigas que tivemos, isso nunca tinha acontecido. O tapa foi a minha resposta involuntária e imediata diante de tudo o que ele tinha feito. Foi quase como um impulso, uma explosão que eu precisava ter. Ele virou o seu rosto e fechou os olhos por poucos segundos. Os olhos não foram fechados porque o tapa foi dolorido e sim, porque ele não queria aceitar o que aquele simples tapa significava. Eu poderia ter ido embora, mas eu fiquei parada bem ali na frente dele esperando ele voltar a me olhar. Aquele tapa não disse tudo o que eu queria.

- Essa garota que o seu pai acha que eu sou.... – Eu fiz uma breve pausa para poder complementar a frase. Ele levantou o seu rosto e revelou seus olhos sérios, mas também uma expressão extremamente triste. – Essa garota fria, calculista e egocêntrica que você acha que eu sou, vai ser exatamente quem eu vou me tornar se você chegar perto do meu pai de novo. – A frieza com que eu consegui dizer aquela frase parecia que me derrubaria a qualquer momento. O ódio estava exposto nos meus olhos e em todas as outras partes do meu corpo. – Você entendeu? – Eu perguntei e ele ficou me olhando com perplexidade, enquanto o seu coração terminava de se quebrar. O jeito que ele me olhava foi suficientemente para responder a minha pergunta, por isso, eu me virei e dei poucos passos em direção ao outro lado do carro. – Oh, e não se preocupe com o . – Eu fiz questão de voltar para dizer aquilo olhando em seus olhos. – Eu não vou contar pra ele o que aconteceu. – Eu dizia e ele não se manifestava de maneira alguma. achava que não tinha o direito de argumentar qualquer coisa. Ele sabia que era digno de todo o ódio que estava recebendo, mas isso não tornava as coisas mais fáceis pra ele. – Ele te mataria e, além disso, eu não quero que ele sofra uma decepção tão grande quanto a minha. – Eu completei, olhando em seus olhos.

Quando percebi que ele não teria coragem de dizer nada, me afastei e a cada passo que eu dava em direção ao outro lado do carro, eu implorava para que Deus me desse forças para não desabar no meio do caminho. Abri a porta e entrei no carro, batendo a porta em seguida. Já sentada no banco, eu fechei os meus olhos e tentei recuperar todas as minhas forças. Apesar de ter escutado toda a breve conversa, que nem chegou a ser uma discussão, Mark manteve-se em silêncio. Ele não quis opinar ou saber se estava tudo bem. Mark sabia que eu precisava ficar em silêncio para tentar me recuperar. Mesmo querendo se pronunciar, meu pai também ficou em silêncio.

Ainda parado no mesmo lugar de antes, observava o carro se afastar com o olhar perdido. Era como se alguém estivesse levando embora um pedaço dele. Um pedaço da sua felicidade que parecia cada vez mais distante. Enquanto o coração dava a ele todas as esperanças, a razão anulava todas elas. A ficha ainda não tinha caído totalmente, ele ainda estava tentando administrar aquele turbilhão de sentimentos ruins.

No caminho até o hospital, Mark continuava pensando sobre tudo aquilo que tinha descoberto. Nada fazia sentido pra ele. Como a Janice poderia ser a sua mãe? Porque ela nunca contou nada a ele? E porque o seu tinha que ser logo o pai do ? Que tipo de piada de mau gosto é essa? Mark sempre quis saber quem eram os seus pais e sempre teve dezenas de perguntas para serem respondidas, mas agora ele nem sabia se queria saber todas as respostas. Ele não sabia se queria correr pra longe de todas aquelas verdades que estragaram a sua chance de encontrar os melhores pais do mundo. O silêncio dele demonstrava o seu constante esforço para aceitar tudo aquilo.

- , não precisa me levar para o hospital. Eu estou bem. – Meu pai quebrou o silêncio dentro do carro e acabou tirando eu e o Mark de um transe constante.
- É claro que precisa, pai. Você pode ter quebrado alguma coisa e eu quero que você faça alguns exames pra ter certeza. – Eu respondi, virando o meu corpo para trás.
- Eu preciso avisar a sua mãe e... o . Eles devem estar preocupados. – Meu pai moveu as mãos, procurando o celular em seu bolso.
- Eu ligo assim que chegarmos no hospital, está bem? Não se preocupa. – Eu não queria que ele se preocupasse com ninguém além dele naquele momento.

Não demoramos para chegar no hospital. É claro que fiz questão de levá-lo até o hospital em que eu trabalhava, pois já sabia que lá eu teria algumas regalias e vantagens que em outros hospitais eu não teria. Mark estacionou o carro em uma das vagas de emergência e juntos nós ajudamos o meu pai a sair do carro. Ele não estava com tanta dificuldade para andar como antes, mas o meu cuidado excessivo não largaria do pé dele tão cedo. Talvez seja porque eu estive tão perto de perdê-lo.

- Teve uma... briga e eu receio que ele tenha quebrado alguma coisa. – Eu obviamente não podia dar tantos detalhes para o médico, que era um dos médicos que eu mais tinha contato no hospital.
- Está bem. Vou pedir uma bateria de exames para ver o que pode ter acontecido. – O médico fez algumas anotações em sua prancheta. Meu pai estava deitado em uma maca bem ao seu lado.
- Isso é mesmo necessário? – Meu pai me olhou, fazendo careta.
- Sim, pai. – Eu sorri de canto, achando graça de sua teimosia. – Vai ficar tudo bem. – Eu o tranquilizei.
- Ei, pegue isso. Avise o seu irmão e a sua mãe e, por favor, diga que eu estou ótimo. – Meu pai entregou o celular em minhas mãos e fez questão de enfatizar a palavra ‘ótimo’.
- Eu vou dizer. – O meu fraco sorriso aumentou. – Eu vejo você daqui a pouco, está bem? – Eu disse, quando vi que um dos enfermeiros começava a levar a sua maca para a área de exames. Meu pai afirmou com a cabeça, mas ainda parecia contrariado por ter que fazer aquilo. – Ele é tão teimoso. – Eu neguei com a cabeça, enquanto observava ele se afastar.
- Agora eu sei quem você puxou. – Mark comentou, fazendo com que surgisse um fraco sorriso no canto do meu rosto. Eu olhei pra ele e o vi se esforçar para dar um fraco sorriso apenas para tentar amenizar o clima de tristeza que havia nos acompanhado durante todo o nosso caminho até o hospital. A minha resposta foi apenas um riso fraco, que também serviu como agradecimento por ele estar tentando me distrair de todas as coisas ruins que, em algum momento, eu vou ter que enfrentar.
- Eu... – Eu abaixei a minha cabeça e olhei para o celular em minhas mãos. – Eu tenho que ligar para a minha família. – Eu completei.
- O que você vai dizer a eles? – Mark perguntou, querendo saber se eu contaria toda a verdade.
- Eu vou dizer que... fui sequestrada por um homem qualquer e que... o meu pai foi me resgatar, brigou com o cara e conseguiu me tirar de lá. – Eu ergui os ombros. Não tinha como dizer nada diferente disso.
- É, eu acho que é melhor. – Mark concordou com a cabeça.
- Eu já volto. – Eu levantei o celular e o apontei em direção ao fim do corredor.

Na minha casa, todos estavam reunidos e encaravam o celular, implorando para que ele tocasse. Todos estavam muito nervosos e desesperador por notícias. tinha feito um chá para tentar ajudar a minha mãe e os amigos a se acalmarem, mas parecia não ter ajudado muito. olhava no relógio de 5 em 5 minutos e ficava contando as horas desde que meu pai tinha dado a última notícia. Era um pouco mais de 8 horas da noite, quando o esperado telefonema veio.

- É o meu pai! – saltou do sofá e agarrou o telefone. – PAI? – Ele atendeu desesperadamente o telefone.
- , sou eu. – Eu cheguei a sorrir só ao imaginar o seu alívio ao ouvir a minha voz.
- !? – arregalou os olhos e sorriu sem nem notar. – Graças a Deus você está bem! – Eu o ouvi suspirar. Todos a sua volta sorriram com ele ao ouvirem a sua frase. – Meu Deus! Eu nem acredito. – Meu irmão não conseguia parar de sorrir. – Você está bem? Onde você está? Eles machucaram você? – Ele começou a fazer muitas perguntas de uma só vez.
- Ei, calma. – Eu percebi que ele mal conseguia conter a sua empolgação. – Está tudo bem. Eu estou bem. – Eu tentei acalmá-lo.
- E o pai? Ele está com você? – só precisava dessa resposta para ficar tranquilo.
- Eu trouxe ele para o hospital. Ele teve uma briga com... o cara que me sequestrou e ele só está fazendo alguns exames para se certificar de que está tudo bem. – Eu expliquei antes que ele pensasse o pior.
- Você disse que o pai brigou com alguém? Não acredito que perdi isso! – disse, me arrancando um sorriso.
- Vou me gabar a vida toda por isso. – Eu brinquei com ele e pude imaginar o sorriso em seu rosto.
- Me deixe falar com ela! – Minha mãe aproximou-se, estendendo a mão.
- Espera. – olhou feio para a mãe. – O estava lá? – Ele perguntou, me deixando completamente sem reação.
- O que? – Como é que ele sabia? Eu tive um desespero momentâneo.
- Eu liguei pra ele e contei o que estava acontecendo. Ele disse que te ajudaria. Ele prometeu que te tiraria de lá em segurança. – explicou e isso não fez com que eu me sentisse melhor. Eu fechei os olhos por alguns segundos, tentando processar a nova informação. – ? – Meu irmão estranhou o meu silêncio.
- Sim, ele estava lá. – Eu menti e cumpri exatamente o que eu tinha dito ao . – Ele... me ajudou. – Eu completei, negando com a cabeça.
- Que bom. – sorriu e imediatamente ficou extremamente agradecido pelo amigo. – Eu vou ficar devendo essa pra ele. – Ele completou.
- É, você vai. – Eu abri os olhos e encarei o chão.
- , me deixe falar logo com ela! – Eu ouvia a voz da minha mãe do outro lado da linha.
- Fala com a mãe, antes que eu apanhe aqui. – olhou feio pra mãe, antes de passar o telefone para ela.
- Alô? Querida? – Minha mãe disse toda ansiosa para ouvir a minha voz.
- Oi, mãe. – Ouvir a voz da minha mãe foi a melhor coisa do mundo. Mesmo sem dizer nada de importante, foi o maior consolo que eu poderia receber.
- Que bom que você está bem, meu amor. Eu fiquei tão preocupada e rezei tanto. – Minha mãe começou a chorar em meio a fracos sorrisos.
- Está tudo bem agora, mãe. Vai ficar tudo bem! – Eu só conseguia pensar no quanto eu queria poder deitar no colo dela e chorar até o dia seguinte.
- Machucaram você? Ele... te machucou? – Minha mãe demonstrou saber de quem se tratava.
- Não. Eu estou no hospital, mas é por causa do meu pai. Ele se machucou um pouquinho, mas não foi nada muito grave. Ele está fazendo alguns exames agora. – Eu expliquei antes que ela entrasse em desespero.
- Que bom que o seu pai chegou a tempo. Eu fiquei tão aflita e pensei em tanta besteira. – Minha mãe não parava de chorar e se a conheço bem, não pararia tão cedo.
- Ele foi realmente um herói, mãe. – Eu queria que ela soubesse. – Ele é o melhor pai que você poderia ter me dado. Ele foi a melhor escolha da sua vida, mãe. – Eu sabia que ela entenderia a minha referência.
- Eu sei. – Minha mãe sorriu ao me ouvir falar do assunto de uma forma tão leve e carinhosa. – Eu e o seu irmão vamos arrumar as nossas coisas e vamos encontrar vocês no hospital. – Ela avisou.
- Não, mãe! – Eu a repreendi imediatamente. – É melhor não. – Eu disse em um tom mais calmo. – As coisas estão um pouco confusas aqui e ainda temos que esclarecer algumas coisas. Eu não quero que o saiba. Você sabe como ele é. – Eu comecei a explicar. – Ele é impulsivo e ... protetor. Eu sei como ele vai reagir e não acho que esse seja o momento certo, sabe? – Eu não queria que o meu irmão descobrisse tudo sobre o e sobre as revelações que envolviam a nossa família. Se eu pudesse escolher, eu preferia não ter descoberto nada daquilo. Eu queria preservá-lo.
- Eu entendo. Você tem razão. – Minha mãe concordou discretamente. Certamente, estava por perto.
- Está tudo bem aqui. Meu pai está bem e eu não vou tirar os olhos dele. Vou fazê-lo passar a noite aqui no hospital e amanhã pela manhã ele já deve sair daqui. Nós vamos conversar e ele vai resolver o que fazer. – Eu afirmei.
- Está bem. Só vai ser um pouco difícil segurar o seu irmão. – Minha mãe virou-se e olhou para o filho, que contava as novidades para os amigos. – Ele está maluco pra te ver e todos os seus amigos aqui também. – Ela disse um pouco mais alto e todos olharam pra ela.
- Eles estão ai? – Eu sorri só por mencioná-los.
- Estão. – Minha mãe disse antes de colocar o celular no viva voz. – Você está no viva voz! – Ela avisou.
- Não acredito que vocês estão se reunindo sem mim. Na minha própria casa? – Eu brinquei e ouvi todos rirem.
- Estamos aqui por você! – Ouvi a gritar.
- Estávamos aqui morrendo de preocupação. – também gritou.
- Awn! – Eu fiquei comovida com a empolgação deles ao falarem comigo.
- Se você fizer isso comigo de novo, eu juro que você vai ter que encontrar um novo melhor amigo, entendeu? – ameaçou aos risos.
- Não se preocupe, . Eu me candidato a vaga. – disse apenas para irritar o amigo e imediatamente recebeu um olhar ameaçador.
- Não se intromete, ! – fez cara feia.
- Eu vou pensar no assunto, . – Eu disse, segurando o riso.
- Vai pensar, o caralho! – se descontrolou por dois segundos e todos olharam pra ele com os olhos esbugalhados, pois a minha mãe estava bem ao seu lado. – Quer dizer... – Ele ficou imediatamente sem graça.
- Inacreditável! – rolou os olhos, enquanto ria. Eu também ria do outro lado do telefone.
- O que? – pressionou para que ele continuasse a se justificar.
- Você não tinha nem que estar aqui, . Não me irrita. – sabia que o estava fazendo toda aquela cena apenas para sacaneá-lo.
- Eu estou feliz por você está bem, ! – também quis se manifestar.
- Eu estou feliz por poder ouvir vocês e saber que estão todos juntos. – Eu tentei conter as poucas lágrimas que se acumularam em meus olhos.
- Nós estamos com saudades! – voltou a falar.
- Vocês precisam vir me visitar! Vamos marcar logo essa reunião! – Eu os convoquei.
- Eu vou pra Nova York ainda hoje. – avisou.
- Não! Não vem não. – Eu o repreendi.
- Não? Porque não? – questionou.
- Você sabe como a mãe é. Se ela ver o pai no hospital, ela vai começar a chorar e a pensar no pior. – Eu tentei encontrar uma desculpa convincente.
- É, ela vai. – rolou os olhos depois de olhar pra mãe.
- Então, é melhor vocês ficarem ai. – Eu fiquei feliz por ter encontrado um bom argumento.
- Ela fica e eu vou! – tentou arrumar um jeito.
- E você vai deixá-la ai sozinha? – Eu debati e ele suspirou.
- Eu sei, mas... eu quero te ver! Eu não vou sossegar, enquanto não ver com os meus próprios olhos que você está bem. – falou mais sério.
- , eu estou bem. Eu juro que estou! – Eu me esforcei para convencê-lo. – Eu sei que você está preocupado e eu aprecio e agradeço muito isso. Aliás, agradeço a todos vocês que estão ai. – Eu só conseguia pensar no quanto eu queria vê-los naquele momento. – Mas eu estou bem! Eu estou aqui no hospital e vou passar a noite aqui. Amanhã cedo eu vou levar o meu pai pra casa e ele decide se o melhor é vocês virem pra cá. – Eu achei melhor resolver aqueles problemas no dia seguinte.
- Nós vamos ficar aqui, então. – Minha mãe falou por ela e pelo , que apenas mostrou-se contrariado.
- É o melhor. Meu pai precisa descansar, eu preciso descansar e vocês também. – Eu fiquei aliviada por ter conseguido adiar aquele problema.
- Então, vamos deixar vocês descansarem. – Minha mãe achou melhor desligar a ligação antes que o mudasse de ideia.
- Nos falamos amanhã de manhã, ok? – Eu comecei a me despedir.
- Está bem. – parecia emburrado.
- Não fique bravo comigo, ok? Eu amo você, irmão. – Eu sorri fraco e tinha certeza que tinha conseguido arrancar um sorriso dele também.
- Eu também amo você! Se você precisar de alguma coisa, você pode me ligar. Eu estou aqui! – colocou-se a disposição.
- Eu sei que está! – Eu disse, agradecida por ter um irmão tão incrível. – Boa noite, mãe. Boa noite para os meus amigos, que mesmo morrendo de saudades de mim, não aparecem para me visitar! – Eu ironizei.
- Nós vamos te visitar em breve! – gritou e todos gritaram com ela.
- Eu amo vocês. – Eu disse e recebi todo o amor de volta. – Beijos e obrigada! – Eu me despedi de vez e desliguei o telefonema.

Eram momentos como aqueles que me faziam repensar a minha ida pra Nova York. Será mesmo que eu fiz a coisa certa? Será que se eu não tivesse vindo pra Nova York isso teria acontecido? Bem, eu sinceramente não sei. A única coisa da qual eu sabia era da proporção da minha decepção com a forma com que o lidou com tudo. Sem mencionar, é claro, o meu choque diante da atitude dele de apontar uma arma para o meu pai. Era última coisa que eu esperava dele! Depois de tudo o que vivemos, eu não merecia ter que passar por isso.

Ainda parada no final do corredor, encarei o visor do celular do meu pai, que tinha uma foto dele e da minha mãe como plano de fundo. A foto era linda, mas acabou me deixando um pouco mais triste do que eu já estava. Tudo o que o meu pai fez pra ficar com a minha mãe, o nunca faria. Ele não foi nem capaz de enfrentar o seu pai. Ele não acreditou em mim e isso doía muito. Nunca seríamos nós dois no visor de um celular.

O celular que não me deu boas notícias do futuro foi guardado no bolso da minha calça. Respirei fundo para tentar engolir aquele nó na minha garganta e me virei. De longe, eu vi o Mark na outra ponta do corredor. Ele estava encostado na parede, seus braços estavam cruzados e os olhos encaravam o piso do hospital. Mark estava tão distraído, que nem viu quando eu me aproximei. Ele só se deu conta quando eu parei em sua frente. Ele ficou todo sem jeito por eu tê-lo pego tão distraído.

- Hey. – Mark sorriu, sem jeito. – Falou com eles? – Ele perguntou ao descruzar os braços.
- Falei. Estão todos mais calmos agora. – Eu disse apenas para ter uma desculpa para continuar olhando em seu rosto.
- Que bom. – Mark voltou a sorrir fraco.
- Graças a você. – Eu também encostei um dos lados do meu corpo na parede e me mantive de frente pra ele. Ele apenas negou com a cabeça como se dissesse ‘Está tudo bem! Não precisa me agradecer.’. – Como você soube do que tinha acontecido comigo? – Eu perguntei apenas por curiosidade. Sua única reação foi arquear ambas as sobrancelhas e depois, negar com a cabeça. – O que foi? – Eu não entendi qual era o problema.
- O foi até a minha casa para te procurar. – Mark respondeu depois de voltar a abaixar a cabeça. – Eu soube através dele. – Ele completou, levantando o seu rosto. Minha reação foi bem sutil, mas foi difícil não demonstrá-la.
- E... como foi que você me encontrou? Como soube onde eu estava? – Eu engatei outra pergunta para ignorar a resposta da anterior.
- Você vai rir! – Mark rolou os olhos e um sorrateiro sorriso surgiu no canto do seu rosto.
- Então, a sua resposta é tudo o que eu mais preciso nesse momento. – Eu tentei incentivá-lo a falar. Além disso, não seria ruim rir um pouco em meio a todos esses problemas.
- Bem, eu... – Mark hesitou por um segundo e riu sutilmente de si mesmo, o que me fez ficar ainda mais curiosa. Meus olhos acompanhavam intensamente os seus olhos e os lábios. – Eu liguei pra companhia de celular e disse que... a minha filha tinha fugido de casa e que precisava que eles rastreassem o celular dela. Eu... passei o número do seu celular e depois de muito drama eles me passaram o endereço. – Ele explicou visivelmente sem graça. Ele estava certo! A minha primeira reação foi rir.
- Você está brincando! – Eu duvidei, enquanto ainda ria.
- Viu? Eu disse que você ia rir. – Mark sorriu sem nem perceber ao me ver rir. Em segundos, ele teve certeza que o som da minha risada e o meu sorriso era um ótimo remédio para tudo o que ele estava sentindo e para tudo o que ele estava vivendo.
- Isso é incrível! Eu nem sabia que dava pra fazer isso. – Eu levei uma das minhas mãos até o seu ombro e o movi levemente.
- A operadora pode rastrear qualquer celular, basta você ter um bom motivo para convencê-los a fazer isso. – O sorriso de Mark aumentou um pouco quando eu o toquei. – Eu tinha que te encontrar e... eu não tinha outra saída. – Ele ergueu os ombros.
- Que bom que você fez isso. – Eu diminui a minha risada para um sorriso. – Que bom que você foi atrás de mim. – Eu o olhei com mais carinho.
- Está tudo bem. – Mark negou com a cabeça, pois não precisava de qualquer agradecimento.
- Não, eu estou falando sério. Eu... – Eu hesitei falar do que tinha acontecido. – Eu não sei o que aconteceria se você não tivesse aparecido. – Eu não queria mencionar o , mas nem foi preciso.
- Não precisa pensar nisso agora, está bem? – Mark olhou em meus olhos. – Tudo o que importa é que você e o seu pai estão bem. – Ele completou.
- Isso não é tudo o que importa. – Eu disse e ele deixou de me olhar. – E você? Como você está? – Eu perguntei, esperando que ele me olhasse e assim foi feito. O sorriso no canto do rosto tentou me enganar, mas os olhos entregaram ele.
- Eu estou bem. – Mark afirmou com a cabeça. – Obrigado por se importar. – Ele deixou novamente de me olhar, pois tinha medo que seus olhos revelassem mais do que já haviam revelado.
- Mark... – Eu tinha toda a certeza do mundo que ele estava mentindo.
- Para de se preocupar comigo. – Mark me interrompeu ao voltar a me olhar. – Isso é sobre você. Você é tudo o que importa agora. – Ele não queria falar sobre ele e continuaria fugindo do assunto o quanto pudesse. Eu tinha que respeitar a vontade dele de não falar sobre o assunto, mas eu também queria ajudá-lo. – Você parece cansada. – Mark colocou as mãos nos bolsos da sua calça jeans e meus olhos acompanharam a sua ação, que eu já vi o repetir dezenas de vezes. Isso parece tão estranho agora. – O que foi? – Ele notou a minha estranha reação.
- Nada. – Eu neguei com a cabeça em meio a um fraco sorriso. – Eu acho... que eu preciso de um banho e talvez... dormir até semana que vem. – Eu rolei os olhos.
- Eu acho que você pode ir pra casa tomar um banho. – Mark disse, olhando para trás e confirmando que o meu pai ainda não tinha saído da sala de exames. Ele iria para o quarto depois.
- Não, eu não quero deixá-lo sozinho, sabe? – Depois do que aconteceu, acho que vou ficar um pouco paranoica em relação ao meu pai.
- Então, vamos fazer assim: você vai até a sua casa pra tomar um banho e eu fico aqui de olho nele. – Mark arrumou uma solução.
- Eu não vou te fazer ficar aqui. – Eu recusei na mesma hora. Não parecia justo.
- Eu vou ficar aqui de qualquer jeito... com você! – Mark ergueu os ombros. – A não ser que você queira que eu... – Ele ia completar, mas eu não deixei.
- Não. – Eu fui enfática. – Eu quero que você fique onde você quiser ficar e se for aqui comigo... eu vou ficar feliz e bem mais... – Eu engoli seco. – Tranquila. – Eu completei em meio a um sorriso desastroso.
- Eu estou onde eu quero estar. Não se preocupe. – Mark negou com a cabeça, quando percebeu que eu estava sem jeito.
- Certeza? – Eu fiz careta e ele riu sem emitir som.
- Certeza! – Mark afirmou. – Você pode ir pra sua casa e eu vou ficar aqui te esperando. Prometo que o seu pai estará seguro aqui comigo. – Ele me passou a tranquilidade de sempre.
- Está bem. – Eu acabei cedendo. Eu realmente precisava trocar de roupa e tirar aquela coisa ruim que parecia estar impregnada no meu corpo. – Eu vou chamar um táxi. – Eu me lembrei que estava sem carro.
- Não, pode ir com o meu carro. – Mark colocou a mão em seu bolso e de lá tirou a chave do carro. – Pega. – Ele estendeu a chave e eu hesitei um pouco antes de pegar.
- Obrigada. – Eu peguei a chave do carro e o olhei, agradecida.
- Tudo bem. – Mark sorriu fraco.
- Eu prometo que não demoro. – Eu comecei a dar alguns passos para trás.
- Leve o tempo que precisar. – Mark disse, observando eu me afastar. Ele sentou-se em uma das cadeiras da sala de espera antes de que eu chegasse na porta.

No momento em que eu me afastei do Mark, meus ombros começaram a pesar. Não tinha mais ninguém para distrair e afastar a minha dor. Sem ele por perto, eu comecei a pensar involuntariamente no que tinha acontecido e no que tudo aquilo significava. Entrei no carro e encarei o volante, enquanto cogitava a possibilidade de voltar para dentro do hospital. Eu ficava repetindo para mim mesma que tudo ficaria bem, mas eu simplesmente não acreditava naquilo. Mesmo assim, eu enfrentei todos os meus sentimentos e dei a partida no carro.

Depois daquele tapa que definitivamente não doeu mais do que as duras palavras que ele me ouviu dizer a ele, a dor e a culpa se misturaram e ele já nem sabia mais separá-las. Parecia que o nosso fim era mais do que óbvio, mas ele não queria aceitar. Ele não queria aceitar que tinha feito todas aquelas coisas comigo. Ele não queria aceitar que desacreditou de algo que, até então, era a base de toda a felicidade que ele tem tido na sua vida ultimamente.

Parado na porta de sua casa, Steven observava o filho olhando desoladamente para a rua. Ele mal se movia ou dizia qualquer coisa. Ele só ficava lá parado, enquanto tentava administrar tudo o que ele estava sentindo. Steven sabia exatamente o que o filho estava sentindo. A dor que o estava sentindo era tudo o que Steven queria evitar. Sentindo-se na obrigação de consolá-lo, Steven se aproximou-se do filho.

- Eu sinto muito, . – Steven ia tocar no filho, mas achou melhor não. A voz do pai só serviu para deixar ainda pior. Antes, ele estava lidando só com a dor, mas agora ele também estava lidando com a raiva.
- Sente mesmo? – demorou algum tempo para retomar o controle emocional.
- O que? É claro! Você acha que estou feliz em ver você assim por causa daquela... – Steven evitou o insulto, depois do jeito que o filho o olhou.
- Não. – encarou o pai com cara de poucos amigos. – Não ouse falar dela. – Ele estava visivelmente se segurando para não surtar.
- Eu só estou falando isso porque sei como você se sente. – Steven tentou consertar.
- Sabe? Como? – arqueou uma das sobrancelhas. – Oh, é mesmo! Eu esqueci que você já se apaixonou. – Ele forçou um riso. – Você não sabe de nada. – negou com a cabeça. – Você não sabe como eu me sinto, porque o que você passou é completamente diferente do que eu estava vivendo até hoje pela manhã. – Ele falava do assunto com mais frieza por causa do pai. – Não tem história nenhuma se repetindo aqui, porque isso me faria ser como você e eu não sou. Eu nunca vou ser como você! Eu nunca vou me tornar essa pessoa que você se tornou, você quer saber por quê? – perguntou retoricamente. – Porque quando eu cometo um erro, eu sou homem o suficiente para assumir o meu erro. Eu não preciso procurar culpados ou ir atrás de vingança. – Ele não se importou em ser rude com o pai. – Exatamente como agora. Eu sei o que eu fiz e eu sei que foi errado. Eu poderia facilmente culpar você, porque eu sei que você planejou tudo isso. Eu sei que você me manipulou para que eu acreditasse no que você queria, mas... – negou com a cabeça. – Isso não mudaria nada. Isso não apagaria a besteira que eu fiz em acreditar em você. – Ele completou.
- Eu ainda sou o seu pai e você ainda me deve respeito, rapaz. – Steven também foi um pouco mais duro.
- Pai? Respeito? Eu não sei qual dessas duas palavras soa mais irônica saindo da sua boca. – não intimidou-se nem um pouco.
- Você... – Steven chegou a segurar um dos braços do filho, mas se soltou em meio a um empurrão.
- Você arruinou a minha vida! – disparou em direção ao pai. – Você acabou com a minha infância. Você arruinou a imagem bonita que um dia eu tive de você. Você me tirou a coisa que mais me fez feliz até hoje. – Ele não conseguiu esconder o quanto a última frase o afetou. – Que tal rever os seus conceitos de pai? – disse antes de começar a se afastar do pai, enquanto ia em direção ao seu carro.

entrou no carro e não demorou nada para dar a partida e arrancar com o carro. A pressão em sua cabeça e em seu peito começou a fazê-lo entrar em desespero. Ele dirigia, enquanto chorava sem fazer muito alarde. O choro que ele estava segurando até agora veio a tona de uma só vez. chorava com toda a razão do mundo. Motivos não lhe faltavam: seu pai não era quem ele pensava e quem ele queria que fosse, ele havia cometido um erro terrível com a garota que ele amava e estava prestes a perdê-la e ainda tinha um novo irmão que, aliás, era o cara que ele mais odiava no mundo.

estava sim perdido e não conseguia parar de chorar, mas ele sabia exatamente onde estava indo. Mesmo sabendo que eu não estava em casa, ele estava indo até lá e me esperaria o quanto precisasse. precisava conversar comigo naquele dia e precisava dizer o quanto se sentia mal pelo que tinha feito. Ele precisar se desculpar e, quem sabe, conseguir o meu perdão. não conseguiria dormir sem antes esclarecer tudo e me dizer tudo o que eu precisava ouvir. Ele estacionou o carro do outro lado da calçada e atravessou a rua. Big Rob não estava lá. Ele não costumava trabalhar de sábado. aproximou-se da minha casa e sentou-se nos degraus da varanda. não sairia dali enquanto não conversasse comigo.

Eu estava dirigindo, mas a minha cabeça estava um tanto quanto longe. Eu não conseguia aceitar tudo o que tinha acontecido. Eu não conseguia aceitar tudo o que ele tinha feito. desconfiou do meu amor e de quem eu sou. Como ele pode cogitar uma insanidade dessa? O amor que eu sentia por ele era uma parte de mim. O amor que eu sentia por ele era quem eu era. Eu o amei com todo o meu coração e dei tudo o que eu podia a ele. Como isso poderia ser uma mentira? Era como se ele não me conhecesse! Isso só fazia de tudo ainda pior. Eu dediquei parte da minha vida a uma pessoa que nem ao menos sabia quem eu era.

A raiva que eu estava sentindo pelo simplesmente desapareceu. Logo a raiva, que era a melhor camuflagem para a minha própria dor e tristeza. Eu deveria sentir raiva por ele não ter acreditado em mim. Eu deveria sentir raiva porque ele quase matou o meu pai. Eu sei que eu deveria, mas é difícil sentir raiva depois de tudo o que passamos juntos. É muito difícil sentir raiva, quando eu penso em todos os sonhos que tínhamos e que agora não vamos mais realizar juntos. É difícil sentir raiva de algo que sempre me fez tão bem.

Quando cheguei na minha casa, eu ainda parecia estar em outro lugar. Eu estava tão distraída, que nem sequer prestei a atenção no carro conhecido que estava estacionado do outro lado da rua. Eu estacionei o carro em frente a minha casa e fiquei algum tempo dentro do carro. Pensando bem, não sei se estou pronta para entrar de novo naquela casa que me trazia tantas recordações, que antes só me faziam sorrir e, hoje, certamente vão me fazer sofrer. Mesmo tendo bons motivos, eu não podia me dar ao luxo de não voltar mais para a minha própria casa. Por isso, eu apenas fechei os olhos por poucos segundos, respirei fundo e consegui coragem para sair do carro. Bati a porta e dei poucos passos até o corredor que me levaria até a porta da minha casa. Dei vários passos de cabeça baixa e só parei de andar quando levantei a minha cabeça e o vi sentado nos degraus da minha varanda. estava me olhando desde o momento em que eu cheguei e os nossos olhares se cruzaram. Eu paralisei na mesma hora. Eu não esperava vê-lo ali. Na verdade, eu não esperava vê-lo nunca mais. Eu contava com isso para me manter forte e para não sofrer ainda mais. Nós ainda trocávamos olhares e mesmo de longe, eu ainda conseguia ver os seus olhos brilharem por causa de todas as lágrimas que estavam presas lá. Mesmo depois de tudo, eu não sei como eu ainda consigo sentir essa dor dentro de mim quando eu o vejo chorando. Eu deveria estar com raiva! Eu deveria estar feliz por estar vendo ele chorando e sofrendo um pouco do que ele tinha me feito sofrer naquele dia, mas eu não estava. Os meus próprios sentimentos estavam me sufocando e tinha uma sensação tão ruim dentro de mim, que parecia que iria me consumir. A minha vontade era voltar correndo para aquele carro e dirigir para longe, mas uma parte de mim queria que eu enfrentasse aquilo de uma vez, já que uma hora ou outra eu teria que fazer isso. Enquanto eu não me decidia, nós continuávamos nos olhando. Ir embora significaria fraqueza e eu não posso demonstrar isso depois do que aconteceu. Não dá pra ser fraca agora. Por isso, respirei fundo e comecei a dar alguns passos em direção a porta. Deixei de olhá-lo para conseguir continuar andando. Quando me viu andando em sua direção, ele se levantou e ficou esperando que eu chegasse até ele. Continuei andando e quando me aproximei dele, eu o olhei.

- Vai embora, . – Eu disse ao passar do lado dele e finalmente chegar na varanda. Eu estava em frente a porta agora e ele estava atrás de mim.
- Espera. – pediu com a voz trêmula. Ele me olhava de costas e viu quando eu hesitei em abrir a porta. – Eu sei que você não quer conversar comigo. Eu sei que você também não quer mais me ver. – Eu abaixei a minha cabeça, pois a voz de choro dele me fez ficar pior do que eu já estava. – Eu entendo você e, honestamente, eu acho que você tem toda a razão, mas... – negou com a cabeça, enquanto esperava que eu virasse para olhá-lo. – Eu preciso falar e... você precisa ouvir. Você sabe que se eu não fizer isso, eu... eu vou enlouquecer. – Ele tentou engolir o choro. O nó na minha garganta dificultava a minha respiração. Eu fechei os meus olhos, enquanto eu pensava no que fazer. Nenhuma das minhas opções me deixaria feliz, mas eu também não sabia qual delas me faria sofrer mais.
- Certo. – Eu afirmei ao abrir os olhos e erguer a minha cabeça. Eu respirei fundo antes de me virar para olhá-lo. – Eu vou te ouvir. – Eu prometi a mim mesma que não choraria.
- Eu... – Quando eu o olhei, ficou ainda mais nervoso. – Eu nem sei como começar a te explicar. – Ele ergueu os ombros. Os olhos dele estavam vermelhos e um pouco inchados, mas ele não chorava.
- Você não precisa explicar. Eu estava lá. – Eu cruzei os meus braços, tentando agir friamente.
- Eu queria te dizer tanta coisa, mas... – subiu os degraus e colocou-se em minha frente. – Olhando pra você agora, eu estou me sentindo a pior pessoa do mundo. – Ele distribuiu olhares pelo meu rosto. Ele abaixou a cabeça por alguns segundos e logo depois a levantou. – Eu quero que saiba que eu sinto muito. – ficou me olhando, enquanto esperava a minha resposta.
- Pelo que exatamente? Por ter acreditado que eu seria capaz de fazer tudo aquilo contra você ou por quase ter matado o meu pai? – Eu continuava com os braços cruzados.
- Eu sei que eu deveria ter acreditado em você. Eu sei também que nada no mundo pode justificar o que eu fiz, mas... – abaixou a cabeça e encarou as mãos por poucos segundos.
- Mas o que? – Eu ainda esperava uma explicação.
- Eu amo você! Eu... amo tanto você que... – falou com mais ênfase, mas hesitou continuar. – Eu não posso pensar em nada pior do que perder você. Mesmo com todas as nossas brigas e todas as dificuldades, eu sempre soube que acabaríamos nos acertando, porque você era parte de todos os meus sonhos e eu não conseguia me imaginar vivendo a minha vida sem você. Eu sabia que ficaríamos juntos pra sempre porque o amor que sentíamos um pelo outro era a coisa mais surreal e indescritível do mundo e era também a minha segurança. A minha segurança de que, independentemente do que acontecesse, voltaríamos a ficar juntos. – Ele fez uma breve pausa. – E... de repente, o homem que sempre foi o meu herói e que sempre foi a minha referência de amor, confiança e proteção estava me dizendo que você nunca me amou. Aquilo me assustou pra caramba porque era diferente de tudo o que nós já enfrentamos. O nosso amor, que antes era a minha segurança, se transformou na causa de tudo. Eu não soube como.... – apenas negou com a cabeça, pois achou que eu já tivesse entendido o que ele queria dizer.
- Você está errado! – Eu fui contra, enquanto sentia poucas lágrimas se acumularem em meus olhos. – O nosso amor... – Eu fiz uma pausa para corrigí-lo – O meu amor ainda está lá. Ele ainda poderia ser a sua segurança. Ele deveria ser o motivo para que você não acreditasse nos absurdos que o seu pai disse. – Eu o olhei com desaprovação.
- Eu sei, mas... tudo o que ele disse tinha muita coerência. – ergueu os ombros.
- Coerência? Como pode dizer isso? – Eu fiquei um pouco indignada na hora.
- Qual é, ! Olhe pra nós! Olhe pra tudo o que vivemos! Olhe pra nossa história! Vai me dizer que tudo isso não é loucura? – também ficou um pouco alterado, mas não no sentido ruim. Ele só ficou agitado, pois queria me fazer entender. – O acidente, as suas perdas de memória, essa história do meu pai ter sido apaixonado pela sua mãe e todas as outras coisas pelas quais nenhum outro casal costuma passar. O que nós temos é tão raro que se contássemos a nossa história pra qualquer pessoa, ninguém acreditaria que o que vivemos foi realmente real e verdadeiro. – Ele completou.
- Mas você não era qualquer pessoa, ! Você viveu tudo comigo. Você sabia quais sentimentos estavam envolvidos, porque você sentiu também! – Eu retruquei na mesma hora. – O seu pai te contou aquela história, mas foi você quem a viveu! Fomos nós! – Eu não estava sendo grossa também, eu só queria fazê-lo entender. – No dia daquele acidente, você estava naquele carro comigo! Você estava lá quando o Peter disse todas aquelas coisas horríveis sobre mim naquele baile idiota da escola! Você também fez aquele trabalho de sociologia! Você ouviu todas as músicas horríveis que eu já cantei pra você! Você me ajudou a compor aquela música pro musical da escola. – Eu comecei a citar alguns fatos que o fariam entender. – Você estava lá quando eu quase desisti de vir pra Nova York pra viver o meu sonho. Eu estava disposta a fazer isso por você, mas você não deixou. – Eu parei de relembrar aquelas coisas, quando a minha vontade de chorar triplicou. – Você não podia ter acreditado no seu pai depois de tudo o que passamos. – Eu disse com a voz embargada.
- Eu sei disso. Eu sei... Se você soubesse o quanto eu sinto muito. – O meu choro reprimido também o afetou completamente. Ele abaixou a cabeça para não ter que continuar a ver meus olhos cheios de lágrimas.
- Quer saber? Nada disso tem a ver com amor. Amor... nunca foi um problema pra nós. – Eu consegui coragem para dizer, depois que engoli o meu choro. – Confiança. – Eu disse e na mesma hora ele levantou a cabeça para me olhar. – Tudo sempre foi sobre confiança pra nós. Esse sempre foi o nosso problema. Eu sinceramente achei que já tivéssemos passado dessa fase, mas não. Nunca vamos passar. – Era impossível explicar o quanto me doía dizer aquilo. – Você nunca realmente acreditou em mim e você nunca vai acreditar. – Eu disse e ele afirmou com a cabeça como se concordasse comigo. – Se você confiasse em mim nada disso teria acontecido. – Eu estava olhando em seus olhos. – Todas as vezes que eu paro pra pensar nisso, eu sempre chego a conclusão que isso também é culpa minha. – Eu ia dizendo, mas ele me interrompeu.
- Não. – foi contra na mesma hora.
- Mesmo com tudo o que passamos, eu não fui capaz de te passar confiança e eu sinto muito por isso. – Eu reconheci a minha culpa também.
- Não. Você não fez nada de errado. – tentou aproximar-se por força do hábito, mas eu me afastei. – Você foi perfeita! Você sempre foi perfeita pra mim e sempre vai ser. – Ele completou. – Eu queria que você me visse exatamente do jeito que eu estou te vendo agora. Eu queria ser o cara perfeito pra você, mas eu sei que não posso pedir isso depois do que eu fiz. – Apesar do choro, ele sorria pra mim.
- Posso te perguntar uma coisa? – Eu tinha que perguntar. Ele não respondeu, apenas ficou me olhando, enquanto esperava a pergunta. – Se o Mark não tivesse chegado, você atiraria? – A pergunta parecia boba, mas era extremamente importante pra mim.
- Eu... – ergueu os ombros, enquanto negava com a cabeça. A sua atitude soou mais como um ‘não sei’. Não era o que eu queria ouvir. Eu afirmei com a cabeça com se dissesse ‘Ok, eu entendi.’. – Meu pai estava gritando para que eu atirasse e todas aquelas revelações que, até então, me pareciam verdadeiras me fizeram ficar completamente fora de mim. – Ele tentou justificar o que não tinha justificativa.
- Todas as vezes que eu olho pra você, aquela cena vem na minha cabeça e eu... – O choro me interrompeu. – Eu não consigo acreditar que realmente fosse você lá. Eu não queria que fosse você. – As lágrimas começaram a escorrer pelo canto dos meus olhos e eu comecei a secá-las.
- , por favor... – Foi visível o seu desespero diante do meu choro e desabafo. Suas mãos tocaram os meus ombros. – Eu sei que é difícil, mas tenta ver o meu lado da história. Tenta ver que isso não é sobre você ou sobre como nós nos sentimos. Isso tem a ver com a forma que aquele acidente afeta a minha vida. Isso tem a ver com a forma que a perda do meu pai afetou a minha infância e a minha mãe. – Eu ouvi com atenção o que ele disse e eu sinceramente queria que aquelas palavras tirassem de mim toda a tristeza e dor que eu sentia.
- Exatamente! Você sabe como é! – Eu já não me importava em estar chorando. – Você sabe exatamente como é perder um pai. Você sabe como é difícil conviver todos os dias com essa dor. Como pode ter sequer pensado em me fazer passar por isso? Como pode ter quase matado o meu pai na minha frente? Você faz alguma ideia de como isso afetaria a minha vida? Você faz ideia do quanto eu me sentiria culpada? – O meu choro triplicou e o dele também. Na hora, ele deixou de tocar os meus ombros e se afastou. Virou-se de costas pra mim porque não queria que eu visse o quanto ele estava chorando.
- Eu não queria que você passasse por isso. Eu sinto muito por ter feito você se sentir assim. – Mesmo estando de costas, sua voz embargada era evidente. – Mesmo se você me perdoasse, eu jamais vou me perdoar por isso. – completou.
- Foi por isso que você veio até aqui? É disso que você precisa? O meu perdão? – Eu disse depois de respirar fundo e tentar secar todas as lágrimas espalhadas pelo meu rosto. Ele mal se moveu. – Eu te perdoou, . – Eu disse e esperei a sua manifestação. Depois de algum tempo, ele voltou a virar-se de frente pra mim.
- O que? – não acreditou no que ouviu.
- Eu sei o quanto você precisa disso e também não quero que você fique carregando essa culpa pro resto da sua vida. Eu perdoou você. – Eu repeti o que já tinha dito. Ele ficou em silêncio por algum tempo, enquanto me analisava.
- Eu achei que ouvir isso de você faria com que eu me sentisse melhor e que tiraria esse peso enorme de dentro do meu peito, mas nada mudou. – passou as mãos pelos seus olhos e enxugou as lágrimas em seu rosto. – Eu ganhei o seu perdão, mas eu perdi você, certo? – Ele tinha certeza da resposta, mas precisava me ouvir dizer. levantou a sua cabeça e revelou um olhar triste, que me destruiu.
- Eu não posso ficar com você, . – Eu neguei com a cabeça com os meus olhos ainda cheios de lágrimas. Eu não queria voltar a chorar, mas era inevitável. – Eu realmente te perdoou e prometo não guardar qualquer tipo de rancor, mas eu também não posso ignorar tudo o que aconteceu. – Eu expliquei.
- Você está com raiva de mim. – deduziu como se já soubesse qual era o problema.
- Eu não estou com raiva de você. Não é como das outras vezes. Não é mais uma das nossas brigas idiotas. – Eu neguei imediatamente. – Eu não estou com raiva e acho que pela primeira vez na vida eu posso dizer que não te odeio. – Eu disse e vi um fraco sorriso surgir no canto do rosto dele. Os olhos tristes e cheios de lágrimas continuavam me encarando. – Eu estou decepcionada. Eu estou... machucada, sabe? Eu acho que.... – Eu não conseguia terminar as minhas frases porque o meu choro estava preso na garganta. – Isso tudo é muito recente e eu realmente preciso de um tempo pra esquecer tudo o que aconteceu. – Eu fui sincera. – É isso o que eu mais quero, sabia? Eu quero esquecer. – Eu coloquei uma mecha atrás da orelha. – Esse seria um ótimo momento para uma nova perda de memória, não acha? Assim, eu não me lembraria de nada e não me sentiria tão mal por ter que te dizer essas coisas e por ver tudo o que tivemos tanto trabalho em construir acabar desse jeito. – Antes mesmo que eu me policiasse para não chorar, as lágrimas já escorriam pelos meus olhos. – Droga, eu não consigo parar de chorar. – Eu disse um pouco irritada, já secando novamente o meu rosto com as minhas mãos.
- As coisas não precisam acabar assim. – pensou ter encontrado uma brecha para me convencer. – Eu não quero que acabe. Eu ainda não estou pronto pra que isso acabe. – Ele pediu com tristeza.
- Eu não vou mentir pra você. Isso também é muito difícil pra mim, porque eu amo você, . Eu não queria te amar, porque isso tornaria tudo tão mais fácil e tão menos doloroso pra mim, mas... eu amo. – Eu desabafei.
- Eu acredito em você! Eu acredito no seu amor, mas... – me encarou sem vergonha de suas lágrimas. – Se ele for tão grande quanto o meu, você não vai conseguir ficar longe de mim. Você vai ter que ficar comigo. – Ele levou uma das suas mãos pra perto da minha e a segurou.
- Eu sei o quanto isso o que eu sinto é forte e eu sei que vai doer, mas eu estou disposta a tentar. – Eu abaixei os olhos por um momento e encarei as nossas mãos. – Eu vou esquecer você, . Não importa quanto tempo leve. – Eu completei e a sua primeira reação foi de negação. Ele balançou a cabeça negativamente e abaixou a cabeça.
- Não. – Os olhos cheios de lágrimas olharam as nossas mãos coladas.
- Isso nunca vai dar certo, . No fundo, você sabe. – Eu levei a minha outra mão até a sua cabeça e acariciei o seu cabelo. – Essa é a única parte da história que o seu pai acertou. Nós não devemos ficar juntos. – Eu ainda acariciava a sua cabeça, quando ele levantou o seu rosto para me olhar. – É melhor desse jeito. – Eu completei, olhando em seus olhos cheios de lágrimas. Fui tirando lentamente a minha mão de seu rosto e depois me desvencilhei de sua outra mão. – Eu não vou conseguir seguir em frente com você por perto, então eu imploro pra que você se afaste. – Eu pedi, dando alguns passos para trás.
- Não me peça isso. – pediu com os olhos ainda tristes.
- Se você realmente me ama como você diz, faça isso. É o que eu quero. É o que eu preciso. – O desespero dentro do meu peito não cabia em mim. – Eu preciso entrar. – Eu estava prestes a desabar, por isso, eu tinha que sair dali. Sem coragem para olhar para trás, eu entrei na minha casa e fechei a porta logo atrás de mim.

Não demorou absolutamente nada para que o meu choro angustiante e desesperador tomasse conta de mim. Eu sentia que choraria o resto da minha vida. Nunca foi tão dolorido quanto agora. Levei uma das mãos até a minha boca, sem acreditar no que tinha acontecido. Sem acreditar que tinha finalmente acabado. Não, eu não estava arrependida. Eu sabia que aquela era a decisão certa a ser tomada, mas nem sempre a decisão certa é a que menos dói. Apoiei as minhas costas na porta e aos poucos fui deslizando por ela até chegar ao chão. Juntei os meus joelhos com as minhas duas mãos e apoiei a minha cabeça neles, enquanto desabafava todo o meu choro e tentava aliviar um pouco da minha dor.



ainda encarava o outro lado da porta em silêncio. O coração dele ainda parecia se recuperar do golpe. Ele ainda esperava que eu abrisse aquela porta dizendo que tinha mudado de ideia. ficou parado lá por alguns minutos. Ele sabia que se desse um passo sequer, acabaria desabando. A minha decisão não o surpreendeu nem um pouco, mas ele ainda tinha esperanças que o amor que eu sentia por ele me fizesse passar por cima de tudo. A forma com que eu lidei com tudo também fez com que as coisas ficassem piores pra ele. Seria muito melhor se eu estivesse com raiva e tivesse expulsado ele da minha casa aos berros, mas a decepção nos meus olhos e calma e serenidade para lidar com tudo só tornou tudo mais difícil pra ele.

As últimas semanas que vivemos passavam como um filme em nossas cabeças. Até o dia anterior, eu estava certa de que ficaríamos juntos por muito tempo, pois já havíamos passado em um pouco mais de ano por todos os problemas que os casais costumam passar dentro de 15 anos de convivência. Nós já havíamos superado muita coisa e eu não conseguia pensar em mais nada que poderia nos derrubar. Foi ai que o pai dele voltou e as coisas começaram a mudar. foi ficando cada vez mais instável e quando eu finalmente achei que as coisas tinham voltado a se estabilizar, veio o dia de hoje que destruiu as nossas esperanças de ficarmos juntos, mas não destruiu o amor que eu sentia por ele. É claro que eu estou muito decepcionada e que jamais vou conseguir esquecer aquela cena em que ele apontava a arma para o meu pai. Eu jamais vou esquecer o desespero que eu senti. Eu ainda o amava, mas isso não era e nem poderia ser algum tipo de camuflagem para o que aconteceu. Não é porque eu o amo que eu devo relevar tudo o que ele faz.

Pior do que sofrer com as revelações e com o que tinha acontecido era sofrer por querer tanto que não fosse ele segurando aquela arma. Parecia que o amor e a decepção que eu sentia por ele ficavam entrando em conflito a todo o momento dentro do meu peito, esperando encontrar um vencedor. Não tinha vencedor. Ninguém venceu naquele dia horrível, nem mesmo o Steven.

Mark continuava sentado em uma das cadeiras na sala de espera. Apesar de não estar sozinho na sala, ele se sentia completamente sozinho. Seus pensamentos eram os únicos a fazerem companhia a ele. Mark ainda não conseguia assimilar tudo o que tinha descoberto. Ele sempre quis saber toda a verdade sobre a sua vida e agora que ele sabe ele não consegue aceitar. Ele não quer aceitar que sua verdadeira mãe está morta. Ele não quer acreditar que o seu pai é um psicopata vingativo. Ele não quer aceitar que tem um irmão.

- Licença. – Uma das enfermeiras abordou Mark.
- Oi. – Mark a olhou ainda meio perdido.
- Você é o rapaz que está com a , certo? – Ela fez careta, pois não tinha certeza.
- Sim, sou eu. É sobre o pai dela? Ele está bem? – Mark ficou preocupado, achando que tinha acontecido alguma coisa.
- Não. Eu só vim avisar a que o pai dela já está no quarto. Onde ela está? – A enfermeira olhou em volta.
- Ela... – Mark passou uma das mãos pela cabeça. – Ela foi até a casa dela para trocar de roupa. – Ele respondeu.
- Bem... – A enfermeira apontou com a cabeça em direção a um dos quartos. O quarto ficava bem próximo da sala de espera, aliás, dava até para vê-lo dali. – Você quer vê-lo? – Ela perguntou.
- Eu... – Mark ainda não sabia se estava pronto para ter uma conversa com o meu pai.
- Ele está sozinho. – A enfermeira completou.
- Então, eu posso ficar com ele até a... voltar. – Mark sabia que não podia fazer diferente.
- Ótimo. Ele está neste quarto. – A enfermeira apontou com um dos dedos antes de se afastar.

Mark estava com receio de entrar no quarto. É claro que algum dia ele teria aquela conversa com o meu pai, mas ele não achou que aconteceria tão cedo. Meu pai sabia os detalhes da história que ele sempre quis tanto saber. Muitas coisas continuavam sendo um ponto de interrogação pra ele, mas Mark não tinha certeza se queria saber de tudo. A dor da dúvida era bem menor do que a dor da verdade.

Bem, ele não tinha muitas opções agora. Mark teria que entrar no quarto. Quem sabe conseguiria escapar da conversa? Ele foi se aproximando lentamente do quarto e o coração dele parecia que ia sair pela boca. Empurrou a porta que estava encostada e adentrou no quarto com cuidado. Estava com esperanças de que meu pai estivesse dormindo. Ao abrir a porta por completo, Mark olhou imediatamente para a cama e, infelizmente (ou não), o meu pai estava bem acordado.

- Eu achei que fosse a . – Meu pai sorriu ao vê-lo. – Entre. – Ele pediu ao ver que Mark estava receoso.
- Ela... foi tomar um banho em casa e já volta. – Mark adentrou o quarto, como o meu pai havia pedido. Encostou novamente a porta. – O senhor está bem? – Ele perguntou aproximando-se da cama.
- Estou! Na verdade, eu nem sei o que estou fazendo aqui. – Meu pai ergueu os ombros. – A exagera às vezes. – Ele fez careta.
- É, ela não vai te deixar sair daqui hoje. – Mark sorriu e abaixou a cabeça.
- Disso eu não tenho dúvidas. – Meu pai também riu, enquanto negava com a cabeça. – Ela se preocupa demais e está sempre cuidando de todo mundo. – Ele completou.
- Ela está fazendo a coisa certa. Família é algo muito precioso pra se perder. Ela deve mesmo cuidar e proteger a todos o quanto ela puder. – Mark demonstrou uma mudança de comportamento ao falar de família. – Na verdade, eu admiro muito isso nela. – Ele completou e tentou sorrir para disfarçar.
- Você também é assim, não é? Você apareceu lá hoje e salvou o dia. – Meu pai olhou para Mark com admiração. – Você é muito bom nisso! Eu acho que ainda não te agradeci. – Ele continuava olhando para o Mark.
- Não precisa me agradecer. É o meu trabalho, certo? Eu jamais deixaria que alguém atirasse em você ou em qualquer outra pessoa. – Mark estava um pouco sem jeito.
- Não quero te agradecer por ter salvado a minha vida. Quero te agradecer por ter evitado que a sofresse com a perda de mais uma pessoa. – Meu pai disse e Mark o olhou diferente.
- Eu jamais deixaria que ela passasse por isso. – Mark sabia mais do que ninguém como era perder alguém que era essencial na vida de uma pessoa. A frase de Mark fez meu pai ficar em silêncio para pensar por alguns segundos. Ele sabia que devia explicações ao garoto, mas não sabia como fazer isso.
- Eu sei que você tem perguntas, Mark. Eu estou aqui para respondê-las. – Meu pai achou que aquela era a melhor maneira de começar o assunto.
- Eu não vou te incomodar com isso agora. – Mark negou com a cabeça. Ele também não sabia se estava pronto para ouvir todas aquelas respostas que ele tanto esperou ouvir.
- Eu já disse que estou bem. Além disso, já está mais do que na hora de você saber sobre tudo. Você tem o direito de saber. – Meu pai insistiu em contar toda a verdade.
- Eu tenho? – Mark perguntou. – Quase 22 anos se passaram e só agora eu tenho o direito de saber? Por quê? Porque agora? – Ele não quis ser grosso, mas acabou sendo inevitável.
- A Janice sempre teve medo da sua reação. Ele sempre teve medo que você a rejeitasse depois que você descobrisse tudo. – Meu pai falou com carinho da irmã.
- A rejeitasse por quê? Por ter fingido ser a minha vizinha por mais de 20 anos? Por ter me entregado pra adoção? – Mesmo usando palavras duras, Mark não conseguia expressar ódio através delas. Ele só parecia profundamente decepcionado.
- Ela era muito jovem. – Meu pai negou com a cabeça, sem olhá-lo. – Ela não sabia o que fazer. Ela só queria te proteger. – Ele completou.
- Me proteger? Me proteger de quem? Do pai do ? – Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Do seu pai, Mark. – Meu pai o corrigiu. – Eu sei que ele não é a figura de pai com a qual você sempre sonhou, mas ele é o seu pai. – Quanto mais cedo Mark aceitasse aquela realidade, mais fácil seria.
- Se ela tinha tanto medo dele, porque foi se envolver com ele? Porque ter um filho com um homem tão desprezível? – Mark continuava fazendo perguntas.
- Ele nem sempre foi assim. – Meu pai começou a explicar. – Eu e ele fomos criados juntos. Ele era o meu melhor amigo. E então, nós... crescemos. Quando ele se apaixonou, as coisas mudaram. Depois que fomos para a guerra, eu acabei levando um tiro e voltei pra casa. Acabei me envolvendo sem querer com a garota pela qual ele era apaixonado e que, hoje, é a minha esposa e mãe dos meus filhos. Ele não aceitou. Ele nunca aceitou. – Ele se sentia um pouco culpado também, mas depois de tanto tempo acabou sendo mais fácil lidar com aquilo. – Janice era apaixonada por ele desde muito nova e ele acabou encontrando no amor inocente dela uma forma de se vingar de mim. Alguns meses depois, ela descobriu que estava grávida. – Meu pai fez um breve resumo da história, pois Mark só tinha escutado uma parte dela.
- Ela não queria o bebê, certo? Por isso, o colocou para adoção. – Mark deduziu uma das partes da história que mais lhe doía.
- Não. – Meu pai negou logo em seguida. – Ela queria o bebê. Ela sempre quis você, Mark. Ela sempre quis ser parte da sua vida. – Ele queria que Mark soubesse.
- Ela fez parte da minha vida, mas não da maneira que deveria. – Mark sempre teve uma relação muito boa com a Janice, mas nunca chegou a ser uma relação de mãe e filho.
- Eu sei. – Meu pai afirmou com a cabeça. – Assim que ela descobriu sobre a gravidez, ela também descobriu as verdadeiras intenções do Steven. Todo o amor que ela sentia por ele foi transformado em ódio e medo. Ela sentia ódio porque Steven não seria nem de longe um bom exemplo de pai e de pessoa pra você. Ela não queria que você convivesse com ele. – Meu pai fez uma breve pausa. – Ela também sentia medo de você ser alvo de qualquer tipo de vingança do Steven. Minha família sempre foi o meu ponto fraco e, por isso, ela sempre foi o caminho mais fácil para me atingir. Steven sabia disso. Todos sabiam disso. – Ele completou.
- Foi por isso que ela mudou-se para Nova York. – Mark sorriu fraco e poucas lágrimas surgiram em seus olhos.
- Ela foi muito corajosa, sabia? – Meu pai também queria que Mark sentisse orgulho de sua mãe. – Ela deixou tudo pra trás e veio sozinha pra Nova York. Ela se virou muito bem sozinha e tudo o que ela conquistou foi fruto do seu esforço e dedicação. – Ele completou e viu Mark sorrir.
- E o Steven? Ele nunca veio atrás dela? Ele nunca.... – Na verdade, Mark queria saber se algum dia o seu pai havia tido interesse nele.
- Eu sinto muito em dizer isso, mas.... – Meu pai negou com a cabeça.
- Tudo bem. – Mark esforçou-se para fingir que aquela notícia não o abalou completamente. – Isso não me surpreende nem um pouco. – Ele completou.
- Já a sua mãe fez de tudo pra ficar perto de você. Eu me lembro do dia em que ela me contou que tinha encontrado um jeito de manter você seguro. Ela sofreu muito e chorou por meses. Ela me disse que tinha encontrado uma pessoa boa que cuidaria e que criaria muito bem você. Ela me disse que essa pessoa não tinha muitos recursos e, por isso, a ajuda financeira também fazia parte do acordo. Na época, a Janice não tinha muitos recursos financeiros. Foi nessa época que ela decidiu abrir a sua própria empresa. – Ele explicou. – Ela trabalhou muito duro durante muito tempo para poder manter você e a sua mãe. – Meu pai finalizou.
- O dinheiro... – Mark deduziu que o dinheiro misterioso que recebia todo o mês vinha de sua mãe.
- Ela sempre batalhou muito para que nunca te faltasse nada e para que você sempre tivesse o melhor. – Meu pai disse.
- Eu não preciso mais disso. Eu posso me virar sozinho agora. Eu sempre fiz isso muito bem. – Mark engoliu o choro.
- Você nunca esteve sozinho, Mark. – Meu pai o corrigiu. – Esse foi o segundo motivo para que a sua mãe o mantivesse tão perto dela. Ela não queria que você ficasse sozinho. – Ele explicou.
- E qual foi o primeiro motivo? – Mark estava visivelmente abalado.
- Ela não conseguia ficar longe de você. – Meu pai disse com poucas lágrimas nos olhos. Mark o olhou com os olhos marejados, sorriu e logo em seguida abaixou a cabeça. Ele não queria que meu pai percebesse as lágrimas em seus olhos, mas foi inevitável.

Era extremamente difícil para o Mark saber de todos os momentos difíceis que sua mãe teve que passar. Muitos desses momentos difíceis foram necessários para protegê-lo. Janice passou muita coisa por causa de Steven e o que o Mark mais queria naquele momento era ter estado lá para protegê-la. Ele não queria que ela tivesse passado por nada daquilo. O sofrimento de sua mãe era sim algo muito difícil de lidar, mas nada era mais difícil do que lidar com a sua morte. É impossível mensurar o quanto Mark desejava vê-la outra vez, o quanto ele desejava olhá-la e ver nela a imagem de mãe que ele sempre quis ter, o quanto ele desejava receber o seu primeiro abraço de mãe. Mark jamais a veria de novo e jamais poderia agradecê-la por tudo o que ela fez por ele. Ele jamais poderia dizer que não a odiava por tudo o que ela fez e que tinha muito orgulho da forma com que ela enfrentou tudo sozinha. Ele jamais receberia os carinhos, as broncas e os conselhos de mãe com os quais ele sonhou. Mark sofreu a maior perda de sua vida e não sabia. Ele foi até o funeral da mãe sem saber que estava perdendo alguém muito mais importante do que uma simples vizinha.

demorou algum tempo para conseguir forças para sair da varanda da minha casa e caminhar lentamente até o seu carro. Ele parecia não se conformar com o que tinha acabado de acontecer. estava completamente em choque e sem qualquer reação. Parecia até que tudo aquilo não estava acontecendo com ele. Por poucos minutos, ele não sentiu nada além de um enorme vazio. Não tinha dor, desespero ou tristeza. Só um vazio inexplicável, que parecia dar a ele uma breve trégua para o que sentiria logo mais.

A dor foi realmente muito bondosa com o . Ela poderia ter tomado conta dele de uma só vez, mas ela resolveu chegar de mansinho. Quando ela chegou em seu auge, já estava dentro de seu carro e ainda parado em frente a minha casa. Seus olhos tristes encararam o volante e depois encararam a casa, onde ele havia morado na última semana. As lágrimas escorreram lentamente pelos cantos de seus olhos. não se preocupou em secá-las, pois sabia que eram necessárias. Era a única maneira que a dor e a tristeza tinham de extravasar.

Eu não era a única responsável pelas lágrimas de . Steven também tinha uma enorme culpa no sofrimento do filho. É claro que é difícil para o perder a garota que ele ama, mas acredite: ver a pessoa que o seu pai havia se tornado era muito pior. Era como se sua vida, que há um dia estava perfeita tivesse se transformado em um terrível pesadelo. Não era nada fácil lidar com a minha decepção, nem com a sua culpa com o que havia feito e muito menos com a nova personalidade de seu pai. Também havia o fato de que o Mark era o seu irmão, mas esse assunto ele preferiu deixar para depois. Ele não conseguiria lidar com tudo isso de uma só vez.

Por mim, eu ficaria ali chorando, sentada rente a porta durante toda a noite. O meu emocional inocente tinha esperanças que as lágrimas me fariam sentir qualquer tipo de alívio. Eu queria chorar a noite toda, pois eu queria que a dor parasse. As lágrimas tinham que tirar parte da minha dor ou eu não sei por quanto tempo eu vou conseguir conviver com esse sentimento tão devastador dentro de mim. Pensar no meu pai naquele hospital me deu uma força inexplicável para me levantar. Eu tinha dito ao Mark que eu voltaria logo, portanto, eu tinha que voltar logo! Me levantei do chão, enquanto secava as lágrimas em meu rosto. Enquanto tentava não pensar em nada, subi a escada as pressas. Passei pelo meu quarto apenas para pegar uma roupa para vestir. Entrei no banheiro e fui logo tirando aquela roupa suja. A blusa estava um pouco manchada de sangue, que escorreu do meu nariz depois de um dos tapas de Steven. Entrei no chuveiro esperando que a água levasse com ela todas as coisas ruins que eu estava sentindo.

A água do chuveiro estava quente, mas ela ainda não era capaz de fazer milagres. Fiquei algum tempo com a minha cabeça embaixo da água e imaginei que não teria problema se as minhas lágrimas se misturassem com a água que saia do chuveiro. Fechei os meus olhos e levei as mãos até o meu rosto. Todas as partes do meu corpo me pediam para ceder, mas eu estava disposta a lutar contra tudo para conseguir passar por aquilo. Voltei a tomar o controle da situação e terminei rapidamente o meu banho. Depois de me enxugar, vesti a roupa que havia escolhido: legging preta, moletom e tênis. Relaxada demais? Minha vida acabou de virar de cabeça para baixo! Eu não quero saber se estou bem arrumada ou bonita. Eu quero apenas vestir algo confortável, voltar para aquele hospital e ver o meu pai. Parei em frente ao espelho ainda embaçado e passei uma das mãos nele. Os meus olhos estavam um pouco inchados e vermelhos, mas não tinha nenhum vestígio de lágrimas.

- Chega de chorar. – Eu disse em voz alta. Eu tenho tantos problemas pra resolver agora. Eu não posso perder o meu tempo sofrendo por causa do . Eu sei que eu amo ele. Eu não estou tentando fingir o contrário, mas eu acho que não vale a pena. Eu tenho muitas coisas para me preocupar agora.

É claro que as peças de roupa que o vivia esquecendo no banheiro me trouxeram um nó na garganta, mas eu fui capaz de pegá-las e juntá-las com o resto da roupa que estava em sua mala. Sim, a mala dele ainda estava na minha casa. Eu preciso dar um jeito de devolvê-la para ele, mas eu não posso e nem pretendo fazer isso hoje. Desci as escadas e encarei o meu celular que eu havia deixado sobre a mesa. Ele estava um pouco sujo e uma pequena parte da tela havia trincado na hora que Steven o jogou no chão. Eu sei que vou ter que trocá-lo, mas de novo: isso é assunto para depois. Peguei a minha carteira e a chave do carro de Mark. Sai da casa e tranquei a porta. Entrei tão rápido no carro, que não percebi que o carro do ainda estava parado do outro lado da rua.

chegou a se esconder um pouco ao me ver sair da casa. Ele me observou atentamente com os olhos tristes. Quando eu entrei no carro, ele continuou olhando. Ele me esperaria ir embora. Eu dei a partida no carro e o tirei da garagem. Minha cabeça estava tão distante, que continuei sem notar o carro de ali. Ele acompanhou o carro até perdê-lo de vista. Voltou a sentar-se corretamente no carro e olhou mais uma vez para a casa. lembrava-se de viver tanta coisa incrível naquela casa e agora ele não conseguia aceitar que havia jogado tudo no lixo. não tinha outra opção a não ser aceitar. Ele tinha que aceitar que havia acabado definitivamente.

Ficou ali alguns minutos antes de conseguir forças para dar a partida no carro e sair da frente da minha casa. não sabia pra onde ir ou pra quem pedir ajuda. Seus amigos poderiam dar uma força, mas seria trabalhoso demais ter que explicar tudo pra eles, por isso, resolveu dirigir sem rumo. Ele precisava pensar e sofrer tudo o que precisava sofrer. Os olhos estavam fixos nas ruas da cidade e a cabeça continuava repassando a imagem do momento em que eu implorava para que ele acreditasse em mim. negava com a cabeça e se perguntava como pode não acreditar em mim. As mãos apertavam o volante devido ao ódio que ele estava dele mesmo e os olhos deixavam escapar lágrimas solitárias pelos cantos.

Eu continuei dirigindo até o hospital e seguiu o caminho oposto. Eu sabia para onde estava indo e ele só soube quando finalmente chegou lá. Involuntariamente, acabando indo ao parque privado que havíamos visitado há alguns dias. Já que estava ali, ele resolveu estacionar o carro e descer. Diferentemente da outra vez, percorreu toda a calçada ao lado das grades do parque sozinho. A cabeça estava constantemente baixa e as mãos inquietas, hora estavam nos bolsos da calça, hora estavam soltas. Chegou ao portão e o balançou na esperança de que estivesse aberto. É claro que não estava. Olhou pelas frestas da grade e sentiu uma enorme necessidade de entrar lá. Porque não, certo? olhou em volta e a rua estava completamente deserta. Passavam alguns carros de tempos em tempos, mas nada que o preocupasse. Não pensou duas vezes em subir no portão e pular para dentro do parque. Observou o parque por algum tempo e depois começou a percorrer lentamente aquele corredor enorme, que percorremos juntos da outra vez.

caminhou um bom tempo, mas resolveu parar no meio do caminho. Ainda de longe, observou a estátua no meio do parque e sorriu ao se lembrar dos nossos comentários maldosos sobre ela. Aproveitou que estava próximo de um banco e se sentou. Apoiou os cotovelos nas pernas e os olhos encaravam as mãos, que brincavam com um pequeno pedaço de grama. Apesar de estar completamente entretido com o pedaço de grama em suas mãos, o pensamento estava longe. Os olhos foram se enchendo aos poucos de lágrimas, enquanto algumas memórias passavam em sua mente. também lembrava da sua infância e das brincadeiras bobas que tinha com o seu pai. Um sorriso surgiu em seu rosto quando ele se lembrou da sua reação ao ver, pela primeira vez, seu pai fazer um gol no campo de futebol perto da casa em que moravam. se lembrava do quanto se esforçava para ser exatamente como o pai. Hoje, ele nem reconhece aquele homem que o chama de filho.

Estacionei o carro no estacionamento do hospital e andei rapidamente para dentro. Eu estava ansiosa para saber notícias do meu pai. Fui direto para a sala de espera para encontrar o Mark, mas fiquei preocupada ao não encontrá-lo. Será que tinha acontecido alguma coisa? Bem, fui até a recepcionista para perguntar por ele. Como já conhecia bem a recepcionista, ela sabia sobre o caso do meu pai e soube me indicar logo de cara o quarto em que ele estava. Um pouco mais aliviada, me dirigi até o quarto e parei na porta quando percebi que ele e o Mark conversavam.

- Eu estou falando a verdade! Você não acredita? – Meu pai dizia entre risos. – Ela sempre fazia as coisas erradas e eu era quem levava toda a culpa. – Ele parecia estar falando da minha tia.
- Eu jamais imaginaria isso. – Mark sorriu. Ele estava ouvindo o meu pai contar algumas histórias da infância de sua mãe. Ele nunca achou que adoraria tanto saber tudo aquilo.
- Ela sempre foi muito mais esperta do que eu. Teve uma vez que ela queria ir a um show do cantor favorito dela e... – Meu pai começou a dizer, mas parou quando me viu parada na porta. Eu estava ali parada há algum tempo ouvindo eles rirem e conversarem. – ! Eu nem tinha te visto. – Ele sorriu e o Mark virou-se para me olhar. – Entre! – Ele fez sinal com a cabeça.
- Eu não queria atrapalhar vocês. – Eu sorri, sem jeito. Entrei no quarto e fui até eles.
- Não, tudo bem. – Mark negou com a cabeça.
- Aqui está. – Eu estendi a chave de seu carro. – Muito obrigada. – Eu agradeci.
- Imagina. – Mark pegou a chave e a guardou.
- E você, pai? Tudo bem? – Eu perguntei, atenciosa.
- Eu estou melhor do que antes. A enfermeira me disse que está tudo bem. Eu só tive que fazer um pequeno curativo aqui no braço, mas não foi nada demais. – Meu pai explicou.
- Pai, não importa o que você diga. Você não vai sair daqui hoje. – Eu arqueei uma das sobrancelhas em meio a um sorriso.
- Foi exatamente o que o Mark disse. Não é, Mark? – Meu pai riu, olhando pro Mark. – Mark? – Meu pai o chamou novamente, quando percebeu que ele não havia escutado. Mark estava com a cabeça bem longe e ele parecia um pouco estranho.
- Mark? – Eu toquei em um de seus ombros e ele me olhou como se tivesse acordado de um transe.
- Sim, eu não... – Mark olhou rapidamente para o meu pai e depois voltou a me olhar.
- Você está bem? – Eu perguntei com preocupação.
- Sim, estou. – Mark forçou um sorriso e afirmou com a cabeça. – Eu... vou deixar vocês conversarem. – Ele disse antes de se virar e sair repentinamente do quarto.
- Mas o que.... – Eu não entendi o que tinha acontecido. – Aconteceu alguma coisa? – Eu ergui os ombros. Será que eu tinha dito alguma coisa?
- Bem, ele ganhou e perdeu uma mãe no mesmo dia. – Meu pai disse com seu tom de lamentação.
- Ele... – Eu abaixei a cabeça, depois de balançá-la negativamente. – Ele não merecia isso. – Eu completei. – Você se importa em ficar um pouco sozinho? – Eu perguntei, enquanto fazia careta.
- É claro que não. – Meu pai sorriu visivelmente orgulhoso com a minha atitude.
- Eu volto daqui a pouco. – Eu me aproximei e depositei um beijo em seu rosto.
- Eu prometo que não vou fugir daqui. – Meu pai brincou, me arrancando uma risada.
- Eu sei disso! – Eu disse, enquanto me afastava da cama. – Vê se descansa. – Eu pedi antes de abandonar o quarto.

Procurei pelo Mark do lado de fora do quarto, olhei no corredor e cheguei a dar uma olhada na sala de espera também e nada! Pra onde ele tinha ido? Se eu já estava preocupada antes, agora eu estava ainda mais. Sem saber mais onde procurar, perguntei para a recepcionista se ela tinha visto pra onde tinha ido o rapaz que estava me acompanhando e ela soube me dizer que ele tinha ido em direção a saída. Depois de agradecer pela informação, eu fui direto em direção a porta de saída. Eu tinha quase certeza de que o Mark já tinha ido embora, mas, mesmo assim, eu resolvi procurá-lo. Olhei em volta e me lembrei de checar se o carro dele ainda estava no lugar em que eu havia estacionado. O carro ainda estava lá e Mark estava bem próximo a ele. Eu não pensei duas vezes em ir até lá.

- Mark. – Eu o chamei, enquanto o olhava de costas. Na mesma hora percebi o seu movimento com uma das mãos. Ele a levou até o rosto provavelmente para secar os olhos.

Mark realmente não estava bem. Toda aquela conversa que ele teve com o meu pai foi um pouco demais para assimilar de uma só vez. É claro que ele precisava saber. Algum dia ele teria que saber de tudo e a reação seria a mesma. Mark jamais ficaria bem ao falar da sua mãe. Não era fácil lidar com tudo aquilo e eu sei que ele levaria algum tempo para conseguir começar a levar tudo isso numa boa. Agora, com relação ao seu pai a sua opinião era outra. Eu diria que a opinião era oposta. Mark não conseguia ver nenhum outro culpado além de Steven. Ele não era apenas responsável pelo que aconteceu comigo, mas principalmente por todo o sofrimento que a Janice teve passar durante grande parte da sua vida. Steven tirou de Mark a oportunidade de ter a sua verdadeira mãe por perto. Além disso, Steven jamais procurou saber de Mark durante todos esses anos. Mark tinha todos os motivos do mundo para estar sentindo raiva do pai, porém a tristeza que ele sentia por causa da Janice ainda era maior e soberana.

- Desculpa ter saído daquele jeito, eu... – Mark virou-se pra mim e tentou agir naturalmente. Os olhos estavam um pouco vermelhos e os cílios estavam molhados.
- Não fala que você está bem. – Eu me adiantei e ele me olhou, surpreso. – Eu sei que você não está. – Eu completei.
- Não, eu estou bem sim. Eu só estou tendo um pouco de dificuldade de assimilar tudo isso. É muita coisa, entende? – Mark tentou se justificar.
- Você vai se sentir melhor se eu disser que eu também não estou bem? – Eu sorri de canto e ele me olhou, me analisando por algum tempo.
- Como eu posso me sentir melhor? – Mark negou com a cabeça, desaprovando o que eu havia dito.
- Eu sei que você está tentando demonstrar que está tudo bem para não me preocupar, mas eu posso ser honesta? Você é péssimo nisso. – Eu disse e vi um fraco sorriso surgir no rosto dele.
- É, eu sei que sou. – Mark desviou o olhar por poucos segundos.
- Eu nem sei se posso te julgar tanto assim. Eu já fui muito melhor nisso. – Eu fui sincera. – Mas, quer saber um segredo? É mais difícil fingir que está bem para outra pessoa que está fingindo também. Eu não sei ao certo o porquê, mas eu acho que é porque as duas pessoas se tornam semelhantes, sabe? São como regras para fingir estar bem. Elas acabam tendo o mesmo olhar distante, as mesmas desculpas pra sair e chorar e o mesmo sorriso forçado. – Eu expliquei.
- E você usou uma desculpa pra vir até aqui também? – Mark perguntou antes de abaixar a cabeça.
- Não. Eu não vim aqui pra chorar. Eu vim até aqui por você. – Eu disse e ele levantou o rosto pra me olhar. Os olhos estavam cheios de lágrimas. – Aliás, nova regra, ok? Nós cuidamos uns dos outros. – Ele abriu um lindo sorriso em meio as lágrimas presas em seus olhos.
- Certo. – Mark ainda sorria.
- Escuta, eu sei que você está passando por uma fase difícil. Eu não posso nem imaginar o quanto tudo isso deve estar doendo ou como está a sua cabeça, mas eu quero ajudar. Eu vim até aqui pra ajudar. Então, se houver alguma coisa que eu possa fazer basta me dizer. – Eu me coloquei a disposição. – Você quer subir na cobertura do maior prédio da cidade e gritar até cansar? Você quer ir até o mercado e comprar alguns sacos de arroz pra você dar uns socos até não sentir mais as mãos? Você quer comprar algumas dúzias de ovos pra jogarmos na casa do Steven? Nós podemos fazer qualquer coisa que você quiser. – Eu disse e vi novamente um fraco sorriso surgir no canto de seu rosto.
- Quer mesmo saber o que eu quero? – Mark acabou cedendo a minha insistência.
- Eu quero! – Eu afirmei na mesma hora.
- Eu só quero... um abraço. – Se ele não tivesse tantas lágrimas em seus olhos e realmente não estivesse precisando tanto daquilo, eu aposto que ele estaria completamente sem jeito agora.
- Você está brincando! Tudo isso? – Eu abri os braços fingindo estar indignada. Ele sorriu e negou com a cabeça. Eu não tive dúvidas em dar a ele o que ele tanto precisava. Como ele era um pouco mais alto, eu tive que ficar um pouco na ponta dos pés, enquanto passava meus braços em volta de seu pescoço e o puxava para mais perto. Mark passou os seus braços em torno da minha cintura e me apertou bem forte.

Mark nunca teve muitas pessoas em sua vida com as quais poderia se abrir e desabafar. Foram raras as vezes que ele tinha alguém que lhe abraçasse e passasse a ele a sensação que daria tudo certo, quando as chances disso acontecer eram pequenas. Ele encontrou em mim essa pessoa, mas as vezes ele se controlava para se fazer de forte. Dessa vez, a situação é completamente diferente de tudo o que ele já viveu e ele não sabia se conseguiria passar por tudo aquilo sozinho. Então, o fato de eu estar ali por ele era muito importante. O meu abraço o acalmou um pouco e pareceu ter colocado os sentimentos e a cabeça no lugar. Durante o nosso abraço, ele fechou os olhos e disse pra si mesmo que não estava sozinho e que conseguiria passar por aquilo. A calma que meu abraço deu a ele o ajudou a pensar em tudo e a controlar as suas emoções.



- Eu estou aqui por você. – Eu levei uma das minhas mãos até a sua nuca e acariciei parte de seu cabelo. O jeito forte com que ele me abraçava me passava a certeza de que eu estava ajudando ele e isso me deixou um pouco mais feliz.
- Eu agradeço por isso. – Mark terminou o abraço inesperadamente. – Isso significa muito pra mim. – Ele estava sério, mas esforçou-se pra sorrir. – Eu... – Ele hesitou e eu soube que havia algum problema. – Eu preciso resolver uma coisa. Você se importa em ficar sozinha aqui? – Mark parecia decidido.
- Não. É claro que não, mas... – Eu tentei adivinhar através de seu olhar. – Aonde você vai a essa hora? – Eu estranhei.
- Vou fazer uma coisa que eu sempre quis fazer. Uma coisa que está entalada na minha garganta há tempos. – Mark não deu mais detalhes.
- Você precisa que eu vá com você? Eu posso... – Eu apontei em direção a entrada do hospital, mas ele me interrompeu.
- Não. Está tudo bem, ok? – Mark tentou não me preocupar. – Eu falo com você depois. – Ele aproximou-se e depositou um beijo no meu rosto. Ele saiu andando e eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Cruzei os meus braços e o observei entrar no carro e depois dar a partida. Eu não sei o que ele vai fazer, mas eu espero que ele fique bem.

Apesar de estar extremamente triste por causa da perda de sua mãe, Mark era consolado pelo fato de ao menos ter tido uma mãe adotiva. Ele sempre soube que a mulher que o criava era sua mãe adotiva. Isso nunca foi um segredo, mas mesmo assim ele tinha uma figura de mãe em casa. Ele tinha alguém para lhe dar broncas, para forçá-lo a fazer os deveres de casa e alguém que cuidava dele quando ele estava doente. Porém, Mark jamais teve uma figura de pai. Ele nunca teve alguém para ensiná-lo a jogar futebol, para ensiná-lo a brigar de frente com os garotos da escola que adoravam implicar com ele. Mark sempre teve um ressentimento fora do normal com o seu pai. Ele sempre imaginou o dia que poderia enfrentá-lo e dizer tudo o que foi capaz de fazer e aprender sem ele. Mark nunca aceitou o fato de ter um pai que jamais o procurou, por isso, ele decidiu que chegou a hora de resolver esse problema que tanto o machucou durante todos esses anos. Mark estava indo até a casa de Steven e diria tudo o que sempre quis dizer.

Ao chegar na casa de Steven, estacionou o carro em frente a casa que estava com as luzes acesas. Desceu do carro com toda a coragem e toda a raiva do mundo. Ele precisava colocar tudo aquilo pra fora. Ele precisava dizer todas as verdades que Steven merecia ouvir. Bateu forte na porta e não demorou muito para tocar duas ou três vezes seguidas a campainha. Se Steven demorasse mais um pouco, ele seria capaz de derrubar aquela porta.

- Eu sei que você esta ai, Steven! – Mark gritou contra a porta, que foi aberta quase que na mesma hora. Steven não queria alertar os vizinhos. – Tentando se esconder? Você é mesmo muito bom nisso, não é? – Ele disparou. – Eu vou entrar. Nós vamos conversar. – Mark passou por ele sem nem ao menos ser convidado.
- Eu sabia que você acabaria vindo atrás de mim. – Steven disse depois de fechar a porta e ir atrás do Mark, que preferiu ficar ali na sala mesmo.
- Não se anime, Steven. Eu não vim aqui pra chorar no seu ombro e dizer o quanto você fez falta durante todos esses anos.- Mark não abaixava a guarda um só minuto. – Até porque você não fez falta alguma. – Ele completou.
- Você tem todo o direito de estar bravo e decepcionado. – Steven tentava acalmar os ânimos.
- Sinceramente? Eu ainda estou decidindo se você vale ao menos o meu ódio. – Mark disse friamente.
- Você pode me odiar se você quiser, mas isso não muda o fato de que eu sou o seu pai. – Steven tentava sensibilizar o filho de qualquer forma.
- Meu Deus... – Mark negou com a cabeça, incrédulo. – Você não sente vergonha em dizer isso em voz alta? Você não sente vergonha de si mesmo em olhar nos meus olhos e dizer que é o meu pai? – Havia um sorriso sarcástico no canto de seu rosto.
- Bem, parece que já fizeram a sua cabeça contra mim, certo? – Steven negou com a cabeça.
- Fizeram a minha cabeça contra você? Quantos anos acha que eu tenho? 6? – Mark manteve o sorriso no canto do rosto e os olhos seguiam fixos em Steven. – Eu não preciso de ninguém pra me dizer a pessoa desprezível que você é. – O sorriso sarcástico desapareceu.
- Como você pode pensar isso sobre mim sem me conhecer? O que você sabe sobre mim? – Steven sorriu para não demonstrar o quão nervoso estava com a situação.
- O que eu sei sobre você? Bem, por onde eu começo? – Mark cerrou os olhos. – Eu sei que você usou a minha mãe como parte da sua porcaria de vingança e que foi responsável pelo sofrimento que ela foi obrigada a passar durante toda a vida dela! – Ele falou, segurando-se para não surtar.
- Eu sei que você sente muito pelo que aconteceu com a sua mãe e para ser honesto, eu também sinto. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. – Steven tentou mostrar o seu outro lado para o filho. – Eu era muito jovem e acabei cometendo... – Ele percebeu a besteira que estava prestes a dizer.
- Um erro! Não era isso que você ia dizer? – Mark não deixou passar. – Vamos! Pode dizer, pai. – Ele ironizou a última palavra. Ele não deixou transparecer, mas aquilo realmente o destruiu.
- Você não foi um erro. Você só não estava nos planos. – Steven tentou consertar. – Na época que eu descobri que a sua mãe estava grávida, eu tinha tanta coisa em mente. Eu... – Ele já não sabia como se explicar.
- Chega dessa baboseira! Chega desse teatro! – Mark o interrompeu. Ele não queria mais ouvir as explicações do pai, que o machucava cada vez mais. – Quem é que você está querendo enganar? Você nunca se importou! – Ele aumentou o tom da voz. A frieza, que antes dava a ele vantagem, já o havia abandonado.
- Isso não é verdade. – Steven negou com a cabeça.
- Não é verdade!? – Mark aumentou ainda mais o tom de voz. Ver o seu pai negando tudo o que era tão óbvio estava irritando ele.

ficou algum tempo no parque e depois de muito pensar, decidiu ir embora. Ele estava tão cansado de pensar e o seu corpo também estava exausto. Ele já tinha decidido que iria dormir em um hotel, já que não pretendia dormir na casa do pai, porém, lembrou que a sua mala estava na minha casa e ele não quis me incomodar mais naquele dia. Com isso, decidiu ir até a casa do pai para pegar algumas peças de roupas, que havia deixado lá durante a semana. Era o bastante até que ele decidisse voltar na minha casa para buscar suas coisas.

estava um pouco mais conformado com tudo. Talvez conformado não fosse a palavra ideal para descrevê-lo, mas ele havia se acalmado um pouco mais e já tinha parado de chorar descontroladamente, porém, isso não significava que não houvesse mais dor ou tristeza. Dirigiu até a casa do pai e ao estacionar o carro, notou o carro de Mark estacionado logo a frente. O carro do irmão quase o fez desistir de ir até lá, mas ele precisava mesmo das roupas. Desceu do carro sem coragem nenhuma de ir até lá e enquanto aproximava-se da porta, ele ouvia algumas vozes alteradas. As vozes o deixaram em estado de alerta. Ele parou em frente a porta e passou a ouvir a conversa entre o pai e o irmão mais velho.

- 21 anos! 21 anos e essa é a segunda vez que eu te vejo. – Mark disse com os olhos cheios de ódio. – Foram 21 aniversários e você não apareceu em nenhum. Você nem se deu ao trabalho de enviar um maldito cartão. – Ele começou a cuspir as palavras.
- Eu... – Steven não sabia como responder. Simplesmente não existia uma resposta para aquilo.
- Me deixe adivinhar! – Mark o interrompeu novamente. – Você estava ocupado demais com o seu filho de verdade e a sua vingança estúpida, certo? – Ele ironizou.
- Vingança estúpida... – Steven disse em meio a um suspiro. – Você já parou pra pensar que se eu tivesse resolvido não me vingar, você não estaria aqui agora? Sua mãe jamais teria engravidado de você. – Steven abriu os braços e chegou a sorrir. Não levou dois segundo pro Mark partir pra cima do pai, agarrar a gola de sua camiseta e colocá-lo contra a parede.
- DESGRAÇADO! – Mark esbravejou ao pressioná-lo contra a parede. – ACHA ISSO ENGRAÇADO? – Ele perguntou furiosamente.

ainda ouvia a conversa atentamente, quando ouviu o barulho de algumas coisas caindo no chão. O insulto de Mark deixou bem claro que tratava-se de uma briga e o seu instinto falou mais alto do que tudo. adentrou a casa as pressas e viu Mark pressionando o pai contra a parede. Correu até eles e tentou reverter a situação.

- PAREM COM ISSO! – achou que o grito bastaria. – HEY! – Ele interveio sem tanta força, mas ainda não foi o bastante.
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É? – Mark gritou contra Steven, que também o enfrentava.
- EU MANDEI PARAR! – segurou o braço de Mark e o arrastou para trás. – VOCÊS PARECEM DOIS MOLEQUES DE RUA! – Ele completou, olhando feio para o pai.
- QUEM EU PENSO QUE SOU? – Steven gritou em direção ao Mark, furioso. – EU SOU O SEU PAI, GAROTO! GOSTE VOCÊ OU NÃO, EU SOU O SEU PAI! – Ele completou.
- VOCÊ NÃO É O MEU PAI! – Mark disparou contra o pai e ainda o segurava. – EU NÃO PRECISO DE VOCÊ NA MINHA VIDA. EU NUNCA PRECISEI! – Ele completou.
- JÁ CHEGA! – tentou intervir mais uma vez. A discussão não acabaria tão cedo.
- É nisso que você quer acreditar? É isso o que você diz pra si mesmo pra me odiar ainda mais? – Steven abaixou o tom da voz para tentar terminar a discussão.
- Eu sempre me virei muito bem sozinho, Steven. – Mark o encarou com um olhar de desprezo. – Eu cresci sem qualquer referência paterna e olha pra mim agora. – Ele abriu os braços. – Eu me saí muito bem, você não acha? – Mark perguntou retoricamente. – Eu fui sozinho ao meu primeiro jogo de futebol e, apesar de ser uma droga jogando, eu aprendi sozinho! – Ele fez uma breve pausa. – Na escola, os valentões e os caras mais velhos costumavam implicar comigo. Adivinha só, Steven? Eu aprendi a brigar sozinho e olha que sou muito bom nisso. Pergunte ao seu adorável filho. – Mark apontou a cabeça em direção ao , que pela primeira vez na vida não ousou respondê-lo. – Eu aprendi a me barbear sozinho! Eu aprendi a dirigir sozinho! Eu aprendi a namorar sozinho! Droga, eu até mesmo aprendi a atirar sozinho e graças a isso, eu tenho um emprego incrível! – Ele forçou um sorriso com os olhos levemente marejados. – Viu só, Steven? Você não fez a menor falta. – Mark completou. Ele se sentia muito melhor por ter colocado tudo aquilo pra fora.
- Já acabou? – Steven tentou esconder o quão abalado estava, mas é claro que ele não conseguiu esconder isso de , que o conhecia muito bem.
- Na verdade, eu não acabei! – Mark empurrou , que ainda o segurava e deu poucos passos em direção a Steven. – Eu vou ter uma vida maravilhosa, Steven! – Ele novamente forçou um sorriso. – Eu vou ter uma carreira profissional incrível, vou me casar com uma garota maravilhosa, vou ter filhos e vou ser um bom pai pra eles. Eu também não vou precisar de você pra isso, porque você não teria absolutamente nada pra me ensinar! – Mark terminou a frase um pouco exaltado.
- Eu queria que você soubesse o quão errado você está! Você engoliria tudo o que você está me dizendo! – Steven debateu visivelmente abalado. Não era nada fácil ouvir aquilo do seu filho.
- Nada no mundo vai me fazer mudar de ideia! – Mark engoliu o choro para falar com mais raiva. – Você entendeu, Steven? Eu nunca vou mudar de ideia! – Quando Mark tentou se aproximar de Steven, voltou a segurá-lo.
- CHEGA! – puxou o irmão para trás com força. – VAMOS LÁ PARA FORA! – Ele começou a guiar Mark até o lado de fora da casa.
- ME SOLTA! – Mark empurrou o irmão assim que chegou do lado de fora da casa.
- Você precisa se acalmar, está bem? Se você for embora desse jeito vai acabar se matando! – abaixou o tom da voz, mas continuava impaciente com as grosserias do irmão.
- Oh, o que é isso? Não me diga que você vai querer bancar o irmão protetor agora? – Mark continuava fora de controle e pronunciou a frase com um certo sarcasmo. – Me poupe, ok? Nos poupe! - Ele disse com deboche.
- Vai se ferrar, ok? – odiou a forma com que Mark falou. – Se você quer pegar o seu carro e sair por ai em uma missão kamikaze, vai em frente! Foda-se! – Ele esbravejou e virou de costas, pretendendo deixar o irmão ali sozinho.
- Você não entende. É só um filhinho de papai estúpido. – Mark pensou alto, enquanto observava se afastar.
- O que foi que você disse? – tinha escutado muito bem, mas queria escutá-lo dizer novamente.
- É isso mesmo que você ouviu! É tão fácil pra você ficar ai julgando as minhas atitudes, não é? Você não passou por nada disso. Você não entende! – Mark ainda usava o seu tom de sarcasmo, mas ele estava mais sério dessa vez.
- E você acha que tudo isso está sendo difícil só pra você? Você acha que é só você que está sofrendo com toda essa loucura? Que merda de egoísta você é? – esbravejou.
- Egoísta? – Mark ironizou.- Você tem e sempre teve uma mãe pra cuidar de você, não é? Você também teve um pai que, mesmo na sua memória, era o seu exemplo e o seu herói, certo? Eu nunca tive nada disso! Eu sempre fui sozinho e sempre cuidei de mim mesmo, porque se eu não fizesse isso, ninguém mais faria! – Ele disse, fazendo com que a fúria de fosse deixada de lado. – O que você chama de egoísmo, eu chamo de autodefesa. Autodefesa sim! Sabe por quê? Porque se eu não pensar em mim, quem vai? – Mark encarou e se controlava para não deixar nenhuma lágrima transparecer. – Me diga, ! Quem? – Ele conseguiu dizer com frieza.
- Então, você acha que o fato de eu ter uma mãe e um pai não me dá o direito de sofrer? – sorriu com sarcasmo. – Quer dizer que eu não posso sofrer porque a minha mãe perdeu parte da vida dela chorando por um homem que fingiu que morreu? Eu sou obrigado a fingir que está tudo bem, quando eu vejo o meu herói se transformando na merda de um vilão? Eu tenho mesmo que continuar sorrindo, quando eu acabei de perder a garota que eu amo? – Ele perguntou com impaciência. – Eu sinto muito em te informar, mas nós estamos no mesmo barco. A única diferença entre nós dois é a pena que você sente de si mesmo. – falou na cara do irmão.
- Como você poderia sentir pena de si mesmo? Você não foi a vítima de nada, mas foi um dos vilões do dia. – Mark respondeu na mesma hora as duras palavras do irmão. o olhou e forçou um sorriso, que no fundo só demonstrava o quão ele estava puto da vida.
- Se você estivesse me dizendo isso em qualquer outro dia, eu já teria quebrado todos os seus dentes. – respirou fundo, tentando manter a calma. – Hoje não. Hoje, você é o menor dos meus problemas. – Ele olhou Mark pela última vez e se afastou, indo em direção a porta da casa de Steven. Mark observou ele se afastar em silêncio. Depois de vê-lo entrar na casa, Mark foi até o seu carro e tentou se acalmar.

Mark ainda encarava o volante do carro, enquanto repassava novamente toda a conversa tida com o seu pai. Ao lembrar-se das palavras ditas por Steven, ele tentava manter a calma, mas não conseguiu por muito tempo. Ele deu dois socos seguidos no volante e a sua respiração ficou mais intensa. Parecia que ele queria gritar até que toda aquela coisa ruim saísse de dentro dele. Os olhos dele foram se enchendo de lágrimas repentinamente e ele nem ao menos conseguiu impedir que elas escorressem pelo seu rosto. Mark ligou o carro e deu a partida, enquanto passava uma das mãos pelo rosto para esconder todas aquelas lágrimas, que demonstravam a ele tanta fraqueza.

Em contrapartida, estava extremamente frio e não demonstrava sinais de choro. Ele adentrou a casa de Steven e passou direto por ele, indo até o quarto onde tinha deixado suas peças de roupas. pegou suas roupas e juntou todas elas em uma só sacola. Steven acompanhava em silêncio a atitude do filho.

- O que você está fazendo, ? – Steven finalmente perguntou.
- Estou juntando as minhas coisas. Eu vou dormir em algum hotel. – respondeu sem nem olhá-lo.
- Hotel? Não. Fique aqui. – Steven deu a opção ao filho, que parecia lhe empolgar muito.
- Você está brincando, não é? – disse em tom de ironia.
- Essa casa também é sua. Você não precisa ficar em um hotel. – Steven falou um pouco mais chateado.
- Essa não é a minha casa e eu também não quero ficar aqui. – terminou de juntar suas coisas e saiu do quarto, passando por seu pai e indo direto para a sala.
- E porque não? – Steven foi atrás de de novo. Ele estava prestes a sair pela porta de entrada da casa, mas parou ao ouvir a pergunta de seu pai. – Você pode ficar aqui e nós... – Ele começou a propor.
- O que? Nós o que? – disse ao virar-se em direção a ele. – Vamos fazer um programa de pai e filho? – Ele deduziu com um riso sarcástico no rosto. Steven não respondeu, mas o olhou com tristeza. – Não vai rolar, ok? Você perdeu todo o respeito que eu tinha por você. Eu olho pra você e nem consigo me lembrar mais do homem que cantava Beatles pra mim. Eu olho pra você e só vejo um homem que tinha tudo, mas que perdeu tudo por nada. – Ele fez uma breve pausa. – E sabe o que é pior? Falando assim, eu não sei se estou falando de você ou de mim. – negou com a cabeça.
- Você não perdeu tudo. Você ainda tem a mim. – Steven tentou dar um jeito na situação.
- Eu perdi o meu pai há mais de 7 anos. Você e ele não são a mesma pessoa pra mim. Eu nunca conheci você e eu nem pretendo. – continuou com a sua frieza inabalável.
- Tudo o que eu fiz foi por você e pelo seu irmão. Eu não queria que vocês continuassem se odiando. Eu queria que vocês ficassem juntos como sempre deveria ter sido. – Steven explicou.
- Você tinha um milhão de maneiras de conseguir isso e você escolheu a pior delas. Agora, quem vai ficar sozinho é você! Você vai ficar sem mim e também vai ficar sem o Mark. – falou, olhando nos olhos do pai. – Talvez esse deva ser o seu castigo por tudo o que você causou em nossas vidas. – Ele completou, enquanto dava alguns passos para trás em direção a porta da casa. – Boa noite, Steven. – saiu mesmo percebendo o quanto as suas palavras tinham afetado o seu pai.

abandonou a casa do pai sem qualquer tipo de remorso pelo que havia dito, mas ele ainda não estava feliz. Mesmo dizendo tudo aquilo para o pai, ele ainda sentia culpa e todos os sentimentos que vinham atrelados a ela. seguiu para o hotel em silêncio, enquanto continuava se culpando e xingando a si mesmo pelo que tinha feito naquele dia. De uma hora pra outra, a cabeça dele virou do avesso e ele ainda não conseguia conciliar tudo de uma só vez.

O hotel era o mesmo da nossa primeira vez, mas o quarto era outro. O quarto em que ficou assim que chegou em Nova York até estava disponível, mas achou melhor não se torturar. Mesmo estando em outro quarto, as memórias ainda enchiam a sua cabeça e elas só serviam para deixá-lo ainda pior.

Ao chegar no quarto, tomou um rápido banho e além da cueca, vestiu o único shorts que ele tinha com ele. Ele estava decidido a dormir, já que esse era o único jeito de ele não pensar em nada do que havia acontecido. Ainda não era tão tarde e não estava nem perto do horário que ele costumava dormir, mas não havia nada no mundo que ele queria mais do que dormir. Deitou na cama e ficou algum tempo em silêncio, quando o celular acabou tocando. pensou duas vezes antes de curvar-se para pegar o celular. O nome de estava no visor e ele congelou por algum tempo. O celular continuou tocando insistentemente e ele se perguntava se deveria ou não atender. imaginava que lhe diria palavras horríveis e ele não sabia se estava pronto para ouvi-las. Quando o celular tocou pela terceira vez, resolveu atender a ligação, pois chegou a conclusão de que merecia ouvir tudo o que provavelmente lhe diria.

- Alô? – atendeu com receio.
- Finalmente! – respondeu na mesma hora.
- Desculpe, cara. Eu... – ia se justificar, mas o meu irmão o interrompeu.
- Tudo bem, cara. Não tem problema. – foi gentil e logo estranhou. – Eu só liguei essa hora porque eu precisava mesmo falar com você. – Ele completou.
- Falar... sobre o que? – perguntou, nervoso.
- Sobre a . – não parecia irritado e isso estava assustando o .
- Ela está bem, não é? – estremeceu ao ouvir o meu nome.
- Sim, ela está bem. – sorriu ao dizer aquilo. – É por isso que estou te ligando. Eu quero te agradecer por isso. – Ele parecia sem jeito. O silêncio se estabeleceu por algum tempo, pois não sabia o que dizer. O que estava dizendo?
- , eu não fiz nada. Eu... – não sabia nem o que dizer direito. Ele estava muito confuso.
- A me contou tudo, . – se adiantou para que parasse de continuar negando. Ao ouvir as palavras de , lembrou-se na mesma hora que eu havia dito que não contaria nada do que tinha acontecido para o meu irmão. Ao concluir aquilo, o coração dele parou.
- O que... ela te disse? – queria saber exatamente o que sabia que tinha acontecido.
- Ela me disse que você a encontrou e a ajudou. – explicou. – Eu... nem sei como te agradecer, cara. – Ele também estava sem palavras. – Eu acho que nunca vou conseguir te agradecer o bastante. – estava muito sem graça por estar demonstrando aquele lado vulnerável para o amigo. estava completamente em choque com o que eu havia feito. Ele não acreditava que depois de tudo, eu ainda fui capaz de mentir para o meu irmão para não colocá-lo em problemas e até mesmo para não destruir a amizade deles. – ? Você está ai? – Ele estranhou o silêncio do amigo.
- É, eu... – estava completamente desnorteado. – Eu estou aqui. – Ele respondeu.
- Eu acho que você deve estar ocupado ai e eu não quero te atrapalhar. – se recompôs. – Eu só quero que você saiba que eu sei o que você fez por ela e que eu jamais vou poder te agradecer o bastante por isso. Eu jamais vou esquecer o que você fez, amigo. – Ele completou.
- Está tudo bem, cara. Não foi nada. – estava totalmente desconfortável com a situação. estava agradecendo ele por fazer uma coisa que ele não fez. Na verdade, ele fez o contrário.
- Eu ainda estou esperando as entradas vip’s para o jogo do Yankees, ok? – disse em meio uma risada.
- Eu não esqueci, ok? Logo vamos marcar esse jogo. – respondeu o amigo sem dar tanta atenção.
- Assim espero! – confiava muito no amigo em todos os sentidos. Ele não tinha motivos para duvidar dele.
- Vejo você em breve. – disse antes de finalizar a ligação. Os olhos ainda estavam fixos em qualquer lugar do quarto. Ele sentou-se na cama, sem saber o que fazer ou como reagir. Ele não conseguia aceitar que eu tinha feito aquilo por ele ou que tinha pensado nele mesmo depois de tudo o que tinha acontecido. Logo agora que ele achava que não poderia ficar pior e que não poderia se sentir mais estúpido. Porém, havia sim uma coisa boa nisso tudo. O que eu tinha feito pelo deu a ele a esperança de que eu ainda sentisse alguma coisa boa por ele. Ele ainda tinha esperança de que havia jeito para nós dois.



TROQUE A MÚSICA:



Mark já estava em sua casa e depois de um banho, também tentava dormir. No hospital, meu pai também já havia dormido. Eu estava confortavelmente deitada em uma das poltronas que tinha em seu quarto, mas eu ainda não conseguia dormir. Mark, e eu estávamos em lugares diferentes, mas tínhamos o mesmo problema: nós não conseguíamos para de pensar em todos os problemas que surgiram inesperadamente em nossas vidas. Nós não conseguíamos parar de pensar que tudo seria diferente a partir de agora.

A dor nas costas me acordou naquele domingo de manhã. Apesar de confortável, a poltrona em que eu dormi ainda era uma poltrona, né? A primeira coisa que eu fiz foi me certificar que o meu pai estava bem. Ele ainda dormia calmamente. Me levantei e fui até o banheiro do hospital para jogar uma água no rosto para me livrar daquela cara de sono. No caminho de volta para o quarto, encontrei o médico que havia atendido o meu pai na noite passada. Fui boba a ponto de perguntar a ele se ele achava que o meu pai já poderia ir casa. Ele me respondeu com um sorriso de deboche e a resposta mais óbvia de todas: ‘É claro que pode! Ele está liberado desde ontem a noite. Ele só sofreu algumas poucas fraturas.’. Agradeci e sai com a vergonha embaixo dos braços. Hora de tirar o meu pai dali.

- Hey, pai! Acorde. – Eu o acordei calmamente, mas ele acabou levando um susto de qualquer jeito. – Calma. Sou eu. – Eu tentei acalmá-lo, enquanto segurava o riso.
- Você me assustou! – Meu pai me olhou, sério.
- Desculpe. – Eu forcei um sorriso. – Eu vim acordá-lo para nós irmos embora. – Eu expliquei.
- Ir embora? Tem certeza que vou sobreviver? – Meu pai brincou com a minha extrema preocupação.
- Muito engraçado, pai. – Eu neguei com a cabeça, enquanto o via sorrir. – Vamos. Eu pego as suas coisas. – Eu peguei os documentos e a sua carteira e seguimos juntos em direção a porta.

Antes de sairmos do hospital, meu pai passou no banheiro, enquanto eu fui agradecer os colegas de trabalho que o socorreram rapidamente na noite passada. Tivemos que pegar um táxi para ir para a minha casa, já que o carro do meu pai tinha ficado perto da casa do Steven. Chegamos em casa e o primeiro lugar pra onde olhei foi para a casa do Mark. O carro estava lá, ou seja, ele estava em casa. Eu paguei o táxi e assim que Big Rob nos viu, veio correndo.

- O senhor está bem? – Ele viu os curativos expostos do meu pai.
- Eu estou bem. – Meu pai sorriu, tentando acalmá-lo.
- Desculpe se eu não estava aqui na hora em que... – Big Rob começou a falar desesperadamente.
- Está tudo bem, Big Rob! Nada disso foi culpa sua. – Meu pai o tranquilizou.
- Não se preocupe. – Eu toquei no braço do Big Rob e sorri pra ele. Steven teria me induzido a ir na casa dele de qualquer jeito. A presença do Big Rob não teria feito a menor diferença.
- Estou feliz que vocês estejam bem. – Era raro ver um sorriso no rosto do Big Rob, mas eu juro que ele sorriu por alguns longos segundos.
- Valeu. – Eu pisquei um dos olhos pra ele e voltei a andar em direção a porta da minha casa ao lado do meu pai.
- Você está com a chave? – Meu pai perguntou, quando chegamos na porta.
- Eu acabei deixando aberta. – Eu fiz careta ao olhá-lo. Eu estava tão desesperada quando eu sai, que esqueci de trancá-la. – Entra. – Eu abri a porta para o meu pai.
- Até esse sofá é melhor que aquela cama de hospital. – Meu pai disse, depois de se sentar no sofá da sala.
- Minhas costas estão destruídas. – Eu disse ao me sentar ao lado dele.
- Eu sei que você está cansada, mas você sabe que vamos ter que falar sobre isso, certo? – Meu pai me olhou com um olhar de lamentação.
- Falar sobre o que? – Eu realmente não sabia sobre o que ele estava falando.
- , você sabe que não pode mais ficar sozinha nessa cidade. – Meu pai não queria ter que me dizer aquilo.
- É mesmo? Isso quer dizer o que? Vocês vão vir morar comigo aqui? – Eu brinquei com total ironia.
- Você sabe o que eu quero dizer. – Meu pai arqueou uma das sobrancelhas.
- Eu não vou fazer isso. – Eu já fui logo colocando as verdades na mesa.
- Olha, eu sei que esse é o seu sonho. Eu entendo isso, mas... – Ele negou com a cabeça.
- Mas é muito perigoso. – Eu arqueei ambas as sobrancelhas, deduzindo o que ele diria. – Você não vai acreditar em mim, mas... Eu não estou com medo. Não mais. – Eu o olhei, séria.
- Não está com medo? – Meu pai me olhou com cara feia.
- Medo de quem? Daquele lunático do Steven? Do idiota do ? – Eu ironizei.
- O Steven é muito mais perigoso do que você pensa. – Meu pai começou a tentar me convencer.
- Pai, eu jamais desistiria do meu sonho por causa dele. Jamais! – Eu afirmei.
- A sua coragem me deixa muito orgulhoso, mas... – Ele hesitou. – Como eu vou viver lá, sabendo que você está aqui sozinha? Ainda mais com esse maluco solto por ai. – Ele perguntou.
- Exatamente como nesses últimos meses. – Eu ergui os ombros, demonstrando diferença. – Pai, nada mudou pra mim. Quer dizer, mudou, mas... – Eu queria passar segurança ao meu pai.
- Você está falando do filho do Steven. – Meu pai viu a minha mudança de comportamento ao dizer a última frase.
- De qual deles você está falando, pai? Aparentemente, ele tem dois filhos agora. – Eu perguntei com um sorriso sarcástico.
- Você sabe de qual deles eu estou falando. – Meu pai cerrou os olhos pra mim.
- Sim! Eu estou falando sobre o . Depois de ontem, tudo mudou. – Eu tentei demonstrar que não me importava. – Isso não é uma coisa ruim, sabia? Eu acho que precisava desse... tapa na cara pra seguir ir frente e deixar tudo isso pra lá. – Eu sorri para convencer o meu pai e a mim mesma.
- Sabe.... – Meu pai demorou algum tempo para continuar. – Quando o seu irmão apareceu com o lá em casa pela primeira vez, nós sabíamos exatamente quem ele era. Eu e a sua mãe sabíamos que ele era filho do Steven. A sua mãe queria afastá-los imediatamente. Ela cogitou que mudássemos vocês de escola e até mesmo que fossemos para outra cidade. Eu pedi a ela um tempo para que conhecêssemos melhor o garoto. – Ele começou a contar. – Aos poucos, fomos descobrindo que ele era um bom garoto e que não tinha nada a ver com o Steven. Uma vez, ele até brigou com um valentão da escola pra proteger o seu irmão. – Meu pai sorriu ao se lembrar. – e ele eram inseparáveis. Eu olhava pra eles e lembrava de mim e do Steven. – Ele ainda sorria.
- Porque está me contando isso? – Eu não sabia onde ele estava querendo chegar.
- Ele não é como o Steven, . Acredite, se eu tivesse 1% de dúvida em relação a isso eu jamais teria deixado ele se aproximar de vocês. Eu jamais teria concordado com o namoro de vocês. – Meu pai ficou mais sério.
- Não. Você não está fazendo isso. – Eu revirei os olhos.
- O que? – Meu pai não entendeu a minha reação.
- Você está defendendo o ! Sério, pai? – Eu olhei pra ele, incrédula.
- Eu não estou defendendo niguém! Eu só estou tentando dizer que, talvez, você deva dar a ele a oportunidade de se explicar. – Meu pai tinha um sorriso malandro no canto do rosto.
- Eu sei exatamente o que você está tentando fazer. Eu também sei exatamente o que eu vi ontem e eu não vou mudar de opinião. – Eu fui objetiva, pois estava mais do que certa do que eu queria.
- Eu só não quero que vocês fiquem assumindo uma briga que não é de vocês. Pra mim, a minha briga já acabou faz tempo. Eu não quero que você pense que se brigar com ele, estará se vingando por mim, de alguma forma. – Meu pai voltou a ficar sério.
- Tudo o que eu estou fazendo não é só por você, pai. É por mim. Não se preocupe. – Eu neguei com a cabeça. – Foi exatamente por isso que eu não disse e nem vou dizer nada ao sobre o que aconteceu. É um problema só meu e do . Eu não quero que o perca o melhor amigo. – Eu expliquei.
- Eu sei exatamente como é isso. – Meu pai sorriu fraco.
- A amizade deles veio antes de qualquer coisa que eu e o tivemos. Não é justo misturar as coisas. – Eu completei.
- Você está certa. – Meu pai me olhou, orgulhoso. – Então, se você não tem mais o , quer dizer que você vai ficar realmente sozinha nessa cidade. Você quer mesmo isso? – Ele perguntou.
- Eu não vou ficar sozinha. Eu tenho a Meg e... o Mark. – Eu fiz careta ao mencionar o nome dele.
- Porque você fez essa cara? – Meu pai me olhou, desconfiado.
- Pai... – Eu abaixei a cabeça, pois estava completamente envergonhada. – Eu sei que você já deve imaginar isso, mas... – Eu respirei fundo. – Eu e o Mark já... – Eu nem consegui completar. – Eu não sabia que ele era filho da tia Janice. – Eu completei.
- É, eu já imaginava isso. – Meu pai achou graça do quão constrangida eu estava.
- E? – Eu estava prevendo um sermão.
- E... por mim, tudo bem. Quer dizer, ele não é o seu primo de sangue, você sabe. Você não pode nem dizer que ele é seu primo de consideração, porque você conhece ele há algum tempo e o considerava tudo, menos como seu primo. Então... – Meu pai ergueu os ombros.
- Pai, você está bem? – Eu estranhei o seu discurso, pois eu não esperava ouvi-lo.
- É claro que estou, menina. – Meu pai gargalhou. – A Janice falou tantas vezes esse discurso pra mim, que eu acho que acabei mentalizando e decorando. – Ele ainda ria.
- Tia Janice? – Eu fiquei em choque. – Está querendo dizer que a tia Janice torcia pra que eu e o Mark... – Eu não conseguia acreditar.
- Foi um dos motivos para ela convidar você para ficar aqui na casa dela, enquanto ela viajava a trabalho. Ela queria que você o conhecesse. – Meu pai explicou com a maior naturidade do mundo.
- Meu Deus... – Eu não estava conseguindo processar tudo aquilo.
- Eu me lembro do dia em que ela me contou histericamente da primeira vez que você e o Mark se encontraram. Eu quase dormi no telefone. – Meu pai fez careta.
- Eu estou em choque! Você está brincando, não é, pai? – Eu nem sabia como reagir.
- O que você acha? Parece até que não conhecia a sua tia. – Meu pai voltou a rir da minha cara.
- Mas eu me lembro que ela gostava do também. Ela apoiava totalmente o meu lance com ele. – Eu me recordei das vezes que conversei com ela sobre o .
- Ela queria a sua felicidade, . Ela sabia que você estava feliz com ele e, por isso, te apoiou. É claro que ela preferia o Mark, mas... você conhecia ela. Sempre passou a mão na sua cabeça e na do seu irmão também. Não há nada que vocês fizessem que ela não apoiava. – Meu pai disse, enquanto fazia careta.
- Ela era incrível. – Um sorriso surgiu no canto do meu rosto, enquanto eu me lembrava dela. – É por ela também que eu quero ficar aqui, entende? Ela conseguiu essa bolsa de estudos com a qual eu sempre sonhei. Ela deixou essa casa pra mim também. Ela pensou em tudo para fazer dar certo. Eu não vou desistir. – Eu estava mais do que decidida.
- Eu acho que não vou te convencer do contrário, certo? – Meu pai fez cara feia.
- Não. – Eu forcei um sorriso e neguei com a cabeça.
- Certo, mas você sabe que vai ser difícil explicar isso pra sua mãe e pro seu irmão. Principalmente pro seu irmão. Eles estão achando que você vai voltar comigo. – Meu pai não sabia o que fazer.
- O não sabe nada sobre o Steven, certo? Ele só sabe que eu fui sequestrada e que o ajudou você a me tirar de lá. – Eu tentei bolar uma boa explicação.
- Ajudou? – Meu pai ironizou.
- Eu disse pra ele que sim. – Eu rolei os olhos. – Então, é só dizer pra ele que... o cara foi preso. Diz que o cara foi preso e que, por isso, eu não quis desistir da faculdade. – Eu achei que o plano era convincente.
- Ele vai demorar algum tempo para aceitar isso, mas eu acho que vai dar certo. E pra sua mãe, o que eu digo? – Ele perguntou.
- Diz a verdade! Ela vai demorar algum tempo para me entender, mas eu sei que ela vai. Qualquer coisa, peça para ela me ligar que eu converso com ela. – Eu tinha certeza que ela acabaria me entendendo.
- Você está mesmo decidida, não é? – Meu pai afirmou ao perceber as minhas habilidades de inventar desculpas e explicações.
- Sim, estou. – Eu afirmei.
- Está bem, então eu acho melhor eu voltar logo pra casa. – Meu pai disse, levantando-se do sofá.
- Mas já? – Eu estranhei.
- Eu tenho que ir antes que a sua mãe e o seu irmão resolvam aparecer aqui. – Meu pai arqueou ambas as sobrancelhas.
- Você está certo. Aposto que o tem milhões de perguntas pra fazer e eu ainda não sei se consigo respondê-las. Não sem dizer toda a verdade. – Eu também me levantei. – Pra falar a verdade, eu quero ficar algum tempo sem falar ou pensar nisso. – Eu neguei com a cabeça.
- Eu entendo. – Meu pai demonstrou compreensão. – Só tem um problema. – Ele fez careta. – O meu carro ficou lá perto da casa do Steven. – Ele completou.
- Bem, eu vou lá buscar. – Eu já fui logo propondo.
- Sozinha? Nem pensar! Aliás, eu não quero que você chegue perto daquela casa nunca mais. Vou até avisar o Big Rob para ficar ainda mais de olho em você. – Meu pai me olhou feio.
- Ok! Certo, então vamos juntos. Chamamos um táxi e ele nos leva até lá. Pegamos o carro e você me deixa aqui antes de ir embora. – Eu melhorei a proposta.
- Melhorou. – Meu pai concordou.
- Ok! Eu vou ligar pra pedir o táxi. – Eu fui em direção ao telefone.

Tudo saiu exatamente como o planejado! O táxi no deixou no local em que meu pai havia deixado o seu carro e assim que recuperamos o carro, nós voltamos para a minha casa. Foi impossível contar o número de recomendações de segurança que o meu pai me deu. Ele demorou algum tempo para ir embora e disse que voltaria a me visitar em breve. Ele também se despediu de mim mais de duas vezes. Sinceramente? Eu não estava com medo. Eu estava machucada, o que não era bom também.

Então, eu estou sozinha novamente. O que eu devo fazer primeiro: chorar ou sentir pena de mim mesma? Bem, são duas ótimas alternativas para alguém que perdeu o garoto que amava e quase perdeu o seu pai também. Mas qual a melhor alternativa para alguém que acaba de descobrir que a mãe que ele sonhava em encontrar está, na verdade, morta e que tem um irmão que, por acaso, é o cara que ele mais odeia no mundo? Eu não acho que exista alguma alternativa boa para isso, mas eu posso tentar encontrar alguma, certo? Eu posso tentar fazer alguma coisa pelo Mark.

Era final de tarde, quando eu decidi ir até a casa do Mark para saber como ele estava. Antes disso, eu cheguei a tentar dormir, mas tem tanta coisa passando pela minha cabeça, que eu não consegui. Eu tentei comer também, mas eu estava sem a menor fome. Cheguei na porta da casa do Mark e bati duas vezes na porta. Ainda sem resposta, bati na porta pela terceira vez e a porta foi aberta abruptamente, revelando um Mark completamente diferente. Eu confesso que demorei alguns segundos para acreditar que era realmente ele vestindo aquela calça de moletom e aquela camiseta que, com certeza, era parte do seu pijama. Os olhos estavam vermelhos e um pouco caídos, o cabelo estava completamente bagunçado e o sorriso... bem, não era um sorriso.

- Hey... – Eu disse, tentando disfarçar.
- Finalmente alguém pra beber comigo! – Mark abriu os braços e um fraco sorriso. Ele voltou para dentro da casa e eu fui atrás dele, fechando a porta.
- Você está... – Eu o acompanhei até a sala, que estava completamente bagunçada. Era quase impossível ver o chão. – Bêbado? – Eu perguntei, vendo a garrafa de vodca quase vazia sobre a mesa.
- Você acha que eu não tenho motivos para estar assim? – Mark me olhou, sentando-se no sofá e pegando a garrafa de vodca.
- Ahnn... não! – Eu fiz careta ao ver aquela cena.
- Isso é ótimo, sabia? Ajuda você a esquecer o quão patética está a droga da sua vida. – Ele rolou os olhos.
- É, mas isso também não muda nada, sabia? Depois da ressaca, os problemas ainda vão estar lá. Acredite, eu já tentei! Mais de uma vez. – Eu me sentei ao lado dele.
- Eu sei disso, mas... eu precisava disso, sabe? Se você visse como eu estava antes, me acharia incrível agora! – Mark estava prestes a colocar a garrafa de vodca em sua boca, quando eu o impedi.
- Eu duvido! – Eu peguei a garrafa e a coloquei bem longe dele.
- O que? – Ele me olhou, emburrado.
- Você pode parecer melhor agora e um pouco mais feliz também, mas eu sei que não é verdadeiro. Então, eu acho que ainda prefiro o Mark sóbrio. – Eu disse e ele ficou me olhando por algum tempo.
- Você está aqui tentando me consolar, mas está dizendo que prefere me ver na pior? Eu estou... um pouco confuso agora. – Mark realmente parecia confuso e a sua cara me fez rir.
- Você não está confuso. Você está bêbado! – Eu sorri ao negar com a cabeça. – Já chega disso, ok? Eu vou te ajudar. – Eu me levantei do sofá e fui até ele. Segurei a sua mão e o puxei com toda a minha força. Ele me ajudou em meio a risos.
- Espera! Pra onde você está me levando? – Mark me deixou arrastá-lo. Ele estava um pouco mole e meio tonto, por isso não foi tão difícil puxá-lo e levá-lo até o banheiro. – O que estamos fazendo aqui? – Ele perguntou, quando percebeu que estávamos no banheiro. Eu me afastei dele rapidamente para ligar o chuveiro, me certificando de que a água estava realmente fria.
- Vamos ver se conseguimos reverter a sua ressaca, certo? – Eu disse, sem esperar que ele entendesse. Levei minhas mãos até o final da sua camiseta e a tirei sem qualquer hesitação.
- Wow, wow, espera! O que está acontecendo aqui? – Mark abriu os braços e me olhou com seu jeito malandro.
- Não se empolga, ok? Eu estou te ajudando pra variar. – Eu disse em meio a um sorriso sem jeito. – Vamos! – Eu segurei novamente a sua mão e o puxei até o chuveiro. Quando ele pensou em hesitar, eu o empurrei pra debaixo do chuveiro.
- PUTA MERDA! ESTÁ MUITO GELADO! – Mark gritou, me olhando feio.
- Desculpe, mas é o único jeito! – Eu fiz careta e pareceu não fazer a menor diferença pra ele.
- Ainda bem que você não tirou as minhas calças. – Mark disse, olhando para baixo. A sua voz de frustração fez com que eu não conseguisse segurar a risada.
- Isso é engraçado pra você? Eu pareço um palhaço pra você? – Mark voltou a me olhar feio.
- Bem, o seu nariz está vermelho, assim como as suas bochechas e... a sua boca está começando a ficar roxa. Então sim, você daria um bom palhaço. – Eu continuei a sacaneá-lo e ele foi ficando cada vez mais irritado.
- Quer saber de uma coisa? – Ele cerrou os olhos na minha direção.
- O que? – Eu cruzei os braços e olhei atentamente pra ele.
- Nós temos muito mais em comum do que eu imaginava. – Mark já não parecia tão bravo.
- É mesmo? E do que exatamente você está falando? – Eu fiquei curiosa.
- Estou falando da nossa habilidade em sermos ótimos palhaços. – Mark arqueou uma das sobrancelhas e eu demorei só 5 segundos para entender o que aquilo realmente significava.
- NÃO! – Antes de eu sair correndo do banheiro, Mark segurou a minha mão. – NÃO! NÃO! NÃO TEM GRAÇA! – Quanto mais eu tentava puxá-lo para o meu lado, mais ele me puxava para o dele.
- Qual é! Você não estava rindo? – Ele ironizou e eu o olhei com cara feia.
- Mark, me solta agora! – Eu comecei a falar mais sério, pois tinha esperanças de que ele ficasse intimidado. – MARK, PARA! – Ele continuou me puxando em direção ao chuveiro. – Eu estou falando sério! Se você não me soltar... – Antes mesmo de terminar a minha ameaça, eu fui colocada embaixo daquele chuveiro extremamente gelado. – OHHHH MEU DEUS! – Eu gritei desesperadamente.
- Está fria, não é? – Mark perguntou com aquele sorriso idiota no rosto.
- EU-VOU-MATAR-VOCÊ! – Eu disse pausadamente.
- Primeiro, vem aqui. – Mark segurou a minha mão e me puxou para mais perto. – Deixa eu ver esse seu nariz de palhaço. – Ele sorriu, olhando para o meu nariz.
- Sem graça! – Eu rolei os olhos.
- A boca roxa e as bochechas... rosadas. – Mark comentou, olhando atentamente para o meu rosto. Depois de analisar o meu rosto, a aproximação se tornou extremamente estranha e constrangedora.
- Se eu pegar um resfriado, adivinha quem é que vai ter que cuidar de mim? – Eu cerrei os olhos, tentando acabar com aquele clima.
- Considerando que você é a única pessoa que realmente se importa comigo e que está aqui cuidando de mim mesmo com a sua vida estando de cabeça pra baixo, eu acho que posso fazer esse sacrifício. – Mark olhou em meus olhos, ficando um pouco mais sério.
- Combinado. – Eu estendi a mão em sua direção e ele a olhou por algum tempo.
- Combinado. – Mark apertou a minha mão em meio a um sorriso bobo.
- Certo, então vamos sair daqui antes de morrermos congelados. – Eu soltei a sua mão e me afastei para desligar o chuveiro. – Aqui, coloca isso em volta das costas. – Eu entreguei em sua mão uma das toalhas que estavam penduradas no banheiro.
- Pode usar essa. – Mark pegou uma outra toalha e levou até mim.
- Obrigada. – Eu peguei a toalha e a coloquei em minhas costas, pois eu estava morrendo de frio.
A água tinha feito Mark despertar um pouco, mas ele ainda estava um pouco alterado. Devido ao banho forçado de água gelada, eu deveria ir embora e deixá-lo superar toda aquela bebedeira sozinho, mas eu sei que ele fez aquilo justamente porque estava bêbado. Não dava para culpá-lo, não é? Por isso, eu decidi ficar até ter certeza de que ele estava bem.

Mark me esperou no banheiro, enquanto eu avisei que iria até o seu quarto buscar uma roupa para ele vestir. Ele provavelmente dormiria após aquele banho, então a roupa deveria ser simples. Fui até o quarto dele e era impossível conter os meus olhos curiosos, procurando qualquer coisa que eu já não soubesse dele. Eu não entrava no quarto dele com tanta frequência. A cama estava arrumada e não tinha sapatos jogados pelo chão. Isso realmente não é muito comum para um homem. Ainda mais se formos considerar que ele é irmão do Sr. Desorganização. Fui até o guarda-roupa, enquanto me punia por ficar comparando os irmãos. Qual o meu problema?

- Onde você esconde as suas cuecas, Mark? - Eu perguntei em voz alta, olhando gaveta por gaveta do seu guarda-roupa. - Aqui. - Eu encontrei as cuecas na última gaveta. Me agachei para poder pegar uma cueca com mais facilidade. Foi nesse momento que eu vi aquela intrigante caixinha. Que homem esconde uma caixinha (que possivelmente era de joias) na sua gaveta de cuecas? Ok, eu tenho que assumir que os meus dedos estão coçando. Certo! O meu corpo inteiro estava coçando, na verdade. Fazia tempo que eu não tinha tanta necessidade em fazer uma coisa, quanto eu estava com a necessidade de abrir essa estranha caixinha, que me chamava tanta atenção. Entregando de vez a minha identidade de curiosa, olhei para trás para ter certeza que estava sozinha e acabei abrindo a tal caixinha. Adivinha só? Sim! Mais uma ótima maneira de foder com a minha vida.

- Não pode ser… - Eu suspirei, me levantando com a caixinha nas mãos. Meus olhos encaravam aquelas duas alianças de prata, que brilhavam tanto que me faziam ter certeza de que eu ficaria cega a qualquer momento. Tirei uma das alianças da caixinha e me senti a pior pessoa do mundo quando eu vi o meu nome ao lado do nome do Mark. - Que droga. - Eu suspirei, sem acreditar. Isso quer dizer que algum dia ele pensou em me pedir em namoro. Ótimo! O que eu faço da minha vida agora? Eu me sinto péssima.
- ! Eu ainda estou aqui! Lembra? - Mark gritou do banheiro, me fazendo entrar em desespero. Coloquei a aliança de qualquer jeito dentro da caixinha e a devolvi na gaveta, pegando a cueca rapidamente e fechando a gaveta. Peguei qualquer calça que não fosse jeans e uma camiseta de manga comprida. Eu ainda estava um pouco chocada, quando voltei para o banheiro.
- Desculpa! Eu… não estava achando. - Eu menti na maior cara de pau. - Eu espero ali fora. - Eu sai do banheiro antes que ele começasse a se trocar na minha frente.

Do lado de fora do banheiro, eu me perguntava porque eu fui abrir aquela caixinha. Eu estaria muito melhor agora se não tivesse sido tão curiosa! Eu queria me socar por ter arrumado mais um problema pra minha cabeça. Era tão bom viver sabendo que o Mark estava bem e que não sentia mais nada (no sentido amoroso) por mim. Essa porcaria de aliança estragou tudo! Droga! Agora também tem essa história de que ele é filho da tia Janice e mesmo não o considerando meu primo, eu não sei como ele está vendo toda essa situação.

- Mark? - Eu bati na porta, interrompendo o meu momento de tortura. Mark já estava ali dentro há algum tempo, porque ele estava demorando tanto? - Mark? - Eu abri a porta dessa vez e o encontrei sentado na privada. - Ah, não! Mark! - Sim, ele estava dormindo sentado. Ao ouvir a minha voz, ele acordou repentinamente.
- O que!? - Mark arregalou os olhos.
- Vamos! Eu te ajudo. - Eu segurei a sua mão e o puxei. Ele ficou de pé e passou um dos braços em volta do meu pescoço.
- Eu estou muito… - Mark disse lentamente.
- É, eu sei. - Eu quase me desequilibrei no meio do caminho. - Meu Deus, eu nunca achei que teria que te carregar nos ombros. - Eu brinquei, enquanto entrávamos em seu quarto.
- Eu sinto muito informar, mas você vai ter que me colocar pra dormir também. - Mark abriu um sorriso enorme, mas os seus olhos estavam quase se fechando.
- Pacote completo, certo? - Eu rolei os olhos em meio a risos. O coloquei com cuidado na cama, achando que ele viraria para o lado e dormiria. Bem, não foi isso que ele fez. Eu ainda estava de pé ao lado da cama, quando ele segurou a minha mão e começou a me puxar em direção a cama. Os olhos já estavam quase fechados, mas ele se esforçava muito para me olhar. Eu consegui enrolá-lo por algum tempo, mas ele continuava insistindo e me puxando. Eu acabei cedendo e me sentei ao lado dele na cama. Apoiei as minhas costas na cabeceira e estiquei apenas uma das pernas sobre o colchão. A outra perna eu deixei para fora da cama mesmo, talvez para me sentir um pouco menos atrevida. A primeira atitude de Mark foi aconchegar a sua cabeça em meu colo e puxar uma das minhas mãos até a sua boca e depositar um beijo carinhoso. O seu gesto de carinho me comoveu de um jeito inexplicável e eu só conseguia pensar que ele não merecia passar por nada daquilo.
- Você vai ficar bem. - Eu afirmei, enquanto o admirava. Os olhos dele estavam fechados e ele parecia gostar do carinho que eu fazia em sua cabeça.
- Não, eu não vou. - Mark afirmou, negando com a cabeça.
- Eu estou bem aqui, ok? - Eu queria confortá-lo de qualquer maneira. - Eu vou dar um jeito nisso.- Eu faria de tudo para ajudá-lo a ficar melhor.
- Você vai trazer a minha mãe de volta? - Os olhos dele repentinamente se abriram.
- Não. - Um fraco sorriso surgiu no canto do meu rosto. - Eu vou trazer o sorriso de volta pro seu rosto. - Eu olhei os seus lábios sem qualquer malícia e ele ficou algum tempo me olhando. Enquanto ele me olhava, ele pensava o quanto amava a forma com que eu cuidava dele e o quanto era impossível conviver comigo sem não se apaixonar mais a cada dia.
- Vem aqui. - Mark levantou uma das mãos e a levou até a minha cabeça, trazendo-a para mais perto da sua. Ele depositou um beijo no meu rosto e acariciou rapidamente a minha cabeça. - Obrigado por cuidar de mim. - Ele agradeceu quando eu voltei a afastar o meu rosto do dele.
- Você já cuidou de mim tantas vezes, que acho que ainda vou continuar te devendo. - Eu acabei sorrindo, sem jeito. - Mas se você ficar de porre de novo, eu te mato. - Eu tentei dizer mais séria. Ele fechou os olhos e sorriu sem nem perceber.
- Eu entendi. - Mark afirmou com a cabeça, virando-se de lado e entregando-se de vez ao sono.

Eu fiquei ali por um bom tempo. Eu queria ter certeza de que o Mark tinha dormido. Depois de aproximadamente 20 minutos, eu me levantei com todo o cuidado e coloquei um travesseiro embaixo da cabeça dele. Eu estava feliz por vê-lo dormir, pois eu sabia que, por um momento, ele não estava sofrendo. Apaguei a luz do quarto e fechei a porta do quarto. Abandonei a casa dele feliz pelo que tinha feito. Atravessei o jardim e cheguei até a porta da minha casa. Acenei para o Big Rob para que ele visse que eu já estava em casa. Adentrei a minha casa e fiquei um tempo parada próxima a porta. Eu nunca quis tanto ver a tia Janice descendo aquela escada com aquele sorriso estonteante no rosto. Eu queria abracá-la e dizer a ela que me orgulho de tudo o que ela fez e que o filho dela é a melhor pessoa do mundo.

Demorei para superar mais uma vez toda aquela situação e quando eu resolvi subir para tomar banho e comer alguma coisa, a campainha tocou. Encarei pra porta e tentei adivinhar quem estava atrás dela. Steven, e até mesmo o Mark, que poderia ter acordado logo que eu sai. Bem, não deveria ser ninguém suspeito, pois do jeito que o Big Rob estava depois que soube do sequestro, eu duvido que ele deixaria qualquer desconhecido chegar até a porta da minha casa sem antes lhe dar uma tremenda surra. Mesmo sem qualquer vontade, fui até a porta e a abri. É claro que era a Meg!

- Oi, Me… - Eu nem consegui terminar a frase, quando ela me abraçou tão forte, que eu achei que fosse desmontar. - Oi, Meg. - Eu recebi o seu abraço em meio a um sorriso.
- Você… - Meg me olhou dos pés a cabeça. - Está bem? - Os olhos dela estavam esbugalhados.
- Hey, calma! - Eu tentei tranquilizá-la. - Eu estou bem. Viu? - Eu abri os braços.
- Mas que confusão foi essa? - Pronto! Chegou a hora em que eu tinha que começar a mentir.

Eu tive que explicar toda a história pra ela. A história, é claro, que eu havia criado. A mesma que eu tinha contado para o e para os meus amigos. A história que não envolvia o Mark, tia Janice e Steven. A minha história era tão convincente, que tinha horas que até eu acreditava nela. Aliás, eu adoraria que aquela fosse a verdadeira história. Como eu queria!

- Ok, mas o cara foi preso, certo? - Meg perguntou, aflita.
- Sim. Logo depois que o meu pai e o chegaram, a polícia chegou. - Eu forcei um sorriso.
- Então, o é mesmo o seu herói, certo? Com capa, máscara e roupa colada e tudo? - Meg rolou os olhos, mas não foi capaz de evitar o sorriso desajeitado.
- , o herói. Dá pra acreditar? - Eu arqueei as sobrancelhas e ainda mantinha aquele sorriso idiota no rosto.
- Acho que vou ter que parar de implicar com ele agora. - Meg fez careta.
- Quer saber? Você devia continuar! Ele está acostumado com a sua implicância e eu acho que ele até gosta, sabia? - Eu disse e só faltou o veneno escorrer no canto da minha boca. - Então, continue não dando moleza pra ele, ok? Implique o quanto você quiser. - Eu pisquei um dos olhos pra ela. Me desculpe, mas eu realmente precisava fazer isso.

Depois de repetir toda a história umas 13 vezes e responder a algumas perguntas, Meg resolveu ligar para o . Ela queria dizer a ele que realmente estava tudo bem. Eu acabei falando com o , que acabou passando o telefone para a e que foi passando o telefone para todos os outros amigos que estavam ali. Aparentemente, eles estavam todos juntos. Aparentemente, eu repeti a história do sequestro mais 72 vezes. Não me entenda mal, ok? Eu sei que todos estavam muito preocupados comigo e queriam saber se eu estava realmente bem. Isso é extremamente adorável e eu os amo ainda mais por isso. O problema é que era uma droga ficar revivendo e falando sobre aquela droga de história toda hora. Tudo o que eu mais queria era esquecer tudo aquilo e eu passei quase o dia todo falando sobre aquilo.

Além de tudo, tive que aturar os comentários admiráveis sobre o , que para eles tinha salvado o dia. Eu tinha que ouvir tudo aquilo e pior: concordar com aquilo. Eu duvido que o já tenha sido tão admirado em sua vida, quanto ele está sendo agora. E olha que estou incluindo a época em que ele era o capitão do time de futebol da escola! Era horrível ter que ouvir todos falando tão bem dele, enquanto eu decidia se deveria odiá-lo ou apenas conviver com aquela decepção enorme dentro de mim.

Falei com todos os meus amigos e tranquilizei a todos ao convencê-los de que eu realmente estava bem. Para variar, novas promessas de que eles viriam me visitar foram feitas. Eu já nem sei se acreditava mais. Em todo caso, eu fiquei feliz em falar com cada um deles e perceber que, apesar da distância, eles ainda se importavam muito comigo.

Meg ficou comigo o máximo que pode. Ela ficou a noite toda me mimando e eu até comecei a achar engraçado. Antes de ir embora, ela me disse que passaria na casa do Mark para falar com ele e eu já fui logo arrumando uma desculpa para que ela não fosse. Ela não podia vê-lo daquele jeito. Eu disse a ela que ele tinha vindo me visitar e que saiu da minha casa dizendo que estava muito cansado e que iria dormir. Consegui fazer Meg desistir de ir até lá, mas ele não poderia evitá-la por muito tempo.

Depois que Meg foi embora, acabei ficando sozinha novamente. Subi para tomar um banho e depois comi um pequeno pacote de macarrão instantâneo que eu encontrei no armário. Não era tão tarde quando eu fui para a cama. Eu não estava com tanto sono, mas eu me obriguei a dormir, pois eu teria que ir para a faculdade no dia seguinte. Nada melhor do que voltar para a velha e boa rotina, certo?

passou resto da noite na cama do hotel. Ele não tinha ânimo para absolutamente nada. Ele levantou apenas para ir ao banheiro e comer. Ninguém poderia puni-lo mais do que ele mesmo. Ninguém entenderia o quanto ele se arrependia por cada atitude e por cada palavra. Para ajudar, ele teria uma reunião na manhã seguinte com o pessoal do Yankees. Ele nem sabia se tinha cabeça para pensar em negócios, mas ele não tinha opção, já que estava na cidade exatamente para isso.

O dia também não foi fácil para o meu pai, que teve que conversar muito com o até conseguir convencê-lo de que eu estava segura e que, por isso, não voltaria para Atlantic City. Minha mãe foi um pouco mais compreensiva, mas isso não evitou que ela me ligasse 5 vezes durante o dia seguinte. Eu não a culpo por estar tão preocupada. O que aconteceu foi realmente sério e Steven ainda estava na cidade. Para ser honesta, Steven não me assustava mais. Isso estava me ajudando muito a passar por isso com frieza e serenidade.

Entre uma ligação e outra da minha mãe, eu fui cumprindo com todas as minhas obrigações durante o dia. também trabalhou durante toda a manhã daquela segunda-feira. O presidente do Yankees chegou até a perguntar o porquê dele estar tão abatido e apenas mentiu dizendo que tinha dormido muito pouco na noite passada. Mark não fez nada no período da manhã além de tentar melhorar da sua ressaca. Ele estava péssimo e não conseguiu levantar da cama, mas deu uma rápida saída durante a tarde. Ele também tinha as suas obrigações.

Eu cheguei em casa depois do trabalho e subi para o segundo andar para tomar um banho rápido e vestir uma roupa mais quente. A noite estava bem fria, mas eu sairia de casa de qualquer jeito. Eu precisava saber se o Mark estava bem. Coloquei um cachecol em volta do pescoço e uma touca na cabeça para proteger as minhas orelhas de todo aquele frio. Tranquei a casa e fiz questão de avisar o Big Rob que eu só ia até a casa do Mark.

Depois de ontem, eu realmente não sabia o que esperar. Eu tinha até medo de pensar como eu encontraria o Mark naquele dia. Me aproximei da porta e bati algumas vezes nela. Já que não tive resposta, arrisquei tentar abrir a porta e agradeci mentalmente por ela estar aberta. Adentrei com cuidado e fechei a porta. A casa estava extremamente silenciosa e escura. A única luz vinha do quarto do Mark. Fui até o quarto em silêncio e não o encontrei. Porém, a janela aberta me deu uma ótima dica. Me aproximei da janela e com todo o esforço e todo o meu medo de altura, eu fui para o lado de fora e olhei atentamente para o telhado. Mark estava lá. Eu já fui logo subindo no telhado e ele nem me olhou, apesar de ter notado a minha presença. Eu me deitei ao lado dele sem dizer uma só palavra e passei a encarar o céu assim como ele. Apesar do frio, o céu estava aberto e tinha centenas de estrelas.

- Você me encontrou. - Mark continuava sem me olhar.
- Você não deveria ter me mostrado esse lugar. - Eu disse e ele deixou um sorriso escapar. - Eu estava preocupada e resolvi vir ver como você está. - Eu disse e virei o meu rosto para olhá-lo.
- Bem, eu posso garantir que estou sóbrio. - Mark respondeu e logo depois me olhou apenas para ver o sorriso que ele sabia que tinha trazido ao meu rosto.
- Isso é ótimo. - Eu tentei esconder o sorriso.
- E você? - Mark quis saber, pois ele também estava preocupado comigo.
- Eu também estou sóbria. - Eu respondi em um tom sério e ele voltou a me olhar de um jeito engraçado. - Eu estou bem. - Eu respondi a pergunta direito dessa vez.
- Eu nem consigo olhar pra você depois do vexame de ontem. - Mark negou com a cabeça e voltou a encarar as estrelas.
- Sério mesmo que você está falando isso pra mim? Logo pra mim que sou a rainha da vergonha, quando o assunto é porre? - Eu tentei fazê-lo se sentir melhor. - Desculpe te informar, mas você vai ter que fazer bem melhor do que aquilo para me superar e para me impressionar. - Eu neguei com a cabeça. Ele achou graça do fato de eu estar tentando fazê-lo se sentir melhor.
- Você tem toda a razão! É impossível competir com você. - Mark concordou comigo, me fazendo rir e olhá-lo com indignação.
- Não abusa, ok? - Eu dei um leve empurrão em seu ombro.
- Porque? O que você vai fazer? Vamos ter a nossa primeira briga de família? - Mark ironizou a estranha relação que, de repente, fomos obrigados a assumir.
- Isso é muito estranho. - Eu neguei com a cabeça, sem conseguir aceitar aquela história.
- Nem me fale. - Mark suspirou longamente.
- Nós não sabíamos de tudo isso, quando nós… - Eu achei que não precisava terminar.
- É… - Mark concordou, mas parecia não ter tanta certeza. - Eu só fico pensando no que a Janice, quer dizer… a minha mãe acharia disso. - Ele ainda não estava acostumado a falar da tia Janice como sua mãe.
- Sobre isso… - Eu sorri e neguei com a cabeça. - Você não vai acreditar no que o meu pai me contou hoje. - Eu disse e ele me olhou com curiosidade.
- O que? - Mark esperou a minha continuação.
- Eu e o meu pai estávamos falando sobre isso. - Eu fiquei um pouco sem jeito em contar.
- Sobre isso o que? - Mark continuava me olhando, sério.
- Sobre nós dois e o que… aconteceu entre nós. - Eu mordi o meu lábio inferior para tentar disfarçar aquele sorriso estúpido no meu rosto.
- Seu pai sabe sobre nós? - Ele arqueou as sobrancelhas.
- Calma! Ele não ficou bravo. - Eu achei graça do desespero repentino em seu rosto. - Ele disse que não vê problema, pois não somos primos de sangue e não podemos nem dizer que somos primos de consideração, porque não somos. - Eu comecei a explicar.
- Eu não tinha pensado nisso dessa forma. - Mark ficou pensativo por poucos segundos. - Ele até que tem razão. - Ele completou.
- Ele tem muita razão, mas… não é isso o que eu ia te dizer. - Eu não queria falar sobre aquilo naquele momento.
- Então, me fala. - Mark me deu total atenção e isso só serviu para me deixar ainda mais sem graça. Enquanto ele me olhava, um sorriso surgiu no canto do meu rosto. - O que foi? - Ele olhou para o meu sorriso, sem entender.
- É que… - Eu hesitei por mais algum tempo. - Meu pai me contou que a minha tia torcia para que nós ficássemos certo. - Eu fiquei esperando a reação dele.
- O que? Ela queria que nós… - Ele resolveu não terminar a frase quando eu afirmei com a cabeça. - Não! - Havia um sorriso de surpresa em seu rosto.
- Eu também achei loucura. - Eu fiz careta.
- Eu… - Mark não tinha palavras.
- Se lembra do dia que nós conhecemos? Ela ia viajar a trabalho e me pediu que viesse cuidar da casa durante o final de semana. - Eu continuei a contar.
- Eu lembro muito bem. - Mark afirmou com a cabeça.
- Meu pai me contou que ela armou tudo aquilo para que nós nos conhecêssemos. - Eu voltei a fazer careta e ele começou a rir.
- Você está brincando! - Mark afirmou, incrédulo.
- Eu sei que é loucura, mas o meu pai jamais mentiria sobre isso. - Eu sabia exatamente o que ele estava sentindo.
- Quer dizer que ela armou tudo, pois queria que nós ficássemos juntos. - Mesmo se repetisse mil vezes, ele continuaria desacreditando.
- Difícil de acreditar, não é? - Eu achei engraçado a perplexidade dele.
- Certo, mas como ela sabia se ia dar certo? Eu poderia não ter gostado de você. - Mark estava em êxtase.
- Eu acho que ela sabia que você não resistiria aos meus encantos. - Eu brinquei, mas tentei me manter séria.
- Era exatamente isso o que eu estava pensando. - Mark também tentou se manter sério, mas acabou deixando um sorriso escapar.
- Não, sério! Eu acho que… foi só um palpite, sabe? Nós eramos muito próximas e gostávamos muito uma da outra. Ela sabia absolutamente tudo sobre a minha vida amorosa. Na época, eu namorava um babaca. Eu acho que, talvez, ela estava tentando me apresentar a um cara legal. - Eu deduzi.
- Você namorando um babaca? Isso é realmente surpreendente. - Mark brincou e eu cerrei os olhos em sua direção, enquanto ria.
- Eu não namorava o na época. - Eu expliquei.
- Então, tinha outro babaca? Wow! - Mark arqueou a sobrancelha e eu abri a minha boca para demonstrar a minha indignação.
- Quer parar? - Eu neguei com a cabeça, enquanto tentava não rir.
- Ok! Eu vou parar! Eu só preciso fazer uma pergunta. - Mark ficou mais sério.
- Qual pergunta? - Eu o olhei com desconfiança.
- Você sempre teve esse gosto péssimo pra homens ou… - Mark voltou a sorrir e eu voltei a cerrar os olhos.
- Você sabe que está incluso nessa lista, certo? - Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Na verdade, eu não posso ser incluído porque nós nunca chegamos a namorar. - Mark argumentou.
- É, mas você quase… - Eu comecei a falar, mas me lembrei que não podia. Eu não podia falar pra ele que eu vi as alianças na gaveta dele.
- Eu o que? - Mark ficou curioso.
- Esquece. - Eu tentei esconder o meu sorriso de garota travessa e voltei a olhar para o céu.
- Como assim ‘esquece’? - Mark continuou me olhando.
- Não é nada. - Eu não conseguia olhar pra ele sem confessar tudo.
- . - Mark queria que eu olhasse pra ele. - Olha pra mim. - Ele pediu e eu nem me movi.
- Não. - Eu voltei a morder o meu lábio inferior para esconder o meu sorriso.
- . - Mark me chamou novamente. Eu fechei os meus olhos e me xinguei mentalmente por ter falado aquela besteira. - Hey! - Ele se sentou e inclinou o seu corpo para olhar em meu rosto. Eu abri os olhos e acabei olhando pra ele. - Qual o problema? - Mark perguntou, sério.
- Ok! Eu tenho uma coisa pra te contar. - Eu fiz careta. Ele me analisou por algum tempo.
- O que foi que você fez? - Mark me olhou, desconfiado.
- Primeiramente, eu queria pedir desculpa. - Eu forcei um sorriso e ele negou com a cabeça.
- Você está me assustando. Me fala logo. - Ele não sabia o que pensar.
- Ontem, eu fui no seu quarto pra buscar uma roupa pra você vestir depois do banho. - Eu comecei a explicar e ele escutava atentamente, enquanto tentava adivinhar qual era o problema.
- Eu me lembro disso. - Mark afirmou com a cabeça.
- Eu… - Eu fiz careta e hesitei em continuar. - Eu abri a sua gaveta e acabei vendo a sua caixinha. - Eu esperei para ver a reação dele.
- Agora, eu entendi – Mark sorriu mais aliviado.
- Desculpa! Eu me sinto muito mal por isso. - Eu me sentei ao lado dele para poder conversar melhor com ele.
- Você abriu? - Mark perguntou.
- Abri. - Eu voltei a forçar o sorriso mais falso de todos. - Me desculpa. - Ele deixou de me olhar. - Eu me sinto muito idiota agora. - Eu estava tentando me redimir. - Eu sabia que eu não devia abrir, mas eu… - Eu nem sabia explicar o quão idiota eu tinha sido.
- Uma hora você ia ficar sabendo. - Mark ergueu os ombros. Mesmo ouvindo ele dizer aquilo, o fato de ele não me olhar mais me incomodava.
- Você está bravo comigo, não é? - Eu toquei uma de suas mãos para tentar chamar sua atenção. Ele voltou a me olhar, depois de olhar nossas mãos juntas.
- Eu não estou bravo. - Mark afirmou e até sorriu para ser mais convincente.
- Você está me olhando diferente. - Eu argumentei.
- Não, não estou. É só que… - Mark hesitou falar e abaixou novamente para olhar as nossas mãos. - É que agora vou ter que te contar uma coisa também. - Ele voltou a me olhar.
- Se você disser que você conhece outra e que a aliança era pra ela, eu juro que me jogo daqui. - Eu disse e ele riu na mesma hora.
- Na verdade, esse é o nome da minha ex. - Mark tentou ficar sério e eu logo soube que ele estava brincando.
- Nem brinca com uma coisa dessa. - Eu neguei com a cabeça e ele voltou a rir.
- Eu só estou brincando. - Mark tentou ficar mais sério.
- Então, não deve ser tão ruim assim. - Eu esperei que ele contasse.
- Nem é muito importante. Eu só quero contar para ser sincero com você. - Ele estava um pouco sem graça.
- Certo. - Eu continuava esperando.
- Se lembra daquele dia que nós terminamos o que tínhamos? O dia que eu descobri que o estava aqui em Nova York? - Mark perguntou e eu afirmei com a cabeça. - Eu ia te dar a aliança naquele dia. Eu fui até a sua casa pra te pedir em namoro. - Ele não demonstrava estar triste, mas se sentia idiota por estar falando aquilo em voz alta.
- Nossa. - Eu fiz careta na mesma hora.
- É, eu sei. - Mark riu, balançando negativamente a cabeça. - Eu não acredito que te contei isso. - Ele levou uma de suas mãos até o seu rosto.
- Isso é horrível. O que eu fiz com você foi horrível. - Agora eu estava me odiando ainda mais.
- Não! Você não fez nada. - Mark não queria que eu me culpasse. - Fui eu que desisti e acabei abrindo o caminho pro . - Ele tentou diminuir a situação.
- Quer saber? Você tem toda a razão. A culpa foi toda sua. - Eu disse em tom de brincadeira. - Eu fiquei muito mal com aquilo, sabia? - Eu cerrei os olhos na direção dele.
- Então, éramos dois. - Ele ergueu os ombros.
- Já parou pra pensar no que teria acontecido se você não tivesse acabado com tudo? - Eu já não estava falando com tom de brincadeira, mas eu também não estava fazendo drama.
- Bem, a nossa situação seria mil vezes pior do que agora. Descobrir que você namora a sua prima não deve ser a melhor sensação de todas. - Mark negou com a cabeça ao sorrir.
- Esse negócio de primo é um porre, sabia? - Eu disse um pouco indignada. - Nós passamos por muitas coisas juntos e agora essa história de ‘primos’ aparece e nós temos que esquecer tudo e fingir que nunca aconteceu. - Eu esbravejei. Não, eu não estava brava com ele e sim com toda a situação. Foi mais como um desabafo.
- Eu concordo plenamente. - Mark me olhou, sério.
- Então, vamos fazer uma coisa. - Com cuidado, eu virei o meu corpo de frente para o dele. - A partir desse momento, nós não temos nenhum tipo de parentesco. Você é só o filho adorável da minha tia. - Eu decretei e estendi a minha mão em sua direção. Ele encarou a minha mão por algum tempo antes de esbanjar um fraco sorriso e apertá-la.
- E você é só a ex-namorada do imbecil do meu irmão. - Mark riu ao ver a minha expressão de surpresa ao ouvi-lo mencionar o .
- Pegou pesado, hein. - Mark ainda balançava a minha mão pra cima e pra baixo, enquanto nos encarávamos com aquele sorriso malandro no rosto.
- Sem nenhum tipo de parentesco. - Mark se defendeu entre risos.
- Certo. - Eu fui obrigada a aceitar o modo dele de ver as coisas. Fiquei observando ele por algum tempo, enquanto ele continuava sorrindo daquele jeito bobo.
- O que foi? - O sorriso dele aumentou, quando ele me perguntou o porquê de eu olhar daquele jeito pra ele.
- Eu vou dizer uma coisa muito idiota agora e que só depois de saber de tudo isso passou a fazer sentido pra mim. - Eu ainda olhava o sorriso dele. Ele ainda segurava a minha mão, mas já não se tratava de um aperto de mãos.
- Dizer o que? - Mark quis saber.



- O seu sorriso sempre me trouxe um sentimento muito bom, sabe? Eu nunca consegui entender o porquê. Agora, eu sei. - Quando eu falei, o sorriso dele tornou-se um pouco mais tímido. - Você tem o sorriso dela, Mark. - Eu deixei de olhar para os seus lábios e passei a olhar para os seus olhos verdes. Ele sabia que eu estava falando da tia Janice.
- Eu queria tanto ter descoberto tudo isso antes. - Mark abaixou a cabeça por alguns segundos. - Eu queria poder ter olhado pra ela do jeito que eu a vejo agora e memorizar o jeito que ela sorria, o som da risada dela e a forma com que ela lidava com tudo. - Apesar de demonstrar estar triste, ele sorriu. - Eu sinto que não a conheço. Mesmo tendo morado anos ao lado da casa dela, eu sinto que não sei nada sobre ela. - Ele completou.

Lembrar da tia Janice nem sempre me deixava triste. Eu tinha muitas lembranças boas dela e sempre acabava rindo sozinha, quando me lembrava das brincadeiras que costumávamos fazer e das vezes que ela jogava toda a sua lábia pra cima do meu pai para livrar eu e o do castigo. Como eu queria que o Mark tivesse essas lembranças. Isso com certeza faria ele se sentir melhor. Isso faria ele se sentir mais próximo dela.

Depois que saiu da reunião, voltou imediatamente para o hotel. Ele só queria ficar lá deitado, tentando se conformar com tudo. Chegou a pensar no quanto seria ótimo voltar para Atlantic City, rever os amigos e tentar esquecer aquela história, mas o trabalho ainda o prendia em Nova York. Ele não tinha como fugir. também pensava em sair e beber todo o álcool que encontrasse pela frente, mas ele nem ao menos tinha empolgação pra isso. Nas últimas horas, tinha pensado muito na minha situação. O fato de conhecer muito bem o seu pai, o deixava mais apreensivo com o que poderia vir a acontecer. Ao mesmo tempo, ele tentava se convencer que seu pai jamais tentaria me fazer algum mal novamente.

Mark e eu terminamos a noite falando sobre a minha tia. Ele demonstrava muito interesse ao me ouvir falar sobre sua mãe. Parecia que ele tentava aprender um pouco mais sobre ela através das minhas palavras. Era comovente ver nos olhos dele a vontade que ele tinha em saber cada vez mais sobre ela. Era comovente ver nos olhos dele o quanto ele queria ter conhecido a sua mãe.

No final da noite, Mark me levou até a porta da minha casa. Ele disse que fazia questão e que jamais me deixaria sair na rua sozinha naquele horário. A preocupação dele fazia com que eu me sentisse bem e segura, mas também me fazia sentir medo do que eu poderia estar sentindo. Eu acabei de sair de um relacionamento (que na verdade não era exatamente um relacionamento), eu realmente não estou pronta para voltar a pensar nesse tipo de coisa. Ainda mais com um cara como o Mark, que parece ser a definição de tudo o que eu mais preciso na minha vida agora.

O dia seguinte foi um pouco mais conturbado do que o anterior. Os trabalhos na faculdade e o aumento de algumas das minhas funções no hospital me deixaram sem tempo para pensar em nada. Eu estive ocupada o dia todo e cheguei em casa louca para descansar. também trabalhou durante o dia. Acertou novos detalhes com os gerentes do Yankees e até fez uma reunião com o seu chefe pelo computador. Mark também teve os seus afazeres durante o dia e só chegou em casa no final da noite. Ele sempre me esperava chegar para ter certeza de que eu tinha chegado bem. Além disso, ele não dormia sem antes falar comigo. Apesar de estar cansada, o recebi na minha casa naquela terça-feira a noite. Nós comemos uma gororoba que nós fizemos e que provavelmente nunca mais voltaríamos a fazer.

Já era quarta-feira e mesmo estando exausta e já estar implorando pela chegada do final de semana, eu tive uma ótima ideia. Na verdade, era uma surpresa para o Mark. Eu pretendia fazer a surpresa no final de semana, mas eu estava tão ansiosa, que eu não conseguiria esperar até lá. Fui na faculdade pela manhã e trabalhei até o início da noite. No caminho para casa, mandei uma mensagem pro Mark pedindo para que ele fosse na minha casa dali duas horas. Ele insistiu em saber o que eu estava armando, mas eu consegui manter tudo em segredo.

estava um pouco mais preocupado do que o normal. Ele não tirava da cabeça que seu pai ainda poderia tentar fazer alguma coisa contra mim. A sua preocupação fez com que ele passasse a vigiar a casa de seu pai. Saiu diversas vezes do hotel naquele dia para ir até a casa de Steven e só saia de lá quando tinha certeza de que ele estava em casa. também já havia cogitado a possibilidade de me vigiar, mas ele sabia que eu não gostaria da ideia. Além disso, eu tinha pedido para que ele se afastasse e pela primeira vez, ele tentaria fazer isso por mim.

Mark estava tão curioso para saber o que eu estava armando, que não se atrasou um só segundo. Quando deu as duas horas, ele já estava na porta da minha casa. Com sorte, eu não me atrasei naquele dia. Quando a campainha tocou, eu já tinha me vestido ( VEJA AQUI ) e só passei mais um pouco de perfume. Desci a escada as pressas e já fui logo abrindo a porta. Incrível como a minha empolgação me fez esquecer todos os problemas pela primeira vez naquela semana. Eu estava até me sentindo leve.

- Oi. - Eu não abri a porta totalmente e coloquei só a minha cabeça para fora.
- Oi. - Mark sorriu ao me ver.
- Olha, não deu tempo de te avisar, mas vamos ter que cancelar. - Eu sabia o quanto ele estava curioso e disse aquilo só para irritá-lo.
- Você não é louca. - Mark arqueou uma das sobrancelhas, me olhando com desconfiança.
- Está bem. - Eu forcei um sorriso de propósito e abri totalmente a porta. - Pode entrar. - Eu dei passagem para ele. Mark olhou imediatamente para dentro da casa, procurando algo diferente.
- Eu devo ficar com medo? - Mark perguntou antes de entrar na casa. Eu estava achando muito engraçado toda aquela curiosidade dele.
- Você está com medo? - Eu fui logo atrás dele depois de fechar a porta.
- Não. - Mark parou no centro da sala e parecia decepcionado por não encontrar nada de diferente.
- Legal. - Eu cruzei os braços, olhando pra ele.
- E então? - Ele ergueu os ombros.
- Eu… - Eu nem sabia como começar a falar. - Eu sei que as coisas não estão sendo fáceis pra você. Eu tenho pensado muito no que eu poderia fazer para te ajudar. - O assunto não era tão agradável, por isso, ele ficou um pouco mais sério.
- Você já me ajuda muito. - Mark me interrompeu.
- Eu sei. Aliás, eu já sabia que você diria isso. - Eu acabei deixando um sorriso escapar. - Mas eu sei que é impossível ajudar nesse momento. Eu sei que por mais que eu queira ajudar e por mais que você queira receber a minha ajuda, não é assim que funciona. Eu sei disso. - Eu precisava dizer aquilo para chegar onde eu queria. - Mas mesmo não podendo ajudar, eu sei que posso fazer uma coisa por você. - Mark olhava em meus olhos e tentava adivinhar onde eu estava querendo chegar. - Você me disse que queria muito conhecê-la. Você disse que queria saber tudo sobre ela para poder se sentir mais próximo dela. - Eu continuei dizendo. Eu me referia a tia Janice, é claro.
- Sim. - Mark afirmou com a cabeça.
- Eu vou te ajudar a se sentir mais próximo dela. - Eu finalmente revelei a surpresa. - Você vai saber tudo sobre ela. - Eu completei.
- Você vai me contar tudo sobre ela? - Mostrou-se feliz com a ideia.
- Sim. Eu separei algumas coisas para te mostrar. - Eu apontei para o andar de cima da casa.
- Eu quero ver. - Mark sorriu pra mim. Ele estava encantado com o que eu estava fazendo por ele.
- Vem comigo. - Eu me virei de frente para a escada e comecei a subi-la. Mark veio atrás de mim. Eu fui direto para o quarto da tia Janice, que continuava intacto. - Esse é o quarto dela. Você já entrou aqui? - Eu disse, depois de adentrarmos no quarto.
- Não. - Mark olhava para cada detalhe do quarto. Sem que eu dissesse nada, ele se aproximou da penteadeira que havia no quarto. Era lá que estavam os perfumes e alguns acessórios da minha tia. - É o perfume dela? - Ele abriu o frasco e sentiu o cheiro.
- Era o perfume favorito dela. - Eu contei a ele.
- É muito bom. - Mark me olhou e sorriu. - Na verdade, era exatamente do jeito que eu imaginava. - Ele completou.
- Essas são as joias dela. - Eu disse, depois de abrir o porta-joias. - Eu nunca a vi sem joias. Ela era muito vaidosa. - Eu disse. - Nossa! Essa corrente… - Eu a tirei do porta-joias. - Ela não saia de casa sem essa corrente. - Eu mostrei pra ele.
- Eu nunca notei isso. - Mark pegou a corrente nas mãos.
- Eu estava com ela quando ela comprou esses brincos. Foi em uma joalheria que tinha no shopping aqui perto. Ela só comprava lá. - Eu lembrei.
- Você… não mexeu no quarto? Nunca quis se desfazer dessas coisas? - Mark perguntou ao deixar de olhar as joias.
- Não. Eu jamais teria coragem para fazer isso. - Eu olhei em volta. - Está exatamente do jeito que ela deixou. - Eu expliquei. Sem qualquer vergonha, ele foi até o guarda-roupa e abriu uma das portas. As roupas da tia Janice ainda estavam todas lá. Mark passou uma das mãos pelas blusas que estavam penduradas no cabide. Eu observei a cena de longe por algum tempo, mas depois resolvi me aproximar. - Essa blusa... - Eu tirei a peça de roupa do cabide. - Era a blusa favorita dela. Ela ganhou da minha avó. - Eu expliquei com um fraco sorriso no rosto.
- Você está sentindo esse cheiro também? - Mark perguntou com tristeza.
- É o cheiro dela. - Eu levei a blusa que estava na minha mão até o meu nariz para sentir o cheiro mais de perto.
- Isso é… - Mark estava sem palavras. Olhou novamente para as roupas dentro do guarda-roupa. - Eu estou arrepiado. Olha isso. - Ele levantou a manga de sua blusa e me mostrou o seu braço. Ele realmente estava arrepiado e um pouco emocionado também, mas ele tentou disfarçar com um sorriso.
- Você está sorrindo ao invés de chorar. A minha tia também fazia isso. - Eu disse, enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. O jeito que ele falava sobre ela e o jeito que tudo aquilo o afetava acabava me afetando também. - Droga. Porque vocês conseguem e eu não? - Eu perguntei aos risos, enquanto passava as mãos pelos meus olhos para evitar que as lágrimas escorressem.
- Não seja boba. - Mark sorriu pra mim, tirou uma das minhas mãos do meu rosto e me puxou para um abraço. - Você pode chorar, se quiser. - Ele acariciou a minha cabeça, enquanto aconcheguei a minha cabeça em seu pescoço.
- Ela deve estar olhando pra nós agora e, com certeza, está rindo de mim. Ela sempre dizia que eu era muito chorona. - Eu disse em meio ao abraço.
- Mas eu não estou rindo de você. - Mark disse.
- Deixa eu ver. - Eu afastei um pouco os nossos corpos para poder olhar em seu rosto.
- Viu? Eu não estou rindo. - Mark esforçou-se para ficar sério, mas acabou deixando um sorriso escapar.
- Oh, meu Deus. Você está rindo sim. - Eu cerrei os olhos, enquanto olhava para os seus lábios.
- Não estou. - Mark disse antes de começar a rir de vez.
- Você não vale nada. - Eu o empurrei, me desvincilhando de seus braços.
- Ok, me desculpa. - Mark confessou. - Eu não estou rindo de você. Eu estou rindo porque você estava me olhando daquele jeito intimidador e me pressionando para não rir. - Ele se explicou.
- Eu estou aqui fazendo toda essa surpresa pra você e você fica ai rindo da minha cara. - Eu fiz um drama, mas é claro que era brincadeira.
- Não! Não! Me desculpa. - Mark voltou a me abraçar na mesma hora.
- Não vem com essa agora. - Eu tentei me desvincilhar de seus braços fortes novamente, mas ele não deixou dessa vez.
- Para com isso. - Mark me virou de frente pra ele. Na hora em que ele me virou, o meu rosto acabou se aproximando demais do dele. A situação causou um clima muito constrangedor entre nós. - Não fica brava comigo. - Ele pediu, mas ainda me olhava daquele jeito que me deixava meio desnorteada.
- Certo, mas mantenha esses olhos verdes longe de mim, ok? - Aproximei uma das minhas mão de seu rosto e a coloquei em frente de seus olhos. - Melhor. - Eu disse e vi o sorriso dele aumentar.
- Você é quem sabe. - Mark ergueu os ombros. Afastou suas mãos de mim e as colocou pra cima, demonstrando inocência.
- Bom garoto. - Eu abaixei a minha mão e olhei para ele meio sem graça. Eu agradeci mentalmente por ele ter se afastado. - Agora, vem comigo. Eu quero te mostrar uma outra coisa. - Eu mudei de vez de assunto. Fui saindo do quarto e ele me acompanhou. Fomos para o meu quarto dessa vez. - Eu separei algumas coisas. - Eu disse pegando uma caixa que estava no chão e colocando-a sobre a minha cama. Eu me sentei na cama e o Mark fez o mesmo. A caixa ficou entre nós.
- Não me diga que isso é um troféu de campeonato de líder de torcida. - Mark retirou o troféu de dentro da caixa, que era o que estava por cima de tudo.
- Acredite. - Eu confirmei a informação.
- Caramba! Por essa eu não esperava. - Mark deixou de olhar o troféu para me olhar.
- E isso não é a coisa mais surpreendente. - Eu arqueei uma das sobrancelhas ao olhar pra ele e logo depois peguei algo no fundo da caixa: um CD.
- Bon Jovi? - Mark não acreditou ao ver o CD na minha mão.
- Bon Jovi. - Eu afirmei com a cabeça.
- Você está brincando. - Mark pegou o CD das minhas mãos para ter certeza de que era verdadeiro. - Minha mãe era fã do Bon Jovi. - Ele estava chocado. - Eu tenho esse CD também. - Mark disse.
- Você também gosta? - Eu perguntei, surpresa.
- Eu não sou tão fã da banda, mas é o meu estilo favorito. - Mark explicou. - Depois eu te levo lá em casa para te mostrar os meus CD’s. - Ele adoraria me mostrar e me deixar saber mais dele. - Não acredito que ela era fã de Bon Jovi. - Mark suspirou.
- Ela foi em vários shows. - Eu dei mais informações para ajudá-lo a aceitar a novidade. - Meu pai me contou que uma vez ela fugiu de casa para ir em um show deles com a melhor amiga dela. Meus avós quase morreram de preocupação. Chamaram a polícia e tudo. - Eu contei aos risos.
- Não acredito. - Mark começou a rir junto comigo.
- Ela era um pouco rebelde. Meu pai ficava louco atrás dela. - Eu ainda ria. - Eu acho que é por isso que ela sempre ajudou eu e o com o meu pai. Ela já tinha manha, sabe? - Eu disse.
- Bem, acho que podemos dizer que não herdei a rebeldia dela. - Mark brincou. - Aparentemente, meu pai também é um pouco rebelde. Então, eu te pergunto: pra quem eu puxei? - Ele arqueou uma das sobrancelhas.
- É uma boa pergunta. - Eu fiquei um pouco pensativa.
- Será que eu sou adotado? - Mark brincou com a sua própria situação. Eu o olhei com deboche, neguei com a cabeça e acabei sorrindo.
- Você é inacreditável. - Eu disse, sem conseguir evitar a risada.
- Eu sei. - Mark negou com a cabeça. Era admirável o jeito dele de rir de tudo para não tornar tudo mais difícil para nós dois. Era ridículo pensar o quanto era fácil para ele me fazer rir.
- Tem essas fotos também. - Eu entreguei nas mãos dele as fotos que eu tinha tirado da caixa. - Eram as amigas dela da escola. Ela tinha 15 anos, eu acho. - Eu disse. - Uma vez ela até me disse o nome das amigas, mas eu não lembro agora. - Eu expliquei depois de muito pensar.
- Ela era muito bonita. - Mark comentou.
- Ela era, não é? - Eu concordei com ele. - Você pode ficar com uma foto se você quiser. - Eu dei a ideia.
- Eu quero sim. - Mark escolheu a foto mais bonita para levar, a foto em que a minha tia mais sorria.

Ficamos mais algum tempo vendo todas as coisas que estavam dentro daquela caixa. Ele mostrava-se surpreso a cada coisa que descobria sobre sua mãe. Apesar de ser uma situação um pouco trágica, Mark estava levando tudo numa boa. É claro que as vezes ele acaba ficando meio triste, mas nada que nos impedisse de continuar falando sobre a tia Janice. Tudo foi sobre a tia Janice naquela noite, até mesmo a comida. Sim, eu fiz questão de ir a um restaurante francês para comprar o prato favorito dela para nós jantarmos. Era um prato super chique e refinado, que eu nem ao menos conseguia pronunciar o nome.

- Ela realmente comia isso? - Mark pareceu não ter ido muito com a cara do prato.
- Ela amava isso! Sempre insistiu para que eu comesse, mas eu nunca tive coragem. - Eu fiz careta ao olhar para o prato.
- Não pode ser tão ruim, certo? - Mark tentou nos motivar.
- Você tem razão. - Eu tinha que deixar aquele preconceito de lado.

O prato favorito da tia Janice não tinha um visual muito atraente, mas eu juro que o sabor era incomparável. Eu e o Mark não esperávamos que aquilo fosse tão bom. Nós comemos tudo e arrisco dizer que se tivesse mais, comeríamos mais. Durante o jantar, ficamos trocando histórias sobre a tia Janice. É claro que eu tinha muito mais histórias para contar, mas as histórias do Mark também eram muito boas. Quando terminamos de jantar, tiramos a mesa juntos e até lavamos a louça.

- Vamos lá em casa. Eu vou te mostrar os CD’s que eu te disse. - Mark deu a ideia, depois que parecia não ter mais nada para fazer.
- Vamos. - Eu concordei. Fomos juntos até a porta e depois de trancá-la, eu acenei para o Big Rob para ele ver que eu estava indo até a casa do Mark.

Atravessamos o jardim e chegamos na casa do Mark. Depois de me convidar para entrar, nós fomos direto para o seu quarto. Ele começou a me mostrar seus diversos CD’s. A maioria deles era de bandas de Rock, que era o estilo musical favorito do Mark. Sim, isso ainda soa bem estranho para mim. É difícil olhar para o Mark e imaginá-lo em um show do AC/DC. Ele me mostrava os CD’s empolgadamente e eu dava a ele toda a minha atenção, mesmo sendo um pouco ignorante quando o assunto era Rock.

Naquela noite de quarta-feira, estava mais uma vez escondido próximo a casa de Steven. Ele estava tentando descobrir se seu pai ainda tinha alguma pretensão de vingança. Ele queria ter certeza de que eu estaria a salvo daqui pra frente. Coincidentemente (ou não) , Steven recebeu duas visitas inusitadas naquela noite. Dois homens realmente estranhos adentraram a casa de Steven, deixando completamente desconfiado. Mesmo sem saber o motivo da visita, ele sabia que havia algo muito errado. Foi nesse momento em que o seu medo de que algo pior acontecesse comigo falou mais alto do que o seu próprio orgulho. precisava evitar qualquer coisa que pudesse vir a me acontecer.

- Olha o CD do Bon Jovi. É igual ao dela. - Mark me mostrou o CD, que também estava na coleção da tia Janice.
- Você tem mesmo. - Eu peguei o CD nas mãos. - Eu acho que a favorita dela era ‘It’s My Life’. - Eu disse ao olhar a lista de músicas no lado detrás do CD.
- E qual é a sua favorita? - Mark me olhou.
- A minha? - Eu o olhei com careta. - Olha, não me entenda mal. Eu não tenho nada contra, mas é que eu não sou fã, sabe? - Eu me senti mal por estar falando aquilo para ele.
- Certo. - Mark afirmou com a cabeça. - Quer saber qual é a minha favorita? - Ele perguntou.
- Quero. - Eu demonstrei interesse.
- Espera um minuto. - Mark se afastou para pegar um CD. Depois de pegá-lo, o colocou para tocar em seu rádio. Eu observei ele o tempo todo. - Essa. - Ele disse antes de apertar o play e virar-se para me olhar.
- Eu conheço essa. - Eu sorri ao ouvir ‘Misunderstood’. Eu estava apoiada em uma pequena mesa que ele tinha em seu quarto.
- Todo mundo conhece. - Mark sorriu e parou na minha frente. Repentinamente, ele estendeu uma das mãos em minha direção. O meu sorriso aumentou ainda mais ao ver o seu gesto.
- Sério? - Eu sabia que ele não costumava dançar.
- É melhor aceitar antes que eu desista. - Mark me olhou com aquele sorriso malandro, que me fez rir.
- Está bem. - Eu levei a minha mão até a dele e ele me puxou. Depois de me trazer pra perto, ele levou a minha mão até o seu pescoço e eu fiz o mesmo com a minha outra mão. Ele passou os seus braços em volta da minha cintura.
- O que você pretende com isso? - Eu o olhei com desconfiança. A música tocava e nós dançávamos lentamente.
- Você não tinha uma música favorita. Estou te emprestando a minha. - Mark disse, me fazendo rir.
- Me emprestando a sua? - Eu repeti a frase, enquanto segurava a risada. - Eu não sei se consigo lidar com tanta responsabilidade. - Eu brinquei, olhando pra ele de perto.
- Eu sei que consegue. Eu confio em você. - Mark distribuiu olhares pelo meu rosto. Quando eu percebi, já havia me perdido em seus olhos verdes. Eu já os olhava intensamente por algum tempo. Aquilo me deixou muito sem graça e a única atitude que eu consegui tomar foi me aproximar um pouco mais e tirar o meu rosto da frente do dele. Apoiei o meu queixo em seu ombro e mantive meus braços em torno do seu pescoço. Um sorriso espontâneo surgiu no rosto dele, quando ele percebeu o quão sem graça eu fiquei. O cheiro do perfume dele ficou ainda mais intenso quando eu aproximei o meu rosto do seu pescoço e eu só conseguia me perguntar: ‘o que eu fiz para ser tão torturada desse jeito?’. Estava ficando cada vez mais difícil ficar perto dele. Eu não consigo ficar mais de um minuto olhando aqueles olhos verdes, que eram a coisa mais fascinante que eu já vi em toda a minha vida e também não conseguia sentir o perfume dele sem sentir o meu coração disparar. Eu só consegui voltar a respirar, quando a música acabou e nós, consequentemente, tivemos que nos afastar.
- Certo. Me pergunta de novo. - Eu continuei de frente para ele, mas já não estávamos tão próximos como antes.
- Perguntar o que? - Mark me olhou, sem entender.
- Qual a minha música favorita do Bon Jovi. - Havia um sorriso no canto do meu rosto. Ele também sorriu pra mim.
- Está bem. - Mark respirou fundo e coçou a garganta. - Qual é a sua música favorita? - Ele me olhou, segurando o riso.
- Com certeza é ‘It’s My Life’. - Eu disse e ele me olhou com cara feia. - Brincadeira. - Eu gargalhei. - A minha favorita definitivamente é ‘Misunderstood’e algo me diz que eu não vou mudar de ideia tão cedo. - Eu disse, sem jeito.
- Se algum dia você pensar em mudar de ideia, você pode me chamar e nós dançamos de novo. - Mark brincou, me fazendo rir.
- Eu vou me lembrar disso. - Eu afirmei com a cabeça.
- Fica com isso. - Mark estendeu o CD na minha direção.
- Não! Eu não posso. É o seu CD. - Eu recusei na mesma hora.
- Eu sei, mas eu quero que você fique com ele. - Mark insistiu.
- Mark… - Eu neguei com a cabeça.
- Como forma de agradecimento. - Mark argumentou.
- Agradecimento pelo que? - Na minha opinião, ele não tinha motivos para me agradecer.
- Por hoje. - Mark sorriu fraco. - Por ontem e também por amanhã. Por tudo. - Ele me olhava nos olhos e eu mal conseguia desviar o olhar. Era impossível.
- Você sabe que não precisa me agradecer. Ainda mais depois de tudo o que você fez por mim. - Eu o olhei carinhosamente. - Você pode até não acreditar, mas ajudar você está sendo o meu melhor remédio para tudo o que tem acontecido na minha vida. Ajudando você, eu estou me ajudando também. - Eu não queria falar tanto naquele assunto, mas eu precisava que ele soubesse daquilo.
- Você não faz a menor ideia do quanto tudo isso significou pra mim. - Ele estava falando sobre aquela noite.
- Eu faço sim. - Eu me adiantei. - Eu sei o quão valioso é a família. Eu também sei o quanto é importante quando alguém faz algo por ela. - Eu estava mencionando o fato dele ter salvo o meu pai. - Você salvou a minha família e agora, eu estou salvando a sua, ou… uma parte dela. - Eu fiz careta.
- A melhor parte dela, você quer dizer. - Mark riu de sua própria desgraça. - Olha, eu sinto que ainda preciso te agradecer por tudo isso. - Ele insistiu no assunto.
- Pode parar. - Eu balancei a cabeça negativamente.
- Me deixe te levar pra jantar. - Não foi uma pergunta, foi mais uma sugestão.
- Me levar pra jantar? - Eu cruzei os braços, fingindo pensar no assunto.
- É! É uma maneira bem sutil de agradecer o que você tem feito por mim. - Sim, aquilo era um convite. Porque estou tão nervosa com isso?
- Eu… - Eu não sabia ao certo o que dizer.
- Dá pra você ao menos fingir que está pensando sobre isso para que eu não pareça tão idiota? - Mark me interrompeu.
- Você não é idiota. - Eu o olhei com cara feia. - É que… - Eu hesitei continuar. Quer saber a verdade? Fazer isso me assusta muito. Todo mundo sabe que o nome mais conhecido desse jantar é ‘encontro’. Eu ainda não sei se quero ir além com isso. Não tem nada a ver com o Mark. Não tem a ver com gostar dele ou não. Tem a ver com o meu medo de viver tudo isso de novo.
- Vamos! Você não vai me dizer não, vai? - Mark fez cara de cachorro que caiu da mudança. Como eu poderia resistir?
- Quando? - É claro que eu acabei cedendo. Apesar desse meu medo estúpido, eu adorava estar com ele.
- Amanhã? - Mark me olhou com sua expressão de dúvida.
- Você vai achar que eu estou mentindo, mas amanhã não vai dar. Eu combinei com o meu chefe em ficar até mais tarde no hospital para pagar as horas que eu estou devendo. - Eu fiz careta só em pensar no quanto eu trabalharia no dia seguinte.
- E no feriado? - Mark perguntou.
- Feriado? - Eu pensei por algum tempo. Eu não me lembrava de feriado algum.
- Veterans’ Day. - Mark achou graça do quão perdida eu estava.
- É mesmo! - Eu fiquei surpresa. - Eu não me lembrava! - Minha cabeça estava tão cheia de problemas, que eu nem me lembrei do tal feriado.
- Isso quer dizer que o nosso jantar pode ser na sexta? - Mark sorriu pra mim.
- Sim! Pode ser. - Eu concordei na mesma hora.
- Certo, então está combinado! - Ele ficou todo feliz por eu ter aceitado o seu convite. Mark queria se convencer de que era apenas um jantar, mas ele sabia que acabaria significando muito mais do que isso para ele. Ele não conseguia evitar.
- Bem, eu acho que… - Eu peguei o meu celular para ver o horário. Eram quase 11 horas. - É melhor eu ir pra casa. Amanhã o dia vai ser longo. - Eu fiz careta. Eu não queria ter que acordar cedo no dia seguinte.
- Nem me fale. - Mark suspirou longamente.
- Então, boa noite. - Eu disse ao me aproximar para abraçá-lo. Ele me acolheu em seus braços com o seu jeito único, que me fazia pensar que meu corpo foi milimetricamente planejado para se encaixar perfeitamente nos braços dele. Ele me abraçou forte e enroscou os seus dedos em meu cabelo. Afastei o meu corpo do dele e o encarei. Levei uma das minhas mãos até um dos lados do seu rosto e me aproximei para dar um beijo do outro lado.
- Boa noite. - Mark também depositou um beijo em meu rosto, enquanto mantinha os dedos de uma de suas mãos entrelaçados em meu cabelo. Quando ele finalizou o beijo carinhoso, olhou em meus olhos de perto e depois olhou para os meus lábios quando eu sorri. - Eu te levo até a porta. - Ele ficou sem jeito com a situação e tratou de mudar de assunto.
- Certo. - Eu tive que segurar o riso no caminho até a porta. Era muito estranho o fato de que, mesmo com tudo isso que estava acontecendo em nossas vidas, nós ainda termos tempo e cabeça para ficar sustentando esses climas estranhos e aqueles sorrisos idiotas. Passamos pela sala de estar e chegamos na porta.
- Eu abro pra você. - Mark se adiantou. Tocou a maçaneta da porta e a girou segundos antes da campainha ser tocada. Quando ele abriu a porta, demos de cara com o . Isso não poderia acontecer no momento mais propício, não é?

Foi um dos momentos mais estranhos da minha vida. Nós 3 ficamos um bom tempo em silêncio, mas os nossos olhares diziam muito. A decepção no olhar de ao nos ver juntos foi extremamente visível. Ele olhou para o Mark e depois me olhou. Eu fiquei olhando pra ele, sem saber o que fazer. Eu estava completamente sem reação. Mark ficou irritado na mesma hora. Olhou duramente para o irmão como se perguntasse ‘O que você quer aqui?’.



- Oi. - esforçou-se para dizer aquilo da forma mais natural possível. Ele olhou para o Mark depois para demonstrar que o cumprimento também era pra ele.
- Oi… - Eu até tentei sorrir, mas foi um fracasso. Eu nem conseguia desfarçar. - Eu estou indo, Mark. - Eu virei de costas para o e olhei para o Mark com uma expressão nada boa.
- Eu te vejo sexta-feira às 8! - Mark até me daria outro beijo, mas não queria que parecesse provocação.
- Certo. - Eu consegui sorrir pro Mark. Eu sabia que aquilo não era culpa dele. - Boa noite. - Eu disse e já fui me afastando. Tive que passar pelo e também tive que olhá-lo por poucos segundos. Cruzei os meus braços e sai andando.

Cruzei o jardim e cheguei na porta da minha casa. Eu nem me lembrei de olhar ou dar qualquer sinal para o Big Rob. Eu estava um pouco nervosa. Entrei na minha casa e fechei a porta na mesma hora. Parecia até que eu estava me escondendo de alguém e, na verdade, eu estava. Eu estava me escondendo e fugindo do meu passado. Porque ele continua me perseguindo?

Mark só deu atenção para o irmão, quando me viu entrar em casa. também acompanhou o meu trajeto até a minha casa em silêncio. Havia milhões de coisas passando pela cabeça dele agora. já tinha certeza que eu e o Mark estávamos saindo e que logo estaríamos juntos. A primeira coisa que ele pensou? ‘Uau! Ela nem perdeu tempo.’.

- O que você está fazendo aqui? - Mark encarou o irmão com cara de poucos amigos.
- Eu quero falar com você. - tentou ignorar o que tinha acabado de ver.
- Nós não temos nada para conversar. - Mark falou friamente.
- Dá pra parar de bancar o rebelde? - fez careta, demonstrando impaciência. - Eu sou o Jonas rebelde, não você. - Ele passou pelo Mark e entrou na casa mesmo sem ser convidado.
- Dá pra falar de uma vez? Eu não tenho tempo pra perder. - Mark o olhou com indiferença.
- Você devia estar bem ocupado mesmo. - É claro que o faria algum comentário desse tipo.
- Vai falar ou não? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- É sobre a . - odiava a ideia de ter que falar daquele assunto com o Mark, mas ele faria um esforço, pois era para o meu bem.
- Que surpresa! - Mark sorriu com deboche.
- Dá pra parar de agir como um babaca? O assunto é sério! - continuava demonstrando impaciência.
- O que tem a ? - Mark atendeu o pedido do irmão.
- Eu acho que… ela pode estar em perigo. - falou, sério.
- De que tipo de perigo estamos falando? Você ou o seu pai? - Mark ironizou e reagiu na mesma hora. Foi pra cima dele, segurou a sua camiseta e o colocou contra a parede.
- É melhor tomar cuidado com o que fala, idiota. - disse ao encará-lo e logo depois o soltou. Sua intenção foi apenas assustá-lo. - Eu estou falando sobre o meu pai. Aliás, nosso pai. - Ele respirou fundo e se recompôs.
- O que ele está planejando? - Mark interessou-se pelo assunto.
- Eu não sei o que ele está planejando. Eu só sei que ele recebeu visitas de alguns caras bem estranhos. Ele nunca recebe visitas de ninguém. Se ele recebeu, você pode ter certeza que não é coisa boa. - explicou a situação.
- Você viu alguns caras entrando na casa dele e já deduz que ele está planejando um novo ataque? Tudo isso é rancor ou… - Mark não levou muita fé nas informações do irmão.
- Eu conheço ele, ok? Ele é muito teimoso e costuma terminar tudo o que começa. - olhou Mark com irritação. - Se estou dizendo que ele vai vir atrás dela de novo, acredite! - Ele completou.
- Eu sei de todos os riscos que ela corre, está bem? Eu estou de olho nela. Nada vai acontecer. - Mark não demonstrou preocupação. Ele não queria que soubesse que a sua informação tinha sido útil. - Afinal de contas, eu sou o Jonas protetor, não você. - Ele ironizou a frase anterior de .
- Jonas, não é? Certo. - rolou os olhos ao sorrir com sarcasmo. Ele demoraria para aceitar que o Mark também era um Jonas.
- Era só isso? Então, acho que você já pode ir embora. - Mark apontou em direção a porta e forçou um sorriso para o irmão.
- Você nem ao menos vai me agradecer? - o olhou com o mesmo sorriso falso.
- Te agradecer? Pelo que? - Mark riu com deboche.
- Eu não sei. Talvez por fazer o seu trabalho! - esperou para ver a reação do irmão.
- Meu trabalho? - Mark ficou mais sério.
- Esse é o seu trabalho, não é? Cuidar dela? - percebeu que o assunto o incomodou.
- Não sei porque ainda perco meu tempo com você. - Mark rolou os olhos e se afastou, indo em direção a porta. - Vai embora. - Ele abriu a porta.
- Só um conselho: se você quer mesmo ser o Jonas protetor, seja protetor. Mantenha os olhos no papai do mal e não só na garota. Costuma funcionar. - disse antes de passar pela porta e sair casa.
- Babaca. - Mark esbravejou, observando o irmão se afastar e entrar em seu carro.

As palavras de ficaram o resto da noite na cabeça de Mark. Mesmo ele não tendo demonstrado, as informações que ele deu o preocupou. É claro que ele contava com a possibilidade de um novo ataque do Steven, mas probabilidade disso acontecer aumentou muito depois do que o lhe contou. A imagem da porta da casa do Mark também estava impregnada na cabeça do . Ele não imaginava que ver aquilo o deixaria tão incomodado. Ele sempre teve ciúmes do Mark, mas agora era diferente. Mark era o seu irmão e pela primeira vez as chances dele comigo eram muito maiores do que as de . Isso provavelmente não o deixaria dormir.

A minha falta de sono também tinha motivo. Eu estava me sentindo a pessoa mais imoral do mundo. Me ver entre os dois irmãos naquele dia foi a situação mais patética de toda a minha vida. Eu sei que não estava fazendo nada de errado, pois eu e o não temos mais nada. O problema é que está tudo muito recente. Eu sei que não deveria me importar com a opinião de sobre tudo isso, mas eu queria saber o que ele estava pensando sobre aquilo. Do jeito que ele é, já deve estar achando que eu e o Mark estamos de casamento marcado! Eu não quero que o pense que estou fazendo isso para puni-lo. Eu também não quero que o Mark pense que eu estou usando ele para superar o . Nenhuma das opções era certa. Minhas intenções não são essas, mas em relação aos meus sentimentos eu já não posso dizer nada com certeza.

O trabalho intenso no dia seguinte não me deixou pensar em nada disso. Mark também teve um dia difícil, pois as novas informações recebidas obrigaram ele a tomar algumas precauções. Já o , não trabalhou naquela véspera de feriado e isso deu a ele mais tempo para ficar pensando em besteiras relacionadas a mim e o Mark. Até mesmo as melhores hipóteses que passavam por sua cabeça deixavam ele inquieto. Se fosse há alguns dias, ele já teria tomado uma atitude, mas depois do meu pedido para que ele se afastasse, ele tentou ser um pouco mais tolerante. Ele se esforçou muito para relevar tudo aquilo. Ele se esforçou para passar por cima daquele ciúme absurdo. Ele se esforçou para deixar isso pra lá. Na verdade, todo o seu esforço durou aproximadamente até as 8 horas da noite daquela quinta-feira. Depois de passar o dia pensando em tudo aquilo, teve uma ideia que acabaria matando dois coelhos com uma cajadada só. Ele voltaria na casa do Mark naquela noite para resolver o problema.

- Você de novo? - Mark suspirou e fez careta ao ver o irmão de novo na porta de sua casa.
- Eu sei exatamente quem você é! - já foi logo falando, antes que o Mark batesse a porta na sua cara.
- Eu sou o Mark, prazer! - Mark ironizou.
- Não banque o bobo. Você sabe exatamente do que eu estou falando! - não sairia dali enquanto não tirasse a verdade dele.
- E do que você está falando? - Mark continuou fazendo-se de bobo.
- Estou falando dessa sua obsessão em proteger a e dessas habilidades que um idiota como você jamais teria. - disse com um sorriso vitorioso. Ele estava feliz por ter juntado todas as peças.
- Habilidades? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Quando a ficou presa naquele prédio, você vasculhou aquele lugar como um cachorro farejador. Seu estranho interesse em protegê-la e saber de tudo sobre a pessoa que estava ameaçando ela. O jeito que você segurou aquela arma. - foi juntando os fatos, que foram deixando o irmão um pouco assustado. - Você é mesmo o herói, certo? - Ele negou com a cabeça, mas manteve o sorriso no rosto.
- Sim, eu sou. Está vendo a minha capa? - Mark estava tentando usar o seu deboche para desconstruir os argumentos de .
- É o seu trabalho, certo? Protegê-la. - já não tinha mais dúvidas.
- Você realmente está levando essa história de herói a sério, não é? - Mark forçou um riso.
- Eu ouvi muito bem o que você disse pro meu pai naquele dia. Você disse que aprendeu a atirar sozinho e que, por isso, tinha um emprego incrível. - finalmente usou o melhor argumento do dia. O argumento do qual Mark não tinha como escapar. - E então, pra quem você trabalha? - Ele percebeu que a sua última frase tinha realmente preocupado o Mark. - Guarda de trânsito? FBI? Narcóticos? CIA? SWAT? Vamos, me conte! - Ele encarou o irmão, sério.
- De onde você tirou isso? - Mark negaria o quanto pudesse.
- Diga de uma vez! - se irritou e chegou a alterar o tom de sua voz.
- Eu não tenho nada pra dizer! - Mark respondeu da mesma forma.
- Quer saber de uma coisa? Independentemente do seu departamento, ela vai ficar furiosa com você! Você sabia, né? - já foi logo dando a sua boa notícia para o irmão. Ele estava falando sobre mim.
- Não se intromete. Isso não é problema seu, entendeu? - Mark ficou mais sério e aproximou-se de . - Fica fora disso. - Ele deu a ordem para o irmão. A sua reação foi muito mais do que uma confissão.
- Sabe mesmo qual é o meu problema? - sorriu, vitorioso. - Esse hotel de merda que eu estou tendo que dormir. - O jeito dele de falar até mudou. Aparentemente, o seu plano estava entrando em ação.
- Certo. - Mark não sabia porque seu irmão estava lhe contando aquilo. - Você está esperando o que para voltar para Atlantic City? - Ele arrumou uma rápida solução.
- Voltar pra Atlantic City? - riu com deboche ao ouvir a solução dada por Mark. - Mas eu acabei de encontrar um ótimo lugar pra ficar. - Ele arqueou uma das sobrancelhas e a cara de malandro era inegável.
- E onde seria? - Mark cruzou os braços, esperando ouvir o pior.
- A sua casa, é claro! Ela é bem grande, certo? Ouvi dizer que a vizinhança é muito boa. - tentou olhar para dentro da casa, já que eles ainda estavam conversando na porta. Mark começou a rir na mesma hora.
- E o que te faz pensar que eu vou deixar você ficar na minha casa? - Mark ainda ria um pouco.
- Porque você não tenta adivinhar? - não se abalou com os risos do irmão.
- Está mesmo tentando me chantagear? - Mark perguntou com deboche.
- Não é chantagem. É só uma troca de favores! Eu guardo o seu segredo e você me convida para morar na sua casa temporariamente. - A ousadia e cinismo de começavam a tirar Mark do sério.
- Ok. Eu vou ser bem claro e objetivo aqui, certo? Você jamais vai morar comigo e eu também não vou ceder as suas chantagens. Se você quer contar pra ela, fique à vontade. Estou disposto da lidar com as consequências. - Mark foi curto e grosso. - Agora, vê se dá o fora da minha casa. - Ele disse antes de bater a porta na cara de .

A atitude de Mark deixou o furioso e também o surpreendeu. Ele não esperava que o Mark acabaria com o seu plano assim tão fácil. até poderia ir até a minha casa e me contar toda a verdade sobre ele, mas não era isso o que ele queria. Na verdade, o que o queria mesmo era ficar perto de mim. Ele queria ter certeza de que nada aconteceria comigo e também queria saber o que já estava acontecendo entre mim e o Mark. É claro que ele sabia que a presença dele na casa de Mark dificultaria muito um possível relacionamento que poderíamos vir a ter. Morar na casa do Mark seria uma droga pro , mas ele estava disposto a fazer esse sacrifício pela minha segurança e por tudo o que já passamos juntos.

O plano de foi um fracasso! Ele não conseguiu tapear o irmão e não conseguia pensar em outra maneira de fazer isso. Apesar de não ter cedido a chantagem, Mark estava muito preocupado com o que poderia fazer. Ele não sabia qual seria a minha reação ao descobrir que ele tinha me enganado por tanto tempo, mas ele tinha quase certeza de que ela não seria boa. Aquilo o deixou completamente agoniado durante toda a noite. Mark tentou pensar na melhor forma de se explicar pra mim, mas nada parecia bom o bastante. Ele não sabia se estava pronto para me perder logo agora em que precisava tanto de mim. Ele não sabia se estava pronto para se tornar mais um dos meus problemas.

O desastroso plano de também tirou o seu sono durante a noite. Ele não podia deixar que o encontro que eu e o Mark tínhamos no dia seguinte acontecesse. Ele precisava encontrar uma outra solução para o seu problema. Ele precisava impedir o que eu e o Mark tínhamos. Ele precisava lutar por mim mais uma vez. Sem saber de nada, eu dormi como uma pedra naquela noite. Eu estava extremamente cansada por causa do trabalho. Ao chegar em casa, tomei um banho e comi alguma coisa antes de ir para cama.

Entre um cochilo e outro, acabou tendo um sonho que lhe deu uma ideia maravilhosa. Logo pela manhã, deu alguns telefonemas e acertou os últimos detalhes do que seria a sua última cartada. Eu acordei bem tarde naquela sexta-feira e aproveitei a tarde livre para adiantar alguns trabalhos da faculdade. Mark não apareceu na minha casa durante o dia todo, o que me deixou intrigada. O único sinal de vida que ele deu foi uma mensagem de texto que ele mandou no final da tarde em que ele perguntava se o nosso jantar estava confirmado. Mark não sabia se o tinha me contado o seu segredo, por isso, ele não teve coragem de aparecer na minha casa. Ele ainda não tinha uma boa explicação para me dar. Quando eu respondi a sua mensagem confirmando o jantar, ele ficou muito aliviado, pois sabia que não tinha me contado nada. A minha mensagem tirou um peso enorme de suas costas.

Terminei os meus trabalhos da faculdade um pouco mais de 6:30 da tarde e já comecei a me preparar para o jantar (encontro cof, cof) daquela noite. Como a noite acabou esfriando, eu tive que trocar o meu vestido por uma calça, blusa de manga cumprida, um casaco bem quente por cima e botas de couro ( VEJA AQUI ). A roupa me pareceu meio simples, por isso resolvi caprichar mais na maquiagem. Não usei nada muito escuro e nem muito forte, mas depois de ver o resultado no espelho acabei ficando mais satisfeita. Não coloquei muitos acessórios, pois eu estava com tanta roupa que eles nem ao menos apareceriam. Resolvi usar apenas alguns anéis. A campainha tocou e eu ainda não estava pronta. Que surpresa!

Mark estava ansioso para aquela noite. Ele sempre ficava ansioso quando marcava alguma coisa comigo. Ele sempre ficava ansioso para me ver. A demora para que eu abrisse a porta fez com que ele deduzisse que eu estava atrasada. Mesmo não estando pronta, eu desci as escadas correndo para abrir a porta para ele.

- Hey! Desculpe. - Eu abri a porta com a respiração ofegante.
- Não tem problema. - Mark sorriu pra mim, enquanto entrava na casa.
- Acabei me atrasando um pouco por causa dos trabalhos. - Eu me justifiquei.
- Eu posso esperar. Você… já acabou? - Mark me olhou da cabeça aos pés. - Você já está linda assim. - Ele completou.
- Obrigada. - Eu senti as minhas bochechas corarem na mesma hora. Eu não pude deixar de analisá-lo também. Ele usava calça jeans preta, uma camiseta cinza, sapatos e um casaco preto, que era bem parecido com o meu. - Eu estou quase pronta. - Eu mordi o meu lábio inferior para tentar esconder o meu sorriso idiota.
- Sem problemas. - Mark não queria me apressar.
- Eu volto já. - Eu disse antes de subir a escada na mesma velocidade em que desci.

Ao chegar no quarto, dei uma última arrumada no meu cabelo e passei perfume. Chequei o espelho pela última vez antes de colocar meu celular e a minha carteira dentro de uma bolsa preta pequena. Apaguei a luz do quarto e desci a escada pela última vez. Enquanto eu descia, eu sentia o olhar do Mark sobre mim. Aquilo me fez sorrir feito boba sem nem sequer olhá-lo. Mark foi ao meu encontro no final da escada.

- Pronto. - Eu olhei pra ele com um sorriso nervoso. Ele estava tão bonito, que não percebi que fiquei olhando pra ele por algum tempo. Ele também ficou me olhando daquele seu jeito doce, que me causava arrepios.
- Nós podemos ir? - Mark apontou em direção a porta.
- Podemos. - Eu afirmei, enquanto já começávamos a andar em direção a porta. Toquei a maçaneta e ao abrir a porta, levei o meio susto de toda a minha vida. - SURPRESA! - Eu fiquei em choque ao ver todos os meus amigos e o meu irmão na porta da minha casa. Eles seguravam algumas sacolas, que provavelmente estavam cheias de roupas. Todos começaram a me abraçar e eu não conseguia expressar qualquer reação. - Meu Deus! O que vocês estão fazendo aqui? - Um sorriso enorme surgiu em meu rosto. Estavam todos ali. - Vocês não estavam de saída, estavam? - Ouvi a voz de perguntar. Eu nem ao menos tinha visto que ele também estava ali. A pergunta foi feita, enquanto ele olhava diretamente para o Mark. O sorriso de deboche entregou na mesma hora o seu plano de evitar o meu contro com o Mark. Ao ouvir a voz dele, olhei na mesma hora para ele e o fuzilei discretamente com o olhar. Ele fez de propósito!










CONTINUA...









Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


6 comentários:

  1. Meu Deus q fic perfeitaa
    Presiso do capítulo 55 rapido...❤

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  2. O nick (meu Jonas) é perfeito cara... ele é incrível, como não perdoar ele.... continua Raissa sua fic é incrível demais... mal posso esperar pelo cap 55.

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  3. continua pelo amor, melhor fic da vida... não desisti please

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  4. Amei o capítulo mais uma vez você superou mais toda vez que eu leio é incrível não vejo a hora de ler o próximo capítulo 😍❤

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  5. Kkkkkkkk gostei do plano do Jonas no finalzinho *gritos histéricos*
    A principal tá meio vadia ficando entre dois caras (O Jonas é o Jonas) to lendo bem demoradamente pq não quero terminar *e ela está concluída kkkkkkk

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