Capítulo 59



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




Já havia passado quase uma semana do funeral do Steven. Aquela quinta-feira era só mais um dia normal pra mim. Eu estava voltando para casa, depois de sair do estágio no hospital, exatamente como eu fazia todos os dias. Ao estacionar o carro na garagem da minha casa, meus olhos ansiosos foram direto para a casa do meu mais querido vizinho. Notei que o carro do Mark estava na garagem e que o carro do não estava lá. Aquilo soou como um ótimo convite para ir até lá.

Mark e eu não estávamos fazendo nada errado e eu tinha plena consciência disso, mas eu não conseguia não me sentir mal expondo toda aquela proximidade que eu e o Mark construímos para o . Eu sabia como o se sentia sobre mim e eu não conseguia ignorar isso. Eu não conseguia fingir para ele que eu não estava sentindo nada pelo Mark. Isso me fazia muito mal e, por isso, eu preferia evitar essas situações desnecessárias.

Me dirigi até a casa do Mark e estava planejando sugerir qualquer programa para fazermos juntos naquela noite. Bati na porta mais de uma vez e quando ela foi aberta, meu corpo todo estremeceu. era quem estava do outro lado da porta e eu mal consegui disfarçar o meu constrangimento ao vê-lo. Ele percebeu quando o sorriso no meu rosto mudou radicalmente. Eu tive até dificuldade para conseguir falar qualquer coisa.

- Oi. - disse, quando percebeu que eu não ia conseguir dizer nada. - Você… está procurando o Mark? - Ele deduziu. Eu me senti a pior pessoa da face da terra.
- É… eu vi o carro. - Eu gaguejei.
- Ah, o carro dele não pegou hoje de manhã, então eu deixei ele ir trabalhar com o meu. - explicou com um sorriso tenso.
- Entendi. - Eu estava muito sem graça. - E você, está bem? - Eu perguntei para não me sentir tão mal.
- Eu estou bem. - respondeu. - E você? - Ele devolveu a pergunta para ser educado.
- Eu também estou bem. - Ao terminar a frase, nós nos olhamos e o clima ficou ainda pior. - Bem, eu… volto outra hora. Eu não quero te incomodar. - Eu tinha que sair dali o mais rápido possível. - Nos vemos por ai. - Foi a última coisa que eu disse antes de me afastar. Eu praticamente deixei ele falando sozinho. Não foi de propósito. Eu só estava muito nervosa.

Durante todo o caminho até a minha casa, eu fiquei pensando em milhares de maneiras de me matar depois do que tinha acabado de acontecer. Foi horrível! Eu mal consegui falar com o . Qual era o meu problema? Se até então o não se sentia no direito de me cobrar nada, agora ele sentia! O que foi aquilo? Quando foi que nos tornamos aquilo? Ele não gostou nada da maneira que eu o havia tratado. Simplesmente não parecia nós.

Eu entrei na minha casa tão atordoada, que nem ao menos tranquei a porta da casa. Coloquei a minha bolsa sobre a mesa e parei no meio da sala de jantar para tentar entender o que tinha acontecido comigo. Eu e o não tínhamos mais nada. Por que eu sentia como se devesse satisfações a ele? Isso estava me corroendo por dentro. Eu só conseguia pensar o quanto eu desejava não revê-lo tão cedo, mas o que eu não sabia é que ele estava indo até a minha casa naquele exato momento para tirar aquela história a limpo de uma vez por todas! Eu continuava parada próxima a sala de jantar, quando um barulho logo atrás de mim me fez perceber que eu não estava sozinha em casa.

- Shhh. Quietinha. - Uma voz masculina disse. Senti algo tocar a parte de trás da minha cabeça e não demorou muito para que eu deduzisse que tratava-se de uma arma. Minhas mãos começaram a tremer na mesma hora e eu senti o meu corpo todo gelar.

A princípio, eu não consegui identificar quem era, pois ele estava atrás de mim e eu não reconheci a voz. Levei minhas mãos para o alto involuntariamente. O silêncio na casa deixou em evidência o som de passos que vinham da cozinha para a sala de jantar. Naquele momento, eu soube que havia uma terceira pessoa na casa. Meus olhos ficaram fixos na porta da cozinha. Quem quer que fosse, passaria por aquela porta a qualquer momento. Mais alguns passos e aquela figura conhecida surgiu na porta da cozinha. Olhar para ele me fez entrar em desespero. - Casa bonita. - Ele disse com um sorriso nojento. - Não acredito que deixaram você morar sozinha em uma casa grande como essa. - O sujeito se aproximou de mim e parou na minha frente. Apesar de tê-lo visto poucas vezes, eu seria capaz de reconhecer o capanga do Steven em qualquer circunstância. - O que você acha de ser a nossa isca, hoje? - Ele sorriu, acariciando o meu rosto. Além de medo, eu também sentia nojo naquele momento. - Nós vamos fisgar um peixe grande essa noite. - O segundo capanga que mantinha a arma na minha cabeça disse em tom de deboche. - ? - chamou pelo meu nome, depois de encontrar a porta da minha casa entreaberta. Ele havia escolhido o momento errado para tirar as suas satisfações.





Capítulo 59 – Aprendendo a amar novamente



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:



Ao ouvirem a voz do , os capangas reagiram imediatamente. O homem que apontava a arma para a minha cabeça escondeu-se atrás da parede da sala de jantar, enquanto o capanga, que antes estava na minha frente, aproximou-se bruscamente de mim, me segurou por trás e tampou a minha boca com uma de suas mãos. Ele me levou à força até a cozinha.

- Se você tentar qualquer coisa, eu quebro o seu pescoço. - O capanga sussurrou no meu ouvido, me segurando com muita força. - Você deixou a porta da casa aberta? - Ele perguntou para mim. Eu fiquei com muito receio de responder, mas ele me pressionou e eu acabei afirmando com a cabeça. - Garota estúpida. - Ele esbravejou.
- . - estava tão focado com a conversa que ele queria que nós tivéssemos, que não desconfiou de nada ao encontrar a casa em completo silêncio. - Nós precisamos conversar. - Ele disse em voz alta, achando que, talvez, eu estivesse fugindo dele.

até pensou em subir a escada, achando que eu tivesse no andar de cima, já que isso justificaria o fato de eu não estar respondendo ele, mas ele desistiu ao ver a minha bolsa sobre a mesa de jantar. andou calmamente até a mesa e confirmou que as coisas que estavam sobre a mesa eram minhas. Ele não viu quando o capanga que estava armado aproximou-se por trás dele e colocou a arma em sua cabeça.

- Ela está um pouco ocupada agora. - O capanga disse, engatilhando a arma. ergueu as mãos na mesma hora, mas virou o seu rosto para saber quem era. - Você? - Ele reconheceu o funcionário de seu falecido pai.
- Hora ruim, garoto. - O capanga continuava apontando a arma na direção dele.
- O que você quer? - perguntou, sério.
- ‘Quem’ nós queremos, você quer dizer. - O capanga que me segurava a força me arrastou para fora da cozinha e nos levou de volta para a sala de jantar. Os olhos cheios de raiva do se transformaram quando ele me viu.

era valente demais para demonstrar medo diante daqueles dois homens desprezíveis, mas toda a arrogância dele desapareceu quando ele viu que um deles já estava comigo. Ele viu medo nos meus olhos. Ele me conhecia bem demais e sabia o quanto eu estava aterrorizada. Apesar de saber que o jamais seria capaz de lidar com aqueles dois homens, eu inevitavelmente me senti um pouco segura e esperançosa por tê-lo por perto. O capanga que apontava a arma para ele era um pouco mais baixo, gordo e aparentemente mais velho, enquanto o capanga que estava me segurando era mais alto e magro, mas também era bem forte.

- Ok. Vamos conversar. - tentaria negociar o que precisasse para me tirar daquela situação. - Deve estar havendo algum engano. Essa vingança já acabou. Meu pai não queria mais machucar ninguém. - Ele estava falando da melhor maneira que conseguia.
- Não me interessa mais o que o seu pai queria ou não. Ele está morto e não é mais problema nosso. - O capanga mais alto afirmou. Aparentemente, ele era o que tinha mais autoridade entre os dois.
- Eu não entendo. - não estava conseguindo entender o que eles queriam comigo.
- Nós não estamos aqui pelo seu pai. Nós estamos aqui exatamente porque ele não está mais entre nós. - O cara que me segurava sorriu.
- E o que isso tem a ver com ela? - referiu-se a mim.
- Com ela nós não queremos nada, apesar de ela ser uma delícia, não é, querida? - Aquele cara nojento mexeu no meu cabelo e acariciou o meu rosto. Meus olhos se fecharam, enquanto eu me esforçava para não gritar.
- Ela é mesmo. - O capanga mais velho concordou aos risos. O sangue do subiu na mesma hora. Era inevitável. Ver aquele homem me tocando daquela maneira e ver o meu desespero já teria feito ele partir para cima dele se não fosse por aquela arma, que continuava apontada em sua direção.
- Ela é apenas a nossa isca. - O capanga mais alto voltou a dizer.
- Isca? Isca para quem? - arqueou a sobrancelha, tentando manter-se calmo.
- Para a única ameaça que ainda nos resta. - Ele respondeu. - Sabe, há poucos meses eu acabei descobrindo um segredo que o Steven guardava a sete chaves. Nós sabíamos toda a história complicada entre a família de vocês e sabíamos também dos dois filhos que ele tinha. - O capanga contava, mas continuava me segurando com força. - Eu e ele chegamos a fazer alguns trabalhos para ele relacionados a você. Nós roubamos as filmagens da casa da tia dela e entramos na casa mais algumas vezes, mas… Steven nunca deixou que nós nos aproximássemos do filho mais velho. - Ele continuou dizendo.
- O Mark. - ouvia a história com atenção.
- O próprio! - O capanga armado respondeu.
- Nós achávamos muito estranho todo o mistério que rondava aquele rapaz e começamos a achar que o Steven não queria que soubéssemos alguma coisa sobre ele. - O capanga mais forte contou. - Então, há menos de um mês, eu e o meu parceiro resolvemos fazer uma breve pesquisa sobre o garoto misterioso. Fizemos isso em segredo, é claro! Se o Steven soubesse, ele nos mataria. - Ele sorriu. - Poucos dias seguindo o garoto e adivinha só o que nós descobrimos? - O capanga perguntou retoricamente. Na hora, eu e o trocamos olhares. Infelizmente, nós já sabíamos do que se tratava. - Nós descobrimos que o precioso e intocável filho mais velho de Steven Jonas era um agente do FBI. - O tom debochado era irritante.
- E? - ergueu os ombros.
- Nós não somos idiotas, moleque! Desde o momento que nós descobrimos quem ele era, nós sabíamos que ele nos causaria problemas. Nós não temos as fichas policiais mais limpas do país. Você acha que o seu pai nos chamou para fazer o trabalho sujo dele por quê? - O capanga armado ironizou.
- Nós só não fomos pegos pela polícia até hoje porque o Steven tinha os contatos dele. Ele nos escondeu e intercedeu por nós todas as vezes que quase fomos pegos. - O homem que me segurava disse. - Agora, o Steven se foi e nós estamos por nossa conta novamente. O seu irmão é a única ponta solta que nos resta. Ele é a única pessoa que pode nos prejudicar futuramente, então… nós pensamos: por que não resolver esse problema de uma vez? - Ele completou.
- Ele não vai atrás de vocês. Eu garanto. - afirmou na mesma hora.
- Ele garante! - O homem armado gargalhou.
- Ele já está atrás de nós, garoto. - O homem com mais autoridade contou. - Nós temos uma fonte muito confiável no FBI, que nos contou que nossos nomes foram pesquisados na base de dados da empresa nos últimos dias. Quem mais seria? - Ele sorriu de maneira irônica. já não via mais saída.
- E por que ela? Por que não eu? - perguntou, referindo-se a mim.
- Essa é uma ótima pergunta. - O capanga me olhou com um sorriso. - Quando pensamos na melhor maneira de atrair o seu irmãozinho, a primeira pessoa em quem eu pensei foi a garota, mas o meu amigo aí pensou em você. - Ele apontou a cabeça na direção do capanga mais velho. - Eu pensei: família é importante, de fato, mas o amor… uhhh… esse sim faz você cometer loucuras. - O capanga mais forte riu.
- Eu fico! Deixem ela ir embora e eu fico. - prontificou-se na mesma hora. Eu reagi imediatamente o olhando feio e negando com a cabeça. O que ele estava fazendo?
- Acho que ela não gostou muito da ideia. - O capanga mais velho, que continuava armado voltou a gargalhar.
- Não importa! Eu fico. - me ignorou completamente. Para variar, ele estava novamente se sacrificando por mim, sem hesitar.
- O problema é que quem decide sou eu. - O capanga que me segurava me soltou e deu alguns passos na direção do . Eu estava tão assustada, que fui me esquivando até chegar na parede, onde eu deslizei até o chão e me sentei, encolhida.
- Eu já disse que eu vou ficar. - reafirmou, o encarando.
- E EU JÁ DISSE QUE SOU EU QUE MANDO AQUI! - O capanga perdeu a paciência e gritou furiosamente. A agressividade com que a frase foi pronunciada assustou um pouco o , que me olhou na mesma hora. Ao me ver aterrorizada, ele se sentiu na obrigação de mostrar-se forte pra mim. Ele estava tentando ‘segurar a barra’ por mim.
- Me desculpa, mas... – engoliu todo o medo que sentia e encarou novamente o capanga. – Eu não vou sair daqui. Não sem ela. – Ele sabia dos riscos que estava correndo, mas também não conseguia pensar na hipótese de me deixar sozinha com aqueles dois homens.
- É claro que você não vai sair. Você já nos viu e a primeira coisa que você faria seria nos entregar para o seu irmão. – O capanga mais alto falou com um ar de superioridade. – Você vai ficar, mas não sei se vivo ou... morto. – Ele disse com frieza.
- Eu prefiro morto. – O capanga armado gargalhou.
- Talvez, seja uma boa ideia. – O outro concordou. Eu reagi involuntariamente, negando com a cabeça. Todos voltaram a sua atenção para mim. O capanga-chefe aproximou-se de mim, fazendo com que o meu medo triplicasse. Ele agachou-se na minha frente e me olhou de mais perto. – Vamos ouvir o que a sua namoradinha tem a dizer. – Ele ficou esperando qualquer palavra sair da minha boca, mas eu não conseguia. – Fala, garota! – O capanga aumentou o tom de voz.
- Deixa ela em paz. – pediu com jeito.
- Eu quero ouvir o que ela tem a dizer. – O capanga insistiu, me pressionando.
- Nós dois... – Eu me esforcei pra dizer. Meus lábios tremiam. – Se vocês querem chamar a atenção do Mark, é melhor usar nós dois. – Eu olhei discretamente para o . – Se vocês matarem qualquer um de nós dois, vocês jamais vão conseguir pegá-lo. Vocês só vão irritá-lo. Todos os federais desse país vão estar atrás de vocês e... ele não vai sossegar até matá-los. – Mesmo estando assustada, eu ainda estava me esforçando para pensar racionalmente. Nós tínhamos que resolver um problema de cada vez e o primeiro deles era convencer aqueles dois criminosos que manter eu e o vivos era a melhor solução.
- Sincera... até demais, mas... inteligente. – O capanga parecia ter concordado comigo.
- Gostei dela. – O capanga armado sorriu.

O capanga que estava próximo de mim se levantou e passou a revezar olhares entre mim e o , demonstrando estar bastante pensativo. Todos mantinham silêncio, mas eu e o ainda trocávamos olhares. Mesmo sem usar palavras, ele estava tentando me acalmar, enquanto eu implorava por ajuda. O capanga-chefe parecia estar bastante confuso sobre qual era a melhor decisão a ser tomada, por isso, o capanga armado resolveu ajudá-lo.

- Ei, garoto. Encoste na parede ao lado dela. – Ele apontou na minha direção. – Se você pensar em fazer qualquer coisa, eu vou estourar a sua cabeça. Eu não quero ouvir a sua voz. – O capanga acompanhou todo o trajeto do e manteve a arma apontada na direção dele.

Os capangas se reuniram em um canto da sala de estar, enquanto o se sentou ao meu lado. Eu virei sutilmente o meu rosto para olhá-lo e ele fez o mesmo. Tudo o que o mais queria era me tomar em seus braços e me dizer que tudo ficaria bem, mas ele não podia. Ele não podia falar nada e nem ao menos fazer movimentos muito bruscos. Porém, o ainda encontrou uma maneira de demonstrar o seu instinto de proteção e a sua preocupação em me acalmar. A mão dele foi sutilmente até a minha e ele a segurou, entrelaçando os nossos dedos. Eu apertei a sua mão e, por um momento, senti como se ainda estivéssemos naquele avião que nos trouxe pela primeira vez para Nova York juntos. Senti a mesma calma e paz interior que eu senti naquele dia e consegui respirar tranquilamente pela primeira vez nos últimos 10 minutos. Fechei os meus olhos por alguns momentos e consegui ver uma luz no fim daquele túnel tão escuro e assustador.

- Ok! Boas notícias. – O capanga-chefe voltou a nos olhar, depois de sua breve reunião. – Vocês vão morrer, mas não agora. – Ele sorriu de maneira irônica. O outro capanga foi até uma das mochilas que ele havia trazido e trouxe com ele cordas e uma fita isolante.
- Eu fico com a garota. – Ele afirmou, se aproximando de mim.
- Não, não. Fica longe dela. – tentou interferir, colocando-se na minha frente, mas ao ver que o capanga continuava armado, eu tentei apaziguar a situação.
- Eu estou bem. – Eu quis acalmá-lo, pois não queria que ele pagasse por tentar me proteger. Mesmo assim, não conseguiu se mover. Ele ainda encarava o capanga, que já dava sinais de que estava perdendo a paciência. – , por favor. – Eu pedi, saindo de trás dele e parando na frente dele. Ele ainda trocava olhares com o capanga, que estava bem atrás de mim. Ele demorou alguns segundos para me olhar, pois sabia o que eu pediria a ele. Ele resistiu o quanto pode. – É melhor assim. – Eu me esforcei para demonstrar calma, mas as lágrimas presa em meus olhos me entregaram. – Está tudo bem. – Eu reafirmei, quando senti o capanga se aproximar ainda mais de mim por trás. Ele pegou as minhas mãos, as levou para trás e amarrou com força os meus pulsos com uma das cordas.
- Eu não vou deixar nada acontecer com você. – sussurrou ao ver os meus lábios sendo colados grosseiramente com a fita isolante. Ele ficou imóvel e conhecendo-o como eu conhecia, eu sabia o quanto ele estava se segurando naquele momento. Ao ouvir ele dizer aquela frase, eu afirmei com a cabeça, demonstrando o quanto eu confiava nele.
- Vem comigo. – O capanga que me imobilizou os meus braços me puxou estupidamente para a sala de estar. O ficou sozinho com o pior dos dois capangas e isso me deixou com muito medo.
- Sua vez, herói. – O capanga mais alto se aproximou e também imobilizou os braços do , que deu tudo de si mesmo para não dizer e fazer nada. – Quer me dizer alguma coisa? – Ele sorriu ao encarar o de mais perto, que manteve-se em silêncio. – Eu não vou mentir. Eu realmente esperava mais de você. – O capanga ironizou aos risos. Ele também passou a fita isolante nos lábios do e o levou até a sala de estar.

Eu e o estávamos novamente lado a lado e estávamos igualmente imobilizados. Seria difícil escapar naquelas condições, mas ambos estávamos atentos a qualquer oportunidade. A melhor oportunidade naquele momento me parecia os meus vizinhos. Era óbvio que nós não ficaríamos na minha casa e que, consequentemente, eles nos levariam para algum lugar. A minha esperança era que um dos meus vizinhos nos visse sair da minha casa daquela maneira e notassem a movimentação estranha no bairro.

- Vai acontecer da seguinte maneira: ele... – O capanga-chefe apontou na direção do seu parceiro. – Vai aproximar o seu carro da porta de entrada. Ao meu sinal, vocês dois vão entrar no porta-malas do carro. Sem tentar nada. Sem chamar qualquer atenção. O primeiro que der uma de espertinho, vai ter o prazer de me assistir matar o coleguinha. Deu pra entender? – Ele foi bem direto. e eu concordamos com a cabeça.
- Comportados, né? – O outro capanga riu.
- Até demais. – O outro respondeu, visivelmente desconfiado. – Aqui. Pega a chave do carro da garota. Seja discreto. – O capanga-chefe ordenou, entregando a chave na mão do parceiro.
- Deixa comigo. – O subordinado acatou a ordem na mesma hora.

Minha esperança de ser salva por um dos meus vizinhos era enorme. e eu continuávamos na sala de estar e aquele homem nojento continuava nos olhando como iscas. Por poucos segundos, eu fechei os meus olhos e pedi qualquer tipo de ajuda. Apesar de me manter esperançosa, as chances de um dos meus vizinhos notarem a movimentação estranha na minha casa era pequena, considerando que a maioria dos moradores do bairro eram pessoas idosas e que não costumavam sair de casa com muita frequência. O bairro era realmente muito tranquilo.

- Hora do show, crianças. – O capanga que nos fazia companhia na sala disse ao perceber que o meu carro já havia sido aproximado da porta de entrada. – Sem gracinhas! – Ele reforçou, antes de abrir a porta da casa.

e eu trocávamos olhares a todo o momento. Quando a porta foi aberta, ele novamente fez questão de colocar-se entre mim e o capanga que nos observava. fez questão que eu fosse a primeira a ir para o carro, pois sabia que o capanga viria logo atrás dele. Ele estava me preservando de todas as maneiras possíveis

Entramos rapidamente no porta-malas, que foi fechado pelo capanga que liderava aquele sequestro. O carro começou a se movimentar e eu e o estávamos extremamente desconfortáveis naquele porta-malas. Não conseguíamos nos comunicar, nos tocar e nem ao menos nos olhar, já que dentro do porta-malas estava escuro e não era possível enxergar nada. Mesmo com o carro em movimento, eu consegui perceber que o estava tentando alguma coisa. Ouvi os chutes que ele deu na porta e as tentativas fracassadas de pegar qualquer uma das ferramentas que estava naquele porta-malas. não conseguiu nada. Era impossível conseguir alguma coisa com as mãos presas. Eu não consegui fazer nada. Eu estava completamente anestesiada e conformada com o que estava acontecendo.

Quando o carro finalmente parou, senti o meu coração acelerar. Eu sabia que eu teria que rever aqueles dois homens desprezíveis e assustadores. Eu não fazia ideia de onde nós estávamos, mas eu deveria ter previsto a falta de criatividade daqueles dois idiotas. Assim que o porta-malas foi aberto, a claridade fez com que eu e o cerrássemos os olhos. Fomos tirados violentamente do porta-malas do carro pelos dois capangas, que mostraram-se bastante preocupados com os vizinhos. Eles olhavam por todos os lados, enquanto empurravam eu e o na direção da porta, que não era nem um pouco desconhecida para nós. Eles nos levaram para a casa do Steven.

Fomos forçados a entrar na casa e infelizmente não fomos vistos por ninguém. Nem mesmo o Steven estava lá mais para interceder, ao menos, pelo seu filho mais novo. Eu e o estávamos sozinhos. Nós até tínhamos uma pessoa a quem recorrer, mas essa pessoa era justamente quem os dois sequestradores queriam: o Mark. Se dependesse de mim e do , o Mark não chegaria perto daquela casa.

e eu fomos literalmente jogados em um dos quartos da casa. A decoração estava um pouco diferente da que vimos na última vez que estivemos naquela casa. Ainda estávamos no chão, quando o capanga mais velho nos colocou sentados de costas um para o outro e com uma terceira corda, amarrou as minhas mãos junto com as mãos do e fez isso de uma maneira pouco carinhosa.

- Tire a fita da boca dele. – O capanga mais forte deu a ordem. O outro se aproximou novamente e tirou violentamente a fita da boca do , que resmungou de dor.
- Droga! – reclamou, irritado.
- Eu já estava com saudades de ouvir a sua voz. – O capanga que estava chefiando o sequestro ironizou.
- Essa casa? Não conseguiu pensar em nada mais criativo? – devolveu a ironia.
- Eu até pensei, mas lembrei de todo o drama que aconteceu entre vocês dois nessa casa e não podia perder a oportunidade de mexer nessa ferida aberta. – Ele respondeu com um sorriso sarcástico, fazendo com que o olhasse feio.
- Isso... não vai funcionar. – negou sutilmente com a cabeça. – Aqui... vai ser o primeiro lugar onde o Mark vai nos procurar. – Ele completou. Ele sabia que a intenção era atrair a atenção do Mark, mas achou que os capangas iriam gostar de estar preparados para isso.
- Exatamente. – O capanga sorriu. – Aliás, nós já estamos prontos para recebê-lo. Quanto tempo você acha que ele ainda vai demorar? – Ele olhou no relógio. A resposta dele me fez olhá-lo pela primeira vez desde que chegamos naquela casa.
- Vocês não precisam de nós 3. Ela não precisa ficar aqui. – voltou no assunto, referindo-se a mim. Ele estava tentando negociar a minha liberdade novamente.
- Eu a deixo ir e em menos de 10 minutos a SWAT vai estar batendo na minha porta. – O capanga mais forte respondeu. O outro capanga e ajudante dele manteve-se em silêncio durante todo o tempo.
- Ela não vai até a polícia! Eu prometo! – diria tudo o que ele quisesse ouvir. Ele só queria me tirar dali.
- Você quer mesmo me convencer que ela vai sair dessa casa e vai deixar para trás os dois caras que ela ama? – Ele olhou para com arrogância. – Você gosta mesmo de subestimar a minha inteligência, não é? – O capanga completou. A afirmação de que eu amava ambos causou um certo constrangimento entre o e eu. Ficou explicito o nosso incomodo com o assunto.
- Opa! Parece que esse assunto ainda é mal resolvido entre vocês. – O capanga ironizou, fazendo com que seu parceiro risse.
- Achei que eles já tivessem assumido o triângulo amoroso. – O capanga mais velho finalmente disse alguma coisa. Sermos rotulados como um triângulo amoroso me deixava extremamente irritada, mas também fazia com que eu me sentisse muito mal, considerando que se tratavam de dois irmãos.
- O quarteto, você quer dizer. Esqueceu de incluir a sua mãe. – também não havia gostado nada da rotulação que ele havia nos dado e não conseguiu se conter. O capanga reagiu na mesma hora, se aproximando e dando um soco no rosto do . Tentei diversas vezes olhar para o para saber se ele estava bem, mas o fato de estarmos de costas um para o outro dificultava muito. Eu não conseguia olhá-lo e também não conseguia implorar para que eles parassem.
- Já chega! – O capanga que liderava o sequestro impediu o segundo soco, afastando o seu parceiro do , que levantou a sua cabeça e cuspiu um pouco de sangue. – Quer saber? Eu já cansei de esperar. – Ele tirou o seu celular do bolso. – Vamos adiantar um pouco as coisas. – O capanga começou a digitar os números que estavam escritos em um papel. – Qual dos dois vai falar com o nosso homenageado do dia? – Ele pensou em voz alta.
- A garota! – O capanga mais velho opinou. – Esse moleque está muito folgado. Vai acabar falando o que não deve. – Ele completou.
- Você tem razão. Coloque outra fita na boca dele. – O capanga chefe ordenou e seu subordinado o obedeceu na mesma hora.
- Não. Eu posso falar! Eu... – tentou fazê-los mudar de ideia, mas foi totalmente ignorado. O sujeito que já estava furioso com ele foi bem estúpido ao colar a fita em sua boca.
- E você, gracinha? – O capanga agachou-se na minha frente e acariciou o meu rosto antes de tirar delicadamente a fita dos meus lábios. Me esforcei para me esquivar dele, mas não tinha como. se esforçava para olhar para mim para ter certeza de que eu estava bem, mas não conseguia e isso o deixava muito nervoso. – É uma pena ter que esconder esses lábios tão bonitos com essa fita. – Ele olhou para minha boca, me fazendo virar o rosto para o lado. O nojo era tanto que eu não conseguia olhar pra ele. – Ei, não precisa se fazer de difícil. Pelo menos, não agora. – O capanga segurou o meu rosto e me forçou a olhá-lo. Mesmo de costas, eu conseguia sentir as mãos de se moverem. Ele estava tentando se soltar. – Eu só preciso que você fale com o seu namoradinho. – Ele sorriu. – Quero dizer, o seu outro namoradinho. – Ele gargalhou dessa vez. Mesmo tendo uma vontade enorme de cuspir na cara dele, eu me controlei, pois não queria piorar as coisas. – Você vai dizer que você e o irmão babaca dele foram sequestrados e que vocês estão precisando de ajuda. Fale como se nós não estivéssemos ouvindo. Fale como se estivesse pedindo a ajuda dele mesmo. Peça a ele para vir sozinho. Pode contar a ele onde você está. Nada além disso. Você entendeu? – O capanga perguntou em tom de ameaça. Eu não me manifestei de maneira alguma. – Me responda quando eu perguntar. – Ele segurou o meu rosto de forma mais estúpida. Eu afirmei com a cabeça na mesma hora. – Boa garota. – Acariciou o meu rosto mais uma vez.

Eu não sabia o que fazer. Eu não sabia se eu deveria fazer o que ele havia me pedido ou se eu arriscava dizer algo que alertasse o Mark sobre tudo o que estava acontecendo e qual era o objetivo daquele sequestro. Eu estava muito assustada e confusa, pois eu não sabia se eu tentava salvar o Mark ou se eu me comportava e fazia o que me pediam para não colocar a minha vida e a vida de em perigo. A chamada telefônica foi colocada no viva voz e eu pude ouvir a ligação chamar quatro ou cinco vezes antes escutar a voz do Mark.

- Alô. – Mark atendeu a ligação mesmo sem conhecer o número que apareceu no visor de seu celular. Assim que ouvi a voz dele, eu me convenci de que não falaria nada. O capanga que estava na minha frente me fuzilou com os olhos e eu resisti. – Alô? – Mark falou novamente e com toda a confiança e coragem do mundo, eu engoli o choro e neguei com a cabeça, demonstrando que eu não ia falar nada. Não demorou nada para que o capanga mais velho se manifestasse pegando a sua arma e apontando a mesma na direção do . – Alô! Quem é? – Mark perguntou de maneira mais enérgica. Toda a minha coragem desapareceu ao ver novamente aquela arma. Não dava! Não dava para me omitir e deixar que eles fizessem qualquer coisa com o . Eu não conseguia.
- Mark. – Eu fechei os olhos ao dizer o nome dele com a voz embargada. Eu não queria fazer aquilo. Eu não queria ter que atrair ele até ali.
- ? – Mark reconheceu a minha voz na mesma hora. – ? É você? – Ele ficou notavelmente assustado. Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando continuar com aquilo.
- Eu... preciso da sua ajuda. – Eu continuei com o plano. O capanga continuou na minha frente e passou a me olhar de maneira ameaçadora, quando percebeu que eu estava me recusando a mencionar o . – Nós... precisamos de ajuda. está aqui também. – Eu acabei cedendo.
- Eu estou indo. Onde vocês estão? – Mark perguntou extremamente nervoso. Essa era a pergunta que eu mais queria evitar. Eu não queria dizer a ele onde estávamos. Eu não queria atraí-lo para aquela armadilha.
- É melhor se você vier sozinho. – Eu fugi da pergunta, enquanto engolia o choro.
- Você está bem? O está bem? – Mark estava tão assustado, que não sabia ao certo como lidar com a situação. Mesmo sendo um agente e estar acostumado com aquele tipo de situação, era diferente quando pessoas que ele amava estavam envolvidas.
- Estamos bem. – Eu tentei usar o meu melhor tom de voz para dizer aquela frase. Pela voz, eu conseguia notar o quanto ele estava assustado. Eu queria tentar acalmá-lo de alguma forma.
- Me diz o lugar. Eu vou até vocês. – Mark perguntou novamente e eu me mantive em silêncio. Meus olhos estavam marejados e havia um nó na minha garganta. Meu coração me pedia para não responder aquela pergunta, enquanto a razão me implorava para responder. Naquele momento, o capanga que estava próximo de mim me fuzilou com os olhos. Eu conseguia fazer a leitura labial da frase que ele repetia a todo o momento: ‘diga a ele!’, mas não conseguia colocar em prática. Eu não queria colocar em prática. Se eu colocasse, nós 3 morreríamos ali. – , fala comigo. – Mark implorava pela resposta. Eu havia definido que não diria a ele onde estávamos e cheguei a negar com a cabeça para que todos ficassem cientes que eu não diria mais nada. Na mesma hora, o ouvi a arma que estava apontada para o ser destravada. Ele estava prestes a atirar. Eu comecei a negar com a cabeça e a chorar descontroladamente. – O que está acontecendo? ! – Mark estava desesperado do outro lado da linha.
- Estamos na casa do Steven. – Eu respondi aos prantos. Eu simplesmente não podia colocar a vida do em risco. Eu não podia deixar que atirassem nele. A ligação foi encerrada logo em seguida. – DESGRAÇADOS! – Eu gritei com raiva na direção dos capangas. A arma foi abaixada. – ELE VAI ACABAR COM VOCÊS! VOCÊS ESTÃO ME OUVINDO? ELE VAI ACABAR COM VOCÊS! – Eu estava furiosa. Meus braços se contorciam, tentando me livrar das cordas. Eu estava tendo um surto.
- JÁ CHEGA! – O capanga que liderava o sequestro e que estava na minha frente gritou, segurando o meu rosto com força. – PARA COM ESSE DRAMA ANTES QUE EU TE DÊ UM VERDADEIRO MOTIVO PRA ISSO. – Ele foi extremamente violento e assustador. Eu engoli o choro na mesma hora e continuei olhando para ele de maneira assustada. Em meio ao medo, consegui sentir as mãos do tocarem as minhas. Mesmo com nossas mãos amarradas, ele conseguiu uma forma de “segurar” a minha mão. Ele encontrou uma forma de me acalmar. – Agora, é só esperar o nosso convidado de honra. – O homem sorriu, depois de voltar a colar uma fita em meus lábios.
- É melhor já ficarmos posicionados. Pelo jeito que ele estava no telefone, ele não deve demorar muito. – O capanga mais velho disse.
- Você está certo. – O outro concordou. – Vocês vão ficar bem, não é, crianças? – Ele perguntou, referindo-se a mim e ao . – Não façam nada que aumente a minha vontade de matar vocês dois. – Ele disse, fazendo o parceiro gargalhar.

e eu nos mantemos imóveis até o momento em que fomos deixados sozinhos no quarto. Mesmo amordaçados e sem podermos manter qualquer contato visual, tivemos o mesmo pensamento: precisávamos sair dali. Começamos a mover nossas mãos e braços, tentando nos desvencilhar das cordas. usou toda a força do mundo, mas não conseguiu fazer com que a corda se rompesse. Estávamos prestes a desistir, quando o viu um prego parcialmente pregado no piso antigo de madeira do quarto. Se ele estava parcialmente pregado, quer dizer que uma parte dele estava para fora e nós poderíamos usá-lo para tentar cortar a corda. Mesmo sabendo que estávamos nos arriscando, nós não tínhamos escolha. Não podíamos simplesmente esperar a hora que eles nos matariam. Aquela era a nossa única chance de sair daquele lugar e, com sorte, conseguiríamos avisar o Mark a tempo.

Eu demorei algum tempo para entender o que é que o estava tentando me mostrar. O prego parcialmente pregado estava a uns 2 ou 3 passos de distância. Isso queria dizer que precisaríamos ir até ele. Com muito esforço e sacrifício, fomos nos arrastando até o prego e quando chegamos nele, nos posicionamos para que ele ficasse entre nós dois. Com o prego entre o meu corpo e o corpo do e próximo de nossas mãos, deixei que o tentasse cortar a corda que nos amarrava. Precisou de um pouco de tempo para que toda a insistência do em passar aquela corda naquele prego desse algum tipo de resultado. A corda começou a se romper aos poucos. Levou cerca de 10 minutos para que o conseguisse romper a corda que mantinha nossas mãos juntas.

Foi uma mistura de medo e alívio. Eu estava aliviada por termos ao menos uma chance de tentar sair daquela casa, mas estava com medo de sermos flagrados a qualquer momento por um dos capangas. A corda que nos unia já estava rompida, mas ainda restava as cordas que prendia individualmente cada um de nós. Se apenas um de nós conseguisse se soltar, já era o suficiente. Esperançoso, o não desistiu em momento algum mesmo estando com os braços cansados. Ele recomeçou todo o processo, raspando a corda no prego. Eu queria me virar para acompanhar todo o processo, mas meu medo de fazer qualquer barulho que pudesse chamar a atenção dos capangas era maior que tudo. Fechei os meus olhos e passei a orar com tudo o que eu tinha para que o conseguisse romper aquela corda a tempo.

Mesmo com os braços extremamente cansados e doloridos, deu tudo de si para conseguir romper aquela corda, que era a nossa única esperança de fuga e sobrevivência. 10 minutos já haviam se passado e eu já havia notado que ele estava demorando mais tempo do que levou para romper a primeira corda. As dores fizeram com que o fizesse tudo de maneira mais lenta, mas ele não desistiu em nenhum momento. Sua maior recompensa foi notar que a corda que amarrava seus braços havia finalmente se rompido. estava tão determinado a nos tirar dali, que ele nem ao menos comemorou o seu feito. A primeira coisa que ele fez foi tirar a fita de sua boca e ir até mim.

- Nós conseguimos. – A voz e o toque das mãos dele no meu rosto me fizeram abrir os olhos. Eu mal acreditei que ele estava bem ali na minha frente. – Vai ficar tudo bem. Eu prometo. – sussurrou, enquanto tirava cuidadosamente a fita dos meus lábios.
- Eu não acredito que você conseguiu. – Eu sorri, aliviada. Enquanto ele desamarrava a corda que prendia as minhas mãos, eu ainda estava tentando manter a esperança de que poderíamos sair dali. Eu estava tão feliz e emocionada, que eu não conseguia expressar. No momento em que senti minhas mãos livres, minha primeira atitude foi abraçá-lo. Um abraço de agradecimento, de alívio e de felicidade. me abraçou e volta o mais forte que conseguiu. Ele queria que eu me sentisse segura e foi exatamente assim que eu me senti. – Obrigada por não desistir. Obrigada por nunca desistir. – Eu disse em meio ao abraço. Ele tinha feito tanto por mim naquele dia. Ele nem deveria estar ali, já que a isca deveria ser eu. Estávamos livres porque o não havia desistido da nossa vida. Estávamos livres porque o não havia desistido de mim. Ele nunca desistia.
- Vai ficar tudo bem. Eu vou tirar a gente daqui. – disse, terminando o abraço.
- Ok. – Eu afirmei com a cabeça, tentando manter o foco.

Após nos levantarmos do chão, seguimos juntos até a porta. O estava indo na frente, é claro. Ele me olhou, tentando me acalmar antes de abrir a porta. Não tínhamos opção. Nós tínhamos que arriscar. Abriu a porta com todo o cuidado do mundo e com o coração nas mãos, ele confirmou que o corredor estava vazio.

- Pode vir. Está vazio. – disse, olhando para trás. Mesmo sabendo que o caminho estava livre, eu estava com muito medo de sermos pegos. De maneira involuntária, segurei a mão dele, que passou a me puxar lentamente pelo corredor. Andávamos com muito cuidado para não fazer qualquer ruído. me olhava a todo o momento e fazia sinal de silêncio. Os capangas do Steven poderiam estar no sótão da casa (lugar que eu conhecia muito bem), mas também poderiam estar em qualquer outro cômodo da casa. Não tinha como saber.

Passamos pelos quartos e chegamos na sala. Era desesperador o que estávamos fazendo. segurava forte a minha mão, mas eu a sentia tremer. Continuamos andando de maneira cuidadosa até avistarmos a porta de entrada da casa. virou-se para me olhar e não apenas os seus lábios sorriam, mas seus olhos também. Eu devolvi o sorriso, antes que déssemos os passos que faltavam. Quando paramos na frente da porta, a maçaneta foi imediatamente girada, mas para o nosso desespero a porta estava trancada.

- Está trancada! – afirmou, incrédulo.
- Não pode ser! – Eu soltei a mão dele e girei a maçaneta duas ou três vezes. – Como nós vamos sair? – Eu perguntei, angustiada.
- A Janela! Vamos tentar a janela! – teve a ideia na mesma hora. – Aqui. – Ele disse, aproximando-se da janela que ficava bem próxima a porta.
- Será que dá pra sair? – Eu perguntei, aflita. Abrimos as cortinas da casa para analisar a melhor maneira de sairmos e tivemos a pior surpresa que poderíamos ter. – Não. – Eu suspirei, incrédula. O carro do Mark estava estacionado do outro lado da rua.
- Ele já está aqui. – disse visivelmente frustrado. – Eles... já estão com o Mark. – Ele olhou para trás visivelmente confuso e abalado. O nosso plano foi em vão. Não conseguimos sair a tempo de avisar o Mark.

– 10 MINUTOS ANTES –

Depois de receber o telefonema e o meu pedido de ajuda, Mark não pensou duas vezes antes de parar tudo o que estava fazendo para ir até a casa do Steven. Apesar de ser um ótimo agente, ele não desconfiou em nenhum momento que o meu pedido de ajuda era uma armadilha. O telefonema não soou como um pedido de resgate. Mark imaginou que eu tivesse encontrado uma maneira de ligar para ele sem que os sequestradores soubessem. Pelo menos, foi isso o que eu deixei transparecer naquele telefonema.

Mesmo não desconfiando da armadilha, ele tinha toda a certeza do mundo que ao menos um dos capangas do Steven estava envolvido no sequestro. Mark investigou os mesmos recentemente, pois temia que algo assim acontecesse. Sem o Steven, eles precisariam amarrar as pontas soltas que ainda restavam. Mark tinha certeza que os sequestradores estavam mantendo eu e o no sótão da casa e, por isso, não se esforçou tanto em manter a discrição ao estacionar o carro na frente da casa e entrar cuidadosamente pela porta da frente.

Assim que entrou na casa, Mark foi direto até o quarto que dava entrada para o sótão. Afastou o tapete que escondia a porta no chão e a abriu com todo o cuidado. O plano dele era tentar tirar eu e o de lá sem que fossemos vistos. Depois, ele voltaria e se resolveria com os sequestradores.

O silêncio absoluto na entrada do sótão chamou a atenção do Mark e até o deixou um pouco desconfiado, mas ele não teve tempo de tomar qualquer atitude. Ambos os capangas o surpreenderam e apontaram suas armas na direção dele. Mark foi bem rápido e conseguiu apontar a sua arma para o capanga mais velho.

- Você pode até atirar em mim, mas eu vou levar o seu amigo comigo. – Mark ameaçou, olhando para o capanga que liderava o sequestro.
- Se vocês atirarem um no outro, quem é que vai ter que atirar no seu irmãozinho e na sua namorada? – O capanga respondeu com frieza. – Oh! Acho que vai ter que ser eu. – Ele sorriu com deboche. – Abaixa a arma, coloque no chão e levante as mãos. – O mesmo disse com um tom mais ameaçador. Mark não viu outra alternativa senão abaixar a sua arma. Ele jogou a arma no chão e levantou suas mãos.
- Onde eles estão? – Mark quis saber de mim e do . Como ele já havia percebido que tratava-se de uma armadilha, ele temia que o pior já tivesse acontecido.
- Eles devem estar se beijando em um dos quartos. – O capanga mais velho disse aos risos. O outro riu também.
- Ah... eu adoro esses triângulos amorosos. Você não? – O capanga que liderava o sequestro ironizou, enquanto se aproximava e imobilizava os braços do Mark com uma corda.
- Foi por isso que vocês me trouxeram aqui? Vocês cansaram de ser uma dupla? – Mark provocou, vendo o capanga fuzilá-lo com os olhos.
- Você e seu irmão são mesmo muito parecidos com o Steven, não é? Até as piadinhas idiotas são iguais. – O capanga disse, enquanto encarava o Mark. – A diferença é que antes eu tinha que ouvi-las calado. Agora, eu posso te fazer calar a porra da sua boca do meu jeito. – Ele ameaçou.
- Então, faça! – Mark não se intimidou.
- Eu vou fazer, mas não desse jeito. – O capanga se afastou, virou o Mark e o empurrou para o interior do sótão. – Infelizmente, você e a sua família despertam o pior de mim. – Ele continuou a empurrá-lo ao longo de um longo corredor escuro. – Anda logo! – O capanga esbravejou. O capanga que auxiliava o sequestro ia logo atrás, acompanhando tudo.
- O que vocês querem de nós? – Mark perguntou, enquanto era empurrado.
- O que nós queremos? O que você quer! – O capanga respondeu, irritado. – Você deveria ter nos esquecido! Você deveria ter nos deixado morrer junto com o seu pai, mas ao invés disso, você tem procurado por nós, não é? – Ele disse e Mark sabia sobre o que ele estava falando. Havia um olheiro deles dentro do FBI, mas isso não o surpreendeu. Steven falava com frequência sobre seus contatos.
- E porque vocês tinham que envolver o e a ? O problema de vocês é comigo! – Mark tentaria negociar a minha liberdade e a de seu irmão.
- E quem mais te faria vir até aqui? – O capanga perguntou em meio a um sorriso. Nesse momento, eles chegaram ao final do corredor. O capanga ajudante colocou uma cadeira, onde o Mark foi colocado a força. – Me ajude aqui. – Ele pediu ajuda do outro capanga, que o ajudou a amarrar o Mark na cadeira.
- Eu já entendi. Vocês usaram eles como iscas. Vocês queriam me trazer até aqui. Eu já estou aqui. Agora, deixe eles irem embora. – Mark disse, furioso.
- E se eu não deixar? O que você vai fazer? – O capanga o provocou. – O que você vai fazer amarrado nessa cadeira? – Ele riu, enquanto o outro capanga ria com ele. – Eu recebi ordens do seu pai durante uma boa parte da minha vida. Eu estou cansado disso. Eu estou cansado de todos vocês tentando me dar ordens. – O capanga esbravejou.
- Agora, é você que dá as ordens, não é? – Mark olhou para o capanga mais velho, que era visivelmente subordinado do companheiro. – Você é que tem o pau mandado agora. – Ele sorriu.
- Do que foi que ele me chamou? – O ajudante se manifestou.
- Você devia ser mais cuidadoso com as suas palavras. – O capanga que liderava o sequestro sussurrou. – Quer fazer as honras? – Ele afastou-se do Mark e deu abertura para que seu companheiro se aproximasse do mesmo.
- Fala de novo o que você disse. – O ajudante desafiou o Mark, encarando-o de perto. Mark encarou de volta e mostrou que não se intimidaria tão fácil.
- Eu disse que você é a putinha dele. – Mark disse em alto e bom som e logo na sequência levou três socos seguidos. Ele só não levou mais socos, pois o ajudante foi contido pelo capanga que estava comandando o sequestro.
- Chega. – O capanga levou o companheiro para longe do Mark, que ainda tentava se recuperar dos fortes socos que havia levado. – Existe uma maneira melhor de fazermos isso. Aposto que vai doer muito mais. – Ele sorriu. Através do olhar, os dois sequestradores se conversaram e sabiam exatamente o que fazer.
- O garoto ou a bonitinha? – O ajudante perguntou.
- Eu quero os dois. – O líder disse em tom de autoridade. Mesmo ainda estando um pouco tonto, Mark ouviu o que foi dito e sabia que o pior estava por vir. Ele tentou se soltar mais 3 ou 4 vezes, mas foi em vão.

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e eu estávamos na frente da mesma janela, completamente perplexos. Nossa chance de fugir estava bem ali na nossa frente e nós simplesmente não conseguíamos agir. Estávamos paralisados e incrédulos. Ir embora e deixar o Mark ali soava como a ideia mais egoísta e absurda de todas. Nós nem ao menos cogitávamos isso. Nós ainda não havíamos conversado sobre o assunto, mas os nossos olhares já haviam dito tudo. Nós não iríamos a lugar algum.

- Mas... que droga! – esbravejou, furioso. Por que eles não podiam ter sorte ao menos uma vez? Ele virou-se de costas para mim para tentar omitir toda sua indignação.
- Nós não podemos deixar ele aqui. – Eu disse o óbvio, olhando para ele de costas. Era a única certeza que eu tinha naquele momento.
- Eu sei. – virou-se para mim na mesma hora, pois percebeu o quão aflita eu estava pelo meu tom de voz. – Nós não vamos deixar. Eu... não vou deixar. – Ele disse, me fazendo olhá-lo com incompreensão.
- O que você está querendo dizer? – Eu perguntei, mas não deu tempo do responder, pois um barulho vindo de um dos cômodos da casa nos fez entrar em pânico.

Foi extremamente instintiva a maneira com que nós dois nos espalhamos para nos escondermos. Enquanto eu fui na direção da cozinha, correu até a sala de jantar. Eu me escondi dentro de um dos armários da cozinha, enquanto o se escondeu embaixo da mesa de jantar. De onde estávamos, ouvimos os passos, que nós tínhamos certeza que era de um dos sequestradores. Minhas mãos tremiam e meu coração parecia que poderia ser escutado a km’s de distância. também estava bastante assustado. Nós não poderíamos ser vistos.

- Não acredito! – Ouvimos a voz de um dos capangas gritar. – Malditos! – Ele esbravejou, enquanto ouvíamos alguns objetos sendo quebrados no quarto. Ouvimos quando seus passos estrondosos saíram do quarto e passaram pela sala. De onde eu estava, fechei os meus olhos e rezei para que o tivesse encontrado um bom lugar para se esconder. também estava sentindo a mesma preocupação comigo.

Ao chegar na sala e dar uma boa olhada em volta, o capanga que estava ajudando no sequestro olhou na direção da porta e logo ao lado notou que a cortina estava aberta. Foi um descuido da nossa parte, mas foi a nossa salvação, pelo menos, naquele momento. Ao ver a cortina aberta, o capanga concluiu que havíamos fugido e, por isso, ele não cogitou a possibilidade de ainda estarmos na casa. Ouvimos novos passos e, dessa vez, o capanga estava voltando para o sótão. Assim que o viu o capanga voltar para o quarto em que ficava o sótão, ele saiu imediatamente de seu esconderijo e foi na direção da cozinha. Ele tinha visto que eu tinha ido me esconder lá.

- . – sussurrou, me procurando. Ao ouvir a voz dele, eu senti um alívio enorme. Sai de dentro do armário e ele veio imediatamente ao meu encontro. – Está tudo bem? – Ele tocou o meu rosto, demonstrando preocupação.
- Eu estou bem. – Eu concordei com a cabeça, olhando o seu rosto de perto.
- Escuta, eu tenho um plano. – afastou a mão do meu rosto, mas continuava me olhando de perto. – Você não vai gostar. – Ele adiantou. Eu continuei a olhá-lo, sem saber o que esperar. – Agora que eles acham que nós fugimos, eles vão deduzir que vamos chamar a polícia e por isso vão querer terminar o serviço mais rápido. – tentava parecer calmo, mas estava apenas dando o seu melhor para me manter tranquila. Ele não queria me assustar. – Eu não posso deixar isso acontecer. – Ele negou com a cabeça e ergueu sutilmente os ombros.
- Eu sei. – Eu afirmei com a cabeça, sentindo meus olhos lacrimejarem. – Nós vamos pensar em alguma coisa. – Eu tentei animá-lo.
- Você não entendeu. Você não vai. Eu vou. – explicou da melhor maneira que conseguiu e na mesma hora me viu entrar em negação.
- O que? Não! – Eu reagi na mesma hora. – Eu não vou embora e deixar vocês aqui. – Eu neguei incessantemente com a cabeça.
- Ei, calma. – pediu, enquanto tocava novamente o meu rosto. – Essa é a única maneira de sairmos todos vivos daqui. – Ele disse, me olhando nos olhos. – Eu vou distraí-los para que eles não façam nada com o Mark. Enquanto isso, você sai e chama a polícia. – terminou de explicar o seu plano.
- Eles vão matar você também. Eles vão saber que eu vou ter fugido e vão matar você. Eles vão matar vocês dois. – Eu resisti. Tinha que haver outra maneira.
- Existe esse risco, mas... não vai acontecer. – Mais uma vez, ele estava tentando me acalmar. – Olha pra mim. – Ele pediu e eu atendi na mesma hora. – Não vai acontecer. – Eu confiava tanto no , que não consegui não concordar com o que ele estava me pedindo.
- Está bem. – Eu concordei com a cabeça, mesmo me sentindo péssima por fazer aquilo.
- Vai ficar tudo bem. – deixou um fraco sorriso escapar.
- Me prometa que você vai se cuidar e que não vai fazer nada estúpido. Me prometa. – Eu sabia que existia a chance de ele estar fazendo aquilo para se sacrificar pelo irmão. Dar a vida dele pela vida do Mark, exatamente como o Mark havia feito quando ele levou o tiro. Quando eu pedi a promessa, demorou algum tempo para responder. Ele distribuiu olhares por todo o meu rosto e me pegou de surpresa ao se aproximar e selar carinhosamente os meus lábios. – Eu prometo. – Ele sussurrou, enquanto os nossos narizes ainda se tocavam. Eu não consegui dizer nada e muito menos fazer qualquer coisa a respeito. Meus olhos acompanhavam o se afastar e ir diretamente na direção daquele quarto.

Mesmo sentindo um medo enorme, estava disposto a fazer aquilo pelo seu irmão. Mark já tinha arriscado sua vida por ele uma vez e não hesitaria em retribuir o favor. Enquanto andava na direção do quarto que dava acesso ao sótão, pensava na possibilidade de surpreender os sequestradores. Se os surpreendesse, talvez conseguisse reverter a situação. Com isso em mente, ele foi extremamente cuidadoso ao abrir a entrada do sótão. Ele desceu a escada e começou a andar lentamente na direção do fundo do sótão.

Assim que perdi o de vista, eu fui direto até a janela da sala de estar e a abri, tentando não fazer muito barulho. Consegui abrir o suficiente para passar o meu corpo e sai para o lado de fora da casa. Como eu estava sem celular e não conhecia ninguém na região, eu tive que recorrer aos vizinhos. Corri desesperadamente até a casa que ficava na frente da casa do Steven e comecei a bater descontroladamente na porta. Cada minuto perdido poderia custar a vida do Mark e do . A porta da casa foi aberta por uma senhora, que parecia irritada com as constantes batidas na porta.

- Qual o problema? – A senhora me olhou feio ao me ver.
- Eu preciso de ajuda! Eu preciso que a senhora chame a polícia! – Eu comecei a falar euforicamente, enquanto dividia olhares entre a senhora e a casa do Steven.
- Calma! Calma! O que aconteceu? – A senhora mostrou-se assustada.
- Os meus amigos foram sequestrados e estão na casa aqui da frente! – Eu virei para trás e olhei rapidamente na direção da casa do Steven. – Preste atenção! – Eu a segurei pelos braços e olhei atenciosamente para o seu rosto. – LIGA PRA POLÍCIA. ESTÁ HAVENDO UM SEQUSTRO NA CASA DA FRENTE. – Eu tentei ser o mais clara possível. – VOCÊ ME OUVIU? AVISE A POLÍCIA! – Minha adrenalina estava a mil. Eu nunca havia me sentido daquela maneira. Eu estava trêmula da cabeça aos pés, mas havia uma coragem fora do normal dentro de mim.

Talvez, eu apenas estivesse sendo impulsiva ou a ideia de perder os dois caras que eu já havia amado estava afetando o meu senso de sobrevivência. Infelizmente, eu não consegui ficar ali, do outro lado da rua esperando que a polícia chegasse. Eu não podia ficar ali parada, enquanto ambos poderiam estar pagando a minha fuga. Eu precisava ir até lá. Eu precisava fazer alguma coisa por eles e foi exatamente isso o que eu fiz.

Corri até o outro lado da rua, encarei a casa e engoli todo o medo que me consumia. Fui até a janela pela qual eu havia saído e fui extremamente cuidadosa ao olhar dentro da casa e me certificar que todos ainda estavam no sótão. Adentrei na casa mesmo tendo um pouco de dificuldade de passar pela janela. Como eu ainda não tinha certeza de que todos ainda estavam no sótão, eu fui me escondendo atrás de cada uma das paredes até que eu chegasse no quarto que desse acesso ao sótão. Hesitei duas ou três vezes antes de entrar no quarto, mas mesmo assim o fiz. Corri silenciosamente até a porta que dava acesso ao sótão e a abri com todo o cuidado para que ela não fizesse barulho. Desci a pequena escada e, por fim, cheguei naquele assustador lugar, onde eu havia passado um dos piores momentos da minha vida. Não dava mais para voltar atrás.

- Chefe, temos um problema. – O capanga estava receoso em dar ao companheiro a notícia de que eu e o havíamos fugido.
- O que foi que aconteceu, agora? – O capanga que liderava o sequestro virou-se para olhá-lo. Mark, que ainda estava amarrado na cadeira, prestava a atenção na conversa. De onde estava, também conseguia ouvi-los mesmo com um pouco de dificuldade.
- O garoto e a menina fugiram. – O capanga contou.
- Fugiram!? – O capanga cerrou os olhos. – COMO FUGIRAM? – Ele esbravejou. Na mesma hora, Mark deixou um sorriso aliviado escapar. – COMO ELES PODEM TER FUGIDO? – O capanga foi para cima do companheiro, que mostrou-se assustado. – VOCÊ NUNCA FAZ NADA DIREITO, NÃO É? – Ele pegou o comparsa pelo colarinho. Ao ver o conflito entre os dois sequestradores e estando inevitavelmente feliz com a minha fuga e a de seu irmão, Mark começou a rir debochadamente. A risada chamou atenção dos capangas de Steven, que pararam o que estavam fazendo e viraram-se para o Mark.
- Você está achando engraçado? – O capanga mais velho o olhou feio.
- Vocês são patéticos. – Mark continuou rindo dos dois.
- Você está rindo, mas foi você que foi deixado aqui pra morrer. – O sequestrador que chefiava o sequestro aproximou-se do Mark, que ficou um pouco mais sério ao encará-lo.
- Eu não me importo. – Mark afirmou com frieza.
- Não tem incomoda nem um pouco saber que você vai morrer nesse sótão velho e imundo enquanto o seu irmão vai viver feliz para sempre com a sua garota? – O homem estava tentando mexer com o emocional do Mark. Ele podia apenas matá-lo, mas estava tão aborrecido, que preferia machucá-lo antes de terminar o serviço.

ouvia tudo de onde estava e se sentia muito mal pelo que seu irmão estava sendo obrigado a ouvir. Os sequestradores estavam usando o para atingi-lo e isso era angustiante para irmão mais novo. Ele queria intervir e tentar evitar que toda aquela manipulação emocional recaísse apenas sobre o Mark, mas estava esperando o momento certo para entrar em cena.

Estar naquele sótão novamente me dava arrepios. Eu odiava o fato de estar ali novamente, mas eu tinha os melhores motivos. A escuridão sem fim daquele corredor era assustadora. As laterais estavam cheias de móveis velhos e desconfigurados. Quanto mais eu adentrava naquele corredor, a iluminação melhorava gradativamente, já que eu estava me aproximando de onde os sequestradores estavam. De onde eu estava eu já conseguia ouvir a voz deles. Minhas mãos e pernas estavam trêmulas, mas eu continuei adentrando o sótão com todo o cuidado para não fazer qualquer ruído.

estava completamente atento e apreensivo sobre a coisa certa a se fazer. Mark era muito bom nesse tipo de coisa e certamente teria um plano muito melhor que o dele. De onde estava, ele já conseguia ter uma visão do Mark e dos sequestradores. Foi estarrecedor ver seu irmão amarrado naquela cadeira, sem poder se defender. estava escondido atrás de um dos móveis que estava encostado na lateral esquerda do corredor e mesmo o local ainda estando um pouco escuro, ele conseguiu ver, para a sua surpresa, alguém passando por ele do outro lado do corredor e escondendo-se atrás de um armário velho, e depois, atrás de uma geladeira quebrada.

A pouca iluminação, o meu nervosismo e a minha atenção ao que os sequestradores estavam dizendo fez de mim a pessoa mais distraída de todas. Mesmo passando pelo outro lado do corredor, eu não notei que havia passado pelo . Para mim, ele já havia se entregado aos sequestradores e provavelmente já estava fazendo companhia ao Mark. Quando eu tive uma boa visão do local em que estavam mantendo o Mark, fiquei extremamente abalada ao vê-lo ali todo amarrado, mas também fiquei bastante preocupada em ver que o não estava com ele.

- Não te incomoda nem um pouco ter sido capanga de um velho supostamente morto por tanto tempo e, agora, não ser capaz nem de liderar um sequestro? – Mark estava certo de que morreria ali e, por isso, estava dizendo tudo o que vinha a sua mente. Apesar de tudo, ele estava muito mais tranquilo por saber que eu e o estávamos seguros.
- Você realmente acha que é uma boa ideia me enfrentar? – O capanga que estava no comando do sequestro voltou a encará-lo.
- Eu não tenho medo de você. – Mark fez questão de olhar em seus olhos ao dizer a frase.
- É mesmo? – O sequestrador forçou um sorriso, enquanto levava sutilmente uma de suas mãos até um dos bolsos traseiros de sua calça.

não sabia se mantinha a sua atenção na situação em que estava envolvendo o Mark ou se mantinha a sua atenção em mim. Ele não sabia como chamar a minha atenção sem fazer qualquer barulho, por isso, decidiu ir até mim. Ele já estava bem próximo de mim, quando nós dois vimos o sequestrador tirar do seu bolso uma faca. No momento que eu vi aquela faca, eu perdi a noção de tudo. Minha vontade de gritar e intervir foi inconsciente, mas eu fui impedida pelo , que chegou por trás de mim, tampou a minha boca com uma de suas mãos e me puxou para trás de um dos móveis que estava logo a frente.

- Sou eu. Sou eu. – sussurrou no meu ouvido, tentando me acalmar. Eu estava completamente desesperada. também estava bastante assustado e nervoso. Eu pude notar que a mão dele que segurava a minha boca estava trêmula. Ao mesmo tempo que eu estava aliviada por tê-lo ao meu lado, eu estava angustiada com o que poderia ter acontecido com o Mark.

Ouvir o grito de dor do Mark foi o auge do nosso desespero. Ouvi o suspirar e estando ali nos braços dele, consegui sentir o coração dele tão disparado quanto o meu. Ele afastou a mão do meu rosto e foi involuntária a maneira com que nós dois nos viramos para ver o que tinha acontecido. Mark estava com uma faca fincada em uma de suas coxas. Foi uma mistura insana de alívio e angustia. Pelo menos, ele ainda estava vivo.

- Nós temos que tirá-lo de lá. Eles vão matá-lo. – Eu fiz um apelo ao , me virando a olhá-lo.
- Você não deveria estar aqui. – me olhou com desaprovação. Nós falávamos em um tom quase inaudível.
- Eu não podia deixar vocês aqui. – Eu argumentei.
- Volta lá pra cima. Eu cuido disso. – estava visivelmente irritado com a minha presença. Mais uma vez, ele estava tentando me proteger.
- Eu não vou. – Eu o enfrentei.
- . – me olhou feio e eu respondi apenas negando com a cabeça. – Por que é que você tem que ser tão teimosa? – Ele reclamou.
- Qualquer um de vocês dois fariam o mesmo por mim e você sabe disso. – Eu estava irredutível. – Eu vou ficar. – Eu afirmei, decidida. Ele suspirou e deixou de me olhar por um momento para olhar na direção do irmão.
- Ok. Então, você vai ficar aqui. – disse, sério. – Eles não precisam saber que você está aqui. Se esconda aqui atrás e não saia daqui. Não importa o que aconteça. – Ele me orientou.
- Está bem. – Eu concordei.
- , eu estou falando sério. – reafirmou, pois ele me conhecia muito bem.
- Eu vou ficar aqui. A polícia não deve demorar. – Eu fui completamente sincera, pois sabia o quão importante aquilo era para ele. Assim que eu terminei a frase, ele me olhou por um momento.
- Vai dar tudo certo. – tentou me acalmar. Eu afirmei com a cabeça.
- Toma cuidado. – Eu pedi segundos antes de ele se afastar. Eu me agachei atrás de um móvel e fiquei ali.

Mark ainda reclamava de dor, enquanto os dois capangas ironizavam toda a sua coragem. Ele já os havia insultado de todas as maneiras possíveis. O corte na perna ainda não estava sangrando tanto. Sangraria muito mais quando a faca fosse retirada.

- O que foi? Não é mais tão engraçado? – O capanga que estava auxiliando no sequestro ironizou.
- Vai pro inferno. – Mark praguejou, enquanto tentava lidar com sua dor.

Sabendo que a polícia estava a caminho, estava ciente de que apenas precisava ganhar tempo. Ele precisava distrai-los, enquanto a polícia não chegava. Aproximou-se ainda mais de onde os sequestradores estavam e procurou em volta qualquer coisa que pudesse usar a seu favor. A melhor foi que encontrou foi uma torradeira velha que parecia ser resistente o suficiente para que o usasse.

Mark estava sentado de frente para a entrada do corredor, enquanto os sequestradores que estavam em sua frente estavam de costas para o mesmo. Por isso, achou que sua melhor chance era se aproximar por trás deles e assim foi feito. Enquanto o se aproximava por trás dos sequestradores, Mark teve a visão perfeita do irmão. Percebendo o plano de seu irmão, Mark não pode demonstrar o quanto estava indignado com o fato do seu irmão mais novo estar ali. Para o Mark, deveria ter fugido.

Mesmo estando aflito e nervoso com o plano arriscado de , Mark teve esperanças que funcionasse. continuava se aproximando dos capangas por trás, enquanto os mesmos conversavam sobre o que fariam com o Mark. Dentre os sequestradores, optou por atingir o mais baixo deles. Quando a presença de foi percebida, ele já estava bem próximo e, por isso, conseguiu atacar com força a torradeira na cabeça de um deles. O sequestrador que foi atingido caiu desacordado na mesma hora, porém o seu parceiro foi bem rápido ao reagir. Ele pegou sua arma e apontou rapidamente na direção do , que ficou completamente imóvel. Como o previsto, o plano tinha dado errado.

- Olha só quem voltou. Ficou com saudades? – O capanga que liderava o sequestro e que, no momento, era o único consciente ironizou. manteve suas mãos erguidas.
- Droga, ! Você não deveria ter voltado. – Mark reclamou, irritado.
- E deixar você morrer e bancar o herói sozinho? Nah! – disse ao olhar para o irmão, que deixou um sorriso escapar, enquanto negava com a cabeça.
- Quanta solidariedade! – O capanga fingiu estar impressionado. – Senta aí! – Ele deu a ordem ao , depois de puxar uma cadeira e colocá-la ao lado do Mark. – Vocês também são solidários assim com a garota? Cada dia um de vocês fica com ela? – Ele estava se referindo a mim. Era inevitável a demonstração de incômodo dos garotos quando aquele tipo de assunto era abordado.
- Você faz alguma coisa além de sequestrar pessoas e falar da vida amorosa dos outros? – tentou respondê-lo, enquanto era amarrado na cadeira pelo mesmo. - Por que não falamos de você e do seu amigo. – Ele apontou com a cabeça na direção do capanga que estava desacordado. – O que vocês estão esperando para se assumir? – Mark esforçou-se para segurar o riso.
- Para ser sincero, a namoradinha de vocês faz muito mais o meu tipo. – O capanga sorriu. – Aliás, onde ela está? – Ele perguntou mais sério.
- Ela foi embora. Eu mesmo me certifiquei de tirá-la dessa casa. – tentou responder com frieza. O homem não podia desconfiar que eu também estava naquele sótão.
- Será que ela deixaria mesmo vocês dois aqui pra morrer? – O sequestrador mostrou-se desconfiado. De onde eu estava, eu conseguia ouvir e ver tudo. Fiquei imóvel e estava evitando até mesmo a minha própria respiração.
- E o que você esperava que ela fizesse? Ficasse aqui pra morrer? – perguntou de maneira irônica.
- Não sei. – O capanga chegou a olhar para trás e ficou algum tempo observando o escuro corredor. – Ela foi bastante corajosa quando se recusou a ligar pra ele. – O capanga apontou pro Mark, que no fundo, estava preocupado com a possibilidade de eu ainda estar ali. não havia lhe passado muita segurança com o olhar. – Ela só resolveu falar quando ameaçamos você. – O capanga concluiu em voz alta. – Sinceramente, eu não sei o que ela pode ter visto em qualquer um de vocês, mas vocês, de fato, são o ponto fraco dela. – Ele continuava desconfiado.
- Esqueça ela. Nós dois somos tudo o que você tem agora. – Mark tentou mudar o assunto.
- Será mesmo? Vamos descobrir. – O capanga estava disposto a tirar aquela história a limpo. Ele precisava ter certeza que eu não estava mais na casa. – ESCUTA BEM, GAROTA. – Ele começou a gritar e eu sabia que ele estava direcionando a fala a mim. – VOCÊ PROVAVELMENTE ESTÁ AQUI E ESTÁ ESCONDIDA EM ALGUM LUGAR. VOCÊ NÃO DEIXARIA ESSES DOIS BABACAS AQUI, NÃO É? – O sequestrador revezava seus olhares entre o corredor e os irmãos. – EU ADORARIA IR TE PROCURAR, MAS INFELIZMENTE ESTAMOS SEM TEMPO. – Fechei os meus olhos, tentando me manter calma. – COMO EU SEI QUE VOCÊ JAMAIS APARECERIA POR LIVRE E ESPONTANEA VONTADE, EU VOU FAZER DO MEU JEITO. – Neguei incessantemente com a cabeça, sabendo o que estava por vir. Mark olhou para o e a expressão em seu rosto já serviu como resposta: eu estava naquele sótão. – EU TENHO CERTEZA QUE, SE VOCÊ ESTIVER AQUI, VOCÊ VAI QUERER SE JUNTAR A NÓS. - Ele completou.
- Desista. Ela não está aqui. – tentou fazer o homem mudar de ideia.
- COM QUAL DOS DOIS VOCÊ PREFERE QUE EU COMECE? – O capanga de Steven ignorou completamente o . Ele olhou para os irmãos, pensando na melhor estratégia para usar.
- COMIGO! COMECE COMIGO. – Mark ofereceu-se sem pensar duas vezes.
- EU PREFIRO O MAIS NOVO. – O sequestrador ignorou o pedido de Mark e aproximou-se do . – OK. VAI FUNCIONAR ASSIM: SE VOCÊ APARECER, EU PARO. SE VOCÊ NÃO APARECER, VAI FICAR CADA VEZ PIOR. – Ele disse em tom de ameaça. – VAMOS COMEÇAR. – O capanga virou-se para o e pensou alguns segundos. – Sabe, quando eu olho pra você, eu me lembro do seu pai e de todas os anos de humilhação ao lado dele. Eu olho pra sua cara e só consigo pensar no quanto eu desejei enchê-lo de socos e não pude. Acho que hoje é o meu dia de sorte. – Ele sorriu para o , que não demonstrou qualquer tipo de fraqueza ao encará-lo. Não demorou para que a sequência de socos começasse. Pela aresta entre dois móveis, eu vi o levar 5 ou 6 socos seguidos, enquanto o Mark pedia aos berros que ele parasse. Mesmo me mantendo em silêncio, eu estava aos prantos.
- SEU DESGRAÇADO! EU VOU TE MATAR! – Mark gritou completamente enfurecido, quando percebeu que seu irmão estava praticamente desacordado na cadeira ao lado. Ele tentava desesperadamente se soltar das cordas, mas ele não conseguia. Os gritos de Mark passaram a ecoar na minha cabeça.
- Olha pra mim. – O sequestrador pediu ao , tocando o seu rosto e levantando-o. Foi possível ver o rosto do completamente ensanguentado, causado por um corte no supercilio.
- SE AFASTA DELE! – Mark gritou, furioso.

Novamente, um conflito interno entre a minha razão e a minha emoção. Minha razão me dizia para esperar mais um pouco pois a polícia já chegaria, mas meu coração me dizia para ir até lá de uma vez para acabar com todo aquele sofrimento. Se eu fosse até lá, eu ganharia mais tempo até que ele tentasse fazer alguma coisa com um dos garotos, mas eu sabia o quanto eles odiariam se eu fizesse isso. Eu não sabia o que fazer.

- Eu... estou bem. – falou com um pouco de dificuldade. Mesmo estando zonzo, ele queria tranquilizar o irmão mais velho. Ele estava tentando recuperar totalmente a sua consciência. – Vai precisar de um pouco mais que isso pra me matar. – Ele esforçou-se para sorrir.
- Cala essa boca, ! – Mark ficou aflito ao ver o irmão provocando o sequestrador.
- Eu sei disso! Eu não quero te matar... ainda. – O homem de confiança de Steven riu do irmão Jonas mais novo. – É a vez do seu irmão. – Ele afastou-se do e aproximou-se do Mark. – O QUE VOCÊ ESTÁ ACHANDO, QUERIDA? AINDA NÃO FUI CONVINCENTE O BASTANTE? – O sequestrador gritou para mim. Eu estava completamente perturbada. Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo por estar permitindo que o e o Mark fossem torturados, sendo que eu podia evitar isso.
- Eu te disse que ela não estava aqui. – disse pausadamente.
- Talvez, esse aqui seja o favorito dela no momento. – O capanga respondeu o , enquanto olhava para o Mark. – O que eu faço com você? – Ele perguntou retoricamente para o irmão mais velho. Mark continuou a encará-lo sem demonstrar qualquer medo.

Mesmo estando totalmente destruída, meus olhos atentos continuavam acompanhando tudo através de uma aresta. Eu olhei para trás mais de duas vezes com esperanças de ver a polícia chegando, mas eu não via nada além da escuridão. Por que a polícia estava demorando tanto?

Eu não sabia, mas a senhora para quem eu havia pedido ajuda tinha ficado bastante nervosa e assustada com a minha abordagem. Ela demorou algum tempo para ligar para a polícia e quando ligou, passou as informações da maneira mais confusa possível. A polícia chegou na casa dela 15 minutos depois que eu havia saído de lá. Na hora de se explicar para os policiais, ela mal conseguia falar.

Escondida atrás dos móveis e completamente aflita, eu vi e ouvi o Mark gritar de dor mais de duas vezes, quando o sequestrador mexia propositalmente na faca ainda enfiada em uma de suas coxas. Ele estava torturando o Mark sem piedade. Mesmo estando fraco, tentava a todo o momento se soltar para ajudar o irmão e não conseguia. Eu não estava aguentando mais. Eu não estava conseguindo mais vê-los sofrendo para tentar me manter segura. Sabendo que eu estava ali, Mark tentou se controlar para que eu não fizesse nenhuma besteira, mas estava doendo muito.

- JÁ CHEGA! VOCÊ JÁ VIU QUE ELA NÃO ESTÁ AQUI. – gritou furiosamente para o capanga. Ele já não aguentava ver seu irmão gritar de dor.
- PRA QUEM JÁ LEVOU UMA FACADA, DUAS NÃO VAI FAZER DIFERENÇA, VAI? – O sequestrador foi irônico ao perguntar. Quando ouvi ele cogitar aquela possibilidade, meu coração estremeceu.
- NÃO! – gritou, enquanto ouvia novos gritos do irmão. A faca estava sendo tirada lentamente da coxa do Mark. – PARA COM ISSO! – Ele pediu aos berros. A dor que o Mark estava sentindo era tão grande, que até sua respiração estava descompensada.
- Prometo que não vai doer mais do que a primeira facada. – O sequestrador foi sarcástico, enquanto ria para o Mark. Meu coração estava na boca! Minhas mãos tremiam e meu rosto estava coberto de lágrimas. Diante das circunstâncias, a minha emoção foi mais forte do que qualquer razão. Eu não podia permitir que o Mark levasse uma nova facada.
- EU ESTOU AQUI, SEU FILHO DA MÃE! – Eu gritei, saindo de trás do móvel. Todos me olharam na mesma hora.
- NÃAAAAO! – Mark gritou na minha direção. – VAI EMBORA! – Ele me pediu aos berros.
- Eu sabia! – O sequestrador sorriu, satisfeito.
- SAIA DAQUI AGORA! CORRA! – Mark não conseguia aceitar a minha atitude. estava tão perplexo com a minha decisão, que não conseguia falar. Ele apenas ficou me olhando com os olhos esbugalhados.
- Eu estou aqui. Você já pode largar essa faca. – Eu ignorei todos eles. Eu já havia me exposto e não me arrependia disso. Ele sorriu pra mim e antes de se aproximar, colocou a faca sobre uma pequena mesa que havia ali.
- Que bom que você se juntou a nós. – O capanga fingiu ser simpático, mas obviamente não me convenceu nem um pouco. Me mantive séria o tempo todo e ele pareceu não gostar. – Por que tão séria? – Ele fez menção que acariciaria o meu rosto, mas eu me afastei.
- Não toca em mim. – Eu quis mostrar pra ele que eu não estava tão intimidada quanto ele imaginava.
- Eu toco onde eu quiser e quando eu quiser. – O homem pegou o meu braço com força e me puxou na direção em que o e o Mark estavam.
- Deixa ela ir. – pediu, vendo que o homem estava segurando o meu braço com força.
- Mas ela acabou de chegar! Temos muito o que conversar, não é? – O capanga voltou a sorrir pra mim. – Vou arrumar uma cadeira pra você se sentar. – Ele pegou uma cadeira que estava encostada em uma das paredes do corredor e a puxou para perto dos irmãos. – Onde você prefere sentar? Ao lado do filho legítimo ou do bastardo? – Eu não respondi. Eu sabia o que ele estava tentando fazer. – Eu duvido que você esteja indecisa, mas vou facilitar as coisas pra você. – O sequestrador colocou a cadeira de frente para o e para o Mark. – Aqui está ótimo. – Ele disse, me obrigando a sentar. Assim que eu sentei, ele colocou os meus braços para trás em volta dos braços da cadeira e amarrou os meus pulsos. A posição era bastante desconfortável.
- Você está machucando ela! – Mark reclamou, preocupado.
- Oh, desculpe. Estou te machucando? – Ele ironizou, apertando ainda mais a corda que amarrava os meus pulsos.
- Desgraçado! – esbravejou ao ver a cena.
- Ok. Agora, nós podemos conversar. – O capanga ignorou completamente. – Eu podia apenas matar todos vocês de uma só vez, mas eu não posso deixar que vocês morram sem resolver esse triângulo amoroso. – Eu mal conseguia olhar para a cara daquele sujeito nojento. – Além disso, eu estou muito curioso. – O homem completou.
- Isso é ridículo! – tentou intervir.
- Cala essa boca! – Ele apontou a arma para o na mesma hora. – Você só fala quando eu te perguntar alguma coisa. – O capanga ameaçou.

Mesmo parecendo que eu havia tomado uma decisão suicida, eu estava mais do que preparada para o que poderia acontecer. De onde eu estava, antes de me entregar para o sequestrador, eu vi que o e o Mark estavam novamente amarrados por uma corda e eu tinha certeza que o sequestrador faria o mesmo comigo, por isso, antes de me entregar, peguei um pequeno prego que eu havia encontrado no chão. Havia funcionado uma vez e funcionaria novamente. Eu só precisaria de tempo.

- A única regra da nossa brincadeira é: quando eu perguntar, vocês devem responder. Fácil, não é? – O sequestrador até parecia a pessoa mais legal de todas. – Combinado? – Ele me perguntou.
- Ok. – Eu respondi por todos depois de muito hesitar. Atrás da cadeira, eu já havia começado a por o meu plano em prática. Comecei a cortar sutilmente a corda com a ponta do prego que estava em minhas mãos.
- Infelizmente, eu fui obrigado pelo Steven a saber tudo sobre a história de vocês três. Eu sei sobre o acidente, a perda de memória, a titia morta que virou sogra e todo o resto que eu não vou falar pra não acabar vomitando em cima de você. – O capanga era extremamente sádico e grosseiro. Isso só me fazia sentir mais raiva e nojo dele. – Só que eu tenho estado bastante ocupado e perdi os últimos capítulos dessa história. Você pode começar me contando o que aconteceu depois da morte do Steven. – Ele cruzou os braços.
- Por que você não cuida da sua vida? – Eu fiquei tão furiosa com as intenções dele, que tive coragem para respondê-lo da maneira que ele merecia.
- Resposta errada. – O capanga se afastou e foi até a mesa, onde ele pegou a faca que havia deixado lá. Eu achei que tratava-se de um blefe e por isso não cedi, mesmo vendo ele indo na direção do Mark.
- Não! – gritou ao ver a faca sendo enfiada novamente na coxa do irmão. O homem havia colocado a faca na mesma perfuração anterior, o que tinha tornado tudo mais doloroso para o Mark, que gritou muito de dor.
- OK! OK! – Eu recuei na mesma hora, completamente em pânico. – EU RESPONDO! – Eu cedi, trêmula. – Depois... que o Steven morreu... – Eu respirei fundo para tentar me acalmar. – Alguma coisa mudou entre... eu e o . – Eu desviei o olhar.
- O que mudou, ? – O capanga virou-se para o . O que ele havia feito com o Mark mostrou que ele realmente não estava para brincadeira e por isso não dava nem para hesitar em responder.
- Eu... – me olhou por um momento. – Eu achei melhor me afastar, porque percebi a aproximação dela com o Mark. – Ele disse, me fazendo olhá-lo. Eu não sabia daquilo.
- O que mais? – O capanga viu ali uma vulnerabilidade e quis explorar. rolou os olhos e negou com a cabeça. Ele estava irritado por estar sendo obrigado a falar sobre o assunto.
- Eu notei que... ela estava me evitando. – me olhou ao terminar a frase. Eu estava me sentindo péssima e o Mark também estava bastante desconfortável.
- Se vocês estavam fugindo um do outro, o que você foi fazer na casa dela hoje no começo da noite? – Ele se referia ao momento que fui abordada pelos sequestradores na minha casa.
- Eu... fui até lá para que ela... – não conseguiu me olhar. – Eu queria que ela me dissesse a verdade. Eu queria que ela fosse honesta comigo sobre o que estava acontecendo. – Ele abaixou a cabeça por um momento.
- E o que estava acontecendo, Mark? Você faz alguma ideia? – O homem estava brincando com os sentimentos de todos ali propositalmente.
- Nós... saímos juntos algumas vezes. – Mark respondeu, contrariado. Aquela pressão estava me matando.
- Você sabia disso, ? – O capanga não cansava daquele jogo.
- Já chega disso. – pediu ao sequestrador de maneira mais calma. Ele parecia decepcionado.
- Você deveria me agradecer. Estou te poupando de continuar sendo feito de idiota. – O capanga sorriu.
- Ele não está sendo feito de idiota. – Eu tive que intervir. – Não é assim. – Eu olhei para o . – Nós não estávamos mais juntos. – Eu quis me justificar.
- Você sabia ou não sabia, ? – O homem me ignorou completamente e continuou com as suas perguntas perturbadoras. não queria mais responder a nada. – Vai me fazer te obrigar? – O sequestrador ameaçou.
- Eu sabia que eles estavam saindo. Eu vi os dois... algumas noites atrás. – respondeu com os olhos fechados. Mark e eu nos olhamos e foi possível ver culpa nos olhos um do outro.
- Se você sabia, o que você continua fazendo aqui em Nova York? – O homem perguntou. – O que ainda te prende nessa cidade? – Ele complementou a pergunta.
- O Mark. – disse e viu o irmão olhá-lo na mesma hora.
- Só ele? – O capanga o olhou com desconfiança. negou com a cabeça por um momento.
- A também. – Ele não me olhou. Estava um pouco decepcionado pra isso. Eu fechei meus olhos por um momento, enquanto negava com a cabeça. Como eu pude ter deixado chegar naquele ponto? Por que eu não conversei com ele de uma vez sobre o assunto?
- Bom, parece que não existe mais triângulo amoroso. – O homem fez uma careta. – Eu desconfiei quando ela te viu levar vários socos calada, mas quando foi com o Mark ela resolveu aparecer. – Ele estava tentando piorar ainda mais as coisas.
- Vai pro inferno! – Eu esbravejei, furiosa. Ele estava fazendo tudo soar mais cruel do que deveria ser.
- Você está colocando um irmão contra o outro e sou eu que vou pro inferno? – O capanga ironizou aos risos.
- Ela não está nos colocando um contra o outro. – Mark quis me defender.
- Qual a sua opinião sobre isso, ? – Ele olhou para o filho mais novo de Steven.
- Eu acho que... – Mesmo após hesitar, ele me olhou. – Ela pode ficar com quem ela quiser. Isso nunca vai mudar o fato de que eu e o Mark somos irmãos. – Ele disse com naturalidade mesmo doendo bastante.
- Não é possível. Nem parece que é o filho do Steven falando. – O sequestrador negou com a cabeça. – Me diz a verdade, garoto: você está mesmo tão tranquilo com a possibilidade de ela ficar com o seu irmão? Você não sente mais nada por ela? – Ele queria que o falasse em alto e bom som.
- Eu sinto. – Ele confirmou, olhando pra mim.
- Sente o que? – O sequestrador queria detalhes.
- Eu não vou mais brincar disso. – rolou os olhos, cansado de se humilhar daquela maneira.
- Ah, não vai? – O homem se aproximou de mim e o cedeu na mesma hora. Por um momento, parei de cortar a corda que amarrava os meus pulsos, pois fiquei com medo que eu fosse pega.
- EU AMO ELA! – respondeu o que havia sido perguntado. – É ISSO O QUE VOCÊ QUERIA OUVIR, SEU DESGRAÇADO? – Ele gritou, furioso. O que ele havia dito não era nenhuma surpresa pra mim, mas me tocava todas as vezes que eu ouvia ele dizer.
- E você, agente? Ama ela também? – O sequestrador se aproximou do Mark. Ele hesitou um pouco para responder, pois não estava suportando mais aquela brincadeira.
- Eu amo. – Mark olhou pra mim ao responder. Mesmo estando ali amarrada, senti meu coração estremecer quando ouvi ele dizer aquilo.
- Que os dois trouxas são apaixonados por você, nós já sabíamos, não é? Eu quero mesmo é saber qual dos dois você ama. – O capanga me olhou, se achando muito engraçado. Eu continuava cortando a corda que prendia os meus pulsos.
- Vai se ferrar. – Eu me recusei. Eu não faria aquilo daquela maneira. Nunca.
- Conta só pra mim. Eu prometo que não conto pra eles. – O homem aproximou o seu ouvido da minha boca. Não pensei duas vezes e cuspi na direção dele. Na mesma hora, ele virou-se e segurou o meu pescoço com sua mão.
- Você cuspiu em mim? – Ele perguntou, furioso. – Você não tem medo de morrer, garota? – O homem ameaçou.
- SOLTA ELA! – Mark gritou, desesperado. – ESTOU MANDANDO VOCÊ TIRAR AS SUAS MÃOS DELA AGORA! – Ele continuou gritando.
- Quer saber? Talvez, matar ela na frente de vocês dois seja a melhor forma de fazer vocês dois pagarem por serem tão idiotas. – Ele apertou ainda mais o meu pescoço e eu comecei a ficar sem ar. Até então, estava tentando não se manifestar. Primeiro por conta do seu orgulho e segundo por que ele achava que se tratava de mais um blefe do sequestrador, mas quando ele percebeu que eu estava ficando sem ar, ele não conseguiu não se manifestar.
- EI! – tentou chamar a atenção do capanga, que o ignorou completamente. – EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ, SEU FILHO DA MÃE! – Ele continuou gritando, desesperado.
- NÃO! PARA COM ISSO! – Mark voltou a gritar.
- EU JURO POR DEUS, SE ALGUMA COISA ACONTECER COM ELA... – ameaçou, tentando se soltar das cordas. – EU NÃO SEI COMO EU VOU SAIR DAQUI, MAS EU VOU MATAR VOCÊ. – Ele estava completamente fora de si. A minha falta de ar já estava no limite, quando o sequestrador soltou o meu pescoço. Comecei a tossir loucamente, enquanto o ar voltava gradativamente para os meus pulmões. Os garotos suspiraram, aliviados.
- Esse foi o meu primeiro e último aviso do que vai acontecer se vocês não me respeitarem. Não me provoquem. Vocês não me conhecem. – O capanga disse em alto e bom som para que todos escutassem.
- Você está bem? – Mark perguntou pra mim, preocupado. Eu apenas concordei sutilmente com a cabeça, pois estava tentando me reestabelecer.

Enquanto passávamos momentos horríveis naquele sótão, a polícia estava na rua da casa tentando localizar a casa correta onde acontecia o tal sequestro. A senhora para quem eu havia pedido ajuda tinha desmaiado há alguns minutos e tinha sido mandada para o hospital. Por isso, ela não conseguiu dar detalhes sobre a casa em que estava ocorrendo o sequestro. Mark havia deixado o seu carro na frente da casa da senhora para quem eu havia pedido ajuda, o que não colaborou nem um pouco com os policias, que já tinham entrado em duas casas que, por sinal foram descartadas, pois não tinham sótão, como a idosa havia mencionado.

- Onde nós paramos mesmo? – O sequestrador voltou a sorrir como se nada tivesse acontecido. Seu parceiro ainda estava desacordado no chão. – Ah, você ia dizer qual deles você prefere. – Ele olhou pra mim. Eu ainda estava me recuperando, mas eu precisava continuar tentando cortar a corda. Eu conseguia notar que não estava tão longe disso acontecer. – Vamos, linda. Mate a nossa curiosidade. – O homem cruzou os braços. Eu olhei para o e para o Mark e não sabia por onde começar a tomar aquela decisão que eu havia adiado tanto. me olhava com um pouco mais de tristeza, o que não me surpreendia, considerando a história que nós havíamos vivido juntos. Mark tentava me passar tranquilidade o tempo todo. Era como se ele estivesse me dizendo: ‘Está tudo bem. Independentemente da sua decisão, eu vou entender.’.
- Eu... – Eu neguei com a cabeça. – Eu amo os dois. – Eu ergui os ombros, sem saber o que fazer. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e havia um nó enorme na garganta. Mark continuou me olhando, enquanto o abaixou a cabeça. Não era a resposta que ele esperava ouvir.
- Você não pode amar os dois. – O capanga abriu os braços.
- O que você sabe sobre amor? – Eu me atrevi a perguntar.
- Nada. – O sequestrador reconheceu. – Mas eu sei que em algum momento você teria que escolher, então eu vou ser legal e vou te ajudar nisso. – Ele insistiu.
- Eu não quero a sua ajuda. – Eu recusei imediatamente.
- Eu não perguntei se você quer. Eu mando, lembra? – O homem sorriu pra mim. – Qual deles beija melhor? – Ele perguntou. Eu não acreditei que ele estava me perguntando aquilo.
- Eu não vou responder isso. – Eu me recusei, sem hesitar. O que ele estava me pedindo para fazer era sujo e repugnante.
- Ela disse mesmo que não vai responder? – O capanga perguntou aos garotos que, assim como eu, sabiam que eu pagaria pela rebeldia. Foi naquele exato momento em que eu tive a felicidade de conseguir cortar a corda que amarrava os meus pulsos. Senti um alívio enorme, mas consegui ser discreta. Mantive meus braços na mesma posição. Eu tinha um plano.
- Ok. Eu... – Eu forcei um drama. – Eu te conto quem eu escolheria. – Eu fingi que estava cedendo a pressão dele. Mark e demonstraram surpresa com a minha mudança de ideia repentina.
- Sabia que você acabaria mudando de ideia. É menos doloroso pra todo mundo. – O capanga parecia satisfeito. – E então, qual deles é o escolhido? – Ele perguntou, parando na minha frente. Olhei rapidamente para os irmãos, que estavam tão aflitos com a minha resposta, que não conseguiram entender o que eu estava tentando dizer a eles.
- Eu... não quero falar na frente deles. Eu posso contar só pra você? – Eu tentei ser convincente. Era a minha única chance.
- Eu prometo que não vou contar. – O sequestrador riu e não escondeu que pretendia quebrar a sua promessa. Ele aproximou um pouco o seu rosto do meu.
- Mais perto. – Eu disse, pedindo para que ele se aproximasse. Ele o fez, trazendo o seu rosto para mais perto do meu. – Mais um pouco. Eu não quero que eles escutem. – Eu disse em um tom mais baixo.

O capanga estava praticamente com o seu corpo por cima do meu. A orelha dele estava bem próxima dos meus lábios e eu vi ali a oportunidade de seguir com o plano. Eu realmente o peguei desprevenido ao levantar com rapidez e com toda a minha força levantar uma das minhas pernas e acertar em cheio uma joelhada entre suas pernas. Mark e se assustaram por um momento com a minha atitude, mas quando viram que minhas mãos não estavam mais amarradas, eles vibraram. O sequestrador gemeu de dor e eu o empurrei para trás, fazendo com que ele caísse no chão. Tentei ser rápida em me levantar da cadeira e correr na direção do e do Mark. Eu tinha que soltar um dos irmãos primeiro e o fato do Mark ter levado a facada na perna realmente pesou para que eu optasse por soltar o primeiro.

- Rápido! Rápido! – pediu, enquanto eu tentava desamarrar rapidamente aquela corda. Quando eu consegui soltar a corda, o sequestrador já estava se levantando. levantou-se da cadeira e foi diretamente na direção o homem, jogando o seu corpo por cima do dele.

Enquanto o começava a socar o rosto do sequestrador, eu fui tentar desamarrar a corda que prendia os pulsos do Mark. O nó na corda que o imobilizava estava muito mais forte e cego que o do e por isso eu não estava conseguindo desamarrá-lo. O meu nervosismo só dificultava as coisas, mas eu não conseguia controlá-lo. Mark começou a me apressar, quando viu que o estava começando a perder a briga para o sequestrador.

- Eu não estou conseguindo! – Eu disse, desesperada. Por um momento, olhei na direção que o estava e vi o sequestrador em cima dele, tentando acertar socos. O havia conseguido segurar suas mãos do homem, mas ele não conseguiria segurá-lo por muito tempo. – Não estou conseguindo. – Eu reafirmei em pânico.

O sequestrador continuava em cima do e como não havia conseguido acertá-lo com socos, ele resolveu acabar com aquilo de uma maneira mais fácil. Ele conseguiu alcançar o pescoço de e começou a apertá-lo exatamente como ele havia feito comigo, só que dessa vez ele com certeza não o soltaria sem antes matá-lo. Isso fez com que eu e o Mark ficássemos ainda mais desesperados. Eu continuei tentando soltar a corda e ele usava sua força para tentar se soltar. Quando o Mark percebeu que não tínhamos muito tempo, ele tomou uma decisão.

- Esquece a corda. – Mark me pediu, me fazendo levantar para olhá-lo. – Pegue a faca. – Ele olhou para a faca que estava fincada em sua coxa. – Mata esse desgraçado. – Mark disse com raiva.

A situação em que o se encontrava me encorajou de uma maneira surreal. Mark gritava de dor, enquanto eu retirava a faca da coxa dele. Eu corri na direção em que o estava e não pensei duas vezes em acertar o sequestrador nas costas. Infelizmente, o homem percebeu a minha aproximação e soltou o por um momento para olhar na minha direção. Ele conseguiu desviar e eu consegui enfiar a faca apenas em um de seus braços.

- VAGABUNDA! – O capanga gritou ao ver a faca em seu braço. ainda estava com as mãos em seu pescoço e continuava se recuperando, quando ele olhou na direção em que o sequestrador estava. O homem ainda estava bem próximo dele e ele aproveitou a oportunidade para empurrar com força a cabeça do sequestrador com um de seus pés, que caiu no chão quase descordado.

- Você está bem? – Eu me agachei ao lado do , preocupada.
- Eu estou bem. – afirmou, sentando-se no chão. A maneira com que ele disse a frase soou um pouco frio. Os gemidos de dor do sequestrador chamaram a nossa atenção e eu fiz questão de ir até lá.
- O que foi? Eu te machuquei? – Eu disse em tom de ironia, olhando o homem no chão.
- Vai se ferrar, vadia. – O sequestrador tentou me intimidar.
- Deixa eu te ajudar. – Eu me agachei e retirei a faca do braço dele sem qualquer delicadeza. Ouvi mais gritos de dor. – Pra quem já levou uma facada, duas não vai fazer diferença, vai? – Eu repeti a mesma frase que ele havia dito ao Mark.
- Não! – O capanga começou a se arrastar na tentativa de se afastar de mim. Eu fui até ele.
- Eu prometo que não vai doer mais que a primeira facada. – O sequestrador tentou me conter com o seu braço machucado, mas ele não conseguiu. Acertei a segunda facada exatamente no mesmo local onde ele havia esfaqueado o Mark.

Confesso que nunca imaginei que os gritos de dor de uma pessoa me dariam tanto prazer. Olhei para o Mark e ele sorriu pra mim visivelmente aliviado. Desviei o olhar para o e notei que ele ainda estava no chão. Sem hesitar, eu fui até ele e me agachei ao seu lado. A respiração dele parecia ter normalizado e o sangramento em seu cílio superior havia parado.

- Você precisa de ajuda? – Eu me ofereci, quando ele fez menção de que iria se levantar.
- Não. Eu estou bem. – realmente estava agindo de maneira fria comigo. – Valeu. – Ele se levantou, me deixando ali agachada. Eu não o julgava por estar tão decepcionado comigo.
- Chega de ficar ai sentado enquanto eu faço todo o trabalho sujo, certo, Markey? – brincou assim que se aproximou do irmão mais velho. Ele foi direto desamarrar a corda que ainda imobilizava o Mark. Apesar de estar um pouco vulnerável considerando o comportamento do , eu fui até os dois e os observei em silêncio, enquanto o desamarrava o irmão.
- Valeu, cara. – Mark agradeceu quando percebeu que suas mãos estavam desamarradas.
- Eu vou te ajudar a levantar. – estendeu a mão para o irmão, que a segurou sem hesitar. – Coloca o seu braço aqui. – Ele colocou o braço de seu irmão em volta de seu pescoço para ajudá-lo a andar.
- Eu ajudo. – Eu fui do outro lado e passei o outro braço do Mark em volta do meu pescoço. Demos poucos passos na direção do corredor, quando alguns homens fortemente armados nos assustaram. Acredite ou não: era a polícia.
- Mãos pra cima! – Um deles gritou, apontando a arma na nossa direção.
- Está tudo bem, policiais. – Mark tomou a frente. – Eu sou do FBI. Eu vou pegar o meu distintivo. – Ele avisou para que os policiais não achassem que ele estava reagindo. Mark tirou o distintivo de seu bolso e o mostrou aos policiais. – Eles são os sequestradores. – Ele apontou para os homens que estavam no chão.
- Vocês fizeram um bom trabalho aqui. – O policial mostrou-se impressionado.
- Ainda bem, não é? Se dependêssemos da eficiência de vocês. – não conseguiu evitar. Mark olhou feio para o irmão.
- Esse é o meu irmão e... a minha amiga. – Mark ficou confuso na escolha da palavra certa para me descrever. – Eles foram usados de isca para me atraírem até aqui. – Ele contou.
- Que bom que vocês estão bem. – O policial deixou um sorriso escapar. – Tragam os médicos. – Ele pediu a um de seus subordinados, quando percebeu que os garotos precisavam de cuidados médicos.

Uma equipe médica enorme foi colocada a nossa disposição. Eles fizeram um curativo na coxa do Mark e um outro curativo no supercilio do . Os médicos foram tão eficientes, que Mark conseguiu voltar a andar sozinho sem tanta dificuldade. Além dos médicos, recebemos uma outra equipe de polícia que nos encheu de perguntas e que tomou o nosso depoimento ali mesmo na casa. Os capangas continuavam desacordados, mas mesmo assim foram retirados da casa algemados. Fomos guiados até a saída do sótão e depois até a saída da casa.

- Você está bem mesmo? – Mark me perguntou pela terceira vez nos últimos 10 minutos. Estávamos aguardando o terminar o seu depoimento para a polícia.
- Eu estou bem. Eu juro. – Eu sorri como uma boba, achando a preocupação do Mark a coisa mais fofa de todas.
- É bom te ver sorrindo de novo. – Mark acariciou rapidamente o meu rosto antes de dar um beijo carinhoso na minha testa. Eu retribuí o gesto com um abraço rápido. – Escuta, eu vou ter que ficar um pouco mais aqui. Eu vou ficar em cima desses policiais para evitar que toda essa história do Steven venha a tona. Vou pedir pro te deixar em casa. Pode ser? – Mark me perguntou.
- Pode. Pode... ser. – A ideia de ficar sozinha dentro de um carro com o me deixava extremamente nervosa, mas depois de tudo o que nós havíamos vivido naquele dia, eu não tinha o direito de ficar exigindo nada.
- Você vai ficar bem mesmo? – Mark notou a minha reação.
- Vou. Fica tranquilo. – Eu quis tranquilizá-lo.
- Certo. Eu vejo você depois. – Mark sorriu pra mim e piscou um dos olhos. – Você foi muito corajosa hoje. Eu estou orgulhoso. – Ele fez questão de dizer antes de se afastar. Fiquei observando ele se afastar com aquele sorriso bobo no rosto. Mark seguiu na direção em que os policiais estavam e por coincidência encontrou o no caminho, que havia acabado de dar o seu depoimento.
- E ai, cara. Foi tudo bem? – Mark perguntou ao irmão mais novo.
- Foi. Eu só tive que responder milhões de perguntas. – respondeu em meio a uma careta.
- É assim mesmo. Não tem como fugir disso. – Mark ergueu os ombros. Os irmãos se olharam por um momento e trocaram sorrisos discretos. – Nós... estamos bem, não estamos? – Ele referia-se ao que tinha acontecido no sótão em relação a mim.
- Eu não estava mentindo quando disse que nada vai mudar o fato de sermos irmãos. – foi completamente sincero em sua resposta. – Nós estamos bem. Nós sempre estaremos. Não precisa se preocupar com isso. – Ele negou com a cabeça, estendendo uma das mãos para o irmão, que a segurou na mesma hora e o puxou para um rápido abraço.
- Obrigado por ter voltado por mim. – Mark quis agradecer.
- Eu estava te devendo, não é? Na verdade, eu ainda estou. – sorriu para o irmão.
- Agente, posso falar com você por um momento? – Um dos policiais os interrompeu.
- Claro. – Mark afirmou na mesma hora. – Acho que ainda vou ter que ficar um tempo por aqui. Você e a podem ir pra casa. Fica com o meu carro. – Ele colocou a chave do carro na mão do irmão e saiu antes mesmo que o dissesse qualquer coisa.

A última coisa que o queria naquele momento era entrar naquele carro comigo, mas ao encarar a chave do carro em sua mão, ele concluiu que não teria saída. De onde estava, ele olhou na direção do carro e notou que eu o esperava ao lado do mesmo. Nós trocamos olhares por um momento e mesmo de longe, ficou bem claro que nenhum de nós dois queríamos aquilo. estava muito mal e decepcionado com o que tudo o que ele havia descoberto nas últimas horas. Saber que o amor que ele sentia por mim pudesse voltar a não ser correspondido o deixava completamente sem chão. Ele já não sabia mais como era viver daquele jeito. Ele não se lembrava mais como era viver em um mundo em que eu não fosse apaixonada por ele.

TROQUE A MÚSICA:



Senti meu coração estremecer quando percebi que o estava vindo na minha direção. Para evitar qualquer contato visual, dei a volta no carro e fiquei esperando na frente da porta do passageiro. destravou o carro e entrou no carro antes mesmo de mim. Eu hesitei algum tempo antes de decidir entrar naquele carro. Confesso que estar naquele carro com ele foi emocionalmente a coisa mais difícil que eu havia vivido em meses. Eu estava me sentindo muito mal por tudo o que o tinha escutado sobre mim e o Mark naquela noite. Eu sei que eu não deveria, mas ‘culpada’ era a melhor palavra para me descrever naqueles poucos minutos em que eu fiquei sentada ao lado do . Eu não conseguia falar ou olhar pra ele. Eu estava me sentindo suja. Como se eu estivesse coberta de algo que não me pertencia, que não era eu. O silêncio durante todo o trajeto serviu para expor ainda mais o quão mal o também estava com aquilo. Eu o conhecia muito bem. Eu sabia que aquilo estava matando ele tanto quanto estava me matando.

sabia muito bem o tipo de conversa que nós estávamos prestes a ter e ele simplesmente não conseguia lidar com aquilo naquela noite ou, talvez, ele jamais conseguiria. Durante todo o trajeto até a minha casa, pensou diversas maneiras para adiar aquela nossa conversa. Ao chegarmos na minha casa, o fato de ele parar o carro na frente da minha casa e não na garagem da casa do Mark me chamou a atenção. Eu não sabia, mas aquela foi a solução mais rápida que ele encontrou para me evitar e, consequentemente, evitar a conversa que teríamos.

O carro parou na frente da minha casa, mas o carro continuou ligado. Supostamente, eu deveria descer do carro naquele momento. Sair do carro sem dizer uma só palavra me parecia tão tentador e tão mais fácil, mas eu sabia que não podia mais adiar aquela conversa, não sem me sentir a pior pessoa do mundo. Demorei alguns segundos para conseguir coragem e ar para falar com ele.

- Nós temos que conversar. – Enquanto eu pronunciava aquela frase, eu já estava pensando na melhor coisa a se dizer em seguida. O silêncio dele e a maneira com que ele continuou olhando para a frente, como se eu não estivesse ali, foi muito pior do que 3 socos no meu estômago. Ele estava muito mal. Eu conseguia sentir. Minha reação imediata foi tentar ajudá-lo, mesmo sabendo que a responsável por tudo aquilo era eu. – Eu... – Eu tentei dizer alguma coisa, mas ele me interrompeu.
- Não. – A cabeça foi balançada de maneira negativa, mas os olhos continuavam fixos em qualquer lugar fora do carro. – Eu não quero ter essa conversa hoje. – Ele finalmente me olhou e me doeu de maneira imensurável ver aquelas poucas lágrimas escondidas atrás daquele olhar de raiva que ele me lançou.

Eu era oficialmente a pior pessoa do mundo. Pelo menos, era daquela maneira que eu me sentia. Independentemente do que eu sentia pelo Mark, o ainda era o e a nossa história ainda era a nossa história. Eu não conseguia deletar. Eu jamais conseguiria deletar aquilo e eu sabia. Por mim, tudo bem conviver com essas lembranças de tudo o que nós vivemos, mas eu não posso, eu não consigo viver sabendo que o estava sofrendo por causa de mim. Aquele sentimento me consumia, mas o respeito que eu sentia por ele ainda falava mais alto. Eu respeitaria o pedido dele. Eu estava tão consternada, que acabei saindo do carro sem dizer mais nenhuma palavra. Eu não disse que sentia muito e nem ao menos um ‘boa noite’. Eu simplesmente sai do carro com o coração carregado e a consciência pesada.

Assim que eu saí do carro e bati a porta, pela primeira vez em tempos, o saiu com o carro sem esperar que eu entrasse na minha casa, como ele costumava fazer. Se eu já não estivesse tão mal, a atitude dele me deixaria arrasada, mas da maneira que as coisas estavam, a atitude dele não me deixou tão surpresa. Com a cabeça baixa, segui andando em direção a porta da minha casa, enquanto algumas lágrimas alcançavam os meus olhos. Abri a porta, entrei na casa e a fechei. Apoiei minhas costas na porta, enquanto distribuía olhares pela sala de estar. Levei as mãos até o meu rosto, sem saber o que fazer para que eu não sentisse o meu coração tão pesado como eu estava sentindo naquele momento.

O que eu estava sentindo? Impossível explicar. Eu estava me sentindo culpada sim, mas ao mesmo tempo eu não me arrependia dos meus sentimentos pelo Mark. Eu estava mal por estar quebrando o coração do , mas eu também não via qualquer outra maneira de ser feliz naquele momento sem ser ao lado do Mark. Eu poderia sim deixar de viver o que eu quero viver com o Mark para ficar com o , mas até quando eu conseguiria levar essa mentira? Não é justo, mas eu tenho certeza que o Mark novamente entenderia. Ele sempre entende.

Apesar de ter certeza sobre todos esses sentimentos pelo Mark, eu não conseguia simplesmente ignorar os sentimentos do . Eu não posso fingir que não me importo. É claro que eu me importo! Eu sempre vou me importar. Isso já faz parte de quem eu sou. O já faz parte de quem eu sou há algum tempo. É impossível quebrar esse vínculo. Doía muito, até mesmo pra mim, aceitar que tudo o que vivemos chegou ao fim. Isso parecia impossível há algumas semanas atrás. Se há um mês alguém me dissesse que um dia a nossa relação chegaria ao fim, eu não acreditaria. Eu não acho que um dia eu vá realmente acreditar nisso e sei que o compartilha essa mesma opinião, mas sei que tudo isso é muito mais doloroso para ele.

Após me deixar em casa, conseguiu evitar a dolorosa conversa que nós teríamos, mas isso não deixou as coisas melhores. Ele sabia que estávamos prestes a colocar um ponto final definitivo em tudo o que vivemos. Ele sabia que a conversa que teríamos seria a última página da nossa história e era muito difícil pra ele aceitar isso. Era muito difícil aceitar que havia uma outra pessoa ocupando um lugar no meu coração, que um dia foi dele. Um lugar que ele sempre achou que seria dele. sabia que havia me perdido e infelizmente não tinha sido pra alguém que ele pudesse simplesmente dar alguns socos e dizer que esse alguém não me merecia, porque esse alguém era o seu irmão, Mark. Não era um idiota qualquer dessa vez. Não era qualquer tipo de provocação da minha parte. Não era alguém que não era bom o bastante.

não tinha qualquer lugar para ir naquela noite, então ele simplesmente parou o seu carro na rua de baixo da rua em que eu morava. A cabeça e o coração dele estavam matando ele. Ao desligar o carro na frente de uma casa qualquer, ele encarou o volante. Havia muita dor e uma tristeza que o rasgava por dentro que precisava ser extravasada de alguma maneira. Em um momento de fúria, começou a socar o volante do carro em meio a gritos. Foi quase meio minuto de um desabafo emocional. Após o último grito e o último soco, ele se permitiu respirar pela primeira vez nos últimos 30 minutos sem fazer qualquer esforço para segurar suas lágrimas, que começaram e escorrer pelos olhos dele.

- Eu amo ela... com todas as minhas forças e... com todo o meu coração, mas... – disse em voz alta, pois não estava conseguindo internalizar aquilo. – Ele é o meu irmão. – Os olhos tristes e os lábios trêmulos reconheceram.

Depois do dia horrível que eu tinha tido, eu estava extremamente exausta. Eu já tinha tomado banho e já tinha comido alguma coisa na cozinha, mas eu não conseguia dormir. Eu estava muito preocupada com o . Ele tinha saído daquele jeito e eu não fazia a menor ideia de onde ele estava. Era quase 2 horas da madrugada e eu já estava deitada na minha cama, mas a cada barulho que eu ouvia do lado de fora da casa, eu me levantava para verificar se era o . Se ao menos o Mark estivesse em casa, ele poderia ligar e ter notícias do , mas ele não estava. Ele havia me mandado uma mensagem que tinha bastante coisa para fazer no trabalho e que não sabia o horário que voltaria pra casa.

Na última vez em que eu havia olhado no meu celular, o relógio marcava 2:40. Não demorou muito para que um novo barulho do lado de fora da casa me fizesse levantar da cama. Quando eu vi o carro sendo estacionado na garagem da casa do Mark, senti um alívio enorme. Mesmo sabendo que o estava bem, eu não estava satisfeita. Continuei observando ele da janela do meu quarto, mas de maneira mais discreta. Acompanhei ele descer do carro e travá-lo em seguida. manteve-se de costas para a minha janela e ficou parado por alguns segundos encarando qualquer uma das casas do outro lado da rua. Era como se ele soubesse que eu estava observando ele e estivesse me evitando. Eu não consegui tirar os olhos dele. Nem mesmo quando ele finalmente virou-se de frente para a minha casa e seus olhos foram diretamente a procura da minha janela. Foram longos segundos em que trocamos olhares, que pareciam se conversar. Sabíamos exatamente o que o outro estava sentindo. Sabíamos exatamente o que precisávamos falar e ouvir um do outro.

deixou de me olhar para encarar a porta da frente da minha casa. Ele começou a andar na direção da varanda e a cada passo dado por ele, meu coração ganhava uma rachadura a mais. Fechei meus olhos assim que eu o perdi de vista. Ele estava na minha varanda e estava esperando por mim. Eu não queria descer e ir até a porta, mas a sensação de que eu devia isso a ele me fez descer espontaneamente para o andar debaixo da casa e parar na frente da porta. Mesmo com um nó na garganta, eu abri a porta. estava exatamente onde deveria estar. A cabeça baixa levantou-se na mesma hora, mas as mãos continuavam no bolso da sua jaqueta. Foi preciso de mais uma terrível troca de olhares para que eu tivesse certeza de que não conseguiria falar nada. Pelo menos, não no primeiro momento. Abri um pouco mais a porta e dei passagem para que ele entrasse. entendeu exatamente o que eu quis dizer e entrou na casa sem dizer absolutamente nada.

- Eu sabia que você estava acordada. – disse assim que passou por mim. Eu fechei a porta e a tranquei, enquanto tentava recuperar a fala.
- Eu... estava preocupada. – Eu respondi, enquanto andava na direção dele. Ele estava no centro da sala, mas continuava de costas para mim.
- Aposto que você achou que eu voltaria ao menos um pouco bêbado. – brincou com a situação. Típico dele. Mesmo me colocando na frente dele, eu mantive uma distância considerável, mas a troca de olhares era inevitável. – Eu estaria mentindo se dissesse que não pensei em fazer isso ao passar por cada bar no caminho para casa. – Ele sorriu de maneira sutil, demonstrando seu nervosismo.
- Eu estou feliz que você esteja bem. – Eu devolvi o sorriso. Ficamos nos olhando, enquanto nos perguntávamos como começar aquela conversa. Ambos estávamos nervosos.
- Escuta, eu... – hesitou alguns segundos para terminar a frase. – Eu sinto muito pela maneira que eu te tratei no carro. Eu estava... – Ele ergueu os ombros, pois não sabia como terminar a frase.
- Decepcionado? – Eu completei a frase dele com a palavra que me pareceu mais coerente. Ele não disse nada que concordasse, mas seus olhos fizeram isso por ele. – Está tudo bem. Você tinha os seus motivos. – Eu fiz questão de me mostrar totalmente compreensiva. – Aliás, você ainda os tem. – A culpa não me deixava pensar diferente. Eu queria deixar claro que eu não estava feliz com o que havia acontecido e nem com a maneira que havia acontecido.
- Honestamente, eu preferia não tê-los. – negou sutilmente com a cabeça. – Eu preferia mil vezes que essa fosse mais uma das vezes que eu apenas tivesse agido como um idiota. – Ele completou. Não havia julgamento em seu tom de voz e nem em seu olhar. – Eu viria aqui, nós brigaríamos e eu acabaria me desculpando por ser um idiota. Como sempre, você me desculparia e nós voltaríamos a ser o que costumávamos ser. – Parecia perfeito saindo da boca do . Infelizmente, nós dois sabíamos que aquela não era mais a nossa realidade.
- Faz algum tempo que nós não somos o que costumávamos ser. – Eu fiz um comentário que já não era nenhuma surpresa para nós.
- Eu sei disso. Eu sinto isso. – Ele concordou com a cabeça. O fato de conseguirmos assumir isso em voz alta nos fez ficar em silêncio.
- Escuta... – Eu abaixei a cabeça por um momento. Eu simplesmente não conseguia fazer com que a aquela conversa fluísse. Estava sendo muito difícil pra mim. – Eu sei que... de todas as maneiras possíveis de você descobrir tudo, essa foi a pior delas. Eu sei. – Eu comecei a tentar explicar o que não tinha explicação. – E eu sei que a culpa é toda é minha e que eu errei com você. – Quando poucas lágrimas começaram a surgir nos meus olhos, me interrompeu.
- Você pode vir comigo a um lugar? – Ele me interrompeu, me deixando sem entender.
- O que? – Eu arqueei uma das sobrancelhas e passei as mãos nos olhos para secar qualquer vestígio de lágrimas.
- Por favor. – insistiu, sem me deixar qualquer opção.
- Claro. Eu vou. – Eu confirmei com a cabeça.
- Vem comigo. – pediu, virando-se de costas e andando na direção da cozinha. Sem fazer qualquer questionamento, eu o segui até o quintal da minha casa. Passamos pela varanda, pela piscina e paramos na frente do início do gramado. – Você acha que consegue subir sozinha até o topo dessa vez? – Ele sorriu, recordando-se da primeira vez que estivemos ali. Foi logo no início da nossa história, na nossa primeira viagem juntos para Nova York. Nos vimos o nascer do sol juntos.
- Vamos descobrir. – Eu aceitei o que ele havia proposto com um sorriso nostálgico. Começamos a subir o gramado, que era extremamente íngreme. Eu e a tia Janice nunca conversamos sobre o assunto, mas tenho certeza que ela havia feito aquele gramado para ter a melhor visão do nascer do sol.

Estávamos prestes a chegar no topo do gramado e eu estava exausta. Assim que percebeu que eu estava ficando para trás, parou e me olhou. Eu também parei onde estava e o olhei com uma expressão que dizia: ‘Eu não aguento mais.’. Ele negou com a cabeça, enquanto ria e estendeu as mãos na minha direção exatamente do jeito que havia acontecido na primeira vez que estivemos ali. me puxou, me ajudando a chegar ao topo.

- Aparentemente, a resposta para a sua pergunta é não. – Eu sorri, enquanto tentava me recompor.
- Tudo bem. – voltou a negar com a cabeça. – Você nem deveria estar aqui. Pelo menos, não no meio da madrugada. Desculpa por te fazer subir até aqui, mas é que... – Ele hesitou por alguns segundos. – De todos os cenários possível para termos essa conversa, esse me pareceu o melhor. – estava visivelmente abalado e parecia ter chorado. Isso me fazia muito mal.
- Porque foi aqui que, pela primeira vez, você falou sobre os seus sentimentos por mim. Você disse que gostava de mim. - Eu fiz questão de mencionar mesmo que aquela lembrança me deixasse um pouco triste diante das circunstâncias atuais.
- Eu não tinha certeza se você se lembraria. – deixou de me olhar por um momento para encarar o chão.
- Eu te disse que eu não ia esquecer, não disse? – Minha frase fez com que ele voltasse a me olhar, deixando um fraco sorriso escapar.
- Você disse. – confirmou com a cabeça. – Sabia que... foi muito difícil pra mim te dizer aquilo? Depois de tanto tempo reprimindo os meus sentimentos por você, eu acabei desaprendendo a expor isso. – Ele contou.
- Você nunca me contou isso. – Eu fiquei surpresa com a revelação.
- Eu não tinha gostado de nenhuma outra garota antes de você, então eu nunca tinha precisado expor os meus sentimentos pra ninguém. – Ele explicou-se. – E então, nós subimos aqui naquele dia e eu... simplesmente disse. – ergueu os ombros. – Eu não sei. Eu não sei se foi você, se foi esse lugar ou se foi as duas coisas, mas isso... tornou as coisas mais fáceis para mim. – Ele completou, sem saber se estava conseguindo ser claro.
- É por isso que você me trouxe aqui? – Eu entendi na mesma hora. – Para tentar fazer com que a nossa conversa se tornasse mais fácil? – A atitude tão inocente e ao mesmo tempo tão significativa dele me deixou um pouco mais emotiva do que eu gostaria. Ele encarou meus olhos, que acumulavam poucas lágrimas.
- É, mas... – Ele negou com a cabeça e deixou de olhar nos meus olhos. – Não está funcionando dessa vez. – afastou-se e virou de costas para mim. Mais uma vez, ele estava tentando esconder sua vulnerabilidade de mim. – Eu só não queria brigar dessa vez. – Ele fechou os olhos e manteve-se de costas.
- Nós não vamos brigar. – Eu dei poucos passos na direção dele. – Não há brigas quando não se tem divergências sobre quem está certo ou errado e, no nosso caso, nós dois sabemos quem errou. – Ele não se moveu. Eu me aproximei um pouco mais e parei bem atrás dele. – Eu sei que eu deveria ter te contado que alguma coisa havia mudado entre mim e o Mark. Eu sinto muito, mas... eu tinha muito receio que você se sentisse da maneira que você está se sentindo agora. – Eu dei mais alguns passos, me colocando na frente dele e obrigando ele a voltar a me olhar. – Nada me machuca mais do que ver você assim. – Eu o olhei com tristeza, enquanto meus olhos acumulavam lágrimas.
- Eu sempre soube como ele se sentia em relação a você e eu o odiava tanto por causa disso. – começou a dizer com um fraco sorriso no canto do rosto. – Mas... quando eu descobri que ele era o meu irmão, eu não... – Ele ergueu os ombros. – Eu não conseguia mais odiá-lo. Eu não sabia como odiá-lo. – continuou dizendo. – E isso foi muito difícil para mim, porque... eu não podia resolver a situação da maneira que eu estava acostumado. Eu não podia ameaçar quebrar a cara dele ou... simplesmente mandá-lo ficar longe de você. Eu não podia tratá-lo como os outros caras, porque ele não era como os outros caras. – Ele negou com a cabeça. – Ele é o meu irmão. – completou.
- Eu sei. – Ouvi-lo dizer aquilo em voz alta só fazia com que eu me sentisse ainda pior.
- E... ele sempre estava perto de você, se importando com você e cuidando de você, mas... eu juro que isso não me incomodava. Eu sempre achei que tinha a ver com essa coisa de lealdade entre irmãos, mas... hoje, eu descobri que não era por isso. – fez uma breve pausa, mas não tirou os olhos de mim. – Eu não me incomodava porque, pra mim, não existia a possibilidade de você amar alguém que não fosse eu. – Uma nova pausa, mas dessa vez ele só queria tentar se estabelecer emocionalmente, já que seus olhos estavam visivelmente marejados. – E isso não tem nada a ver com o meu ego ou com o fato do Mark não ser bom o bastante, até porque ele é um cara incrível e é muito melhor do que eu de muitas maneiras diferentes. – Ele continuou. Eu reagi na mesma hora, negando com a cabeça, demonstrando o meu descontentamento com a maneira que ele estava falando de si mesmo. – Isso tem a ver com tudo o que nós passamos juntos e com a maneira com que tudo aconteceu com nós. – deixou de me olhar por um momento, quando abaixou a cabeça e encarou o gramado. Ao voltar a me olhar, havia um triste sorriso nos lábios dele. – Eu achava que não existia a possibilidade de você amar outra pessoa, porque era assim que eu me sentia em relação a você. Foi você... desde o momento em que eu coloquei os meus olhos em você. Eu sabia. – O esforço dele para não deixar que aquelas lágrimas escorressem de seus olhos era enorme. – Mas, eu devia saber que um amor correspondido não é promessa de amor eterno. Você não precisava me amar da mesma maneira que eu te amei. – Ele disse, desmerecendo a si mesmo novamente.
- Mas eu amei! Eu amei com todo o meu coração. – Eu afirmei na primeira oportunidade que eu tive. – , eu ainda amo. – Eu me aproximei dele e parei bem na frente dele. – E eu sempre vou amar. É por isso que é tão difícil pra mim ter essa conversa com você. – As lágrimas escorriam pelo meu rosto sem que eu nem percebesse.
- Você... não precisa fazer isso. Não precisa dizer isso pra me consolar. – Ele tentou sorrir para me convencer que estava bem.
- Sim, eu preciso! Eu preciso dizer, porque eu não vou deixar que você saia dessa conversa sem ter certeza de que isso não tem nada a ver com falta de amor. – Eu engoli o choro para dizer essa frase com mais firmeza.
- Eu conheço você. Eu conheço você mais do que qualquer um. – insistiu, mantendo o tom de voz. – Não é só sobre a proporção do que você fez pelo Mark hoje. Eu... – Ele hesitou por um momento, abaixou novamente a cabeça e quando voltou a me olhar, seu sorriso parecia lamentar. – Eu vi a maneira com que você tem olhado pra ele e... eu sei do que eu estou falando, porque... – hesitou mais uma vez, desviou o olhar por poucos segundos. – Porque era exatamente dessa maneira que você costumava olhar pra mim. – Ele completou a frase com um triste sorriso.
- Eu... – Eu queria tanto ter uma desculpa para dar para ele. Eu queria dizer que ele estava maluco, mas eu sabia que ele não estava. – Eu não sei o que te dizer. – Eu neguei com a cabeça. – Eu não quero mentir pra você, mas... se eu disser a verdade, o que isso vai dizer sobre mim? – Eu realmente me sentia a pior pessoa do mundo. Eu estava tão brava comigo mesma. Eu estava furiosa por ter deixado que as coisas chegassem a esse nível, onde eu tinha que colocar dois irmãos naquela posição. O que eu estava fazendo? Me afastei dele e deixei de olhá-lo, pois eu estava me sentindo extremamente envergonhada e culpada.
- Eu... preciso ouvir a verdade. – Ele disse, sem se mover. – Eu sei o que essa conversa significa. Eu sei o que significa tudo o que nós conversamos até agora, mas... eu preciso ouvir você dizer, . – andou até mim e parou na minha frente. – Hey. – Ele me chamou, mas eu não conseguia olhar pra ele. – Olha pra mim. – pediu, levando uma de suas até o meu queixo e colocando o meu rosto de frente para o dele. – Eu preciso ouvir você dizer porque eu sei que se eu não ouvir, eu não vou conseguir seguir em frente com a minha vida. – Ele me olhou nos olhos. As lágrimas dele eram mais discretas que as minhas, mas elas ainda estavam lá. Mantemos a troca de olhares, já que nenhum de nós dois conseguia dizer alguma coisa. – Você ainda me ama? – perguntou com seu coração destruído.
- Eu amo. – Eu afirmei, sem hesitar um só segundo. Ele mal conseguiu esbanjar um sorriso com a minha resposta, pois já estava muito preocupado com a resposta da pergunta que faria a seguir.
- Você... ama ele? – Era visível o nervosismo dele. A minha resposta já o angustiava antes mesmo de ouvi-la. Parecia que ele já sabia o que estava prestes a ouvir. Eu nunca achei que fosse precisar dizer aquilo para o olhando nos olhos dele. A resposta era óbvia para mim, mas era extremamente difícil de ser dita. A maneira com que eu desviei o olhar e a maneira que a lágrima escorreu pelo meu rosto quando eu fechei meus olhos responderam por mim.

estava muito mais devastado do que aparentava estar. Ele estava tentando demonstrar força e autocontrole, mas a minha resposta visivelmente afirmativa o desestabilizou completamente. Foi extremamente difícil ouvir aquilo de alguém que ele jamais esperava ouvir. Saber que ele já não era o único dono do meu coração o fez perder completamente o chão. Quando eu voltei a olhá-lo, o vi afirmar com a cabeça e notei que seus olhos estavam muito mais marejados do que antes.

- Você ainda quer ficar comigo? – continuou me olhando, esperando qualquer vestígio que desse a entender que a minha resposta seria afirmativa. Seu lado racional já sabia a resposta, mas seu coração ainda tinha esperanças. Me esforcei para engolir o choro e cheguei a abrir a boca para tentar pronunciar algumas palavras, que estavam presas no nó que havia se formado em minha garganta.
- Eu... – Eu comecei a frase e logo soube que não conseguiria terminá-la. Eu neguei com a cabeça e, em seguida, ergui os ombros como se dissesse: ‘me desculpa.’.
- Você quer ficar com ele. – concluiu em voz alta em meio a um sorriso triste e decepcionado. Seus olhos tristes acabavam com qualquer chance que ele tinha de parecer conformado.

Eu o conhecia tão bem, que eu conseguia absolver toda a dor que ele insistia em não deixar transparecer. Eu sabia o quanto ele estava sendo forte para não deixar que ao menos uma lágrima escorresse dos seus olhos tão carregados. desviou o olhar do meu, pois essa era a única forma de ele se manter forte até o final daquela conversa. Eu me mantive na frente dele, mas também deixei de olhá-lo por alguns momentos. Passei minhas mãos pelo meu rosto para secar as lágrimas que havia escorrido por ele.

- Eu nunca achei que esse dia realmente fosse chegar, sabe? – O sorriso, dessa vez, foi ainda menos convincente que o anterior. Eu estava completamente devastada por vê-lo daquela maneira. Eu queria abraçá-lo e queria acolhê-lo como eu já havia feito tantas vezes, mas eu não podia. Não diante das circunstâncias.
- O dia em que você finalmente fosse desistir de mim? – Minha pergunta fez com que ele voltasse a me olhar. Aqueles olhos que tantas vezes já sorriram pra mim e que brilharam todas as vezes que ele me olhou nos últimos anos não demonstravam qualquer julgamento, apesar do meu erro tão egoísta.

Desistir... um verbo tão simples e que é usado de maneira tão banal por quase todo mundo, mas que seria capaz de deixar o mundo um pouco mais triste cada vez que fosse pronunciado. Desistir não é pra qualquer um e muito menos pra qualquer coisa. Você só desiste de algo que você almejou e lutou muito para ter. Algumas vezes, você até consegue alcançar o seu objetivo ou o seu sonho, mas se o verbo desistir vier à tona, isso quer dizer que você o perdeu. Independentemente do que fosse, você perdeu. Você quis muito. Você lutou muito. Você perdeu. Como isso pode não ser triste? Eu estava triste por nós dois. Eu estava triste pelo , pois ele sabia exatamente o que significava a desistência dele. Significava que ele perdeu algo que queria muito e que teve por muito tempo. Ele havia me perdido.

Mesmo que não fosse a minha intenção, eu notei o quanto a palavra ‘desistir’ o abalou. Eu sabia o quanto ele havia lutado por nós desde o começo e o quanto ele se já havia se esforçado para não desistir de mim e nem dos sentimentos tão puros e intensos que ele sempre teve por mim. Só eu sabia o quanto aquele simples ato de desistir tornaria os seus dias dolorosos. Só eu sabia o quanto ele se cobraria a vida toda por ter desistido, mesmo sabendo que não havia qualquer outra opção.

- Diz. – Eu tentei encorajá-lo a dizer o que ele estava tentando adiar. Eu sabia que iria doer em nós dois, mas eu também sabia que ele precisava dizer aquilo, tanto quanto eu precisava ouvir. estava prestes a desabar ali na frente. A expressão em seu rosto deixava isso bem claro. Ele negou com a cabeça. Ele estava em negação. – Diz, . – Eu insisti, sem tirar os meus olhos dele. deixou de me olhar por um momento, quando abaixou a sua cabeça e encarou o gramado. Ele estava tentando se reestabelecer emocionalmente. Ele respirou fundo antes de levantar a sua cabeça para voltar a me olhar.
- Acabou. – finalmente disse o que estava previsto desde o começo daquela conversa. Ele disse aquela palavra com uma expressão séria, enquanto uma lágrima solitária escorreu de seus olhos. A lágrima que ele lutou tanto para não derramar. – Tudo isso. Acabou. – Ele reafirmou, engolindo o choro e limpando a lágrima em seu rosto com os dedos de uma de suas mãos. Eu não tinha nada a fazer, além de aceitar. Mesmo doendo muito, eu tinha que aceitar. Afirmei com a cabeça, demonstrando para ele que aceitava a óbvia decisão dele.
- , eu sinto tanto que tenha acabado assim. – Eu expressei o quanto eu lamentava por tudo aquilo. Mesmo não querendo, eu estava chorando.
- Eu sempre lutei por você e achei que faria isso em quaisquer circunstâncias, mas... eu não posso fazer isso agora. Ele... sempre amou você e, agora, sabendo que é recíproco, eu não posso tirar isso dele. – referia-se ao Mark. – Ele é o meu irmão e eu quero que ele seja feliz. Eu não consigo pensar em ninguém melhor do que você. – Mais uma frase acompanhada de um triste sorriso. – Eu... realmente estou feliz por ele, porque, pela primeira vez, o Mark vai ter a chance de ter algo que ele nunca teve. – Mesmo com lágrimas nos olhos e aquele sorriso dado com tanto esforço, eu sentia sinceridade em cada palavra que saiu da boca dele.
- Alguém que o faça feliz? – Eu deduzi com o mesmo triste sorriso.
- Alguém que o ame. – Ele me corrigiu, me deixando um pouco surpresa. Eu estava orgulhosa da gigantesca maturidade que ele estava demonstrando diante daquela situação, porém, eu não podia negar que uma parte de mim preferia que ele simplesmente tivesse me dito todos os insultos do mundo e que tivéssemos brigado feio. Talvez, não doeria tanto quanto estava doendo.
- Escuta... – Eu hesitei por um momento. Eu tentei me recompor para dizer o que eu queria dizer. – Você sempre foi o namorado perfeito e... eu quero que você saiba que eu não me arrependo de nada. Eu quero que saiba que eu passaria por tudo de novo com você. Você fez tanto por mim. – Eu neguei com a cabeça em meio a um triste sorriso. – E... eu sei o quanto está sendo difícil pra você estar aqui hoje fazendo isso da maneira mais madura que eu poderia imaginar. Eu não posso te agradecer o suficiente por ter me permitido ver o capitão do time de futebol se transformar nesse homem e irmão maravilhoso. – Eu disse, enquanto o olhava com carinho. – Eu desejo de todo o meu coração que você seja feliz, porque você não merece nada menos do que isso. – Eu terminei a frase visivelmente abalada.
- Eu vou ser. Eu te prometo. – também me olhou com carinho. Aparentemente, ele estava mais conformado do que eu naquele momento.
- Você não é bom com promessas. Espero que você realmente cumpra essa. – Eu brinquei em meio as lágrimas que insistiam em escorrer dos meus olhos.
- Eu vou! – também achou graça e deixou um sorriso sincero escapar.

A troca de olhares que tivemos naquele momento em que nos mantivemos em silêncio foi diferente de todas as outras. Estávamos definitivamente nos despedindo. Nos olhamos como se fosse a última vez, mesmo sabendo que, certamente, não seria a última vez. Da próxima vez que nós víssemos, eu o veria como o irmão do meu namorado e ele me veria como a namorada do irmão dele. Nossa história acabava ali e com ela qualquer esperança de uma possível reconciliação. Naquela troca de olhares morria o capitão de futebol que havia se apaixonado a primeira vista pela irmã do seu melhor amigo. Naquela troca de olhares também morria a garota estudiosa e boba que teve a sua adolescência salva por um amor irreal e memorável. A única coisa que ainda restaria de nós dois seria as nossas memórias. Essas eram impossíveis de apagar.

- Eu... vou deixar você dormir agora. – sabia que não tinha mais nada para fazer ali. Eu não consegui dizer nada, apenas concordei com a cabeça. As lágrimas haviam parado de escorrer pelo meu rosto, mas elas continuavam presas em meus olhos. – Você se importa se... eu passar para me despedir do Buddy? – Ele perguntou, começando a se afastar.
- É claro que não. – Eu neguei sutilmente com a cabeça.
- Certo. – respondeu, sabendo que deveria apenas virar-se de costas e ir embora, mas ele não estava conseguindo. Ele continuou me olhando, como se estivesse tentando encontrar coragem parra ir embora de uma vez de todas.

Ao mesmo tempo que sabia exatamente o que fazer, estava confuso. Ele precisava ir embora e acabar com aquilo de uma vez, mas pensar que depois que ele saísse daquela casa as coisas jamais voltariam a ser a mesma entre nós o fazia estremecer. Ele não conseguia aceitar tão facilmente quanto gostaria. Aqueles poucos segundos em que ele ficou parado me olhando, demonstrando a sua dificuldade de colocar o ponto final definitivo em tudo o que nós construímos, pensou sim em um beijo ou um abraço de despedida, mas ele sabia muito bem que isso só dificultaria ainda mais as coisas para ele. Por conhecê-lo tão bem, eu sabia o que aquele olhar significava. Eu sempre conseguia ver através dele e o que eu via me deixava extremamente triste. Quando ele abaixou a sua cabeça, visivelmente contrariado com si mesmo, eu quis confortá-lo de alguma maneira.

- ... – Eu dei poucos passos na direção dele e parei, pois estava com receio de piorar ainda mais a situação. Ele levantou da cabeça e quando me olhou, finalmente parecia pronto para me dizer algo.
- Adeus. – Foi a única e última coisa que ele disse antes de ir embora de uma vez por todas e me deixar ali sozinha no topo daquele gramado. Vê-lo ir embora depois daquela conversa foi uma das coisas mais difíceis que já havia me acontecido.

Era difícil explicar e até mesmo entender como eu estava me sentindo em relação a tudo aquilo. Eu sabia claramente o que eu sentia pelo Mark e o que eu queria. Eu sabia! Eu juro que sabia! Eu não conseguia entender porque era tão doloroso perder o daquela maneira. Qual o problema comigo? Eu queria os dois? Eu não podia ter os dois. Eu não podia amar os dois. Não da mesma maneira. Talvez, o meu vínculo forte com o e as lembranças do que nós já vivemos me faziam ficar confusa com relação ao que eu sentia por ele. Da mesma maneira que doeria perder o Mark, estava doendo perder o .

desceu o gramado e entrou na casa sem olhar para trás, pois sabia que se olhasse, voltaria atrás sobre tudo o que tinha acabado de fazer e dizer. Ele passou pela cozinha e ao chegar na sala, olhou na direção em que o Buddy costumava ficar. Ele estava dormindo tranquilamente em sua cama quando o se aproximou. O cachorro só acordou no momento em que o se agachou na sua frente. Ainda estava um pouco sonolento, mas não deixou de demonstrar a sua felicidade ao vê-lo.

- Hey, Buddy. – sorriu, enquanto o cachorro foi pedir abrigo em seu colo mesmo não sendo mais o filhote de antes. – Você vai sentir a minha falta? – Ele perguntou. – Porque eu vou sentir a sua. – completou, acariciando a cabeça do cachorro, que dava indícios de que dormiria em seu colo. – Você vai ficar bem. Eles vão cuidar de você. – continuou dialogando com o cachorro, que já piscava lentamente. – Pega leve com o Mark, ok? Ele é um cara legal. – Ele sorriu fraco. – Certo. Eu vou te deixar dormir. – tirou cuidadosamente o cachorro de seu colo e o colocou em sua cama. – Vejo você por ai, amigão. – Ele acariciou pela última vez o cachorro e levantou-se, afastando-se com muito sacrifício.

Cada passo que o dava em direção a porta, fazia com que a sua ‘ficha caísse’. Realmente havia acabado. Ao chegar na porta, ele parou e olhou para trás. Seus olhos traziam de volta todos os momentos que nós já havíamos vivido naquele lugar. Foi ali que demos o nosso primeiro beijo. Foi ali que tivemos a nossa primeira briga como casal. Foi ali que nos declaramos tantas vezes um para o outro. Foi ali o cenário de algumas das nossas reconciliações. Foi naquela casa em que tudo começou. Foi naquela casa em que tudo acabou.

saiu da casa com seu coração despedaçado. Atravessou o jardim aos prantos e entrou na casa do irmão, ciente de que o mesmo não estava em casa. Todo o choro que ele havia segurado da última meia hora vieram à tona de uma só vez. Ele não conseguiu controlar e nem queria. Talvez, as lágrimas descarregassem um pouco da dor que ele estava sentindo. sentou-se no sofá e com os cotovelos apoiados em suas pernas, ele mantinha suas mãos no rosto. Era simplesmente impossível para ele aceitar que depois de tudo o que nós havíamos passado, ele havia me perdido. Era impossível para ele aceitar que teria que abrir o seu coração novamente para alguém que não era eu. não se imaginava fazendo isso com qualquer outra pessoa. Ele não sabia nem por onde começar.

Quase 20 minutos haviam se passado e eu ainda estava no topo daquele gramado. Depois daquela conversa, eu não conseguiria voltar a dormir. Eu só queria ficar ali, sozinha. Eu queria um tempo para reorganizar os meus sentimentos, acalmar o meu coração e clarear a minha mente. Eu precisava de algum tempo para absorver tudo o que tinha acontecido.

Não demorou quase nada para que eu avistasse o sol nascendo no horizonte. O mesmo nascer do sol que eu tinha visto com o há quase 3 anos. Eu me sentei no gramado para assistir aquele espetáculo. Aquele nascer do sol já tinha marcado um recomeço na minha vida, que foi quando o entrou na minha vida da maneira mais inesperada de todas. Naquela manhã, aquele mesmo sol marcava um novo recomeço para mim. Um recomeço que o não fazia mais parte. Lágrimas escorriam dos meus olhos involuntariamente, enquanto a luz do sol clareava cada vez mais o meu rosto. Eu chorava pelo fim de um ciclo extremamente importante na minha vida, mas também chorava pelo começo de um ciclo que tinha tudo pra ser o último da minha vida.

Mark chegou em casa na manhã daquela sexta-feira sem fazer ideia de que a minha noite e a noite do tinha sido muito pior que a dele, que ficou trabalhando. Ele passou uma parte da noite na delegacia prestando esclarecimentos sobre o ocorrido na casa do Steven e passou a outra parte da noite no escritório do FBI, fazendo relatórios sobre o mesmo ocorrido. Mark colocou a chave do carro sobre a mesa de jantar e levou um susto enorme ao ver o sentado no sofá, olhando para ele.

- Qual o problema com você!? – Mark esbravejou logo após o susto.
- Desculpa, cara. Eu não queria te assustar. – achou graça do susto do irmão.
- Não? Qual outro motivo você teria para ficar em silêncio no sofá às... – Mark olhou no relógio. – 05:30 da manhã? – Ele completou.
- Na verdade, eu tenho um motivo ótimo. – estava pronto para dar a notícia. – Eu... estava esperando você voltar para me despedir. – Ele levantou-se do sofá. No primeiro momento, Mark achou que se tratava de uma brincadeira, mas soube que era sério ao ver a mala do irmão ao lado do sofá.
- Se despedir? – Mark ficou mais sério.
- Eu estou voltando pra Atlantic City. – finalmente contou a ele.
- O quê? Não. Você não pode estar falando sério. – Mark foi pego de surpresa.
- Eu sei que você vai sentir a minha falta, mas eu preciso retomar a minha vida. – brincou com o irmão, que de tão perplexo com a notícia, não achou graça da brincadeira.
- Eu... não estava esperando isso. – Mark foi sincero ao expressar a sua surpresa com a notícia. – Por quê? Por que você decidiu ir embora agora? Aconteceu alguma coisa? – Ele não conseguiu entender essa decisão repentina do irmão.
- Mark, minha vida toda está lá. Minha família. Minha casa. Meu trabalho. Minha faculdade. Uma hora ou outra, isso ia acabar acontecendo. – fugiu da pergunta tão específica do irmão e optou por responder de outra maneira. É claro que o Mark percebeu.
- Eu entendo isso. O que eu não consigo entender é porque é que você tem que fazer isso agora? Quer dizer, são 5:30 da manhã. Por que agora? Você podia esperar até o final de semana ou... – Mark ia dizendo, quando viu o irmão mais novo negar com a cabeça. – Me fala. – Ele pediu novamente, certo de que alguma coisa havia acontecido.

Contar ao Mark o seu verdadeiro motivo para voltar para casa não estava em seus planos. Ele não queria que isso soasse como se ele não soubesse perder ou que parecesse que ele estivesse tentando punir o irmão mais velho de alguma forma. sabia que o irmão se sentiria culpado e até mesmo tentaria convencê-lo a ficar. Ele sabia que não podia ficar.

- Ok. – cedeu, demonstrando sua insatisfação ao falar sobre o assunto. – Você se lembra da conversa que tivemos no carro, na volta do funeral do Steven? – Ele perguntou.
- Sobre a . – Mark lembrou-se na mesma hora.
- Sobre a . – confirmou. – Eu... conversei com ela. – Ele deixou de olhar para o irmão por um momento.
- E aí? – O assunto parecia ter deixado o Mark um pouco mais tenso do que antes.
- E aí que ela escolheu. – fez um esforço enorme para soar o mais conformado possível. A frase dita pelo irmão fez com que o coração de Mark parasse por um momento. – Ela escolheu você. – Ele deu a notícia. Mark continuou olhando para o irmão por algum tempo, tentando mensurar o significado daquilo.
- Eu... – Mark ficou completamente perdido. Ele queria sorrir e comemorar, mas não conseguia fazer isso na frente do . Ele pensou no irmão mais novo antes de qualquer coisa.
- Não diz que você sente muito, senão eu juro que vou quebrar a sua cara. – negou a cabeça em meio a um fraco sorriso. – Está tudo bem, cara. Sério. – Ele queria tranquilizar o irmão.
- Eu não sei nem o que dizer. Eu não... – Mark ergueu os ombros. Ele nem soube como terminar a frase.
- Você não precisa dizer nada. – voltou a sorrir para o irmão. – Isso não muda nada. Você continua sendo o irmão mais velho mais chato de todos. – Ele disse, arrancando um sorriso do irmão mais velho.
- Eu não queria que você tivesse que ir embora, mas eu respeito a sua decisão. – Mark disse em tom de lamentação. Mesmo querendo muito que o irmão ficasse, ele não achava justo pedir isso a ele. Seria muito egoísmo de sua parte.
- Você vai sentir a minha falta, não vai? – disse em tom de deboche. – Tem que me prometer que não vai chorar todos os dias. – Ele disse, deixando um sorriso escapar.
- Cala a boca. – Mark rolou os olhos em meio a risos.
- Vem aqui. – esticou a mão na direção do irmão, que a apertou. Ele o puxou para um abraço. – Você pode não acreditar, mas eu estou feliz por você, irmão. – O irmão mais novo disse, enquanto eles ainda se abraçavam.
- Obrigado. – Mark abraçou o irmão ainda mais forte. – Saiba que ninguém torce mais pela sua felicidade do que eu. – Ele disse, terminando o abraço e olhando para o rosto do irmão mais novo.
- Eu sei que torce. – sorriu espontaneamente ao ver que os olhos do irmão estavam um pouco marejados. – Pode me ligar sempre que sentir saudades. – Ele brincou novamente, pois aquele clima deixava ambos constrangidos.
- E se você precisar de alguém para salvar a sua vida, só pra variar, você pode me ligar. Eu vou. – Mark devolveu a brincadeira.
- Ok. Ok. Já pode parar de ficar jogando isso na minha cara. – rolou os olhos.
- E o sofá? Tem certeza que não quer levá-lo com você? – Mark brincou novamente, referindo-se as diversas noites que o tinha dormido no sofá. Ele adorava o sofá.
- Eu até cogitei essa possibilidade, mas não cabe no meu carro. – abriu os braços, lamentando. Mark gargalhou e o irmão mais novo fez o mesmo.
- Bem... – Mark deixou a risada e as brincadeiras de lado para compartilhar algo com o irmão. – Isso deve caber no seu carro. – Ele colocou a mão em um dos bolsos de sua calça e jogou o objeto na direção do , que o pegou no ar.
- O que... – pegou o objeto sem fazer ideia do que se tratava e o olhou por algum tempo. Tratava-se de um cordão, onde em sua superfície estava escrito ‘Família’ com uma letra extremamente bonita. olhou para o irmão, quando percebeu o que realmente significava aquele cordão. – Onde você encontrou isso? – Ele perguntou, incrédulo. Não era a primeira vez que o via aquele cordão. Ele costumava vê-lo no pescoço de seu pai, quando ele era pequeno.
- Depois de prender os sequestradores, a polícia quis vasculhar a casa onde tudo aconteceu. Eu fui junto para evitar que achassem algo do Steven. – Mark contou. – Eu encontrei dois desses cordões na gaveta da cama dele. – Ele tirou um cordão idêntico de seu bolso. – Acho que ele planejava nos dar. – Mark sorriu de maneira triste.

Enquanto o Mark contava como tinha encontrado os cordões, fez algo que tinha desejado fazer durante toda a sua infância: abrir o cordão. Steven nunca deixou que o filho mais novo visse o que tinha dentro dele. Olhando pela primeira vez o conteúdo dentro daquele cordão, entendeu o motivo de tanto mistério. No interior do cordão, haviam duas pequenas fotos: uma foto do , que devia ter uns 6 anos na época; a segunda foto era do Mark, quando criança. Ele também deveria ter 6 ou 7 anos na época. A lembrança da infância e, principalmente, do pai, fez com que o coração do ficasse ainda mais apertado.

- Ele usava esse cordão quase todos os dias. – queria que o irmão soubesse. – Eu sempre pedia para que ele me deixasse abri-lo, mas ele nunca deixou. – Ele disse com um sorriso fraco.
- Agora, você já sabe o que tem dentro dele. – Mark também ficou visivelmente desestabilizado, mas, assim como o , ele evitava demonstrar qualquer tipo de vulnerabilidade.
- Obrigado por ter me dado isso. – foi até o irmão e segurou rapidamente sua mão, puxando-o para mais um rápido abraço. – Se cuida, ok? – Ele disse em tom de despedida.
- Se cuida você também, irmão. – Mark sorriu, dando alguns tapinhas no ombro do irmão.
- Te vejo em breve. – afastou-se do irmão e pegou a sua mala.
- Volte sempre que quiser. – Mark o acompanhou até a porta.
- Vou esperar a sua visita. Você precisa conhecer o meu apartamento. – disse, enquanto colocava a mala no porta-malas do carro.
- Eu vou! – Mark sorriu, feliz com o convite. – Boa viagem. – Ele disse ao ver o irmão acenar pela última vez antes de entrar no carro.
- Valeu! – agradeceu, entrando no carro.

Apesar de sua decisão de voltar para Atlantic City ter sido realmente difícil, estava de coração realmente aberto para aquele novo recomeço. Ele deixaria que as coisas acontecessem na hora certa e não se pressionaria para superar sua dor e sua perda. deu a partida no carro e mesmo tendo ótimos motivos para ir embora sem olhar para trás, ele mesmo assim o fez. Ele olhou para trás para acenar pela última vez para o Mark. Ele sentiria muita falta do irmão mais velho.

Mark sabia que não estava, de fato, perdendo o seu irmão mais novo. Eles pretendiam manter o contato, mas ele estava triste por ter que se afastar da única família que lhe restou. já fazia parte da rotina do irmão e seria extremamente difícil se readaptar a viver naquela casa sozinho. Mark acompanhou com os olhos o carro do irmão até perdê-lo de vista. Quando se deu conta de que realmente estava sozinho novamente, seus olhos foram diretamente na direção da minha casa e um sorriso espontâneo surgiu em seu rosto. Mark ainda não conseguia acreditar que eu realmente o havia escolhido. Ao mesmo tempo em que ele estava triste por perder a convivência com o seu irmão, ele também estava extremamente aliviado e feliz por finalmente saber que ele tinha o coração da garota que ele amava. Por um momento, Mark levantou a sua cabeça e encarou o céu com um lindo sorriso. Ele estava agradecendo.

Enquanto via a cidade de Nova York através do retrovisor de seu carro, sentia uma sensação única, uma sensação de recomeço. Não dava para dizer que ele não estava triste com tudo o que estava deixando pra trás, mas ele estava realmente de coração aberto para tudo de novo que a vida poderia proporcionar a ele. Pela primeira vez em muito tempo, estava realmente sozinho e não havia nenhum tipo de ressentimento ou mágoa com relação a mim ou ao Mark. O coração dele tinha sim muitas cicatrizes que levariam algum tempo para cicatrizar, mas ele não estava com pressa. O recomeço do tinha tudo para dar certo: ele voltaria para a sua família, para a sua faculdade, para o seu trabalho e para os seus melhores amigos. Além disso, havia aquela sensação incrível por saber que o Mark estava finalmente sendo feliz da maneira que ele sempre mereceu.

Tudo o que o Mark mais queria naquele momento era ir até a minha casa e me dizer tudo o que ele esteve evitando nas últimas semanas. Mesmo que o que sentíamos estivesse evidente e mesmo com os beijos que aconteceram nas últimas semanas, Mark e eu não expúnhamos os nossos sentimentos. Estávamos sempre tratando nossos sentimentos como algo proibido ou errado e nunca falávamos sobre como nos sentíamos ou sobre os nossos beijos. Isso era a única coisa que estava faltando entre nós, mas o Mark não podia simplesmente aparecer na minha porta às 6 horas da manhã. Por isso, ele resolveu me deixar descansar e foi pra casa, pois ele também precisava muito descansar. Ele ainda teria o resto do dia para falar comigo.

chegou bem cedo em Atlantic City e foi direto para o seu apartamento. Ele não achou certo aparecer na casa dos pais ou de um dos amigos tão cedo. Além disso, ele precisava muito dormir, já que havia passado a noite em claro. Ao entrar no apartamento, resolveu abrir a maioria das janelas, pois como o apartamento havia ficado muito tempo fechado, o cheiro não era dos melhores. Deixou sua mala no canto do quarto, deitou em sua cama e acabou dormindo sem nem perceber.

Considerando que a noite anterior havia sido tragicamente péssima, eu optei por não ir a faculdade naquele dia. Aproveitei a oportunidade para dormir até tarde. O sequestro havia acabado com o meu emocional e com o meu psicológico e a conversa com o tinha sido muito pesada e intensa. Apesar de estar completamente esgotada em todos os sentidos, eu estava bastante aliviada por ter sido honesta com o e por não precisar ficar evitando ele a todo o momento. Eu não tinha qualquer esperança que mantivéssemos ao menos a amizade, mas me confortava saber que o respeito entre nós prevaleceu até o nosso último momento juntos.

dormiu até o início da tarde. Ele pretendia resolver muitas coisas naquele dia, como: o seu retorno ao trabalho e também o seu retorno para a faculdade. Além disso, ele também pretendia passar na casa de sua mãe para matar a saudade de todos e avisar que ele estava de volta na cidade. Mas primeiro, precisava muito conversar e se abrir com alguém sobre tudo o que ele estava sentindo e tudo o que havia acontecido ou ele acabaria enlouquecendo. Considerando que o era o meu irmão e que o poderia contar alguma coisa para a Meg, que acabaria inevitavelmente chegando até mim, ele preferiu ir até o . Mesmo sendo o meu melhor amigo, era um ótimo ouvinte e um amigo incrível.

Como sabia que o estudava no período da manhã e trabalhava no período da tarde, resolveu ir até a casa do amigo e esperá-lo lá. Ele sempre passava em sua casa depois de sair da faculdade. A mãe de recebeu o muito bem e fez milhões de perguntas sobre a sua temporada em Nova York e até mesmo perguntou do Buddy. Ela sentia falta dele. estava sentado no sofá conversando com a mãe do amigo, quando ouviram a porta da casa sendo aberta e depois fechada.

- Ele chegou. – A mãe do amigo avisou, levantando-se do sofá. – , venha até aqui! – Ela gritou, sabendo que na maioria das vezes o filho subia direto para o quarto ou ia para a cozinha.
- Oi, mãe. – chegou na sala e ficou visivelmente surpreso ao ver o amigo. – ? – Ele aproximou-se do amigo com um sorriso no rosto. – O que você está fazendo aqui? – riu, apertando a mão do amigo. Os dois se abraçaram rapidamente.
- Estou de volta! – abriu os braços. – Como você está? – Ele sorriu.
- Vou deixar vocês conversando. – A mãe de disse, retirando-se da sala.
- Eu estou bem e você? Está bem? – perguntou.
- Está tudo bem sim. – respondeu.
- Que história é essa? Achei que você não voltaria tão cedo. – sentou-se no sofá e o fez o mesmo.
- Eu também achei que não voltaria tão cedo. – não sabia por onde começar.
- Ah, não. Já até sei. – fez careta. – Brigou com a . – Ele deduziu.
- Incrível, mas... não. Nós não brigamos. – sorriu fraco, deixando de olhar o amigo por um momento. É claro que o percebeu que alguma coisa havia acontecido.
- Mas... aconteceu alguma coisa. Basta olhar pra você pra saber. – mostrou-se preocupado. voltou a olhá-lo.
- Acabou tudo. – disse, depois de hesitar algum tempo. – Eu quero dizer... pra sempre. Acabou. – Ele tentou não dramatizar muito, mas é difícil fazer isso quando seu coração está quebrado.
- É claro que não, . Vocês já passaram por isso milhões de vezes. Vocês sempre acabam voltando. – não tinha entendido a gravidade da situação.
- Não dessa vez. – negou com a cabeça. – Dessa vez foi diferente. – Ele completou.
- Por que é diferente? – quis saber.
- Porque... – voltou a hesitar. Seus cotovelos estavam apoiados em suas coxas e seus dedos brincavam com a chave do carro. Ele olhou para suas mãos por um momento. – Ela está apaixonada por outra pessoa. – Ele finalmente disse, voltando a olhá-lo.
- O que? Não. – chegou a rir, pois achava que era brincadeira. – , ela sempre foi apaixonada por você. – Ele argumentou.
- Ela não é mais. – ergueu os ombros.
- Por que você acha isso? Quem te disse isso? – nunca havia cogitado aquela possibilidade. Ele não conseguia acreditar.
- Ela me disse. – respondeu na mesma hora. – Ela disse olhando nos meus olhos. – Ele completou.
- Eu não consigo acreditar. – ainda estava perplexo. – E quem é esse outro cara? Você conhece? – Ele perguntou inocentemente.
- Eu conheço muito bem. – chegou a deixar um triste sorriso escapar. – É o Mark. – Ele contou. ficou ainda mais surpreso e no primeiro momento, ele não conseguiu dizer nada.
- Nossa. Eu... não sei nem o que te dizer. – ficou muito perplexo, mas também ficou triste pelo amigo.
- Eu também fiquei assim quando eu me dei conta de que tinha perdido ela. – estava visivelmente abalado. – Eu nem me lembrava mais como era amar alguém sem ser correspondido. – Ele voltou a encarar os dedos.
- Eu... estou até um pouco perdido agora. – sorriu fraco. – Quer dizer, vocês eram a representação mais honesta e bonita que eu tinha do amor. Você entende? – Ele tentou se explicar. – Vocês definitivamente eram a melhor referência que eu e a tínhamos de amor. Agora, eu... eu estou bem perdido. – expôs o que realmente estava sentindo.
- Desculpe te decepcionar, amigo, mas... o amor verdadeiro nem sempre é pra sempre. – disse em tom de lamentação. – As vezes, o amor simplesmente acaba. – Ele completou.
- O seu... acabou? – perguntou. Na mesma hora, negou com a cabeça com um fraco sorriso no rosto.
- Não. – respondeu, sentindo os olhos lacrimejarem um pouco. – Mas... vai acabar. Eu só... preciso de um pouco de tempo. – Ele engoliu o choro e tentou dizer de maneira mais fria.
- Você quer mesmo isso? – também parecia bastante abalado com a situação.
- Eu preciso disso. Eu preciso seguir com a minha vida mesmo sabendo que sempre vai haver uma parte de mim tentando me impedir de superar ela. – aparentava estar conformado, mas só ele sabia o que ele realmente estava sentindo por dentro.
- E o Mark? Vocês brigaram por causa disso? – deduziu que a resposta seria positiva.
- É claro que não. – negou na mesma hora. – Ele não tem culpa de nada. Nenhum dos dois tem culpa. Apenas... aconteceu, sabe? – Ele explicou com uma maturidade nunca vista. – Eu torço muito para que ele seja feliz. Ele é uma pessoa incrível. Ele merece. – completou.
- Bom, pelo que eu entendi, você desistiu dela por ele. – deu a sua honesta opinião.
- Não. – negou sutilmente com a cabeça. – Ela desistiu de mim, então eu tive que desistir dela também. A felicidade do Mark foi só uma consequência positiva de tudo isso. – Ele explicou. – Saber que ele vai ser feliz é a única coisa que me conforta nisso tudo. – disse, deixando o amigo bastante surpreso.
- É muito maduro e bonito da sua parte, cara. Estou orgulhoso de você. – sorriu, olhando para o amigo.
- Não fique. – deixou um sorriso escapar. – Lidar com isso está sendo mais difícil do que você imagina. – Ele tentou não ser tão dramático ao dizer aquela frase.
- Não importa. Você vai superar isso. – quis demonstrar seu apoio incondicional. – Eu vou estar ao seu lado para me certificar disso. – Ele completou. – Você pode contar comigo. – foi na direção do amigo e o abraçou, pois sentiu-se na obrigação de fazer isso. Ele conhecia muito bem a minha história com o e, por isso, sabia o quanto ele estava mal com toda a situação.

Depois de sair da casa do melhor amigo, seguiu para a casa de sua família. Ele estava ansioso para ver e abraçar todos. Fazia algum tempo que ele não os via e, por isso, ele estava com saudades. Assim que chegou na casa, foi recebido com festa por todos. Sua mãe lhe deu mais beijos do que ele pode contar e quis contar todas as novidades de uma só vez. O padrasto fez questão e ir ao mercado para comprar as coisas que o mais gostava de comer e comprou, inclusive, os ingredientes para que a mãe do enteado fizesse o prato favorito dele.

A família Jonas colocou o assunto em dia e não pode ser tão honesto quanto gostaria sobre o seu motivo para voltar para Atlantic City. Ele inventou que precisava voltar ao trabalho e também contou que pretendia retomar a faculdade. Perguntaram do Mark e ele disse a todos que o irmão mais velho estava muito bem e que em breve viria visitá-los. estava feliz de estar com sua família novamente e estava aliviado com o fato do meu nome ainda não ter sido mencionado até então, porém, a não deixaria a oportunidade passar, certo?

- E a ? Ela também voltou? – perguntou, enquanto segurava o seu pequeno kit de maquiagem nas mãos. A expressão no rosto de foi tão óbvia, que sua mãe percebeu na mesma hora que a filha mais nova havia cometido uma gafe.
- ! Depois nós conversamos sobre isso. – A mãe tentou apaziguar o clima pesado que havia se estabelecido ali.
- Por que eu não posso perguntar, mãe? – quis saber. Ela ainda era pequena demais para entender o quão delicado aquele tipo de assunto poderia ser.
- Não. Tudo bem, mãe. – não queria que sua irmã levasse uma bronca por causa daquilo. Ela não sabia de nada. Não estava perguntando por mal.
- , a ... – não soube ao certo como explicar. – Ela ficou em Nova York. Ela vai ficar lá por um tempo. – Ele completou.
- Com o tio Mark? – perguntou com a maior inocência do mundo.
- Sim. – confirmou com um fraco sorriso. – Eu acho que ele vai cuidar bem dela, não é? – Ele quis tranquilizar a irmã.
- Ele vai! Eu adorei ele! – deu um enorme sorriso. – A mamãe disse que eu vou ser sempre a sua irmã favorita. Então, eu gosto dele agora. – Ela foi extremamente sincera, fazendo com que o irmão risse.
- Você é a minha favorita, mas o Mark nunca pode saber disso. Combinado? – esticou uma das mãos na direção da irmã.
- Combinado! – apertou a mão do irmão com uma das mãos e com a outra fez final de silêncio. – Então, você vai voltar a morar aqui? Você morava na casa do Mark! Se eu sou a favorita, você tem que morar na minha casa também. – Ela não tinha papas na língua. Ela dizia tudo o que vinha a sua cabeça. Essa era a melhor parte dela.
- Agora eu quero ver. – A mãe de gargalhou. Ela acompanhava de longe a conversa dos irmãos.
- Eu morei na casa do Mark porque eu só ia ficar em Nova York por pouco tempo. Eu jamais moraria tão longe de você. – disse, vendo a irmã sorrir. – Como eu vou morar na mesma cidade que você, eu vou continuar morando no meu apartamento. Você pode ir lá sempre que quiser. – Ele acrescentou.
- Está bem. – ergueu os ombros e demonstrou estar contrariada, mas não tinha muito o que fazer. Ela já estava feliz por ter o irmão de novo na cidade.

TROQUE A MÚSICA:



Em Nova York, tudo continuava exatamente como o havia deixado. Mark e eu acabamos nos desencontrando durante todo o dia e ainda não havíamos nos visto. Além disso, eu não queria pressioná-lo de maneira alguma. Eu ainda não sabia se ele e o haviam conversado e não sabia como ele reagiria diante de tudo. Na verdade, não saber de nada do que estava acontecendo me deixou um pouco ansiosa. Felizmente, o trabalho acabou me distraindo durante todo o dia. Só voltei a pensar no assunto quando acabou o meu turno e eu fui até uma das salas buscar as minhas coisas para ir pra casa. Peguei a minha bolsa e a chave do carro e segui para a saída do hospital.

Eu estava me perguntando o que faria quando chegasse em casa e se eu deveria ir procurar o Mark, enquanto eu caminhava até o meu carro. Quando eu finalmente consegui ter a visão do meu carro, fui pega de surpresa. Mark estava sentado no capô do meu carro e olhava na minha direção. Parecia até que eu tinha trazido ele até ali com a força do meu pensamento. Parei de andar e sorri sem nem perceber, enquanto meu coração quase saía pela boca. Ele me devolveu o sorriso, mas não se moveu. Ele estava esperando que eu fosse até ele e foi exatamente isso o que eu fiz.

- Oi. – Eu disse em meio a um sorriso bobo. Eu estava parada na frente dele.
- Oi. – Mark não conseguia esconder sua felicidade. Estava transbordando através dele.
- O que você está fazendo aqui? – Eu perguntei, vendo ele deslizar pelo capô do carro e colocar-se de pé na minha frente.
- Eu... estava sentado no sofá da minha casa me perguntando qual seria a coisa perfeita pra te dizer quando você estivesse na minha frente, exatamente como você está agora. Eu juro que criei um roteiro incrível pra esse momento, mas olhando pra você agora. – Mark sorriu e negou com a cabeça. – Depois de tudo o que você passou ontem e de um longo dia de trabalho, você está mais linda do que nunca. Eu não consigo me concentrar e nem lembrar de nada do que eu havia ensaiado. – Ele foi adoravelmente honesto, me deixando completamente desconsertada. Com o mesmo sorriso bobo nos lábios, eu não conseguia deixar de olhá-lo. – Eu... não sou tão bom com as palavras. Eu não sei cantar ou escrever uma boa carta, mas... eu sei como demonstrar o que eu estou sentindo e é por isso que... – Mark virou-se por um momento e pegou uma sacola que estava sobre o capô do carro. – Eu te trouxe esse hambúrguer. – Ele estendeu a sacola na minha direção. Confesso que na hora, eu não soube o que fazer. Eu não sabia se eu ria ou se eu pegava a sacola das mãos dele.
- Ah... um hambúrguer. – Eu tentei disfarçar e tentei dar o meu melhor sorriso. Tadinho! Ele estava se esforçando.
- . – Mark recolheu a sacola, enquanto ria. – Eu estou brincando. Eu não sou tão ruim assim. – Ele ainda estava gargalhando quando colocou a sacola com o hambúrguer novamente sobre o capô do carro.
- Você... – Eu neguei com a cabeça, enquanto mantinha meus olhos cerrados.
- O que eu estou tentando te dizer é... – Mark hesitou alguns segundos. Ele ainda não sabia muito bem o que dizer. – No dia em que teve aquele evento no trabalho, você me disse que tinha ido até lá para salvar a minha noite e foi... – Ele estava olhando nos meus olhos quando fez uma breve pausa. – Foi a melhor noite da minha vida. Você estava lá por mim e você estava... maravilhosa. – Os olhos dele brilhavam enquanto ele falava. – Todos estavam me olhando como se eu fosse o cara mais sortudo do mundo e, naquele momento, eu realmente era. – Apesar de demonstrar nervosismo, ele estava indo muito bem. Eu estava olhando pra ele como uma boba e meu coração estava completamente acelerado. – Eu passei por tanta coisa e perdi tantas pessoas. Eu nunca achei que algum dia eu fosse me sentir sortudo por qualquer outra coisa na minha vida e ai você apareceu. – Ele sorriu pra mim. – Eu tive a sorte de te ter como vizinha. Depois, eu tive a sorte de ter a sua amizade. Eu tive muita sorte por poder te chamar de minha namorada por algum tempo. E, hoje, eu estava me sentindo sortudo o suficiente pra vir até aqui te perguntar se você quer salvar a minha noite de novo. – Suas bochechas estavam adoravelmente rosadas. – E se eu não estiver abusando da sorte, talvez, você possa salvar o resto da minha semana e do meu mês. – Ele terminou e ficou esperando a minha resposta. Eu estava completamente encantada com as palavras e com a maneira toda graciosa com que ele as tinha dito.
- Bem, será uma honra. – Eu disse visivelmente impactada com o que eu havia acabado de ouvir. – Então, qual de nós vai escolher o que vamos fazer hoje? – Eu perguntei, pois era isso que costumávamos fazer a seguir. Um de nós sempre assumia a função de escolher o que faríamos a seguir.
- Eu não sei, mas... talvez, estejamos pensando na mesma coisa. – Ele terminou a frase com um sorriso, que me levou a sorrir novamente. Obviamente ele estava falando sobre nos beijarmos.
- Se você está pensando em comer esse hambúrguer, nós realmente estamos pensando na mesma coisa. – Eu me aproximei do carro e parei em frente ao capô e mexi na sacola. Mark me olhou, desapontado. Olhei pra ele e vi aquela expressão de perplexidade em seu rosto e comecei a rir.
- Você está brincando. – Mark deduziu, negando com a cabeça. Por ter me aproximado do carro, eu também havia me aproximado dele. Talvez, tenha sido uma estratégia minha.
- Eu estou brincando. – Eu concordei, deixando o riso de lado. Fiquei de frente pra ele e nós trocamos olhares e sorrisos por alguns segundos silenciosos. – Eu também acho que estamos pensando na mesma coisa. – Eu afirmei, revezando olhares entre seus olhos verdes e seus lábios. Os olhos dele também estavam indecisos, enquanto o seu rosto se aproximava sorrateiramente do meu.

A cada centímetro que o rosto do Mark se aproximava do meu, as batidas do meu coração triplicavam. Era incrível sentir tudo aquilo novamente. Quando os lábios dele estavam prestes a tocar nos meus, fechei os meus olhos. Ele encarou o meu rosto de perto pela última vez antes de colar os seus lábios nos meus. Mark selou os meus lábios e logo em seguida eu senti suas mãos tocarem o meu rosto. Mais uma vez, parecia que era o nosso primeiro beijo. Eu deixei que ele conduzisse o beijo, que foi rapidamente aprofundado. Eu já nem lembrava o quão cansada eu estava após aquele longo dia de trabalho. O beijo foi longo e sem qualquer afobação. Nós queríamos aproveitar cada segundo daquilo. Quando o beijo foi finalizado, Mark manteve a proximidade, enquanto permaneceu me olhando de bem perto. Ele afastou uma mecha de cabelo do meu rosto e sorriu como nunca.

- Obrigado por salvar a minha noite. – Mark sussurrou, me olhando nos olhos.
- Que bom que você veio. – Eu sorri antes de levar os meus braços em volta do pescoço dele e abraçá-lo. Ele me acolheu com carinho, depositando um beijo em um dos meus ombros. O perfume dele me deixava até tonta. – Agora, falando sério. – Eu terminei o abraço, voltando a olhá-lo. – Esse hambúrguer... você pretende comê-lo sozinho ou? – Eu olhei pra sacola e ouvi ele gargalhar.
- É claro que não. Pode comer. – Ele respondeu ainda aos risos.
- Você é o melhor! – Eu agradeci, selando rapidamente os lábios dele. Abri o lanche, que estava com um cheiro maravilhoso e peguei metade dele nas mãos. - Esse pedaço é seu. Eu não vou pagar esse mico sozinha. – Eu entreguei a outra metade do lanche pra ele aos risos.
- Eu te ajudo a sentar no capô. Eu sei que você quer. – Mark disse, segurando a minha metade do lanche.
- Já que estamos aqui. – Eu concordei, subindo no capô do meu carro. – Sua vez. – Eu peguei o lanche para que ele pudesse se sentar ao meu lado. Ele se sentou e eu devolvi a metade do lanche dele.
- Obrigado. – Ele agradeceu antes de dar a primeira mordida.
- Então, esse é seu plano? Me conquistar com comida? – Eu perguntei aos risos.
- Está funcionando? – Mark voltou a sorrir pra mim.
- Já funcionou. – Eu disse o que ele tanto queria ouvir. Depois de nos mantermos em silêncio por algum tempo, Mark achou que precisava tocar no assunto.
- Então, é realmente verdade. – Ele ficou um pouco mais sério ao falar sobre o assunto. A mudança de expressão dele me fez entender sobre o que ele estava falando.
- Você falou com o seu irmão. – Eu deduzi na mesma hora.
- Nós conversamos sim. – Mark concordou com a cabeça.
- Como foi? – Eu quis saber, pois cogitar a possibilidade de eles terem brigado me deixava angustiada.
- Foi... – Mark sorriu fraco. – Maduro, respeitoso e... incrivelmente amigável. – Ele demonstrou felicidade e alívio sobre o assunto exatamente como eu.
- Então, vocês estão bem? – Eu nem conseguia acreditar.
- Estamos bem. – Mark afirmou com um grande sorriso.
- É bom ouvir isso. – Eu sorri, aliviada.
- E... agora? O que acontece agora? – Mark não sabia por onde começar.
- Agora, nós vivemos um dia de cada vez e vemos o que acontece. – Eu não queria ser tão precipitada e já me jogar em cima dele.
- Já aconteceu. – Mark continuou me olhado com seus olhos verdes, me deixando desconsertada.
- O que aconteceu? – Eu quis saber.
- Eu já me apaixonei por você. – Mark disse, me fazendo corar. Eu jamais aprenderia a lidar com aquele tipo de situação.
- Não faça isso. – Eu ri, colocando as mãos no rosto. Mark gargalhou. – Você está falando sério? – Eu queria ter certeza de que ele não estava brincando.
- Muito sério. – Mark afirmou.
- Ok. Eu... também quero te dizer uma coisa. – Eu deixei de olhá-lo por um momento, pois estava muito envergonhada. – Eu acho que... me apaixonei por você também. – Eu mordi o meu lábio inferior e encarei minhas mãos por um momento, porque não consegui continuar olhando pra ele. O silêncio dele me fez olhá-lo novamente e ele estava sorrindo pra mim como nunca. – O que? – Eu perguntei.
- Essa é a primeira vez que alguém me diz isso. – Mark disse, me deixando surpresa. – E eu estou feliz que tenha sido você. – Ele completou, me olhando. A sinceridade e o jeito com que ele disse aquela frase me tocou na mesma hora. Ele fez com que eu me sentisse importante. Ele fez com que eu me sentisse amada. Fiquei olhando pra ele, enquanto mantinha um fraco sorriso no canto do meu rosto.
- Você é único, Mark. Você sabia disso? – Eu perguntei completamente encantada por ele. – O seu jeito de falar, o seu jeito de me olhar e de sorrir pra mim... – Eu fiz uma breve pausa. – Tudo em você é único. É por isso que eu me apaixonei por você. – Eu senti vontade de expor aquilo. A expressão de felicidade no rosto dele me arrancou um novo sorriso. Eu não hesitei em me aproximar, tocar o rosto dele e selar os lábios dele mais uma vez. – Nunca mude isso. – Eu pedi, depois de descolar os nossos lábios.
- Eu não vou mudar. – Mark afirmou, olhando nos meus olhos de bem perto.

Mark e eu tínhamos essa sintonia surreal que ficava explicita em cada gesto, olhar ou sorriso que direcionávamos um ao outro. Éramos extremamente parecidos em algumas coisas e isso definitivamente nos conectava de uma maneira indescritível. Mesmo sabendo que o Mark era demais pra mim, eu sentia que merecia alguém assim, depois de tudo o que já havia passado nos meus relacionamentos anteriores. Eu nunca achei que encontraria e mereceria um homem como o Mark.

Nosso relacionamento se desenvolveu com muita facilidade. Aconteceu tudo de forma natural e espontânea. Não precisávamos forçar nada. Antes mesmo de começarmos aquele relacionamento, nós já estávamos bastante próximos e já convivíamos diariamente. Não havia brigas ou decepções. Estávamos sempre rindo juntos e o respeito que tínhamos um pelo outro não deixava que o nosso relacionamento se desgastasse.

O nosso primeiro mês juntos foi incrível como em qualquer outro relacionamento. Estávamos aprendendo juntos a nos ver como um casal e aprendemos com muita facilidade. Sempre íamos ao cinema e quando íamos jantar juntos, ele me deixava escolher onde iriamos. Nosso segundo mês foi um pouco atípico, pois minhas provas da faculdade me deixavam completamente maluca. Mesmo assim, Mark continuou do meu lado e todas as noites ele me fazia companhia para estudar e sempre se certificava se eu já havia comido, o que costumava ser raridade nessa época de provas. Ele ficava comigo até a hora em que eu acabava dormindo sobre os livros.

A vida universitária do também não andava nada fácil. Depois que voltou para Atlantic City e resolveu retomar os estudos, ele ainda estava tentando recuperar tudo o que havia perdido nos últimos meses. Em relação a sua turma, ele estava um pouco atrasado e precisava compensar o tempo perdido. estava completamente focado nos estudos e no trabalho. Essa foi a melhor maneira que ele encontrou para não ficar pensando no passado. Ele tornou-se ocupado demais para sofrer o passado.

Como não queria ficar atrasado em relação a sua turma na faculdade, fez um acordo com os professores e se comprometeu a estudar todo o conteúdo que ele havia perdido para que pudesse realizar as provas. Se por acaso ele passasse em todas as disciplinas, ele continuaria no mesmo semestre que a sua turma estava. Com isso, ele não tinha mais tempo para mais nada. passou a frequentar a faculdade com mais frequência do que qualquer outro aluno. Ele assistia suas aulas em um período, assistia as aulas atrasadas em outro período e trabalhava no período que lhe restava.

Quando decidiu assistir as aulas que havia perdido no semestre anterior, sabia que teria aulas com outras turmas e isso não o incomodou nem um pouco. Ele realmente estava focado em ficar em dia com seus estudos. Naquele dia, por exemplo, era a terceira aula do semestre anterior que ele assistia. Ele não conhecia ninguém da turma de alunos, mas também não fazia questão de conhecer. Ele não estava ali para fazer amizades, certo? Bom, alguém pensava diferente. Havia uma garota na sala que havia notado a presença do intruso. Provavelmente, foi a única ali a notar a presença dele. Ela já havia visto ele na sala umas três ou quatro vezes e ele definitivamente havia chamado a sua atenção. Quando o sinal da penúltima aula tocou, ela tomou coragem para ir até ele. O que ela tinha a perder, certo?

- Com licença. – A garota se sentou na carteira da frente do . Ele levantou a cabeça para olhá-la. – Oi. – Ela sorriu, quando percebeu que tinha a atenção dele.
- Hey. – tentou sorrir, mas ficou bem claro que ele não havia gostado de ser interrompido pela garota loira que tinha olhos azuis e um rosto extremamente angelical.
- Desculpa te atrapalhar. Eu vi que... você está fazendo algumas anotações. – A garota se sentiu mal por estar ali. não respondeu. Ele estava dando todos os sinais para que ela se retirasse.
- Eu... sou a Brooke, aliás. – Ela estava muito sem jeito, mas já que estava ali, ela seguiria em frente.
- Brooke. Ok. – ficou com pena da garota e forçou-se para dar ao menos um sorriso.
- Você... não é dessa turma, certo? – Brooke perguntou.
- Não. Eu estou repondo algumas aulas que perdi nesse semestre. – continuava respondendo por educação.
- Legal! Se... você precisar de ajuda, você pode contar comigo. – Brooke foi extremamente simpática e legal com ele.
- Obrigado, mas... eu estou conseguindo me virar sozinho. – disse e só depois de ver a expressão no rosto da garota ele percebeu que tinha sido extremamente mal-educado.
- Está bem. – Brooke se levantou da carteira até sem rumo. Ela estava se sentindo idiota por ter tentando ser legal com aquele cara que ela mal conhecia.
- Espera, espera... – se sentiu culpado por ter sido grosseiro. Brooke voltou a olhá-lo. – Desculpe, eu... – Ele negou com a cabeça. Não achou que precisava terminar a frase. – Eu sou o . – finalmente se apresentou. Ele devia isso a ela depois de tê-la tratado mal.

E foi assim que o conheceu a Brooke, a garota que o ajudaria com as matérias das disciplinas, que estudaria até tarde com ele para cada uma das provas, que vibrava com ele a cada nota boa, que o forçava a comer mesmo quando ele não tinha tempo para isso e que conseguiu convencê-lo a sair para comemorar depois que ele recebeu a notícia de que tinha conseguido passar pelo semestre em que estava atrasado. Brooke conquistou o diariamente e conseguiu trazê-lo de volta a vida. Ela conseguiu fazê-lo enxergar a vida fora da universidade e do trabalho. Brooke foi a primeira garota a ser beijada por Jonas desde que eu e ele tínhamos rompido definitivamente.

Mesmo sabendo que a Brooke era uma garota muito especial, não tinha qualquer expectativa em relação a eles, mas isso foi mudando conforme os dias foram passando. Um mês foi necessário para que eles se tornassem extremamente próximos. Eles gostavam da companhia um do outro e se sentia feliz ao lado dela. Brooke realmente tinha pego o de surpresa. Ele não esperava que isso voltaria a acontecer com ele tão rápido. Brooke foi o presente que o precisava para voltar a ser feliz.

- Ok, hoje nós vamos fazer uma coisa muito importante. – avisou Brooke, depois que eles entraram em seu carro. Ele tinha ido buscá-la na casa dela.
- Ok. O que é? – Brooke ficou desconfiada.
- Vou te levar para conhecer a minha irmã. – disse, sério.
- Awn! Sério? Eu vou adorar. – Brooke ficou extremamente empolgada.
- Não, você não vai. Ela é uma garotinha muito... difícil. – demorou alguns segundos para encontrar a palavra certa.
- Como assim? – Brooke arregalou os olhos.
- Ela não gosta das pessoas com muita facilidade. – tentou explicar.
- Ela tem ciúmes de você? – Brooke perguntou, achando graça.
- É... – Ele ergueu os ombros. – Acho que dá pra se dizer isso. – concordou.
- E se eu levar uma boneca pra ela? – Brooke sugeriu.
- Ela vai dizer que não é mais criança. – conhecia muito bem a irmã.
- Uma roupa, então? – Brooke disse, depois de pensar.
- Melhor. – concordou, mas ainda não estava satisfeito.
- Um batom! – Brooke fez uma nova sugestão.
- Perfeito! – Agora sim o estava satisfeito. adorava maquiagem. Não era como se o precisasse da aprovação da irmã para alguma coisa, mas era importante para ele que a se desse bem com a pessoa que estava com ele. Não era possível que eu seria a única garota na face da terra que ela gostaria de ter como cunhada.

Tudo estava dando muito certo para o e para a Brooke. As brigas entre eles eram raras e quando aconteciam eram por coisas bobas do tipo: qual era a melhor música dos Beatles ou qual o melhor sabor de pizza. Eles faziam um casal bonito e todos os amigos dele gostavam dela. Até mesmo a gostava dela! Realmente, não tinha como dar errado. Não tinha como não dar namoro.

A primeira pessoa a quem o contou que pediria a Brooke em namoro foi o Mark. Eles se falavam com muito frequência pelo telefone. Ao contrário do , Mark não contava absolutamente nada sobre mim ou sobre a vida que levávamos. É claro que ele também tinha vontade de compartilhar tudo com o irmão mais novo, mas não o fazia por respeito. Mark respeitava o acima de tudo.

não cantou uma música e também não tinha uma plateia, mas isso não fez com que o pedido fosse menos emocionante para a Brooke. O pedido foi feito de maneira bem reservada. Aconteceu no apartamento do , quando ele e a Brooke estavam sozinhos. Após o jantar, ele deu uma caixa de bombons para ela como sobremesa e dentro dela havia uma aliança. Obviamente, não era a mesma aliança que ele havia me dado. Essa continuava guardada em uma das gavetas do seu guarda-roupa.

- É claro que eu aceito! – Brooke aceitou o pedido com lágrimas nos olhos. Ela estava feliz ao lado dele e ela adorava fazê-lo feliz também.

TROQUE A MÚSICA:



Após quatro meses de relacionamento, eu e o Mark já estávamos bastante adaptados um com o outro. Nós, inclusive, já tínhamos a nossa rotina de casal e os nossos restaurantes favoritos. Ele, inclusive, já tinha me dado um anel de compromisso durante o nosso jantar de aniversário de namoro de 2 meses. Estávamos felizes juntos, mas naquela noite de sábado estávamos completamente entediados. Estávamos sentados na frente da televisão, que transmitia um filme antigo muito ruim. Ficar ali sem fazer nada estava me matando.

- Vamos sair? – Eu sugeri. Era um pouco mais de 9 horas da noite.
- Sair? – Mark me olhou. – Pra onde? – Ele perguntou.
- Eu não sei. O que você sugere? – Eu queria saber a opinião dele.
- 9 horas da noite de um sábado? Eu só consigo pensar em todas as filas que vamos enfrentar em qualquer lugar que formos. – Mark estava certo e eu sabia disso.
- Eu sei, mas... deve ter algum lugar que possamos ir. Não é possível. – Eu insisti na ideia.
- Está bem. Vamos pensar em alguma coisa. Onde você quiser ir, nós vamos. – Mark não me negava nada e aquela não seria a primeira vez.
- Ah, espera! Eu já sei! – Eu saltei do sofá. – Aquele shopping do outro lado da cidade! – Eu vibrei com a minha ideia.
- O abandonado? – Mark fez careta.
- Qual é! Não está abandonado. Ele só é... pouco movimentado. – Eu disse. – É isso o que queríamos, não é? – Eu forcei um sorriso.
- É exatamente o que queríamos. – Mark riu, concordando.
- Legal! Vou me arrumar! – Eu selei os lábios dele e sai correndo para me arrumar.

A empolgação e a felicidade para sair era tanta, que acabei me arrumando mais do que deveria, já que a roupa que eu escolhi não era tão apropriada para o lugar que iríamos. Era um shopping, mas ele era sempre vazio. Vesti um macacão curtinho e coloquei um salto (VEJA AQUI) . Arrumei o cabelo e passei perfume. Levei 20 minutos para me arrumar e quando desci para o primeiro andar da casa, eu vi que o Mark também já estava pronto. Ele estava me esperando, sentado no sofá da sala.

- Demorei? – Eu parei na frente dele. Mark me olhou da cabeça aos pés e não escondeu seu encantamento.
- Não. – Mark levantou-se e foi até mim. – Você está linda. – Ele segurou a minha mão, a levantou e me girou.
- Obrigada. – Eu fiquei um pouco sem jeito. – Você está lindo também. – Eu me aproximei e selei os lábios dele. Afastei o meu rosto do dele, mas continuamos de mãos dadas. Fomos até a porta e seguimos juntos até o carro.

Conversamos durante todo o trajeto, que não era curto, já que o shopping ficava do outro lado da cidade. Combinamos de ir ao cinema, pois não estávamos com fome para irmos a algum restaurante do shopping. Nós já havíamos jantado na minha casa. Quando chegamos na entrada do shopping, entramos no estacionamento sem qualquer fila. Estacionar foi a coisa mais fácil do mundo, já que haviam no máximo 20 carros estacionados ali. Saímos do carro e seguimos de mãos dadas até o shopping.

- Não tem ninguém nesse shopping. – Eu disse em um tom de voz baixo, enquanto entravamos no shopping.
- Os carros lá fora devem ser dar pessoas que trabalham aqui. – Mark disse, me fazendo gargalhar. Minha risada ecoou no shopping todo, nos fazendo rir ainda mais.
- Meu Deus. Isso está sendo um desastre. – Eu coloquei uma das mãos na boca, porque eu não conseguia parar de rir.
- Nem deve ter cinema mais aqui. – Mark comentou.
- Deve ser por ali. – Eu apontei para a placa que sinalizava a direção do cinema.
- O único filme que deve estar em cartaz aqui é Titanic. – Mark brincou, me fazendo gargalhar novamente.
- Para de me fazer rir. – Eu o empurrei, enquanto ele ria dos ecos que a minha risada havia reproduzido. – Vamos. É ali. – Eu o guiei na direção do cinema.
- Que filme é esse? – Mark fez careta ao olhar para o cartaz exposto.
- Só compra. – Eu disse, antes que desistíssemos de assistir o filme. Fomos juntos até a cabine que estava vendendo os ingressos.
- Com licença. Queremos duas entradas pro filme. – Mark olhou para a moça, sério.
- Um minuto. Vou consultar a disponibilidade. – A moça disse com toda a calma do mundo. Disponibilidade? Não tinha ninguém no shopping! Mark e eu tivemos que segurar a risada na mesma hora. Eu apertei a mão dele, implorando para que ele não risse. – Aqui está. – A atendente nos entregou as duas entradas e o Mark pagou por elas.
- Obrigado. – Mark agradeceu, enquanto andávamos na direção da sala de cinema. O filme começaria as 10 horas, ou seja, tínhamos apenas 5 minutos. Entramos rapidamente na sala e nos deparamos com todos os assentos vazios.
- Mark, não tem ninguém. – Eu disse, perplexa.
- Temos uma sala de cinema exclusiva. – Mark me puxou, nos guiando para o melhor lugar do cinema.
- Eu nunca tive uma sala de cinema exclusiva. – Eu me sentei em uma das poltronas.
- Agora, você tem. – Sorriu, depositando um beijo no topo da minha mão.

O filme começou e ele estava sendo transmitido exclusivamente para nós. No começo, foi bastante estranho por se tratar de algo tão incomum, mas não demorou para que nos aproveitássemos da situação. Nós ríamos e comentávamos o filme a todo o momento, sem receio de atrapalhar alguém. Apesar do gênero do filme não fazer muito o nosso tipo, nós acabamos nos entretendo com ele e antes que percebêssemos, ele já havia se tornado interessante.

- Eu não acredito que acabou assim! – Eu resmunguei, indignada com o final do filme.
- Não me surpreende nem um pouco. – Mark reclamou.
- Duas horas das nossas vidas perdidas. – Eu suspirei, negando com a cabeça.
- Tudo isso pro cara morrer no final. – Ele disse, levantando-se da poltrona.
- Foi uma morte bem patética, aliás. – Eu também me levantei.
- Acho que a saída é por ali. – Mark apontou a cabeça na direção da porta que havíamos entrado. Nós saímos da sala de cinema e tudo estava exatamente como antes: vazio. Algumas luzes do shopping já haviam se apagado.
- Eu preciso ir ao banheiro rapidinho. – Eu avisei o Mark, antes de me afastar e ir até o banheiro.

Após sair do banheiro, reencontrei o Mark e seguimos de mãos dadas até a saída do shopping. Continuávamos comentando e reclamando do filme que tínhamos acabado de ver. Não vimos absolutamente ninguém no shopping enquanto saiamos, mas isso não chamou a nossa atenção, porque aquele shopping era realmente vazio. Quando passamos pela porta do shopping, que estava estranhamente fechada, chegamos no estacionamento e percebemos que o único carro que ainda estava lá era o do Mark.

- Onde estão os outros carros? – Eu perguntei, assustada.
- Eles... já foram embora. – Mark parecia um pouco preocupado.
- Os funcionários já foram embora? – Eu estranhei.
- Oh, não. – Mark disse repentinamente. Ele olhava fixamente para a portaria do shopping.
- O que foi? – Eu não sabia do que se tratava, mas fiquei com medo. Apertei a mão dele e com a outra mão segurei em seu braço. Ele começou a andar na direção da portaria e me levou com ele. Quando chegamos até lá e vimos que o portão estava fechado, Mark imediatamente tentou abri-lo. – Está trancado. – Ele me olhou.
- Está... trancado? – Eu fiquei em choque. – Você... quer dizer que estamos trancados... aqui? – Eu não conseguia acreditar.
- Estamos trancados aqui. – Mark confirmou, me deixando sem palavras. – O shopping sempre está vazio e... nesse horário. – Ele olhou em seu relógio. – Eles acharam que não tinha mais ninguém. – Ele completou.
- Eu não acredito nisso. – Eu neguei com a cabeça em meio a um riso. – Estamos presos no estacionamento de um shopping. – Eu comecei a rir.
- Eu achei que você ia chorar e você está rindo? – Mark achou graça da minha reação.
- Isso é ridículo. – Eu rolei os olhos. – Nós viemos nesse shopping horrível, vimos aquele filme idiota e agora estamos presos no estacionamento! – Eu neguei com a cabeça. – Eu sinto muito por te colocar nisso. – Eu devia isso a ele, já que a culpa de estarmos ali era minha.
- Não. Não precisa se desculpar. – Mark se aproximou. – O que importa é estarmos juntos, certo? – Ele acariciou o meu rosto. Mark selou os meus lábios duas vezes.
- Eu amo você. – Eu me declarei, assim que ele descolou os nossos lábios. Após ouvir a minha frase, ele ficou me olhando da maneira mais doce. – O que foi? – Eu coloquei meus braços em volta do pescoço dele.
- É a primeira vez que você diz isso. – Mark sorriu e eu pude notar que ele ficou um pouco comovido com as minhas palavras.
- É melhor se acostumar. – Eu acariciei o cabelo dele. Ele não conseguia parar de me olhar.
- Eu amo você também. – Mark respondeu da forma mais carinhosa de todas. Em meio a sorrisos, ele me beijou. Foi um beijo carinhoso, mas ao mesmo tempo foi intenso. Quando acabava se tornando intenso demais, um de nós sempre acabava terminando o beijo. Dessa vez, foi o Mark.
- E então, o que vamos fazer agora? – Eu não sabia se ligávamos pra polícia ou se deixávamos o carro lá e saíamos a pé.
- Ou nós chamamos a polícia, o que seria bem constrangedor ou... ficamos aqui essa noite. Podemos dormir no carro. – Mark deu a ideia.
- Por mim, tudo bem. Nós dormimos aqui e vamos embora assim que o shopping abrir. – Eu ergui os ombros, demonstrando que não me importava. Eu não morreria se dormisse no carro uma noite.
- Perfeito. – Mark concordou na mesma hora. – Vamos. – Ele me puxou na direção de seu carro. Quando nos aproximamos, soltei a mão dele e me adiantei para sentar no capô do carro.
- Será que tem câmeras aqui? – Eu perguntei, olhando em volta. Mark se aproximou, ficando de pé na minha frente. Seu corpo estava entre as minhas duas pernas.
- Eu duvido. Não tem pessoas, quem dirá câmeras. Não teria nada para filmar. – Mark riu.
- Você tem razão. – Eu concordei com ele. Permanecemos em silêncio por alguns segundos e em seguida nos olhamos. – Isso é muito estranho e... assustador. Esse silêncio. – Eu me referia ao fato de o shopping estar completamente vazio.
- Não precisa ter medo. Eu estou aqui. – Mark quis me tranquilizar. Ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- Eu sei que está. – Eu aproveitei a proximidade para passar meus braços em volta do corpo dele. Ele me abraçou e beijou o meu ombro antes de terminar o abraço. Suas mãos que estavam nas minhas costas deslizaram pela minha cintura e depois até as minhas coxas. Mark não tinha feito por mal, aliás, eu acho que ele nem tinha notado, mas eu tinha. Ficamos novamente em silêncio, mas dessa vez estávamos nos olhando. – No que você está pensando? – Eu fiquei curiosa.
- Eu estou pensando que... você nunca esteve tão bonita. – Mark disse, me arrancando um sorriso.
- E... – Eu sabia que tinha mais alguma coisa.
- E sua roupa está muito curta demais para mantermos essa proximidade. – Mark disse, me fazendo rir. – E você? No que você está pensando? – Ele me lançou um olhar curioso. Nossos rostos estavam bem próximos.
- Honestamente? Eu não consigo pensar em nada, porque as suas mãos na minha perna estão tirando toda a minha concentração. – Eu mordi o meu lábio inferior e notei seus olhos descerem até a minha boca.
- Oh, ok. Eu... – Mark tirou suas mãos das minhas coxas, achando que estivesse ultrapassando algum limite. Ele era muito respeitoso.
- Não. Não foi uma reclamação. – Eu peguei as mãos dele e as coloquei onde elas estavam. Voltei a encará-lo e a proximidade era tanta que a ponta do meu nariz chegou a tocar na ponta do nariz dele.

Estávamos resistindo ao beijo, pois sabíamos que se ele acontecesse, seria difícil pará-lo. O perfume dele, as mãos dele nas minhas coxas, os olhos verdes... tudo indicava que a desvantagem era toda minha, mas quem não resistiu foi ele. Mark me beijou intensamente e eu não tinha condições de fazer alguma coisa a respeito. Levei minhas mãos ao rosto dele, enquanto sentia suas mãos apertarem as minhas coxas. Não demorou para que as mãos bobas começassem. Quando os lábios dele deslizaram da minha boca até o meu pescoço, eu sabia que não dava mais para continuar. Com todo o sacrifício do mundo, eu empurrei o corpo dele pra frente e deslizei pelo capô, ficando de pé novamente.

- Ok. – Eu respirei fundo. – É melhor irmos dormir. – Eu tentei me recompor e ele fez o mesmo.
- Você está certa. – Mark concordou na mesma hora. Nós dois sabíamos que o lugar não era nem um pouco propício, principalmente por nunca termos chegado as vias de fato. Nós sempre chegávamos a um ponto que não ultrapassávamos e naquela noite não era o melhor momento para ultrapassar. – Aqui. – Ele abriu a porta traseira do carro. – Você fica aqui e eu... durmo na frente. – Mark sabia que nós dois cabíamos no banco traseiro, mas ele preferia manter a distância.
- Mas, cabe você aqui. – Eu disse, depois de entrar no carro. Tirei os meus saltos e os coloquei no chão do carro.
- Eu sei, mas... eu prefiro dormir na frente. É melhor. – Mark fechou a porta e abriu a porta do motorista. Ele sentou-se ali e ficou. Do banco traseiro eu o olhava e via o quão desconfortável ele estava.
- Mark, é muito desconfortável ai na frente. – Eu insisti. O carro era dele e, além disso, a ideia infeliz de ir até o shopping foi minha. Eu deveria dormir no lugar mais desconfortável e não ele.
- Eu estou bem. – Mark me olhou e sorriu, tentando me convencer. A princípio, eu me conformei e apenas aceitei a decisão dele. Depois de um longo silêncio, eu resolvi insistir. Eu rolei os olhos e me inclinei na direção do banco da frente. Segurei a camiseta dele e a puxei na direção do banco traseiro. – Vem logo. – Eu disse e ele cedeu, indo para o banco detrás comigo. Eu me deitei no banco e ele se deitou ao meu lado. Nossos corpos estavam colados devido a falta de espaço. Estávamos deitados de lado, mas estávamos de frente um para o outro.
- Eu não vou te agarrar. – Eu brinquei em meio a um sorriso.
- Eu sei que não vai. – Mark também sorriu, mas ainda parecia um pouco tenso. – Eu não estou preocupado com você. Eu estou preocupado comigo. – Ele disse, olhando pra mim.
- Eu não estou preocupada com você. Nem um pouco. – Sentir a respiração dele nos meus lábios e o corpo dele colado ao meu me desestabilizou novamente. Por um momento cogitei a possibilidade de deixar que alguma coisa acontecesse ali e isso me tirou a sanidade. – Você... deveria ter ficado no banco da frente. – Eu mudei de ideia, quando percebi que não conseguiria resistir muito tempo.
- Eu sei. – Mark disse, mas também não teve forçar para sair dali.
- Ok, eu... – Eu me movi com a intenção de sair do carro ou ao menos passar para o banco da frente. Eu acabei jogando o meu corpo por cima do dele e apoiei meus braços em seu abdômen para me levantar. Eu cheguei a me levantar, mas o fato de tocar no abdômen dele não me deixou sair do carro. Deixei de olhá-lo por um momento e olhei para qualquer lugar fora do carro, tentando conseguir forças para sair. Bom, eu não consegui. De onde eu estava, eu me inclinei e o beijei.

Depois do beijo, foi impossível evitar a evolução de tudo o que ia acontecendo. A princípio, Mark estava um pouco receoso em relação ao meu consentimento, mas quando minha mão começou a levantar a camiseta dele com a intenção de tirá-la, ele soube que dessa vez era pra valer. Como o espaço era escasso, Mark precisou se sentar para tirar a sua camiseta. O beijo já estava intenso demais, quando ele deslizou a sua boca e começou a beijar o meu pescoço e por fim o começo do meu decote. Estava tão calor ali dentro, mas eu não me importava. Nenhum de nós conseguia parar para abrir o vidro ou ligar o ar condicionado.

Comecei a soltar o cinto da calça dele, enquanto ele deslizava as mangas do meu macacão pelos meus braços. Estávamos afobados e no limite, por isso, tudo foi acontecendo muito rápido. Mark aproveitou que já estava sentado e tirou a sua calça com a minha ajuda. Meu macacão já estava na minha cintura e para a sorte dele eu não estava usando a parte superior da lingerie naquela noite. Mark usou toda a sua estrutura corporal e força para me colocar deitada no banco, trazendo o seu corpo por cima do meu.

Estávamos a mais de 4 meses juntos e já havíamos evitado e adiado aquilo por tantas vezes, que não tinha como não acontecer naquela noite. Não foi exatamente como nós havíamos planejado, mas foi incrível da mesma forma. Quando terminamos, estávamos tão ofegantes e suados, que o Mark precisou ligar o ar condicionado do carro por alguns minutos até que a temperatura dos nossos corpos voltasse ao normal.

Após o ar condicionado ser desligado, nós continuamos deitados no banco traseiro. Mark estava tão feliz. Eu estava deitada sobre o corpo dele e ele começou a acariciar meu cabelo. Deitada ali nos braços dele, eu ficava me perguntando se aquela noite tinha sido real ou se tinha sido um sonho. Bem, a resposta não era boa. O barulho de alguém batendo no vidro do carro me fez abrir os olhos repentinamente. Eu estava vestida, estava deitada sozinha no banco traseiro, o Mark estava dormindo no banco do motorista e o dia já havia amanhecido. Demorou alguns longos segundos para que eu me desse conta de que tudo não havia passado de um sonho. Bateram novamente no vidro do carro, me fazendo levantar.

- Mark! – Eu o cutuquei e ele demorou, mas acordou. – Estão batendo. – Eu apontei na direção da porta.
- Oi! Ficamos presos aqui ontem a noite. – Mark começou a contar a situação para o segurança do shopping e eu voltei a deitar no banco do carro completamente frustrada. Meu subconsciente me sabotou novamente. – Ok. Obrigado. – Ele agradeceu o segurança que disse que abriria o portão para nós sairmos. Eu sai do carro e entrei novamente, me sentando no banco do passageiro. Eu estava um pouco irritada com o ocorrido. – Você está bem? – Mark percebeu que alguma coisa estava me incomodando.
- Eu estou bem. – Eu menti para evitar novas perguntas. Não dava pra contar para ele que eu tinha acabado de ter um sonho erótico com ele.

Apesar de toda a frustração, o nosso encontro havia sido ótimo. Nos divertimos como não nos divertíamos há algum tempo. Era bom fazer coisas daquele tipo de vez em quando. Era bom sair um pouco da nossa rotina. Após sairmos do shopping, seguimos para as nossas casas. Eu fiquei na minha casa, pois ainda estava com sono e o Mark foi para a casa dele pelo mesmo motivo. Ao me deitar na minha cama, só desejei não ter outro sonho frustrante.

Em Atlantic City, e Brooke já tinham completado dois meses de namoro. estava sendo feliz de novo depois de muitos meses. Tudo estava dando certo na vida dele novamente. Os estudos estavam em dia, a vida amorosa estava incrível e o trabalho estava cada vez melhor. não tinha do que reclamar. A família da Brooke era ótima e a família dele havia acolhido ela também. adorava a cunhada e estava sempre perguntando por ela. estava aliviado por não ter mais que responder as perguntas da irmã sobre mim.

Mark e eu completaríamos seis meses juntos naquela semana. Tínhamos programado de ir a um restaurante novo que, por sinal, era bem caro. Consegui sair mais cedo do trabalho naquela quinta-feira e, por isso tive mais tempo para me arrumar. Eu queria estar perfeita para aquela noite. Quando eu estava quase pronta, Mark me mandou uma mensagem avisando que tinha acabado de chegar em e que tinha ficado preso no trabalho. Terminei de me arrumar e fui até a casa dele para esperá-lo. Entrei facilmente, porque ele tinha deixado a porta aberta pra mim. Logo que entrei, ouvi o barulho do chuveiro e deduzi que ele ainda estava tomando banho. Me sentei no sofá para esperá-lo, quando o telefone da casa tocou. Eu não me sentia a vontade para atender o telefone da casa dele, por isso o telefone continuou tocando insistentemente. Quando o telefone parou de tocar, a voz de um homem começou a falar. Ele estava deixando um recado na caixa-postal do Mark.

- “Mark, tentei falar com você no celular e não consegui. Preciso confirmar o cancelamento da sua ida para a Bélgica. É a sua última chance de conseguir o trabalho. Me liga.” – Essa foi a mensagem deixada na caixa-postal. Fiquei olhando para o telefone, tentando processar a informação. Bélgica? Senti até um mal-estar na hora. Me levantei e fui até a cozinha para pegar um copo de água. Eu estava em choque.

Mark não tinha escutado o telefone tocar, muito menos a mensagem deixada em sua caixa-postal. Ele estava terminando de se arrumar em seu quarto e ouviu um barulho na cozinha. Ele logo deduziu que eu já estava na casa. Depois de já estar pronto, Mark foi para a sala para me encontrar. Ele estava muito ansioso para me ver. Quando ele entrou na sala, eu me mantive sentada. Ele sorriu pra mim e veio na minha direção, me dando um selinho carinhoso. Eu estava incomodada e a palavra Bélgica ainda ecoava na minha cabeça.

- É bom te ver. – Mark voltou a sorrir, quando eu me levantei. – Você está maravilhosa. – Ele elogiou, mas eu estava longe demais para responder. – Você está bem? – Mark percebeu o meu comportamento estranho. Olhei para ele completamente séria e fui até o telefone.
- Você tem uma mensagem não ouvida na caixa-postal. – Eu disse e em seguida apertei o botão para ouvir a mensagem. Enquanto a mensagem era reproduzida, eu continuei olhando para ele. Eu queria explicações e eu queria naquele momento. – Surpreso? – Eu cruzei os braços. – Você não parece surpreso com a proposta de trabalho na Bélgica. – Eu ironizei com um sorriso. Mark não conseguia dizer nada. Ele sabia que tinha errado. – Você escondeu isso de mim. – Eu disse com um olhar de poucos amigos. Eu estava tão brava, que precisava sair dali para não falar besteira.
- Me desculpa. – Foi a única coisa que o Mark conseguiu dizer. Eu já estava saindo da casa, quando ouvi o pedido de desculpas dele. Eu fiz questão de voltar.
- Desculpar por ter escondido uma coisa tão importante de mim ou por ter estragado o nosso jantar de aniversário? – Eu estava furiosa.
- Eu queria ter te contado! Eu queria, mas... – Mark hesitou continuar.
- Mas não contou. Por quê? – Eu estava sendo dura com ele e sabia disso.
- Nós estávamos no nosso melhor momento e eu não queria arruinar isso. – Mark se justificou.
- E por que arruinaria? Nós estávamos juntos, não estávamos? O que achou que eu fosse fazer? Achou que eu fosse terminar o namoro porque você ia viajar pra Bélgica? – Eu arqueei uma das sobrancelhas. – Se você pensou isso, você não me conhece. – Eu neguei com a cabeça.
- Eu fiquei com medo de não dar certo. Eu fiquei com medo da distância. Eu fiquei com medo de perder você. – Mark veio na minha direção.
- Você não ia me perder. Eu ia te apoiar! Eu ia ficar orgulhosa de você. – Eu estava decepcionada. – Droga, Mark. Isso é uma coisa boa, uma oportunidade incrível. Por que você teve que fazer disso uma coisa ruim? – Eu estava indignada com a atitude dele. – Nós somos um casal, não somos? Nós deveríamos compartilhar tudo um com outro. Nós deveríamos ficar felizes um com o outro. – Eu disse, olhando em seus olhos.
- Eu sei! Me desculpa. Eu fui um idiota. – Mark segurou a minha mão.
- Podemos conversar sobre isso depois? Eu não quero ficar aqui. Eu não quero brigar com você. – Eu tentei me acalmar e tomar a decisão correta.
- Ok. Leve o tempo que precisar. – Mark concordou imediatamente.

Sai da casa dele com lágrimas nos olhos. Eu sabia que eram lágrimas de raiva, mas eu não sabia se a raiva era por causa da omissão ou por causa da viagem, que faria com que a distância voltasse a ser um problema pra mim. Não deu certo da última vez. Por que daria certo dessa vez? Entrei na minha casa e procurei me acalmar. Engoli o choro e a raiva. Eu precisava ser racional. Eu precisava lidar com isso como uma adulta e não mais como uma adolescente.

Mesmo me acalmando, decidi não ir até a casa do Mark naquele dia. Eu precisava pensar muito bem no que eu diria a ele. Fui pra faculdade naquela sexta-feira de manhã e fui para o estágio no período da tarde. Ao chegar em casa, fui direto tomar banho e me arrumar para ir falar com o Mark. Não dava para adiar mais. Fui até a casa dele e toquei a campainha duas vezes seguidas.

- Oi. – Eu o cumprimentei assim que ele abriu a porta. – Podemos conversar? – Eu perguntei.
- É claro. – Mark afirmou com a cabeça, dando passagem para que eu entrasse na casa. Eu entrei e fui na direção da sala.
- Eu sei o que você vai me dizer. – Mark me olhou com tristeza.
- Então, me ouça. – Eu pedi, me aproximando dele. – Mark, é uma oportunidade incrível. Você sabe que é! Se não fosse por mim, você aceitaria o trabalho sem pensar. – Eu disse e ele negou com a cabeça. – Eu não posso deixar você fazer isso. – Eu disse e ele deixou de me olhar por um momento. – Ei, olha pra mim. – Eu fui até ele e toquei o seu rosto com uma das minhas mãos. – Eu amo você e não posso deixar você perder essa oportunidade. – Eu sorri, olhando em seus olhos.
- Eu não quero ficar longe de você. – Mark disse com poucas lágrimas nos olhos.
- É temporário, não é? Você vai voltar e eu vou te esperar. – Eu afirmei com um sorriso para que ele realmente acreditasse no que eu estava dizendo.
- Você vai esperar? – Mark queria ter certeza.
- Eu vou. – Eu me aproximei e selei os lábios dele. – Eu vou esperar. – Eu reafirmei. Ele passou seus braços em volta do meu corpo e me abraçou.
- É uma boa notícia e eu estou orgulhosa de você. – Eu disse, enquanto o abraçava. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu não queria que ele percebesse, mas saber que ele iria para longe me deixava destruída.

Mesmo estando completamente devastada com a notícia que me pegou de surpresa, eu tentei fazer dela uma coisa boa. Para ele, eu queria que fosse uma coisa boa. Por isso, eu passei a tratar o assunto com muita leveza. Nós ainda tínhamos 3 meses antes de viagem e eu até mesmo tive a ideia de fazer uma festa de despedida para ele. Mark merecia tudo de melhor que eu poderia oferecer a ele. Mesmo que isso me deixasse triste.

Cada dia que passava, o dia da viagem para a Bélgica se aproximava. Os detalhes da festa de despedida felizmente ocuparam muito do meu tempo e não me deixavam pensar na falta que o Mark me faria diariamente. Meg me ajudou com a festa e ficou responsável por convidar os colegas do Mark. Os meus amigos e o obviamente foram convidados. A festa de despedida aconteceria um dia antes da viagem do Mark.

Faltava um pouco mais de uma semana para a festa de despedida do Mark, quando as confirmações dos convidados começaram a chegar. A Meg me entregou naquele mesmo dia uma lista de confirmações. Entre eles estavam colegas de trabalho do Mark e suas respectivas esposas, alguns colegas da época do colégio e os meus amigos de Atlantic City. Eu já sabia que eles viriam. Eu já sabia que o viria, mas ver o nome dele naquela lista de confirmações foi um pouco assustador. A minha reação me surpreendeu um pouco. Eu finalmente o reencontraria quase 10 meses depois do nosso término. Isso me preocupou mais do que deveria.

Chegou o grande dia! A festa de despedida do Mark era naquela noite e eu estava completamente em pânico por dois motivos diferentes: o Mark ia embora e eu teria que reencontrar o naquela noite. Eu não estava pronta para lidar com nenhum dos dois problemas. O primeiro porque a distância nunca foi algo bom na minha vida. Não tinha dado certo da outra vez. O segundo motivo porque... o ainda era o , sabe? Isso sempre vai ter um peso monstruoso pra mim. Eu nunca vou conseguir olhar pra ele e ver apenas um ex-namorado. Eu tinha muito medo de como o meu coração reagiria diante daquele reencontro.

Eu providenciei tudo! Os comes e bebes e até mesmo as faixas de boa viagem que eu e a Meg pretendíamos pendurar em algum lugar da sala de estar. Mark merecia que a festa fosse memorável e eu daria o meu melhor para colaborar com isso. Comprei até uma roupa nova. Eu queria estar bonita para ele naquela noite, que seria a nossa última noite juntos em muito tempo.

Fui para a faculdade naquela manhã com a consciência tranquila de que estava tudo certo para a festa daquela noite. Mesmo tentando evitar pensar no assunto, o sonho que eu havia tido naquela noite ainda estava bem fresco na minha cabeça. Novamente, eu tinha sonhado com o . Aquela tinha sido a sétima ou oitava noite seguida que eu sonhava com ele. Os sonhos começaram no dia que eu me dei conta de que o reencontraria. Cada noite era um sonho diferente, mas em todos eles eu e o estávamos juntos e vivíamos diversas situações românticas e lindas juntos. Não eram lembranças, pois não havíamos vivido nenhum daqueles momentos antes. Eu não sabia o que esses sonhos significavam e não sabia como pará-los. Mesmo sabendo que eu não tinha controle sobre eles, eu me sentia mal por eles, afinal, eu estava com o Mark. Não me parecia certo.

Sentada na sala de aula da faculdade, eu já nem prestava mais atenção no que a professora ensinava. Eu ainda estava tentando lidar, entender e interpretar cada um daqueles sonhos. Talvez, eu só estivesse muito apreensiva para rever o naquela noite. Talvez, eles não significassem nada.

Eu estava saindo da faculdade, quando o meu celular tocou. Olhei no visor e vi que era o meu melhor amigo, . Além de toda a apreensão causada por causa dos meus frequentes sonhos com o , eu também estava muito feliz, pois eu sabia que iria rever todos os meus amigos naquela noite . Não se pode ver só o lado negativo das coisas, certo?

- Oi, lindo. – Eu atendi, empolgada.
- De bom humor, hein? – achou graça. – Tudo bem? – Ele perguntou.
- Bom, meu namorado vai viajar sozinho pra outro país amanhã e eu vou ver o meu ex-namorado e atual cunhado hoje a noite. Eu acho que já estive melhor. – Eu suspirei. – E você, está bem? – Eu perguntei.
- Melhor do que você eu estou. – gargalhou.
- Isso não quer dizer muito. – Eu brinquei. – E então, que horas vocês vão vir? – Eu quis saber.
- O problema não é quando nós vamos e sim quem vai. – não sabia muito bem como contar aquilo.
- O que? – Eu fiz careta. Do que ele estava falando?
- Era pra estar te ligando pra contar, mas como nós só descobrimos hoje e ela teve que entrar mais cedo no trabalho hoje de manhã, eu fiquei responsável por dar a notícia. – Ele contou, me deixando ainda mais apreensiva.
- Você está me assustando. Contar o quê? – Eu o pressionei.
- Bem, você soube que o está namorando, não é? – começou a dar a notícia.
- Sim, eu ouvi dizer. – Eu ainda não tinha entendido qual era o drama. Eu já tinha visto algumas fotos do ‘novo’ casal nas redes sociais.
- Então... – hesitou por um momento. – Ele decidiu levá-la para festa de despedida hoje a noite. – Ele finalmente contou.
- Ela... vai vir? – Eu fiquei um pouco sem reação.
- Ela vai. – reafirmou, sem conseguir identificar exatamente o quão aquilo havia me incomodado. Um silêncio se estabeleceu. Eu não sabia o que dizer e o não sabia como eu estava me sentindo diante da notícia.
- Bom, eu... – Eu ainda estava com dificuldades de saber o que dizer. – Eu não vejo problemas. – Eu ergui os ombros. – A festa é do irmão dele. Ele trás quem ele quiser. – Achei melhor demonstrar indiferença. Eu estava com o Mark e não tinha mais nada a ver com quem o namorava ou deixava de namorar. Na verdade, a notícia até me deixou menos apreensiva para aquela noite. Com o acompanhado, eu me sentiria menos incomodada por estarmos no mesmo ambiente novamente.
- Sério? Eu achei que sua reação seria mais dramática. – ficou mais aliviado.
- , já faz meses que nós terminamos. Eu e o Mark estamos muito bem. Fico até feliz que ele tenha encontrado outra pessoa. – Eu nunca achei que chegaria àquele nível de maturidade. Eu estava orgulhosa.
- Wow. – ainda estava impressionado. – Fico feliz. Isso nos preocupava um pouco. – Ele assumiu.
- É claro que vai ser muito estranho encontrá-lo novamente, mas... em relação a namorada dele vir, está tudo bem. – Eu tentei tranquilizá-lo.
- Ótimo! – sorriu. – Estou mais tranquilo agora. – Ele disse.
- Não se preocupa. – Eu estava agradecida com a preocupação dele de qualquer forma. – Te vejo mais tarde? – Eu perguntei mesmo já sabendo a resposta.
- Claro. Vamos sair daqui as 7 da noite. – avisou.
- Está bem. Boa viagem. Até já. – Eu comecei a me despedir.
- Até mais tarde. – disse, antes de desligar a ligação. A notícia realmente não havia me abalado.

TROQUE A MÚSICA:



Eu estava mais nervosa do que deveria naquela noite. Eu estava com uma sensação horrível sobre aquela festa. Parecia que eu nunca mais veria o Mark depois daquela noite. Dramático e exagerado, eu sei! Mas era exatamente assim que eu estava me sentindo. Havia um nó enorme na minha garganta que não saia desde o momento em que eu acordei naquela manhã. Em alguns momentos, tentar um outro namoro a distância me parecia a coisa mais absurda de todas, mas em outros momentos, eu pensava no Mark e logo dizia para mim mesma que se existe alguém que merecia uma nova tentativa da minha parte, essa pessoa era o Mark.

Cheguei um pouco atrasada na minha casa e logo subi para tomar banho e me trocar. Vesti a roupa que eu havia comprado para aquela noite (um cropped e uma calça jeans - VEJA AQUI), dei uma boa arrumada no cabelo e fiz uma maquiagem um tanto quanto discreta. Eu queria estar bonita para a última noite do Mark. Ele merecia.

Faltava um pouco mais que 30 minutos para que os convidados começassem a chegar. Comecei a distribuir copos plásticos e pratinhos em lugares estratégicos da casa. Quando eu cheguei, Mark estava no banho, mas Meg logo chegou para me ajudar. Enchemos os pratinhos de salgados e batatas (tipo Ruffles) e deixamos a bebida em um só lugar. Precisamos só de 20 minutos para deixarmos tudo pronto. Faltava apenas o dono da festa e os convidados.

- Espero que o não demore. Estou morrendo de saudades. – Meg comentou, enquanto esperávamos o Mark. Meus amigos que me perdoem, mas eu não estava tão ansiosa assim para a chegada deles. chegaria junto com eles e aquilo ainda não soava bem pra mim.
- Estou com saudades de todos também. – Eu não menti. Eu só omiti a parte de mim que estremecia cada vez que eu me dava conta de que em breve o entraria por aquela porta. – A me mandou mensagem dizendo... – Eu comecei a dizer, mas parei quando o Mark apareceu na sala de sua casa. Ele me olhou e na mesma hora sorriu. Os olhos dele percorreram pelo meu corpo e os meus olhos fizeram o mesmo com o corpo dele. Ele estava incrível com o seu jeans pouco rasgado e a camiseta nova que eu havia comprado para ele. O perfume eu conseguia sentir de longe.
- Uau. – Mark elogiou, enquanto se aproximava de mim.
- Uau. – Eu devolvi o sorriso, fazendo com que nós dois começássemos a rir. Quando ele chegou na minha frente, ele tocou o meu rosto com suas mãos e selou os meus lábios. – Você está muito bonito. – Eu sussurrei, quando descolamos nossos lábios.
- Você está perfeita. – Mark selou os meus lábios mais uma vez e logo em seguida passou seus braços pela minha cintura, me abraçando. Ele estava visivelmente triste, mas também parecia conformado. – Eu não acredito que hoje já é a nossa última noite. – Ele sussurrou.
- Eu também não. – Eu fechei os olhos, tentando guardar aquele abraço.
- Parem, por favor. Eu prometi a mim mesma que não choraria essa noite. – Meg interrompeu, depois de observar em silêncio a nossa cena.
- Awn! Vem aqui você também. – Mark interrompeu o nosso abraço por um momento para puxar a Meg para um abraço coletivo. O abraço foi interrompido pelo toque da campainha.
- Os convidados começaram a chegar. – Meg tentou se recuperar e eu fiz o mesmo. Mark afastou-se e foi até a porta. Ele a abriu e para o meu alívio, tratavam-se de alguns amigos dele do trabalho.

Mark era muito atencioso com os amigos e parecia ser muito querido por todos eles. Ele fez questão de me apresentar a cada um deles como sua namorada e eu me sentia muito sortuda cada vez que ele fazia isso. Com a ajuda da Meg, comecei a distribuir as bebidas e a reabastecer os salgados. Alguns outros convidados chegaram, fazendo com que eu e a Meg ficássemos um pouco ocupadas. As namoradas dos amigos do Mark me puxaram para a rodinha delas por algum tempo e eu tive que ficar fazendo sala, enquanto a Meg se virava sozinha. Eu também tentava dividir a minha atenção entre as responsabilidades da festa e o Mark. Eu sempre dava um jeito de passar por ele e trocar algumas palavras.

Não era segredo que o estava indo até Nova York para despedir-se de seu irmão mais velho. Mesmo com todas as lembranças que a cidade trazia para ele, não se intimidou nem um pouco em ir até lá. Independentemente de qualquer coisa, sabia que precisava estar lá pelo Mark. Ele sabia que o nosso reencontro acabaria acontecendo e ele realmente sentia que estava pronto para aquilo. havia se preparado para aquele momento desde que havia ido embora de Nova York há quase 11 meses. Com a Brooke ao seu lado, ele tinha certeza de que tudo ocorreria bem e que, mesmo tratando-se de um reencontro estranho, ele ficaria bem.

estaria mentindo se dissesse que não sentiu um frio no estômago ao passar em frente a minha casa quando ele e os amigos estavam chegando para a festa. Era impossível não lembrar de tudo o que vivemos ali. Mesmo se esforçando para deixar o passado no passado, as memórias eram mais fortes que tudo. continuou agindo normalmente, pois não queria que a Brooke percebesse que havia algo errado.

Como o barulho dentro da casa estava alto e a porta de entrada estava aberta, os recém-chegados de Atlantic City resolveram entrar na casa sem serem anunciados. Ao entrarem, eles tentaram não chamar muita atenção. Eles não conheciam praticamente ninguém que estava ali, por isso, resolveram ficar em um determinado canto da casa, esperando que alguém conhecido aparecesse.

- Uau. A casa é grande. – Brooke comentou, olhando em volta. Ela estava ansiosa para conhecer o cunhado. – Ele mora aqui sozinho? – Ela perguntou.
- Mora. – a respondeu, olhando para ela. – A mãe dele morava na casa ao lado e comprou essa casa para mantê-lo perto. – Ele contou.
- Ah... a tia do , certo? Eu me lembrei da história. – Brooke lembrou de quando o havia lhe contado sobre todo o drama familiar envolvendo a minha família e a família Jonas.
- Agora, a irmã do mora na casa ao lado e ele continua aqui. – ajudou a explicar.
- E foi assim que eles se conheceram? Muito romântico. – Brooke sorriu.
- Muito romântico. – ironizou, recebendo olhares nada amigáveis do .
- Onde eles estão, afinal? Eu quero conhecê-los. – Brooke olhou em volta, tentando ver se conseguia assimilar alguém a algumas fotos que ela havia visto.
- Estou mandando mensagem pra Meg. Ela deve estar vindo. – avisou.
- Falando de mim? – Meg abordou o namorado repentinamente. Ela foi direto reencontrar o namorado e nem ao menos me avisou que eles haviam chegado.
- Oh, hey! Você me achou. – abraçou a namorada na mesma hora e em seguida beijou carinhosamente os seus lábios.
- Que bonitinhos. – disse com um sorriso bobo.
- Ele morreria se você não chegasse em 10 segundos. – brincou, enquanto cumprimentava a Meg.
- Ele é adorável, não é? – Meg ficou toda boba, depositando um beijo no rosto do namorado. Em seguida, ele continuou cumprimentando os outros amigos. Quando chegou a vez de cumprimentar o e sua nova namorada, ela parou por um momento e os analisou. – Jonas. – Ela arqueou uma das sobrancelhas ao olhá-lo. – Achei que não teria o prazer de te rever tão cedo. – Meg brincou ao cumprimentá-lo.
- Eu sei. É exatamente por isso que eu vim. – forçou um sorriso.
- E o que essa garota tão bonita está fazendo do seu lado? – Meg sorriu para Brooke mesmo sem conhecê-la.
- Essa é a Brooke. Brooke, essa é a Meg. – as apresentou. – Tudo bem se você não quiser memorizar o nome dela. Ela não é importante. – Ele sussurrou para a namorada, mas sabia que a Meg estava escutando. Essa era a intenção.
- ! – Brooke olhou feio para o namorado.
- Tudo bem, querida. Estou acostumada. – Meg sorriu para a garota, tentando tranquilizá-la. Ela ainda não entendia o relacionamento doido que existia entre eles. – É um prazer, Brooke. – Ela foi extremamente receptiva. – Agora, eu posso oficialmente dizer que não sou a mais nova do rolê. Seja muito bem-vinda. – Meg brincou, fazendo com que a garota risse.
- Eu gostei dela. Ela é engraçada. – Brooke comentou com o namorado, depois que a Meg se afastou.
- Não. Ela não é engraçada. Ela é insuportável. Repita comigo: Meg é insuportável. – brincou com a namorada, fazendo com que a mesma risse ainda mais.
- Para com isso. – Brooke ainda estava gargalhando, quando se aproximou e selou os lábios do namorado.
- Então, onde estão o Mark e a ? – perguntou para a Meg. Ele estava morrendo de saudades da irmã.
- Eu não sei. A estava na cozinha e o Mark estava ali perto da escada, mas... – Meg olhou em volta. – Eu já os perdi de vista. – Ela completou.
- Eu estou louca para revê-la. – suspirou, enquanto me procurava.
- Entra na fila. – olhou feio para a namorada.
- A cunhada é minha. – fez careta.
- A irmã é minha. Ganhei. – sorriu de forma debochada.
- Estou louca para conhecê-la. Ela deve ser incrível. – Brooke comentou com o namorado, enquanto ouvia os comentários dos amigos.
- Ela deve estar com o Mark. Você vai adorá-lo também. – fez de tudo para soar o mais natural possível. Apesar de tudo, ele não estava tão nervoso quanto achou que estaria. Talvez, ter a Brooke ao seu lado o estava ajudando mais do que ele havia imaginado.
- Achei ela! – sorriu ao me ver de longe. Eu estava de costas, mas ele me reconheceria de qualquer maneira. – Esperem aqui. – Ele pediu, afastando-se dos amigos e indo na minha direção.

Haviam tantas preocupações na minha cabeça, que eu mal tinha notado o sumiço da Meg. Até então, ela estava me ajudando no reabastecimento dos comes e bebes. Já fazia alguns minutos que eu não a via. Quando resolvi parar por um momento para descansar, alguém passou por mim e esbarrou no meu braço. Ao me virar para ver de quem se tratava, fiquei visivelmente surpresa ao finamente encontrar um rosto literalmente familiar. Eu fiquei tão feliz por rever o , que eu nem consegui disfarçar.

- Eu não sabia que vocês já tinham chegado! – Eu sorri, antes de abraçá-lo. Foi tão bom abraçá-lo depois de tanto tempo. – Que bom te ver. – Eu disse, antes de terminar o abraço.
- É bom te ver também. – sorriu, feliz por ver que eu estava bem. – Você parece ocupada. Precisa de ajuda? – Ele foi gentil.
- Não. Eu acho que... todos estão muito bem servidos. – Eu olhei em volta e notei que a grande maioria estava com a boca cheia de comida e com uma bebida nas mãos. – Então, como você está? – Eu voltei a olhá-lo. Eu estava sentindo tanta falta dele.
- Eu estou bem. Você parece bem também. – sempre ficava bastante feliz e aliviado em me ver bem, pois a distância o deixava muito preocupado.
- Eu estou bem sim. – Eu concordei com a cabeça. – Eu estava com tanta saudade! – Eu toquei um dos ombros dele e o balancei pra frente e para trás. Eu o abracei pela segunda vez. Eu não consegui evitar.
- Ok. Você já está me fazendo passar vergonha. – reclamou de toda aquela melação. Ele odiava aquilo.
- Qual é! Você deveria dizer que também estava com saudades! – Eu terminei o abraço para voltar a olhá-lo com desaprovação.
- Eu também estava com saudades. – afirmou, enquanto rolava os olhos. Eu comecei a rir e ele acabou cedendo e rindo também.
- Então, como estão a mãe e o pai? – Eu quis saber.
- Está tudo ótimo. Eles estão trabalhando demais. Me fizeram prometer que eu me certificaria se você está se alimentando bem. – fez careta.
- Não brinca. – Eu ironizei. – Diga a eles que eu tenho comido até demais e que eu estou ótima. – Eu afirmei com um sorriso.
- Eu vou dizer. – concordou.
- Então, você chegou agora? – Eu perguntei. – Onde está a e o resto do pessoal? – Eu tentei demonstrar naturalidade, mas eu estava bastante nervosa.
- Eles... estão ali. – olhou para trás e meus olhos acompanharam a direção para onde ele havia olhado. De onde eu estava, eu consegui ver o e a . Fiz um pouco mais de esforço para poder ver quem mais estava na rodinha com eles. Não consegui ver muita coisa, pois fui abordada pelo Mark.
- Quem você está procurando? – Mark tocou a minha cintura.
- Oh, hey! - Eu sorri ao vê-lo. – Olha quem está aqui. – Eu mostrei que o estava ao meu lado. Ele mal tinha notado.
- ! Como vai, cara? – Mark o cumprimentou na mesma hora.
- Tudo bem! E você? Pronto pra viajar? – perguntou.
- Honestamente, não. – Mark negou com a cabeça. – É difícil pra mim ir e deixar a sua irmã aqui. – Ele foi sincero com o meu irmão.
- Eu sei. – foi bastante compreensivo. – Também preferia que você ficasse por perto, mas... trabalho é trabalho, certo? – Ele comentou em tom de lamentação.
- Uma oportunidade como essa não aparece todos os dias. – Mark ergueu os ombros. – Mas... você não veio sozinho, veio? – Ele olhou em volta e não viu mais ninguém.
- Não. O pessoal está ali. – voltou a mostrar a direção em que os amigos se encontravam. – Vamos lá. – Ele nos chamou e saiu andando. Depois de segurar a minha mão, Mark foi atrás dele e me levou junto. A cada passo que eu dava, as batidas do meu coração aumentavam. Aquele era o momento que eu estava tentando evitar. Nós paramos na frente de todos os meus amigos e mesmo estando muito feliz por ver aqueles rostos tão conhecidos e queridos, minhas pernas estavam um pouco trêmulas. Eu não conseguia controlar. Eu não olhei na direção do , mas através da visão periférica, eu consegui perceber que ele estava ali.

Mesmo tendo se preparado tanto para aquele momento, soube que não estava pronto no momento em que me olhou pela primeira vez em 10 meses. Por mais que ele tentasse se convencer de que aquela em sua frente era a garota de seu irmão, seu coração parecia ignorar aquela informação. Era a impressionante a maneira que seu coração reagia quando ele me via mesmo quando cada parte do seu corpo lutava contra qualquer sentimento que ainda pudesse existir. O sentimento o incomodava e o fazia se sentir mal, mas era algo que ele não conseguia controlar. Não havia mais nada que ele pudesse fazer a respeito senão fingir que estava tudo bem.

- Oi!! – Eu surtei ao ver a . Demos um abraço longo e apertado. – Você está tão bonita! O cabelo está diferente! – Eu notei o novo corte de cabelo da minha melhor amiga imediatamente.
- Você também está incrível. – me olhou da cabeça aos pés. – É tão bom te ver! – Ela sorriu com carinho. Enquanto eu matava a saudade da minha melhor amiga, Mark foi cumprimentando cada um dos meus amigos. e a namorada estavam no final da roda, por isso, foram os últimos a serem cumprimentados.
- Você realmente veio! – Mark não disfarçou a alegria em rever o irmão.
- Me disseram que você tem chorado todas as noites de saudades de mim. Eu não tive opção. – ergueu os ombros. A frase fez com que o Mark risse.
- Idiota. – Mark negou com a cabeça. – Qual é! Pode assumir que você também estava morrendo de saudades. – Ele também brincou.
- Eu estava sim com saudades de alguém , mas não era de você, Markey. Eu e o seu sofá já conversamos e matamos a saudades. Está tudo bem entre nós. – falou sério, o que tornou tudo ainda mais engraçado para o Mark. – É muito bom te ver, irmão. – Ele cedeu. Os irmãos apertaram as mãos e em seguida deram um sincero abraço.
- Que bom que você veio. – Mark disse antes de terminar o abraço e depois de dar alguns tapinhas nas costas do irmão. – E parece que você não veio sozinho. – Ele disse, olhando para a garota ainda desconhecida que estava ao lado do irmão mais novo.
- É... – ficou um pouco sem jeito. – Essa é a Brooke, minha namorada. – Ele disse em alto e bom tom. Mark olhou para a bela garota e sentiu uma felicidade enorme em saber que seu irmão mais novo estava bem e que havia superado o passado que, no caso, era eu. Não tinha a ver comigo ou com ciúmes, tinha ver com o alívio que o Mark sentia em ver o irmão bem novamente.
- É um prazer enorme te conhecer, Brooke. – Mark a cumprimentou com extrema educação e carisma.
- O prazer é meu, Mark. Eu estava ansiosa para conhecer o famoso Mark. – Ela sorriu, sendo simpática.
- Espero que você só tenha escutado coisas boas sobre mim. – Mark disse, olhando para o , que rolou os olhos.
- Realmente, só foram coisas boas. Eu juro. – Brooke voltou a sorrir. – Especialmente sobre o seu sofá. – Ela sussurrou, fazendo Mark gargalhar.
- Esse é um caso de amor antigo. – Mark brincou.
- Estou um pouco enciumada, aliás. – Brooke fingiu olhar feio pro , que também passou a rir do assunto.
- Gostei dela, . Aprovada! – Mark sorriu pro irmão e piscou um dos olhos.
- Ei. Ei. Eu também estou aqui. – demonstrou ciúmes, tentando interromper o meu abraço na .
- Awn! Vem aqui. – Eu terminei o abraço em na mesma hora e fui abraçar o meu ciumento melhor amigo. – Eu estava morrendo de saudades. – Eu o apertei bem forte antes de terminar o abraço.
- Você precisa voltar pra Atlantic City urgente. Nós não somos os mesmos sem você. – sabia que a possibilidade era quase nula, mas ele falou de qualquer forma.
- Eu sinto falta de ter todos vocês por perto. – Eu fiz bico. – Inclusive, da minha cunhada favorita. – Eu sorri para a que estava próxima e prestava atenção na nossa conversa.
- Eu sinto sua falta também! – , que estava dando espaço para e , se aproximou para me cumprimentar. – É muito bom te ver. – Ela me abraçou forte e em seguida depositou um beijo em uma das minhas bochechas. – Aliás, bom trabalho com a festa. – elogiou.
- Obrigada! Ainda bem que a Meg me ajudou com tudo. – Eu olhei para a Meg, que já estava jogada nos braços do . – Aliás, oi, ! Faz tempo que você não me vê também, lembra? – Eu cruzei os braços ao olhá-lo feio.
- Claro que eu lembro! Me desculpe! Eu fiquei um pouco eufórico por rever a Meg. – se desculpou, enquanto se aproximava para me cumprimentar.
- Tudo bem, mas só porque é a Meg! – Eu brinquei antes de ele me abraçar. – Como você está? – Ele perguntou, terminando o abraço.
- Eu estou bem e você? – Eu perguntei.
- Melhor agora. – Ele disse, olhando para a namorada. Todos em volta fizeram sons de ‘awn!’, enquanto a Meg ficava visivelmente corada. Só mesmo o tinha o poder de deixar aquela garota envergonhada.

Eu já havia cumprimentado quase todos que estavam naquela nossa roda de amigos, só faltava mesmo ao dois mais difíceis. Inclusive, ganhei algum tempo conversando com a , enquanto o Mark fazia o mesmo com o . Eu tentei evitar ao máximo aquela situação tão estranha que estava prestes a acontecer, mas não tinha mais como adiar. Eu não queria que o Mark acabasse percebendo que ainda havia algo mal resolvido naquela situação. Aliás, não tinha nada mal resolvido. Só era estranho demais rever o seu ex-namorado, agora cunhado, depois de meses de um término doloroso, mas que foi necessário. Além disso, estava acompanhado. O que é que a namorada dele estava pensando sobre mim? Como ela iria me tratar? Eu descobriria em segundos, pois estava me aproximando deles naquele exato momento. Mark ainda estava conversando com o irmão mais novo e nenhum dos dois notou a minha aproximação. Mesmo com um nó na garganta, eu continuei andando e parei bem ao lado do Mark. Toquei o braço dele para que ele soubesse que eu estava ali.

- Ei. – Mark interrompeu a conversa e me olhou, sorrindo na mesma hora. Senti os olhares do e da namorada sobre mim. Respirei fundo e olhei para ambos com toda a coragem que ainda me restava.
- Oi, . – Eu tentei não soar tão forçada, mas não sabia se tinha conseguido. – Como você está? – Eu perguntei, mantendo o meu melhor sorriso no rosto. Pensei até em me aproximar para cumprimentá-lo como eu tinha feito com todos os outros, mas não tive coragem para tal.
- Hey! – já havia se esquecido de como era a sensação de estar próximo de mim. O coração disparou de uma maneira surreal e ele se sentiu imediatamente mal por isso. Infelizmente, era algo que ele não conseguia controlar. – Eu... estou bem e você? – Ele continuou olhando pra mim com um sorriso fraco no rosto. Conhecendo-o como eu conhecia, eu pude perceber o quão desconfortável ele estava naquele momento.
- Estou bem. – Eu afirmei com o mesmo sorriso. Em seguida, olhei imediatamente para a garota ao lado dele. Ela sorria pra mim. Na mesma hora, ele se sentiu na obrigação de apresentá-la.
- Essa é a Brooke. – colocou uma das mãos nas costas dela e deslizou até a cintura. – Minha namorada. – Ele não ia falar, mas quando se deu conta de que já era óbvio demais, se perguntou: por que não falar?
- Oi, Brooke! – Eu me esforcei para parecer mais simpática possível ao pronunciar aquela frase. Ela continuou sorrindo para mim e para a minha surpresa, se aproximou para me cumprimentar. – É um prazer te conhecer. – Eu disse, enquanto ela afastava o seu rosto do meu. Eu fiquei até sem reação.
- Eu estava ansiosa para te conhecer. Eu tenho escutado todos eles falarem de você há meses! – Ou a Brooke era a pessoa mais simpática de todas ou ela era a mais falsa. Não era possível. Eu fiquei até sem graça com a alegria dela em me conhecer. Eu também notei que todos a minha volta, inclusive o , também ficaram surpresos com a cena atípica. Não é comum que a atual namorada trate uma ex do seu namorado com tanta simpatia.
- É mesmo? – Eu sorri, sem jeito. Olhei involuntariamente para o por um momento e ele também demonstrava um pouco de desconforto com a situação. – Que legal! – Eu não sabia mais o que dizer. – Bom, eu não sei o que eles te disseram, mas... eu espero superar suas expectativas sobre mim. – Eu disse qualquer coisa que pudesse retribuir um pouco da simpatia com que ela havia me tratado. Eu não queria que ela tivesse uma péssima impressão de mim.
- Você já superou. Eu adorei você! – A cada frase adorável dela, eu me sentia péssima por estar achando a situação extremamente estranha.
- Eu também adorei você. – Eu respondi na mesma hora por educação. Não que houvesse algum problema com ela. Eu é que não estava conseguindo lidar com a situação com a naturalidade que eu deveria.
- ! Eu queria beber alguma coisa. – aproximou-se para me salvar. Ela tinha interrompido de propósito.
- Tem... ali na cozinha. Eu te mostro. – Eu consegui o que eu tanto queria: uma ótima desculpa para sair dali. – Licença. – Olhei rapidamente para o , que parecia ter entendido tudo o que havia acabado de acontecer. Sorri novamente para Brooke. – Foi um prazer, Brooke. – Eu disse, antes de me virar. Olhei para o Mark e esbocei um fraco sorriso, tentando convencê-lo de que estava tudo bem. – Eu volto já. – Pisquei para ele, que confirmou com a cabeça. Me afastei da roda de amigos ao lado de e seguimos em direção a cozinha. Não trocamos uma só palavra até chegarmos na cozinha.
- . – suspirou assim que adentramos a cozinha.
- O que foi isso que acabou de acontecer? – Eu olhei para ela, confusa.
- Eu sei. Foi horrível! Eu achei que você fosse travar. – fez careta.
- Qual o problema com essa garota? Por que... – Eu ergui os ombros, sem conseguir entender. – Por que ela está me tratando assim? Parece até que ela não sabe quem eu sou. – Eu ainda estava um pouco nervosa com o ocorrido.
- Então... – mordeu o seu lábio inferior. Só ao ver a expressão no rosto dela, eu já sabia que havia algo errado.
- O que foi!? – Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Ela não sabe. – forçou um sorriso.
- Ela o quê? – Eu perguntei, incrédula.
- Eu também achei que foi errado, mas... o preferiu não contar pra ela sobre... o passado de vocês. – contou de uma vez.
- Eu não acredito. – Eu disse em meio a um longo suspiro. – É por isso que ela estava me tratando daquele jeito tão adorável. Ela... não estava sendo forçada ou... falsa. – Eu até me senti mal quando me dei conta de que havia julgado a garota sem saber.
- Ela estava bastante ansiosa para conhecer você e o Mark. Nós falamos muito sobre vocês, especialmente você. – complementou.
- Eu sou uma idiota. – Eu me lamentei por um momento.
- Você não sabia. Você não estava esperando toda essa receptividade dela. Está tudo bem. – tentou me consolar.
- Mas... por quê? – Eu neguei com a cabeça. – Por que ele não contou pra ela? Isso poderia terminar mal para ele de tantas maneiras. Alguém poderia dizer alguma coisa ou... – Eu hesitei por um momento.
- Ou ela poderia notar a maneira com que vocês dois se olham. – completou a frase por mim.
- Não. Para isso. – Eu rolei os olhos.
- Eu não estou falando que vocês estão flertando. Eu só estou dizendo que... quando vocês se olham... – demorou alguns segundos para completar a frase. – Deveria ser algo normal, certo? Vocês terminaram e seguiram suas vidas. Eu não sei explicar. – Ela ergueu os ombros. – É como se ainda houvesse algo pendente entre vocês, entende? – estava sendo completamente sincera.
- Não existe pendência alguma. – Eu afirmei com firmeza, pois era isso o que eu realmente acreditava. – Nós seguimos em frente. Eu estou com o Mark e o com a Brooke. Aliás, nós dois estamos muito bem acompanhados. A Brooke é... – Eu não soube exatamente qual palavra usar.
- Ela é demais. – concordou na mesma hora.
- Ela é incrível. – Eu disse em meio a um fraco sorriso. – Essa é a primeira vez que eu e o nós vemos depois de término. É normal nós agirmos de maneira estranha. Não tem nada a ver com sentimentos ou... nada disso. É só... estranho. – Eu ergui os ombros.
- Eu entendo. – foi extremamente compreensiva.
- Então, você ainda quer uma bebida ou... – Eu aproveitei que já estávamos ali.
- Eu vou aceitar. É o que vai dirigir mesmo. – riu, me fazendo rir também.
- Eu pego pra você! – Eu me prontifiquei a pegar a bebida. – Vocês vieram em dois carros? – Eu deduzi quando ela mencionou que o iria dirigir. Se todos tivessem vindo no carro do , ele jamais deixaria o dirigir.
- Viemos. O e o trabalham amanhã de manhã e provavelmente vão voltar para Atlantic City mais cedo. O e a Brooke vieram comigo e com o . – explicou.
- Entendi. Bem, que ótimo. Assim, eu posso aproveitar um pouquinho mais com o meu casal favorito. – Eu sorri, entregando a bebida para ela. – Não deixe que os outros saibam. – Eu sussurrei, olhando em volta.
- Eu não vou contar nada. – riu, pegando o copo da minha mão. – Pronta para voltar para lá? – Ela perguntou, referindo-se à festa.
- Pronta. – Eu confirmei. – Só não estou pronta para me despedir do Mark amanhã. – Eu fiz bico.
- Deve ser muito difícil. – disse em tom de lamentação, enquanto andávamos na direção da porta da cozinha.

Quando passamos pela porta da cozinha e consequentemente voltamos para a festa, começamos a andar na direção em que os nossos amigos estavam. De onde eu estava, eu tive a visão perfeita do e da Brooke. Eu continuei andando na direção deles e vi quando o disse algo no ouvido dela que a fez rir. Ela tocou o rosto dele, beijou uma de suas bochechas e depois selou os lábios dele. correspondeu ao beijo, enquanto colocava uma mecha do cabelo dela atrás de sua orelha. Eu parei de andar no momento em que eu não consegui mais continuar andando. Mais uma atitude involuntária que eu não consegui evitar. Eu simplesmente parei no meio do caminho. Eu paralisei. não percebeu que eu havia parado e continuou dando mais alguns passos. A minha reação ao ver a cena do e da Brooke me pegou de surpresa. Eu diria até que ela me assustou um pouco. Eu realmente não sei o que aconteceu e porque aconteceu.

- Espera. – Eu a chamei e ela olhou pra trás. voltou alguns passos e parou na minha frente. – Eu... – Eu olhei em volta, tentando encontrar uma boa desculpa para a minha parada repentina. – Eu... acho que alguns amigos do Mark estão sem bebida. Eu... vou dar uma volta pra ver se está faltando alguma coisa. – Eu inventei a desculpa mais realista possível, pois sabia que a não se deixava enganar tão fácil.
- Ok... – estranhou um pouco, mas nada que a deixasse preocupada. – Você precisa de ajuda? Eu posso... – Ela ofereceu.
- Não. Não precisa. – Eu neguei na mesma hora. – O Mark me apresenta pra todo mundo e... todo mundo fica puxando assunto comigo. Não é exatamente uma coisa divertida. – Eu fiz careta.
- Eu sei como é. – riu. – Então, eu vou voltar pra lá. Se você precisar de qualquer coisa, você pode chamar. – Ela disse, sendo a amiga adorável que ela sempre foi.
- Obrigada. Vejo você daqui a pouco. – Sorri e pisquei um dos olhos pra ela.

Agir daquela maneira estava me deixando muito perplexa e irritada. Não deveria ser assim! Eu estou com o Mark e amo o Mark com todo o meu coração. Qual o problema, agora? Por que o que o faz ou deixa de fazer continuava influenciando tanto na minha vida? Eu não conseguia entender. Mesmo estando completamente pensativa sobre isso, peguei dois ou três potes de aperitivos que estavam vazios e me dirigi até a cozinha para enchê-los novamente. Ao entrar na cozinha, aproveitei que estava sozinha e me permiti tentar entender o que eu estava sentindo com relação a tudo aquilo. Ver o tratando a Brooke daquela maneira me desestabilizou completamente. Felizmente, eu sabia que não tratava-se de ciúmes, porque eu sabia exatamente como era esse sentimento. Era diferente. Mais uma vez, eu não conseguia explicar. Ver o e a Brooke como um casal só me trazia um aperto no peito. E pior de tudo era: eu tinha gostado da Brooke.

Algumas pessoas entraram na cozinha, me trazendo de volta para realidade. Na hora, eu me recompus e consegui até colocar um sorriso no rosto. Enchi os potes de aperitivos e voltei para a festa com eles em mãos. Deixei os potes nos lugares em que estavam e de onde eu estava, notei que o Mark estava a alguns passos de mim. Ele conversava com alguns colegas que haviam acabado de chegar. Fiquei ali, olhando para ele e sorri involuntariamente ao vê-lo rir de alguma coisa aleatória. Aos poucos, eu sentia que a minha ficha estava caindo com relação a viagem que ele faria no dia seguinte. Uma sensação estranha me fez ir até ele. Cheguei do lado dele e tive vontade de abraçá-lo, mas eu não podia, pois não queria atrapalhar a conversa dele. Mark me olhou e sorriu.

- Que bom que você está aqui. Eu quero que você conheça o meu parceiro. – Mark disse, me fazendo olhar para o amigo em nossa frente. – Essa é a , minha namorada. – Ele me apresentou com todo o orgulho.
- Como vai? – Eu fiz de tudo para ser a pessoa mais simpática de todas.
- Tudo ótimo! – O parceiro também foi bastante simpático. Quando a esposa do mesmo se aproximou, eu fui novamente apresentada e começamos a conversar sobre o quão perigosa era aquela profissão e o quanto ficávamos preocupadas. Mark e o parceiro conversavam sobre outro assunto, mas, mesmo assim, ele aproveitou que estávamos lado a lado para tocar a minha mão e entrelaçar os nossos dedos. A atitude dele me fez sorrir, enquanto eu continuava prestando a atenção no que a esposa do rapaz me falava. Eu definitivamente vou sentir falta de momentos como aquele.

Como a festa era do Mark, não era surpresa alguma que o local estivesse lotado de pessoas que eu não conhecia. Ele até tinha me apresentado para alguns, mas eu não conseguia lembrar o nome de ninguém. Com isso, Mark esteve ocupado durante toda a festa e isso infelizmente impossibilitou que curtíssimos juntos a última noite dele em Nova York. Em alguns momentos eu cheguei a me arrepender de ter dado a ideia para fazer aquela festa, mas todas as vezes que eu olhava pra ele, ele parecia estar se divertindo tanto, que o sentimento de arrependimento desaparecia.

Com o Mark dando atenção aos seus amigos e eu evitando os meus, a festa se tornou extremamente chata pra mim. Eu queria tanto poder ficar com os meus melhores amigos e colocar todas as novidades em dia, mas eu simplesmente não conseguia me manter perto do e da Brooke. A minha atitude era extremamente patética, eu sei! Eu estava ciente disso, mas eu não conseguia evitar. Era mais forte que eu.

Quase duas horas de festa e eu já queria mandar todo mundo embora. Eu tentei me manter ocupada durante toda a noite para que meus amigos não percebessem que eu estava evitando o mais novo casal da turma. Eu estava cansada de servir todo mundo e por um momento eu decidi me sentar em um daqueles bancos mais altos que ficavam atrás do balcão na sala de estar. De onde eu estava, eu novamente cometi o erro de olhar na direção em que os meus amigos estavam e tive que ver uma nova cena romântica do casal recém-formado: e Brooke. Eles conversavam sobre alguma coisa e ele estava dando sua total atenção para ela. Ele a olhava da maneira que eu conhecia tão bem. Quando a Brooke terminou de falar, ele afirmou com a cabeça com o seu sorriso maravilhoso de sempre e acariciou o rosto dela antes de depositar um beijo carinhoso na testa dela. Por um momento, eu me lembrei de todas as vezes que o tinha feito exatamente as mesmas coisas comigo. Ele estava tratando a Brooke exatamente como ele costumava me tratar. Eu havia desejado tanto que ele encontrasse alguém assim e agora que ele havia encontrado, eu não conseguia lidar com isso. Me fazia mal. Me deixava triste. Eu não conseguia entender.

Mesmo sabendo que era errado, eu não conseguia controlar esse tipo de coisa. Além disso, eu não me sentia confortável em falar sobre isso pra ninguém, porque eu sabia exatamente o que aqueles sentimentos faziam de mim. Eu sabia o tipo de pessoa que eles me tornavam e mesmo não tendo culpa, eu ainda seria aquela pessoa que supostamente amava dois irmãos. Definitivamente aquela não era a festa de despedida que eu esperava que fosse e nem a festa que o Mark merecia. Só mesmo pelo Mark eu poderia enfrentar uma situação como aquela sem perder a compostura. Apesar do fato de o estar com outra pessoa me afetar tanto, isso não abalava nem um pouco o que eu sentia pelo Mark. Eu não tinha qualquer dúvida sobre o amor que eu sentia por ele. Isso era o que acalmava o meu coração. Seria terrível ter deixado o ir embora da minha vida se eu não tivesse alguém que ficasse em seu lugar e que o substituísse com tanta propriedade.

Me esforçando para ser discreta e não atrair a atenção dos meus amigos, eu me retirei da sala, que era onde estava acontecendo a festa e fui até a cozinha. Como encontrei alguns amigos do Mark ali, resolvi passar pela porta e ir até o quintal. Completamente sozinha, eu dei alguns passos e parei em frente a piscina. Por um momento, fiquei questionando a mim mesma sobre o que seria da minha vida depois que o Mark fosse para fora do país. Quer dizer, além da Meg, ele era a única pessoa que eu sempre tive naquela cidade. O Mark era a minha base em Nova York. Ele sempre foi. Agora, ele ia embora. O que eu faria além de ir da faculdade pro trabalho todos os dias? A distância me assustava. Eu não podia negar.

Fiquei algum tempo encarando a piscina, enquanto pensava no meu futuro e na minha vida em Nova York. Estava tão distraída que não percebi quando alguém se aproximou. Mesmo estando ao meu lado, eu só percebi que ela estava ali quando eu ouvi a sua voz.

- Oi! – Brooke estava ali ao meu lado. Virei o meu rosto para olhá-la, tentando voltar para a realidade. – Espero não ter te assustado. – Ela sorriu.
- Não, não! Você não assustou. – Eu sorri para ela, tentando tranquilizá-la.
- Desculpa ter vindo até aqui. Eu... fui até a cozinha e vi a porta aberta. Eu sou um pouco curiosa. – Ela fez careta.
- Imagina! Não tem problema. – Eu neguei com a cabeça. Mesmo sendo simpática, eu não sabia como começar um assunto sem parecer tão forçada. Eu era péssima naquilo.
- Deve ser difícil, não é? – Brooke percebeu que eu estava um pouco abatida.
- Você está se referindo a viagem do Mark? Sim... – Eu afirmei com a cabeça. – É muito difícil. – Eu fui sincera.
- Eu tenho certeza de que vocês vão ficar bem. Vocês são incríveis juntos e... parecem gostar muito um do outro. – Brooke tentou me consolar e fez isso da maneira mais adorável de todas. O apoio dela me fez sorrir pra ela e eu nem precisei me esforçar para isso.
- Nós gostamos. – Eu confirmei ainda sorrindo para ela. – Obrigada por me dizer isso. Eu estou um pouco melhor agora. – Eu quis retribuir o gesto dela. Ela sorriu pra mim, feliz por ter me ajudado de alguma forma.
- Isso também está sendo um pouco difícil pro . Ele não fala muito sobre o assunto, mas... quando ele me convidou para vir na festa de despedida, ele me contou que achava que o Mark já tinha desistido da viagem. Ele não estava mais esperando que o irmão fosse fazer essa viagem. – Brooke expôs sua preocupação com o seu namorado, o que era totalmente normal, mas algo me chamou a atenção.
- Como assim achou que o Mark tinha desistido da viagem? – Eu não tinha entendido.
- O disse que soube sobre a viagem quando ele ainda estava aqui em Nova York, mas que o irmão tinha desistido. Então, ele foi pego de surpresa quando soube que o Mark iria realmente viajar. – Brooke contou com toda a inocência do mundo. Mal sabia ela o significado daquela informação.
- Ele sabia. – Eu pensei alto, completamente surpresa. O sempre soube sobre a viagem e nunca havia me dito nada. Ele poderia ter usado isso a seu favor, mas... não usou. No momento, isso significou muito mais para mim do que deveria.
- O que? – Brooke fez careta ao me olhar.
- Nada. Eu só... estou pensando alto. – Eu sorri, sem jeito. – Então... – Eu quis imediatamente mudar de assunto. Não só para não ter que me explicar, mas para não continuar pensando sobre o assunto. – Eu ainda não sei como você e o se conheceram. – Eu disse a primeira coisa que me veio a mente.
- Nós fazemos o mesmo curso na faculdade. – Brooke adorava falar sobre aquele assunto.
- Ah, vocês estão na mesma sala? – Eu deduzi.
- Não. Estamos em semestres diferentes. Eu estou um semestre antes dele. – Brooke explicou. – Assim que eu entrei na faculdade, eu... já gostei dele. Mesmo assim, eu não tive coragem para me aproximar dele. Então, do nada... ele desapareceu. – Ela gostava de contar aquela história. – Eu já tinha até me esquecido dele, quando ele reapareceu na faculdade. Por ter ficado algum tempo fora, ele precisou assistir algumas aulas do semestre anterior que ele havia perdido e nós acabamos nos conhecendo. Eu acabei ajudando ele com algumas matérias e... quando eu me dei conta, já estávamos namorando. – Brooke contou cada detalhe com tanto zelo e amor, que eu até fiquei curiosa para ouvir até o final.
- Não acredito. Que história legal! Ainda bem que ele se afastou da faculdade por um tempo, certo? Nada é por acaso. – Eu comentei como se não estivesse completamente envolvida naquela história que ela havia acabado de me contar.
- Eu também acho. – Brooke sorriu ao concordar. – E você e o Mark, como se conheceram? – Ela perguntou.
- Bom... – Por onde eu deveria começar? – O deve ter te contado que ele é filho da minha tia, não é? – Eu perguntei e Brooke confirmou. – Então, minha tia morava na casa ao lado e em um feriado eu vim visitá-la e... ele estava aqui. O Mark demonstrou interesse imediato, mas... na época eu... estava em outra, sabe? Eu não dei muita moral pra ele. – Eu disse em meio a uma careta que a fez rir. – Demorou algum tempo, mas... nós nos reencontramos no momento certo. Entende o que eu quero dizer? – Eu não sabia se tinha sido clara.
- Entendo. – Brooke afirmou na mesma hora. – Nada é por acaso, certo? – Ela repetiu a minha frase anterior.
- Certo. – Eu concordei em meio a um sorriso.
- E... como você conheceu o ? – Mais uma vez, ela me pegou de surpresa. Eu não esperava ter que responder uma pergunta como aquela. O que eu deveria dizer? Ele me salvou de um acidente?
- Ele... sempre foi amigo do meu irmão. Então... foi através do . – Eu fui bem direta na resposta para não correr o risco de me enrolar com ela.
- Eles parecem ser bem amigos mesmo. – Brooke não havia se surpreendido com a resposta, que era um pouco óbvia. – Aliás, todos vocês parecem ser bem próximos. Eu admiro muito isso. – Ela disse e no segundo seguinte olhou na direção da porta. Nós já não éramos mais as únicas no quintal. Eu também virei o meu rosto para ver quem era e me deparei com um apreensivo e tenso. Eu acho que ele não esperava nos ver juntas e dava pra ver isso no rosto dele. – ! – Brooke sorriu ao vê-lo. – Eu estava aqui contando pra como nós nos conhecemos. – Ela disse, vendo o namorado se aproximar. Até mesmo eu fiquei sem jeito com a situação. Eu queria sair correndo dali, mas não sabia como fazer isso.
- É mesmo? – parou ao lado da namorada e depois de sorrir pra ela, ele me olhou. Ele tentou sorrir, mas eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava bastante incomodado com a situação.
- É uma ótima história. – Eu disse qualquer coisa que quebrasse aquele estranho silêncio que se estabeleceu. Ele não conseguiu me dizer nada. apenas forçou um novo sorriso e fez o mesmo ao voltar a olhar para a Brooke.
- O que você está fazendo aqui? Eu estava te procurando. – dirigiu-se a namorada.
- Eu vim buscar uma bebida na cozinha, vi a porta aberta e acabei vendo a aqui. – Brooke explicou da maneira bem-humorada de sempre. estava bastante desconfortável. Era visível. – Aliás, eu vou pegar essa bebida agora mesmo, porque eu estou morrendo de sede. – Ela comunicou e eu achei que ela levaria o com ela, mas eu estava errada. Ela simplesmente saiu e nos deixou ali, sozinhos.

Para evitar a troca de olhares entre nós, eu e o nos viramos e observamos enquanto Brooke se afastava e, por fim, entrava na casa. Agora, estávamos oficialmente sozinhos e isso me deixou um pouco nervosa. também ficou tenso e não sabia como se retirar sem parecer idiota ou mal-educado. O silêncio permaneceu. Eu deixei de olhar na direção da porta e abaixei a minha cabeça, encarando os meus dedos.

- Ela é... – Eu comecei a dizer com um fraco sorriso. Eu demorei alguns segundos para encontrar a palavra certa para completar a frase. Nesse meio tempo, ele me olhou de verdade pela primeira vez na noite. – Perfeita. – Eu finalmente completei a frase. Eu precisava dizer isso a ele.
- Sim... – esboçou um fraco sorriso. – Ela é. – Ele disse em um tom de orgulho.
- Foi bom te ver assim... Feliz. – Eu continuei sorrindo.
- Foi bom te ver também. – respondeu, afirmando sutilmente com a cabeça. Ele parecia calmo, mas seu coração estava extremamente acelerado. Foi a deixa que ele precisava para se retirar. Ele precisava se retirar. Ele me olhou pela última vez antes de se afastar.

Apesar de ter sido uma rápida conversa, eu estava feliz com ela. Poder conversar com ele e perceber que, apesar do estranho clima entre nós, ele não demonstrava guardar ódio ou mágoas de mim tirou um peso enorme do meu coração. Já para o , a nossa conversa não havia sido tão boa assim. As reações involuntárias do seu corpo e dos seus sentimentos deixavam ele tenso e faziam com que ele se sentisse culpado. Como se o sentimento de culpa já não fosse o bastante, ainda encontrou o Mark na porta que dava acesso a casa e a primeira coisa que o irmão mais velho fez, foi ver que eu era a única pessoa no quintal da casa, ou seja, ele percebeu que eu e o estávamos sozinhos ali.

- Hey. – sorriu ao esbarrar no irmão.
- Oi. – Mark olhou na minha direção. Eu ainda não havia notado que ele estava lá.
- A Brooke está aqui na cozinha, né? Essa garota não para. – estava se sentindo tão culpado que precisou mencionar o nome da Brooke para deixar a situação menos constrangedora. Ele não deixou nem que o Mark respondesse e já foi logo entrando na casa. Mark nem percebeu o nervosismo do irmão, os olhos dele estavam fixos em mim.
- . – Mark me chamou, depois de dar alguns passos na minha direção.
- Oi. – Eu me virei e sorri ao vê-lo. As poucas frases que eu e o trocamos me fizeram bem e me mostraram que, talvez, ainda poderíamos ser amigos um dia. Nós só precisávamos de tempo para nos adaptar com toda a situação nova em que nos encontrávamos. Além disso, eu também estava feliz com a presença do Mark ali. Desde que havia começado a festa, não tínhamos tido sequer um momento sozinhos. Eu gostava desses momentos, especialmente sabendo que ele iria viajar na manhã seguinte. – Gostando da sua festa? – Eu me aproximei dele com um sorriso nos lábios e passei meus braços em volta do corpo dele.

Mark estava um pouco confuso com tudo aquilo. Ele concluiu que eu e o estávamos sozinhos e, agora, eu estava sorrindo. Apesar de ser sua festa de despedida e sua última noite em Nova York, eu estava sorrindo! Mark não conseguiu lidar com isso muito bem. Na verdade, ele tirou todas as conclusões erradas. Não tinha a ver comigo ou com o . Tinha a ver com a insegurança dele e com toda a história que eu e o construímos durante o tempo que estivemos juntos. A viagem e o relacionamento a distância também o assustavam bastante. Foi como se tudo isso tivesse colidido de uma só vez.

- Eu... – Mark parecia longe e até mesmo um pouco confuso. – Eu estou gostando. – Ele afirmou de maneira insegura. Eu estranhei o comportamento dele na mesma hora. Fiquei olhando para ele, tentando identificar o problema. – E você? Está se divertindo? – Ele perguntou de uma maneira estranha. Foi frio e tinha um tom de deboche que não era dele.
- Eu... – A atitude dele me deixou um pouco perdida. Parecia que qualquer resposta minha seria julgada. Eu não entendia o que estava acontecendo.
- Seus amigos estão aqui. Você está fugindo deles a noite toda. Qual o problema? – Mark não conseguiu enrolar e foi direto ao assunto.
- Eu não estou fugindo deles, eu só... – Eu comecei a dizer, mas fui interrompida.
- Você está ocupada com a minha festa de despedida. Está tentando fazer dela inesquecível, não é? Tentando fazer dela uma boa memória, quando, na verdade, deveria ser a pior, afinal, é a minha despedida. – Mark estava agindo como um louco. Eu nunca tinha visto ele falar ou agir daquela forma com ninguém. Deixei de tocá-lo e dei alguns passos para trás.
- Espera. Você está brincando, certo? – Eu sorri e vi a expressão no rosto dele manter-se séria. – Você concordou com essa festa. – Eu fiz questão de lembrá-lo.
- Eu concordei. Eu sei! – Mark confirmou. – Mas essa festa não muda o fato de que hoje é a nossa última noite juntos e também não muda o fato de que amanhã eu vou para a Bélgica. Isso está sendo difícil pra mim e todas as vezes que eu olhei pra você essa noite você estava servindo mesas, sorrindo, fugindo dos seus amigos e conversando a sós com o meu irmão no meu jardim. – Eu costumava me sair muito bem naquele tipo de discussão quando era com o , mas com o Mark, eu nem sabia o que dizer. Eu não estava esperando aquilo. Demorei para conseguir dizer qualquer coisa sobre suas sujas insinuações.
- Você enlouqueceu. – Eu disse em meio a um confuso sorriso. Eu estava literalmente rindo para não chorar. O que estava acontecendo ali? – Eu estou planejando essa festa há semanas para que tudo saísse perfeito, porque você merecia que tudo fosse perfeito. Eu queria que todos tivessem a chance de se despedir e que você se sentisse amado por todos. – As insinuações dele já estavam me deixando irritada.
- É isso o que você está fazendo? Tentando se despedir de mim? Tentando fazer com que eu me sinta amado por você? Porquê? – Mark arqueou uma das sobrancelhas. – Aposto que você acha que não vamos nos ver de novo. – Mais uma vez a frieza dele me chamou a atenção. Frieza nunca foi uma característica dele.
- Por que você está falando desse jeito? – Eu fui pega de surpresa com o comportamento dele que não sabia como reagir. Eu não sabia se eu deveria consolá-lo e dizer coisas positivas ou se eu deveria mandá-lo ir a merda. Nós não costumávamos brigar. Nós nunca brigávamos.
- Você sabe que não vai funcionar, não é? Essa coisa de relacionamento a distância, você sabe como é e sabe que não vamos sobreviver a isso. – Mark ficou mais sério. Os olhos dele me pressionavam e me julgavam a todo o momento.
- Eu não sei o que deu em você. Eu não sei porque você está me dizendo isso, mas...Você está errado. – Eu neguei com a cabeça e ele sorriu com deboche, como se não concordasse com o que eu havia dito. – Mark, a situação é completamente diferente! – Eu afirmei com um pouco mais de irritação.
- Você insistiu para que eu fizesse essa viagem desde o começo! – Mark afirmou como se fosse uma coisa ruim. O que ele estava insinuando?
- Eu estava pensando no seu futuro e na sua carreira! – Eu argumentei na mesma hora. A cada frase ele me deixava mais perplexa.
- Será... que foi só por isso? – Mark ainda estava confuso, mas, além disso, ele estava chateado e irritado. Doía nele dizer em voz alta algo que o havia assombrado nas últimas semanas. A frase dele e o que ele estava supondo era pesado e sujo demais. Demorei para processar a grave acusação que ele estava fazendo.
- Não faça isso. – Eu sabia que se ele seguisse por aquele caminho, muita coisa mudaria entre nós.
- Eu vi o jeito que você olha pra ele. – Mark argumentou com um tom de decepção. Ele deixou de me olhar, pois se continuasse me olhando, ele não conseguiria seguir com aquilo. Era tão absurdo que eu nem consegui me sentir mal por ele.
- O jeito que eu olho pra ele? Você só pode estar brincando! – Eu neguei com a cabeça, incrédula. – Mark, é a primeira vez que eu vejo o seu irmão depois do que aconteceu. O que você esperava? Que eu fingisse que não conhecia ele? Que eu me sentasse ao lado dele e perguntasse sobre o trabalho ou a faculdade? É estranho pra mim e é estranho pra ele. Isso não significa nada! – Agora, eu estava oficialmente ofendida com as acusações dele. Não era justo. – Se a sua ex-namorada passasse por essa porta agora. – Eu apontei. – Como você olharia pra ela? Como você a trataria? – Eu continuei olhando pra ele, séria.
- Ok, eu entendi o que está dizendo, mas... – Mark hesitou por um momento. – Isso é mesmo tão importante e doloroso pra você a ponto de te afastar dos seus amigos? Você estava sentindo tanta saudade de todos eles e hoje você tinha a oportunidade de ficar perto deles e você simplesmente fugiu deles durante toda a festa. Por quê? Por que não aproveitar a festa com eles? – Mark perguntou, tentando me fazer assumir qualquer coisa. Eu não tinha nada pra assumir. Eu tinha sim evitado os meus amigos e principalmente o , mas isso não significa que eu estava pensando em trocar o Mark pelo . Isso não queria dizer que eu sentia alguma coisa pelo . Como eu disse, tudo ainda era muito recente. Eu precisava de um tempo para lidar com tudo aquilo.
- Eu sinceramente não entendo onde você quer chegar com isso. Eu não sei o que você quer que eu diga. – Eu estava visivelmente decepcionada e cansada daquela conversa cheia de acusações. Além disso, eu estava ciente que ele havia bebido um pouco na festa. Ele não estava bêbado. Pelo contrário, ele estava ciente de tudo o que ele estava dizendo, mas eu sabia que a bebida havia ajudado ele a ter coragem de tirar satisfação comigo por situações isoladas e perfeitamente normais que apenas haviam intensificado toda a insegurança que ele sentia. A insegurança que ele sentia desde o dia que começamos a ficar juntos. – Eu não tenho que ouvir isso. Não depois de tudo o que fiz por nós. – Eu estava pronta para me afastar. Eu sabia que se continuássemos aquela discussão, não acabaria bem. – Eu realmente espero que tudo isso tenha sido uma tentativa descabida sua de me fazer desistir de te esperar, porque... a outra alternativa é muito decepcionante. – Eu deixei de olhá-lo e me virei. Cheguei a dar alguns passos, quando voltei a ouvir a voz dele.
- Você não quis ficar com os seus amigos porque você não suporta ver ele com a Brooke. Você está com ciúmes. – Mark disse em um tom um pouco mais alto. A frase dele me fez parar de andar na mesma hora. Agora sim eu estava furiosa.
- O que... – Eu o olhei de longe e dei alguns passos na direção dele. – O que foi que você disse? – Eu perguntei. Eu tinha escutado errado. Não era possível!
- Você não quis ficar perto dos seus amigos porque você está com ciúmes do com a Brooke. – Mark estava convicto do que estava dizendo. Ele estava cego. – Eu estou certo, não estou? – Ele aproveitou-se do meu silêncio para perguntar. Eu estava tão surpresa, que demorei para conseguir dizer alguma coisa. Eu só olhava pra ele e me perguntava se eu realmente conhecia aquele cara que estava na minha frente.
- Quem você pensa que eu sou? – Eu arqueei a sobrancelha ao encará-lo.
- Você sempre foi apaixonada por ele. – Mark argumentou sem pensar duas vezes.
- Então, até agora o meu amor era o suficiente pra você. Agora que você vai Bélgica, ele não é mais? Você está desistindo e está tentando colocar a culpa em mim! – Eu continuei encarando-o.
- Eu estou desistindo? – Mark apontou pra si mesmo. – Eu nem mesmo queria ir pra Bélgica! Eu tinha decidido ficar! – Ele defendeu-se. – Você me convenceu a fazer essa viagem! Você não tem coragem de terminar comigo de novo e encontrou uma maneira de acabar com tudo sem sujar as suas mãos!! – Mark também ficou um pouco desestabilizado naquele momento.
- Você está me ofendendo! – Eu disse a frase com raiva, mas infelizmente senti algumas lágrimas alcançarem os meus olhos. Eu não queria chorar. Ele não merecia.
- Você me ofende quando me trata como se eu fosse um idiota. Quando acha que só porque eu amo você, eu não consigo ver o que está bem na minha frente! – Mark foi grosseiro e frio mais uma vez. Eu não conseguia aceitar aquela mudança de comportamento tão repentino. Ele parecia outra pessoa. Ele nunca havia me tratado daquela maneira.
- Eu não sei o que você acha que está vendo e, honestamente, eu não quero nem saber. – Eu fiz uma breve pausa. – Eu juro que não sei como atitudes como essa ainda me surpreendem. Especialmente, tratando-se de um Jonas. – Eu disse em tom de desabafo.
- O que você quer dizer? – Mark mostrou-se ofendido.
- Estar perto de você sempre me fez bem, porque, além dos meus sentimentos, fazia com que eu me sentisse mais próxima da minha tia. Agora, olhando pra você, eu só consigo ver o Steven. – Ouvir o nome de seu pai não o agradou muito. – Talvez, você tenha mais em comum com ele do que você imagina. – Eu disse aquela frase sabendo o quanto aquilo o afetaria. No momento, eu só queria devolver as duras palavras que ele havia me dito.

Minhas palavras realmente tinham aborrecido o Mark. Eu conseguia ver a raiva e o arrependimento em seus olhos. Ao ser radicalmente comparado com o pai, Mark pode perceber o quão longe havia ido e o tamanho do estrago que sua insegurança havia causado. Ainda assim, ele não pensou em se desculpar ou em voltar atrás em tudo o que havia me dito. O pouco do orgulho que ele tinha o impediu no primeiro momento. Ele apenas continuou me olhando, sem saber como se defender. Vê-lo completamente sem reação me fez sentir vontade de ir embora dali, daquela festa e ficar sozinha. Olhei para ele uma última vez, cheguei a me virar, mas permaneci para finalizar aquela horrível discussão.

- Eu não estou me justificando, porque eu não preciso, mas... só pra você saber, eu e o estávamos conversando sobre a Brooke. Eu estava falando que ela é perfeita pra ele. – Eu quis jogar isso na cara dele. Primeiro, porque eu estava com raiva e segundo, porque eu queria que ele se sentisse culpado por tudo o que ele havia me acusado. – Se você não acredita em mim, pode perguntar para ele depois. – Eu achei que não tinha mais nada a dizer.
- ... – Mark já demonstrava estar um pouco mais arrependido, quando chamou o meu nome ao me ver dar poucos passos na direção da porta. Eu estava tão indignada com o que havia acontecido, que eu estava sentindo vontade de jogar tudo o que eu podia na cara dele. De onde eu estava, eu parei e me virei para olhá-lo pela última vez.
- Se você queria que a nossa despedida fosse triste e inesquecível. Meus parabéns. Você acabou de conseguir! – Eu disse em um tom de voz mais alto, pois eu estava um pouco distante dele. Dali, eu me virei de costa e segui até a porta da casa.
- Espera! – Mark ainda gritou, tentando me impedir. Naquele momento, ele já sabia o tamanho da besteira que havia cometido.

Eu estava completamente decepcionada e triste com o que havia acabado de acontecer. Eu estava triste por ter me decepcionado com a pessoa mais incrível que eu já havia conhecido. Eu estava desolada por ter visto aquele lado do Mark e também por ter precisado dizer todas aquelas coisas pra ele. Foi a única e pior discussão que já havíamos tido e, honestamente, eu não sabia se conseguiríamos sobreviver a ela.

Entrei na casa me segurando para não chorar. Fui passando pelos convidados e, mais uma vez, evitei os meus amigos. Eu não queria que eles me vissem daquele jeito. Eu não queria ver ninguém. Eu só precisava sair dali e ficar sozinha pra poder chorar tudo o que eu queria e precisava chorar. Passei pela sala e alcancei a porta, que eu abri rapidamente. Depois de sair da casa, fechei a porta e continuei algum tempo na frente dela, enquanto eu tirava aquela armadura que eu havia colocado em mim mesma. Respirei fundo e naquele momento eu sabia que não precisava mais esconder as minhas lágrimas de ninguém.

Meus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente. Eu passei pelo jardim da casa e quando cheguei na calçada, cogitei a possibilidade de ir para a minha casa, mas desisti quando deduzi que lá seria o primeiro lugar que me procurariam. Eu realmente não queria ver ninguém. Segui andando pela calçada, enquanto eu vestia o meu casaco. A noite estava um pouco fria. Eu não sabia para onde eu estava indo, eu só continuei andando, enquanto algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu estava mais confusa e decepcionada do que nunca.

Doía muito cada vez que eu lembrava as insinuações e acusações que o Mark havia feito sobre mim. Eu queria sentir raiva dele, mas eu não conseguia. Eu só conseguia chorar e sentir o meu coração apertar. Eu não estava acostumada a lidar com esse tipo de situação com ele. Eu não estava acostumada a ter brigas como essa com ele e era exatamente por isso que me machucava tanto. Eu tinha medo de não conseguir continuar vendo o Mark com os mesmos olhos. Eu tinha medo que tudo mudasse entre nós. Eu tinha medo de, por um segundo, um deslize, ter sido a garota que ele havia me acusado há alguns minutos.

Pra mim, o Mark sempre foi uma pessoa madura, respeitosa e admirável. Eu costumava pensar que todos os homens do mundo deveriam ser como ele. A conduta dele era tão inquestionável pra mim que, talvez, fosse mais fácil questionar a mim mesma do que questionar ele. Inconscientemente, cheguei a me perguntar se existia alguma possibilidade de ele estar certo. Ver o com a Brooke realmente me incomodou naquela noite, mas foi de uma maneira completamente diferente. Nem eu mesma havia entendido. Não era ciúmes, mas eu não conseguia lidar com tanta frieza sobre o assunto ainda. Talvez, eu ainda fosse imatura demais ou, talvez, eu estivesse cometendo grande erro.

Será que eu havia convencido ele a ir para a Bélgica porque sabia que não conseguiria terminar com ele de outra forma? Não! Isso realmente estava fora de cogitação. Eu nunca havia nem pensado em terminar o nosso namoro e não havia cogitado outra possibilidade que não fosse esperá-lo. Eu também não planejei ficar sozinha com o naquele quintal. Foi totalmente involuntário. As únicas coisas que ainda não me deixavam completamente tranquila eram as trocas de olhares e os sonhos com o que vinham me perturbando há dias. Isso fazia de mim uma pessoa ruim? Isso dava ao Mark o direito de desconfiar da minha índole e do meu caráter?

Eu continuei andando na calçada sem saber para onde estava indo. Minha cabeça estava longe, mas meu coração ainda doía. Como eu queria voltar no tempo. Como eu queria impedir que o Mark tivesse me dito aquelas coisas. Eu realmente não sabia o que fazer sobre o assunto. Talvez, eu devesse deixá-lo ir pra Bélgica sem ao menos me despedir dele. Talvez, eu devesse impedi-lo de ir.

Uma briga nunca havia me feito tão mal! Ao mesmo tempo que eu tinha convicção de que eu estava certa, eu me sentia culpada por tudo o que eu havia falado pro Mark. Eu ainda não conseguia sentir raiva dele. Além disso, eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele não queria dizer nada daquilo. A viagem provavelmente tinha desestabilizado ele, mas isso não me fazia esquecer a frieza no olhar dele e as palavras que ele havia me dito.

Depois de andar por aproximadamente 10 minutos, me deparei com uma praça que ficava localizada duas ruas acima da minha casa e da casa do Mark. Era ali mesmo que eu ficaria. Me sentei em um dos bancos e, sentada ali, derramei as minhas lágrimas mais dolorosas. Foi como se todos os meus problemas se juntassem: a briga com o Mark, a viagem pra Bélgica, a confusão de sentimentos em relação ao e a Brooke e os sonhos intensos que eu havia tido com o nos últimos dias. Eu estava tão cansada de ter tantos dramas na minha vida. Quando eu conseguiria viver em paz? Será que algum dia eu voltaria a ser plenamente feliz? Minhas esperanças eram poucas.

Na casa do Mark, a festa continuava. Já não tinha mais ninguém repondo os comes e bebes e o anfitrião da festa havia desaparecido há quase 20 minutos. Ninguém havia percebido a minha ausência. Meg notou a falta de bebida e achou que talvez eu estivesse precisando de ajuda, por isso, ela dirigiu-se até a cozinha imaginando que me encontraria lá. A cozinha estava vazia, mas a porta que dava a passagem para o quintal estava aberta e chamou a sua atenção. Da porta, Meg viu o Mark sentado no gramado. Sem entender nada, ela chegou a me procurar, mas não encontrou. Ela resolveu se aproximar.

- Você sabe que a sua festa ainda está rolando, né? – Meg passou pelo seu melhor amigo, bagunçou o seu cabelo e agachou-se na frente dele.
- Acabou. – Mark não estava chorando, mas haviam lágrimas e tristeza em seus olhos.
- Que acabou o quê!? Está maluco. Todos os seus amigos ainda estão lá dentro. – Meg afirmou como se fosse óbvio. Ela não havia entendido a colocação dele.
- Eu e a . Acabou. – Mark olhou para a amiga, que ficou em choque. Acredite ou não, a Meg demorou para encontrar o que dizer. – Ela me odeia. – Ele suspirou, parecendo inconformado.
- Ela não te odeia. O Jonas que ela odeia é o outro. – Meg falou sério, mas só percebeu a gafe quando Mark a olhou feio. – Ok, desculpa. O que aconteceu? – Ela ficou mais preocupada.
- Nós brigamos e ela foi embora. – Mark contou. – Eu... fui um idiota. – Ele já parecia arrependido de tudo o que ele havia dito.
- Calma. Vamos resolver isso, ok? – Meg tocou a mão do amigo, tentando acalmá-lo. – Vocês vão conversar e vai ficar tudo bem. – Ela disse.
- Não... – Mark passou suas mãos pelos olhos. – Ela estava decepcionada. Eu vi nos olhos dela. Eu nunca havia decepcionado ela. – Apesar de abalado, Mark estava bastante consciente sobre tudo o que ele havia dito. A briga ainda estava fresca em sua mente e a comparação que eu havia feito entre ele e o Steven já não parecia tão absurda. Pelo menos, era assim que ele se sentia.
- E onde ela está agora? – Meg perguntou, pois queria conversar comigo.
- Eu não sei. Ela... voltou pra festa, eu acho. – Mark afirmou, mas não tinha certeza.
- Ok. Você fica aqui e eu vou atrás dela, ok? – Meg disse segundos antes de afastar-se do amigo e voltar para a casa.

Meg tentou ser discreta, mas não teve muito sucesso. Todos perceberam que ela estava procurando alguém. Ela foi em cada cômodo da casa e já não sabia mais onde me procurar, quando foi abordada pelo namorado. já havia deduzido que algum problema havia acontecido.

- O que está acontecendo? Está tudo bem? – a encontrou em um dos quartos.
- Eu vou te contar porque eu não tenho emocional pra lidar com isso sozinha. – Meg rendeu-se. Ela nem arriscaria mentir, pois certamente seria em vão. – O Mark e a brigaram e ela sumiu. Eu não encontro ela em lugar algum. Nem o celular ela atende. – Meg disse, nervosa.
- Ah, não. – fez careta. – Você já procurou no banheiro? – Ele perguntou.
- Procurei até dentro das gavetas, . – Meg estava realmente aflita.
- Nós vamos ter que contar para o e para o resto do pessoal. Eles vão ter que nos ajudar a procurá-la. – disse.
- Não tem mesmo outro jeito? – Meg não queria ter que alarmar a todos.
- Eu não consigo pensar em nada. – ergueu os ombros sem saber o que fazer.
- Ok. Então, vamos contar. – Ela não viu outro jeito. Juntos, Meg e foram até os seus amigos. Todos souberam que algo havia acontecido só pela expressão no rosto dos dois.
- O que aconteceu agora? – os olhou em meio a uma careta. Ele não achou que seria tão sério.
- Não me diga que acabou a bebida. – deduziu.
- Ok. Eu não sei como contar isso. Conta você, . – Meg deu um passo para trás.
- A sumiu. – foi extremamente objetivo.
- ! Quanta sutileza. – Meg deu um leve tapa no braço do namorado.
- A o quê? – chegou a engasgar com a bebida.
- Deixa que eu falo. – Meg tomou a frente, olhando feio para o namorado. – Ela e o Mark tiveram uma discussão e ela simplesmente foi embora. – Ela contou.
- O Mark brigou com a minha irmã? Onde ele está? – já quis tomar a frente e bancar o irmão mais velho que ele sempre foi.
- Deixa de ser ridículo, . Com um soco o Mark quebra todos os ossos do seu corpo e ainda joga embaixo da cama dele. – afirmou sem qualquer paciência. Ele estava mesmo era preocupado.
- Me respeita, palhaço. – olhou para o amigo, irritado.
- Nós podemos focar na , por favor? – interrompeu os meninos.
- Onde ela poderia estar? – pensou em voz alta.
- Na casa dela? – deduziu.
- Não. – negou na mesma hora. – Óbvio demais. – Ela concluiu.
- Isso já aconteceu uma outra vez, certo? Ela não quer ser encontrada. – recordou-se.
- Já aconteceu outra vez? – Meg ficou curiosa.
- Sim. Na época que ela terminou com um namorado babaca dela. – antecipou-se para explicar.
- O ? – Meg deduziu.
- Não, o outro babaca. – respondeu com naturalidade, fazendo com que todos olhassem pra ele na mesma hora. Ele nem percebia quando falava essas coisas.
- Foi com o Peter, Meg. Uma longa história, mas resumindo: ele humilhou ela na frente da escola toda. Ela saiu correndo e nós não conseguíamos encontrá-la. – fez um breve resumo.
- Quem a encontrou? – Meg quis saber.
- O . – respondeu em meio a uma careta.
- Não me diga. – Meg rolou os olhos. – Quantas vezes essa cara já salvou a ? – Ela suspirou.
- Aliás, onde ele está? Faz algum tempo que não vejo ele e a Brooke. Talvez, eles estejam juntos. – pensou em voz alta. Quando ela terminou a frase, todas olharam pra ela. – Não, né? Desculpem, eu estou nervosa. – Ela negou com a cabeça.
- Falando nele. – disse em um tom um pouco mais baixo ao ver o e Brooke se aproximando.
- E ai, pessoal. – sorriu ao se aproximar do seu grupo de amigos.
- Servidos? Está ótimo. – Brooke mostrou o seu copo de bebida. Sem qualquer intenção de serem grosseiros, ninguém respondeu. Todo mundo ficou olhando para o casal, deixando claro que havia algo que eles ainda não sabiam. – O que... – Ela ficou confusa.
- O que aconteceu? – foi direto ao assunto. Ele ficou preocupado na mesma hora.
- O Mark e a brigaram. – foi o primeiro a dizer.
- Eles... brigaram? – Brooke ainda não havia entendido o motivo de tanta tensão. Casais brigam, não é?
- A sumiu. – finalmente disse qual era o problema. não conseguiu esconder a preocupação ao ouvir a notícia.
- Vocês já procuraram ela na casa toda? – quis ter certeza de que não tratava-se de um alarme falso.
- Já! Nada. – negou com a cabeça.
- Há alguns minutos eu estava conversando com ela lá no quintal. Eu... – Brooke estava assustada.
- Eu não sei vocês, mas eu vou procurá-la. – cansou de tanta conversa e resolveu tomar uma atitude.
- Eu também vou. – foi o segundo a se posicionar. As garotas também começaram a se manifestar.
- Contem comigo. – foi o terceiro dos garotos a se posicionar. Agora, só faltava o . Ele ainda parecia um pouco em choque.
- Então, dividimos todos em grupo e cada um vai em uma direção. – deu a ordem. Obviamente, ele notou o fato de o não ter se manifestado, mas depois de tudo, ele não conseguia julgá-lo por isso.
- Eu vou com o e... – ia se manifestando, quando foi interrompida.
- As garotas ficam. Eu vou. – disse, decidido. Independentemente de qualquer coisa, ele tinha que ajudar. Eu poderia estar correndo perigo. Ele não podia simplesmente ficar de braços cruzados. O não sabia ser assim, principalmente quando se tratava de mim. – Vocês ficam aqui esperando para o caso de ela voltar pra cá. Eu e os caras nos dividimos em dois carros e procuramos nas redondezas. – O plano do parecia ótimo. Todos ficaram surpresos, mas ao mesmo tempo orgulhosos com a maturidade que ele continuava demonstrando em cada uma de suas atitudes.
- Você vem comigo no meu carro e o vai com o . Pode ser? – sugeriu.
- Pode ser. – e concordaram na mesma hora.
- Se ela voltar pra cá, liguem. – pediu para as garotas, que concordaram, sem hesitar.

Os rapazes saíram às pressas da casa. Antes de se separarem em duplas, definiram qual deles procuraria em um lado da rua e qual deles procuraria do outro lado. definiu para onde iria e e ficaram com o que sobrou. Ambas as duplas entraram nos carros e fizeram o que haviam combinado. Procuraram mais de uma vez e chegaram a me descrever para algumas pessoas que encontraram na rua, mas ninguém havia me visto.

Todos estavam extremamente preocupados, mas era interessante ver como cada um deles lidava com a situação. era explosivo e completamente intenso, por isso, ele ficava gritando e xingava cada vez que sua ligação caia na minha caixa postal. era mais racional, mas estava tão nervoso quanto o meu irmão. A cada minuto, a preocupação aumentava. No carro do , ambos estavam extremamente angustiados, mas enquanto o falava demais, não falava absolutamente nada. Ele estava se controlando muito pra não se expor da maneira que ele desejava. estava guardando muita coisa dentro de si.

- Você está me ouvindo, ? Ela não está em lugar algum. – já estava cansado de falar sozinho. Eles haviam parado o carro no final da rua, pois não sabiam mais onde procurar.
- O que você quer que eu diga? – já havia sido cobrado anteriormente e já estava ficando sem paciência.
- Você podia pelo menos fingir que se importa. – virou o rosto para olhá-lo.
- Você acha que eu não me importo? – sorriu sarcasticamente. – É a ! Como eu posso não me importar? Eu nem mesmo sei como fazer isso. – Ele disse, sério.
- Então, me ajude! Me ajude a pensar: onde ela pode estar? – tentou ser racional. – Da última vez que ela sumiu assim, foi você que a encontrou, lembra? Você pode encontrá-la de novo. Só pense um pouco. – Ele pediu. nem havia se lembrado do ocorrido no baile da primavera.
- Eu não sei. Nova York é muito grande. Eu não... – Ele negou com a cabeça, enquanto erguia os ombros.
- Vamos dar mais uma volta. – sugeriu, já que eles não tinham outra opção. – Está ficando muito tarde. É perigoso ela ficar andando sozinha por ai. – Ele desabafou em voz alta. já sabia disso, mas ouvir o dizer só o deixou ainda mais nervoso.

Enquanto o carro se movia, , que estava sentado no banco do passageiro passou a olhar através do vidro. Ele estava sentindo uma preocupação absurda, que fazia com que ele sentisse um nó na garganta. Era o instinto de me proteger falando mais alto do que qualquer outra coisa. Mesmo estando adormecido há alguns meses, o instinto continuava lá. Tudo o que os seus olhos queriam ver através do vidro do carro era eu. A cabeça dele continuava buscando possíveis lugares onde eu poderia estar e após alguns minutos, algo lhe veio à mente: dá última vez em que eu havia sumido (durante o baile da primavera), eu tinha ido até a praça que ficava em frente à escola. Não era longe, mas era um lugar onde eu sabia que estaria sozinha. De repente, lembrou-se de uma praça que ficava duas ruas acima de onde ficava a minha casa. Mesmo não morando em Nova York, ele se lembra de ter passado pela praça mais de uma vez.

- Espera, eu acho que sei onde ela pode estar. – disse, fazendo com que o o olhasse imediatamente.
- Onde? – iria para qualquer lugar.
- Sobe essa rua. – começou a guiar o amigo até a praça que ele tinha em mente.

Após seguir as indicações do , começou a descer lentamente uma rua e já no final dela foi possível ver uma praça. Como a praça era um pouco grande, demorou algum tempo até que eles conseguissem me ver sentada em um dos bancos. Assim que ambos me viram, parou o carro, aliviado. Olhou para o amigo ao seu lado com um sorriso que parecia ser uma mistura de gratidão e alívio. também estava visivelmente aliviado. Foi possível até ouvi-lo suspirar. desligou o carro.

- Como... você fez isso? – perguntou ao amigo, ainda surpreso com a indicação certeira de onde eu estava.
- Eu não sei. Eu... – ergueu os ombros. – Eu ainda a conheço muito bem. – Ele disse, sem olhar para o amigo, pois sabia o tipo de olhar que receberia.
- Vamos até lá. – respeitou a decisão do amigo sobre não falar sobre o assunto. De onde estava, olhou pra mim e mesmo longe, ele tinha certeza que eu estava chorando.
- Não, eu... – negou com a cabeça. – É melhor você ir sozinho. – Ele disse, decidido.
- Você tem certeza? – não forçaria nada.
- Eu tenho. Eu prefiro assim. – sabia que me encontraria completamente desestabilizada e, como da outra vez, ele não queria e não podia me consolar. Era melhor para todos se ele mantivesse a distância. – Eu vou deixar o carro com vocês e vou voltar pra casa do Mark a pé. É perto. – Ele sugeriu, movendo-se para sair do carro.
- Não. Vai com o carro. Eu e a voltamos a pé e aproveitamos pra conversar. Pode ir. – disse, entregando a chave do carro para o amigo. – Você avisa todo mundo que a encontramos? – Ele perguntou antes de sair do carro.
- Eu aviso. – confirmou.
- Ok. Vejo você depois. – sorriu, antes de sair do carro. De onde estava, olhou na minha direção uma última vez. Tudo o que ele mais queria era ir até lá para me dizer que tudo ficaria bem. pulou para o banco do motorista, deu a partida no carro e o virou ali mesmo para não precisar passar por mim com o carro.

Eu estava tão distraída e minha cabeça estava tão, mas tão longe dali, que eu nem ao menos tinha visto o carro do . Eu só vi que tinha companhia quando vi o meu melhor amigo descendo a praça e vindo na minha direção. Eu não fazia ideia de como ele havia chegado ali, mas eu estava feliz por vê-lo. Mesmo com o rosto cheio de lágrimas, eu consegui sorrir pra ele. não disse absolutamente nada. Ele simplesmente sentou-se ao meu lado e ficou ali por algum tempo.

- Suas lágrimas são por causa da viagem do Mark ou da briga? – virou-se sutilmente para me olhar.
- Os dois. – Eu respondi, sem hesitar.
- Ok. E... você quer um abraço? – perguntou mesmo já sabendo a resposta. Eu olhei pra ele e esbocei um fraco sorriso.
- Eu quero. – Eu afirmei, me virando na direção dele. Na mesma hora, ele me acolheu da maneira mais carinhosa de todas. O gesto dele me acalmou, mas também me fez derramar mais algumas lágrimas.
- Você quer falar sobre isso? – perguntou, ainda abraçado a mim.
- Eu preciso. – Eu disse, sabendo que explodiria se não colocasse tudo aquilo pra fora. Terminei o abraço e olhei.
- Ok. – passou suas mãos pelo meu rosto para secar as lágrimas. – Se acalma, está bem? Vai ficar tudo bem. – Ele tentou me acalmar.
- Ok. – Eu engoli o restante do choro preso em minha garganta e respirei fundo.
- Vem. Vamos dar uma volta. – levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar também. Eu segurei a mão dele e ele me puxou, me colocando de pé. Soltei a mão dele, enquanto dávamos os primeiros passos. Estávamos lado a lado. – Então, a briga foi tão ruim assim? – Ele perguntou.
- Foi. Nós dissemos coisas horríveis um para o outro. – Eu fui sincera, já que eu não tinha motivos para mentir para ele.
- Tipo o quê? – quis saber. Ele precisava saber ou não conseguiria me aconselhar da melhor maneira.
- Ele... – Eu me sentia péssima só por repetir. – Ele acha que eu o incentivei a ir para a Bélgica para me livrar dele. Ele acha que eu ainda sinto alguma coisa pelo . – Eu disse.
- Bom, sobre a primeira parte eu sei que ele está errado. Eu conheço você e sei que jamais faria isso. Você não faria isso nem mesmo com o babaca do Peter. – disse, me fazendo olhá-lo.
- Obrigada. – Eu agradeci mesmo que aquilo não fosse novidade para mim. Era bom ouvir alguém de confiança dizendo aquilo.
- Mas... – ficou com receio de continuar a frase.
- Ah não. – Eu suspirei.
- Olha, eu acredito em você, ok? O que quer que seja, eu vou acreditar no que você disser. Eu só preciso ouvir você dizer. – deixou bem claro que não se tratava de julgamento ou desconfiança. Ele só queria ter certeza. – Sobre... a segunda parte. – Ele começou.
- Você também acha que eu ainda sinto alguma coisa pelo . – Eu deduzi na mesma hora.
- Basta você olhar pra mim e me dizer que não. Eu vou acreditar em você e vou quebrar a cara de qualquer um que diga o contrário. – saiu do meu lado e entrou na minha frente, me fazendo parar de andar. Nos olhamos e em questão de segundos eu passei a questionar tudo. Eu não sabia que seria tão difícil responder aquela pergunta que antes me parecia tão redundante e desnecessária. Era como se eu estivesse mentindo para mim mesma durante muito tempo e, agora, olhando nos olhos do meu melhor amigo, eu não conseguia mentir.
- É complicado. Todas as vezes que eu penso que eu tenho certeza sobre a resposta dessa pergunta, no segundo seguinte, eu não tenho mais. – Eu ergui os ombros. – Por causa de tudo o que eu e o vivemos, eu acho que nunca vou conseguir responder não a essa pergunta. – Eu completei.
- Eu entendo isso. De verdade. – queria deixar bem claro.
- Mas... – Eu sabia que haveria um outro ‘mas’. Eu o conhecia bem.
- Me desculpa, mas... é assustador essa conexão que vocês têm mesmo não estando mais juntos. – também sabia que precisava ser sincero comigo. Ele não estava ali para concordar com tudo o que eu dissesse. Ele não era esse tipo de melhor amigo.
- Conexão? – Eu não entendi. Eu mal tinha falado direito com o naquela noite. De qual conexão ele estava falando?
- Você... se lembra da outra vez que você sumiu exatamente como você fez hoje? – Ele perguntou. Eu pensei por um momento. Isso não tinha passado pela minha cabeça.
- O baile da primavera, depois da briga com o Peter. – Eu demorei um pouco, mas consegui lembrar.
- E você lembra quem te encontrou? – continuou. Eu sabia que aquelas perguntas tinham algum propósito, mas eu ainda não sabia qual.
- Foi o . – Disso eu me lembrava bem.
- Exatamente. – afirmou com a cabeça, como se aquilo quisesse dizer alguma coisa.
- Eu não entendi. – Eu ergui os ombros, confusa. – Hoje, foi você que me encontrou. – Eu completei.
- E se eu te disser que não fui eu? – estava sério e não parecia estar brincando. – E se eu te disser que foi o ... de novo? – Ele continuou me olhando, esperando alguma reação.
- O que? Não. Você... – Eu não acreditei. Eu não quis acreditar.
- Foi o que me trouxe aqui. – jogou essa pequena bomba nos meus braços e eu, pra variar, não consegui ter qualquer reação. Eu estava muito surpresa.
- Mas... como? Ele não me viu vir pra cá. Ninguém me viu saindo. – Eu estava em negação.
- Eu não sei como. Nós apenas saímos pra te procurar e do nada, ele disse que sabia onde você estava. Ele me guiou até essa praça e... você estava sentada naquele banco. – também demonstrava um pouco de perplexidade com a história. – Eu odeio, de verdade, dizer isso, mas... eu acho que, talvez, ele te conheça mais do que qualquer pessoa no mundo. – Ele disse mesmo vendo o quão impactada eu estava com aquela informação.

Pensar que ainda havia qualquer conexão, qualquer coisa que ainda ligasse eu e o me deixava desesperada. Era o tipo de coisa que eu achei que já tivesse superado. Era o tipo de coisa que eu achei que não me afetaria mais. Eu não vou mentir. Eu sempre estive ciente de que, independentemente do caminho que seguíssemos, o sempre seria especial e sempre faria parte da minha história. Eu nunca quis apagá-lo da minha vida, mas depois do término, eu só conseguia vê-lo como o oposto do tipo de homem que eu queria ter na minha vida. Ele era o oposto do Mark. O Mark era tão bom pra mim, que o só poderia ser o contrário. Isso estava tão claro para mim antes daquela noite. Agora, depois da briga que tivemos naquele dia, o Mark não parecia ser tão bom e o ... Bem, o continuava sendo o de sempre. O mesmo idiota por quem eu me apaixonei há anos atrás. O mesmo cara que fez com que eu me apaixonasse por ele duas vezes. O mesmo que mais uma vez estava me fazendo questionar tudo. Não. Não podia ser.

- Isso não quer dizer absolutamente nada! – Eu manteria a minha posição. Eu tinha que manter.
- Tem certeza? Porque suas palavras não condizem com a expressão no seu rosto e com as lágrimas nos seus olhos. – me enfrentou sabendo que era pro meu bem.
- O que você quer que eu diga? – Eu perguntei, desistindo de me fazer de durona. Era impossível mentir pra ele.
- Eu quero que você diga que não sente mais nada. Eu te disse. Eu só preciso ouvir isso. – insistiu. Ele ficou me olhando, esperando qualquer manifestação da minha parte. Eu fechei os meus olhos, enquanto negava com a cabeça. Eu não conseguia dizer e, com isso, o já tinha a resposta da sua pergunta.
- Ei. – ficou mal ao me ver daquele jeito. Ele se aproximou e me abraçou. Eu passei os meus braços em volta do corpo dele e deitei a minha cabeça em seu pescoço. – Não precisa se sentir mal ou sentir vergonha dos seus sentimentos. Eu nunca julgaria você. Você não está fazendo nada errado. – Ele acariciou a minha cabeça.
- Eu sinto alguma coisa por ele. – Eu finalmente consegui dizer com lágrimas nos olhos. – Mas eu também sinto pelo Mark. – Eu disse em meio a um suspiro. – Isso me assusta muito e... faz com que eu me sinta uma pessoa horrível. – Eu terminei o abraço para olhar no rosto dele.
- Não se sinta assim. – negou com a cabeça. – Não cobre tanto de si mesma. Não é culpa sua. Não é como se você escolhesse se sentir assim. Está tudo bem. Você ainda é a segunda garota mais incrível que eu já conheci. – Ele sorriu.
- A segunda? – Eu cerrei os olhos. – Eu só aceito se a for a primeira. – Eu disse e ele riu.
- Ela é a primeira. Eu juro. – disse, me arrancando um sorriso. – Uh, eu vi esse sorriso. – Ele apontou na minha direção.
- Rindo pra não chorar. Literalmente. – Eu disse com um certo desanimo.

Após deixar o na praça, seguiu para a casa do Mark. Ele ia ligar para contar aos meus amigos que eles haviam me encontrado, mas como a casa do Mark era perto, achou melhor contar pessoalmente. Ele dirigiu poucos minutos até a casa do irmão mais velho e evitou pensar sobre o assunto durante o trajeto, mas quando estacionou o carro do em frente à casa, acabou hesitando mais do que gostaria para entrar na casa.

Mesmo com o carro desligado, permaneceu ali por alguns minutos, olhando para o nada, enquanto se lembrava da última vez em que ele havia precisado me procurar daquela maneira. Ele lembrou-se do baile da primavera e de como foi incrível se sentir próximo de mim pela primeira vez em toda a sua vida. As redações de sociologia realmente haviam sido importantes e foram o ponto inicial de toda a nossa relação, mas o baile da primavera foi a primeira vez que vimos um ao outro como e . Foi a primeira vez que ele realmente se sentiu importante pra mim. só saiu do carro, quando viu o e o pararam o carro na frente da casa.

- E, ai? – perguntou assim que viu o amigo.
- Encontramos. O está com ela. – contou com um fraco sorriso.
- Encontraram!? – não conseguiu omitir o sorriso. – Graças a Deus! – Ele suspirou, aliviado.
- Ainda bem. – também parecia aliviado.
- Ela está bem? – perguntou.
- Está. Está bem. O ficou pra conversar com ela. – contou, tentando ser completamente imparcial sobre a história.
- Ela não vai voltar? Eu... preciso voltar pra Atlantic City. Eu quero vê-la. – reclamou.
- É, já está tarde. – teve que concordar, depois de olhar no relógio.
- Onde eles estão? Eu vou... ligar. – disse, pegando o seu celular.

Mesmo tentando recusar as ligações do , teve que atendê-lo. Ele não desistiria tão cedo. não sossegou enquanto não falou comigo. Ele me pediu para ir para casa logo, pois ele precisava voltar pra Atlantic City e não faria isso sem me ver antes. Eu amava muito o meu irmão, mas a última coisa que eu queria era vê-lo. Eu não queria que ele me visse daquele jeito. Eu sabia que ele iria embora preocupado se me visse confusa e perdida daquela maneira, por isso, tive que inventar que eu e o estávamos longe e que demoraríamos para voltar pra casa. Eu precisei ligar a câmera do meu celular e fazer uma breve chamada de vídeo para que ele tivesse certeza de que eu estava bem. Só depois disso, conseguiu ir embora sossegado.

Apesar de estar bastante preocupado com o Mark e saber que ele certamente estava precisando conversar com alguém, hesitou bastante antes de decidir ir falar com o seu irmão. Mesmo sem saber os motivos da minha briga com o Mark, não sabia se saberia aconselhá-lo ou dizer o que ele gostaria de ouvir. Ele não queria assumir, mas ele estava com muito receio de ser o pivô daquela briga, mesmo sem ter feito nada de errado. A última coisa que o queria era atrapalhar o relacionamento do seu irmão.

Depois que o , a e o foram embora da festa e ele acabou ficando sozinho com a , a Meg e a Brooke, se sentiu na obrigação de ir até o seu irmão e dar o apoio que ele precisava. Além de a conversa das garotas estar bem entediante, ele era o único, além da Meg, que estava preocupado com o Mark, já que todos os outros ficaram do meu lado após a briga mesmo sem saber os motivos que a causaram.

- Eu vou ver o Mark. - Meg ia se levantando, quando o se levantou também.
- Deixa que eu vou. – tomou coragem. Meg até cogitou discutir sobre o assunto, mas acabou cedendo, pois achou que o Mark se sentiria melhor em conversar com o irmão.
- Ele está no quintal. – Meg avisou, sentando-se novamente ao lado de Brooke e no sofá.

abandonou a sala e o restante dos convidados do irmão e dirigiu-se até o quintal da casa. Ao passar pela porta, viu o Mark sentado no gramado. Mesmo sem olhá-lo ou ouvi-lo, notou que o irmão estava mal. Ele já esteve no lugar do Mark antes e, por isso, sabia exatamente como ele estava se sentindo. se aproximou sem fazer muito alarde e simplesmente se sentou ao lado do irmão. Ele não disse nada e nem exigiu qualquer manifestação do irmão. Ele não disse nada. só queria que o Mark soubesse que ele estava bem ali se ele precisasse.

- Eu definitivamente não nasci pra isso. – Mark disse, após um longo silêncio. virou o seu rosto para olhá-lo. – Essa coisa de relacionamento. Eu não sou bom nisso. – Ele completou.
- Ninguém é bom nisso, eu acho. – respondeu em meio a um fraco sorriso.
- Uma briga e já me sinto o maior idiota de todos. – Mark rolou os olhos.
- Com o passar do tempo, você vai se acostumando e se tornando cada vez melhor nisso. Não há nada de errado nisso. – tentou acalmá-lo, já que notou que o irmão parecia bastante arrependido.
- Não. – Mark negou com a cabeça. – Eu não consigo viver assim. Eu não consigo nem sentir raiva dela. Eu só sinto raiva de mim e de tudo o que eu disse pra ela. – Ele começou a desabafar. – Eu não sei o que aconteceu comigo. Eu não sou assim. Não com ela. – Mark foi sincero.
- Pare de se cobrar tanto. Você pode errar algumas vezes, não pode? – olhou novamente para o irmão. – Com uma conversa, vocês resolvem tudo. Eu tenho certeza. – Ele sorriu. – Aliás, nós já a encontramos. Ela está com o . – achou que deveria informá-lo.
- Como ela está? – Mark o olhou pela primeira vez desde que a conversa havia começado.
- Eu não sei. Eu... não falei com ela. – fez questão de ressaltar. – Ela vai ficar bem. – Ele completou.
- Como... você conseguia? – Mark perguntou, depois de um novo silêncio.
- O que? – não entendeu a pergunta.
- Eu sei que não deveria perguntar esse tipo de coisa. Eu... – Mark arrependeu-se na mesma hora.
- Não, tudo bem. Não tem problema. – ficou sim um pouco constrangido quando percebeu a que se referia a pergunta do irmão, mas ele viu o Mark tão transtornado por ter perguntado, que não conseguiu fazer outra coisa senão amenizar a situação. – Está tudo bem. – Ele reafirmou.
- Você... lidava tão bem com essas brigas. Como... – Mark ergueu os ombros. Ele estava pedindo conselhos ao sobre a sua ex-namorada, que hoje é a sua atual namorada. Parecia ridículo, mas ao mesmo tempo parecia a única luz no fim do túnel. Mark estava se sentindo muito mal com a briga e era um sentimento horrível que não passava.
- Eu acho que... – Ainda sem graça com a pergunta, hesitou um pouco para continuar a frase. – De alguma forma, eu sabia que ela acabaria voltando pra mim. – Ele não conseguiu responder a pergunta sem ser completamente sincero. – Eu me sentia mal com as brigas, mas essa certeza de que tudo ficaria bem me acalmava. – tentou melhorar a sua explicação e deixá-la menos intensa.
- Estranho. – Mark negou com a cabeça, deixando de olhar para o irmão. – O que eu estou sentindo é totalmente o oposto. – Ele disse em meio a um suspiro. Mesmo querendo muito, não conseguiu dizer mais nada.

e eu continuamos andando, enquanto conversávamos. Ele estava evitando falar sobre o e o Mark, por isso, começou a puxar assuntos aleatórios para tentar me distrair. Eu fingi que não havia notado, mas eu sabia que ele estava sutilmente me levando de volta pra casa. Na verdade, eu estava gostando do fato de não precisar ficar pensando sobre o e o Mark. Era bom poder jogar um pouco de conversa fora só pra variar.

A festa de despedida do Mark terminou sem que os convidados se despedissem do convidado de honra da noite, já que o mesmo não havia voltado para a festa desde o ocorrido da briga. Os conhecidos e amigos do Mark foram indo embora aos poucos e a casa foi ficando vazia. Meg, Brooke e acabaram adormecendo no sofá, enquanto esperavam que eu e o voltássemos. Mark continuava se culpando e cobrando a si mesmo de coisas que ele não podia mudar. continuou ao seu lado mesmo em silêncio e pretendia ficar ao lado do irmão o máximo que pudesse.

- Eu acho que chegamos. – disse, quando paramos na frente da minha casa. Depois de tanto andar e conversar, estávamos novamente ali. – Você está a salvo agora. – Ele completou.
- Obrigada. – Eu sorri fraco, agradecida.
- E agora? O que você vai fazer? O que você quer fazer? – perguntou, sem saber se eu iria querer conversar com o Mark.
- Eu quero me trancar na minha casa e nunca mais sair. – Eu disse em meio a um suspiro.
- Você... não quer conversar com o Mark? Talvez, resolver as coisas. – sugeriu, sem usar qualquer tipo de tom de pressão. Era mais um conselho.
- Conversar com ele e dizer o quê? Que talvez ele não estivesse tão errado sobre mim? – Eu ergui os ombros. – Mentir pra ele e dizer que eu não sinto mais nada pelo ? Eu... – Neguei com a cabeça e hesitei por um momento. – Eu não sei o que dizer pra ele. Eu nem mesmo sei o que eu estou sentindo. Eu... – Eu não soube como continuar.
- Ok. Ok. Não precisa falar com ele agora. – quis me acalmar, pois percebeu que eu fiquei extremamente mal com sua sugestão. – Vem, vamos entrar. – Ele disse, andando na direção da minha casa. Eu acompanhei o até a porta da minha casa, nós entramos e ele me fez sentar no sofá. – Espere aqui. Eu já volto. – afastou-se e saiu pela porta da casa. Eu não sabia o que ele tinha ido fazer, mas eu confiava 100% nele.

saiu da minha casa e foi para a casa vizinha. Antes de entrar, o silêncio deixava claro que a festa já havia acabado. Ele entrou sem fazer qualquer barulho. Ao chegar na sala de estar, deparou-se com a , a Meg e a Brooke dormindo no sofá. Ficou aliviado por não ter visto o e o Mark. Ele andou silenciosamente até a sua namorada e agachou-se ao seu lado.

- ... – sussurrou, próximo ao ouvido da namorada. Ele tocou gentilmente o seu braço. – Hey. – Ele a chamou outra vez. despertou mesmo estando um pouco sonolenta.
- Oi. – disse, espreguiçando-se. fez sinal de silêncio para que ela não acordasse a Brooke e a Meg. – Onde está a ? – Ela perguntou, preocupada.
- Vem. Eu vou te levar até ela. – estendeu a mão para a namorada, que a segurou na mesma hora. Ele a ajudou a levantar e depois continuou segurando sua mão, enquanto a levava em direção a porta.
- O que aconteceu? – ficou um pouco confusa. Achou que tivesse acontecido mais alguma coisa.
- Ela está precisando de nós. – a olhou, antes de abrir a porta da minha casa.

Ainda sentada no sofá, eu ouvi a porta sendo a aberta e acompanhei o barulho dos passos até conseguir ter a visão de quem se tratava. Senti um alívio no peito quando vi os meus dois melhores amigos ali. Mesmo sem saber de absolutamente nada, o olhar de compreensão de me fez desabar novamente. Eu sentia que com eles, eu podia ser completamente sincera sobre tudo. Eles jamais me julgariam. Eles faziam com que eu me sentisse segura para contar qualquer coisa. No momento em que me viu, sabia que alguma coisa estava acontecendo. Ela andou na minha direção, pronta para me consolar independente das circunstâncias. Eu me levantei do sofá e fui abraçada pela minha melhor amiga da maneira mais acolhedora de todas.

Abraçada a , senti algumas lágrimas escorrerem espontaneamente dos meus olhos. Fechei meus olhos por um momento, enquanto sentia meu coração se acalmar aos poucos. Quando abri os olhos, vi o há alguns passos de nós. Continuei abraçada a , mas estendi o meu braço na direção dele em meio a um fraco sorriso. se aproximou, tocou a minha mão e sorriu pra mim com carinho. Eu o puxei para um abraço coletivo. Abraçada e acolhida pelos meus melhores amigos, eu tinha certeza de que tudo ficaria bem.

- Que bom que vocês estão aqui. – Eu os apertei forte, antes de soltá-los.
- Nós vamos cuidar de você. – disse, enquanto secava as lágrimas no meu rosto.
- Eu gostei disso. – Eu sorri.
- Enquanto vocês conversam, eu posso preparar um... chocolate quente. – era péssimo em qualquer coisa que envolvesse a cozinha, mas ele estava disposto a fazer isso por mim. Ingênuo, ele não sabia que as palavras ‘chocolate quente’ tinham mais significado do que ele imagina. sabia sobre os chocolates quentes que o costumava fazer pra mim e por isso olhou feio para o namorado na mesma hora. – Ok, então... um café? – fez careta, sem entender.
- Está tudo bem. Qualquer coisa está ótimo. – Eu sorri, tentando amenizar a situação.
- Café, então. – saiu e foi na direção da cozinha, nos deixando sozinhas.
- Só de olhar pra você, eu já sei sobre o que é tudo isso. – se sentou no sofá e eu me sentei ao seu lado.
- Você já sabe, não é? – Eu não estava surpresa. – Então, você também já sabe que eu só posso estar maluca. – Novamente, eu estava julgando a mim mesma. Eu tinha total ciência de que estava errada.
- Não fala isso. – desaprovou minha postura na mesma hora.
- Eles são irmãos. Eu não posso... – Eu ergui os ombros.
- Você não pode mudar os seus sentimentos. – tentou amenizar a situação.
- Isso é ridículo. Até ontem estava tudo bem. Foi só ver o e... Eu não sei. Eu não sei o que acontece. – Eu estava sendo totalmente sincera. – Eu sabia que seria estranho reencontrá-lo e a princípio eu estava achando a minha reação totalmente normal, depois do término que nós tivemos. Então, o Mark veio conversar comigo e me acusou de coisas que me fizeram questionar a mim mesma. Nós brigamos por isso e no minuto seguinte eu já estava me sentindo horrível, porque comecei a achar que, talvez, ele estivesse certo. – Eu completei.
- Ele acha que você ainda sente alguma coisa pelo . – deduziu.
- Ele acha. – Eu confirmei. – Ele também acha que eu o incentivei a ir viajar porque queria me livrar dele, mas... sobre isso eu sei que ele está totalmente errado. – Eu disse.
- É totalmente normal ele se sentir inseguro com relação ao . Ele conhece a história de vocês. – também quis me mostrar o lado do Mark.
- Eu sei, mas... eu nunca o desrespeitaria. Eu nem mesmo havia pensado sobre os meus sentimentos pelo até o momento em que ele me acusou disso. – Eu fiz uma breve pausa. – O Mark é tão incrível e respeitador que o fato de ele me acusar de tudo aquilo fez com que eu questionasse a mim mesma, sabe? Mark nunca agiu daquela maneira, então, talvez, ele estivesse certo. – Eu tentei explicar pra ela.
- Certo, mas... como você realmente se sente em relação ao ? – quis saber.
- Eu não sei. Eu... achei que tivesse superado. Eu já não pensava nele da mesma forma que eu costumava pensar. Eu nem mesmo pensava mais nele! – Eu comecei a contar.
- Mas... – sabia que haveria um “mas”. Sempre havia um ‘mas’.
- Mas... essa história da viagem do Mark veio à tona e eu tive essa ideia infeliz de fazer essa festa de despedida. Quando eu finalmente me dei conta de que essa festa traria o de volta para Nova York, eu surtei. Mesmo sem perceber, ou fingindo que não percebia, eu surtei. Eu... – Eu rolei os olhos antes de continuar a frase. – Eu tenho sonhado todas as noites com ele na última semana. Eu não sei. Eu acho que mesmo eu bloqueando ele dentro de mim, algo em mim ainda está tentando me sabotar. – Eu não soube explicar, mas eu sabia que ela havia entendido.
- Você sonhou com ele durante toda essa semana? – ficou assustada.
- Viu? É insano! – Eu concordei com a reação dela. – Eu não sei o que isso quer dizer e, honestamente, eu não sei se quero saber. – Eu disse.
- Peço desculpas pelo café desde já. – disse, assim que voltou para a sala. Em suas mãos, haviam duas xícaras.
- Não pode ter ficado tão ruim. – sorriu, pegando uma das xícaras. Eu peguei a outra xícara e imediatamente tomei um gole. ficou me olhando, esperando a minha reação.
- Hm, ficou bom. – Eu elogiei, antes de tomar outro gole de café.
- Ficou um pouco forte, mas ficou bom mesmo. – mostrou-se impressionada.
- É a minha especialidade. – disse, se gabando.
- Você não tem especialidade na cozinha, . – disse, me fazendo rir.
- É, mas você continua bebendo o meu café. – a olhou feio.
- Só porque ficou realmente bom. – cedeu, deixando o namorado feliz.
- Ok, vamos deixar minhas habilidades de lado e vamos voltar ao que realmente interessa. – ficou mais sério, depois que se sentou no outro sofá.
- Vocês... viram o Mark? Vocês falaram com ele? – Eu queria notícias do Mark.
- Eu não o vi, mas soube que ele também está muito mal por causa da briga. Ele está arrependido. – não queria me esconder nada. Saber que ele estava sofrendo tornaram as coisas um pouco mais difíceis e dolorosas pra mim. A princípio, fiquei em silêncio e abaixei a minha cabeça para encarar as minhas mãos. Tomei o último gole de café e coloquei a xícara sobre a mesa de centro.
- Eu sabia. – Eu não quis que soasse tão dramático, mas a expressão no meu rosto não me deixava mentir. – Eu o conheço. Ele se conhece. Ele sabe que ele não é assim. Nós... nem mesmo brigávamos. – Eu contei.
- Não brigavam? – estranhou a informação.
- Não. A briga de hoje foi a nossa primeira briga. – Eu confirmei e cheguei a esboçar um sorriso com a reação do meu melhor amigo.
- Uau. Eu nem mesmo consigo imaginar um relacionamento sem brigas. – disse sem pensar e recebeu olhares feios de .
- Com o Mark sempre foi assim. – Eu sorri ao falar sobre ele. – Ele... sempre pensa em mim antes de qualquer outra pessoa. Eu sei que soa estranho dizer isso sobre um cara que tem um trabalho como o dele, mas... ele é a pessoa mais doce que eu já conheci. – Meus dedos brincavam com o meu anel de compromisso. – Todas as vezes que saíamos para jantar, ele fazia questão de me deixar escolher onde iríamos. Ele sempre fez de tudo para não me contrariar. Ele nunca me julgou e nem me cobrou nada. Ele nem mesmo fazia cenas de ciúmes. – Eu me senti confortável para compartilhar com eles. – O meu relacionamento com o Mark sempre foi muito diferente do meu relacionamento com o . Eu diria que... são completamente opostos. – Era inevitável não fazer comparações. Deixei de olhar para os meus amigos por um momento, enquanto me preparava para falar sobre o . – O ... – Eu sorri, enquanto negava com a cabeça. – Nós tínhamos os nossos dias bons, mas também tínhamos os dias ruins. Ele sempre me enfrentou. Ele nunca perdeu uma oportunidade de questionar os meus motivos. O que ele precisava me dizer, ele dizia na minha cara. Nós combinávamos que a cada vez que saíssemos para jantar, um de nós escolheria onde iríamos e todas as vezes que eu tentava roubar a vez dele de decidir, ele ficava tão bravo. – Eu rolei os olhos, mas o sorriso não saiu dos meus lábios. – E o ciúmes dele que sempre se misturou com o instinto absurdo que ele tinha em me proteger. Nós brigávamos por tudo. Nós brigávamos por nada. – Eu finalizei.
- Mesmo citando os defeitos do , você sempre fala dele sorrindo. – expôs algo que havia reparado.
- Os defeitos do são a melhor qualidade dele. – Eu afirmei sem hesitar, porque era algo que eu já havia concluído há muito tempo. e se entreolharam.
- E você já sabe o que você vai fazer? – perguntou, querendo saber se eu já havia chegado a alguma conclusão.
- Não. – Eu respondi, visivelmente abalada e confusa. – Eu quero ver o Mark, mas eu não vou fazer isso sem antes ter certeza de que vou poder olhar nos olhos dele e ser completamente sincera sobre os meus sentimentos. – Eu disse, decidida.
- Então, você realmente acha que ainda pode sentir alguma coisa pelo . – Naquele momento, se deu conta de que eu realmente estava em conflito.
- O foi o meu primeiro amor. Eu sempre vou sentir alguma coisa por ele. – Eu fui direta. – Esse é o problema. Talvez, isso que eu estou sentindo seja só algum tipo de nostalgia ou saudade do que vivemos, mas... e se não for? – Eu perguntei retoricamente. – Pode ser que esse sentimento por ele nunca mude, mas o que isso quer dizer? Que eu tenho que ficar com ele? – Eu queria que meus amigos tivessem a resposta, mas eles infelizmente não tinham.
- Mas, você ama o Mark, certo? – queria ter certeza.
- Eu amo. É completamente diferente do sentimento que eu sinto pelo , mas definitivamente é amor. Eu amo o fato de sermos tão parecidos em alguns dias e tão diferentes em outros. Ele nunca me tira da zona de conforto. Eu nunca tenho que me preocupar sobre como vai ser o nosso dia, porque nós temos uma rotina. Eu acordo todos os dias, vou até a porta e pego o café que ele deixa na minha varanda todas as manhãs. Faculdade, estágio e quando eu chego em casa, ele está me esperando, sentado na minha varanda. – Eu descrevi rapidamente. – Eu não preciso me preocupar sobre a nossa próxima briga ou se vamos sobreviver a ela. Eu não preciso me irritar com suas decisões imaturas, porque ele deve ser o cara mais maduro de todos. Eu mesma me sinto imatura algumas vezes perto dele. – Eu sorri fraco ao falar dele. – Ele é definitivamente a minha definição de homem perfeito. Nosso relacionamento é perfeito. Eu não sei qual é o meu problema. – Eu rolei os olhos.
- Você percebeu que mesmo quando está falando sobre o Mark, você também está falando sobre o ? Agora mesmo, você não falou apenas sobre as qualidades do Mark. Você citou as qualidades que ele tem e que o não tem. Todas as qualidades que você vê no Mark são as que o não tem. – ficou um pouco receoso em dizer aquilo. Ele temeu a minha reação. Eu não fiquei brava. Eu só fiquei bastante surpresa quando me dei conta de que ele estava certo. Eu fazia isso sem nem perceber.
- , sendo bem sincera agora: a primeira coisa que você deve fazer, eu quero dizer, de verdade... é reconhecer que você ainda ama o . É reconhecer que não é nostalgia ou um carinho pela história que vocês viveram. Você ama o e, no fundo, você sabe disso. – sabia que doeria ouvir isso, mas era necessário. Ela só queria me ajudar. Senti um nó se formar na minha garganta e poucas lágrimas acumularem nos meus olhos. – O problema é que você também ama o Mark. – Ela completou. A verdade era desesperadora e cruel. Eu me levantei do sofá e fiquei de costas para os meus amigos por um momento. Eu não acreditava que isso estava acontecendo comigo. – Você só precisa descobrir quem você ama mais. Você precisa escolher com qual deles ficar. – deu o ultimato que eu não queria ouvir.

Eu nunca achei que tivesse que tomar uma decisão como aquela. Da última vez em que eu tive que pensar sobre o assunto, eu não precisei escolher um deles, porque o optou por desistir de mim. abriu mão de tudo o que tínhamos pelo irmão, pela felicidade do irmão. Eu não precisei tomar uma decisão. Agora, não tinha como escapar. Mark seria a escolha mais fácil no momento, pois nós já estávamos em um relacionamento e nada poderia nos impedir de continuarmos juntos. seria a escolha mais difícil, pois envolvia a Brooke. Eu não sabia mais se o sentimento era recíproco. Eu não sabia se ele cogitaria me ter de volta.

- Eu sei. – Eu disse com a voz embargada. Levei uma das mãos até a cabeça e entrelacei os dedos no meu cabelo, jogando-os para trás. – Eu sei que preciso escolher um deles, mas eu não sei como fazer isso. – Eu me virei e quando olhei para os meus amigos novamente, eu neguei com a cabeça. – Se eu escolher o Mark, vou ter que viver para evitar um encontro com o . – Eu dei alguns passos na direção deles. – Se eu escolher o , quem garante que ele vai me querer de volta? Tem a Brooke. E... mesmo que ele queira, será que vai dar certo? Quanto tempo até brigarmos e terminarmos de novo? – Eu quis expor os meus motivos para estar tão em dúvida.
- Eu queria poder te ajudar, mas... você é a única que pode tomar essa decisão. – se comoveu com a minha situação.
- Eu... – O nó na minha garganta se misturou com a minha vontade de chorar. – Eu não quero fazer isso. Eu não sei fazer isso. – Eu comecei a chorar. Eu estava com medo de tomar uma decisão. Eu estava com medo de escolher a pessoa errada. Eu tinha medo de um dia me arrepender da minha decisão. Eu tinha medo de escolher o Mark e não poder nunca mais ver o . Eu tinha medo de escolher o e machucar o Mark mais uma vez. As duas escolham trariam consequências, que me fariam sofrer de qualquer forma. apressou-se para me acalmar. ia fazer o mesmo, mas deixou que a namorada cuidasse da situação. Ela me abraçou e eu pude chorar no ombro dela.
- Shh, vai ficar tudo bem. – continuou me abraçando forte, enquanto tentava me acalmar.
- Eu não quero ter que escolher. – Eu disse aos prantos.
- Eu sei, , mas você vai ter que escolher. Você sabe que precisa. Faça isso por eles. – estava fazendo o seu melhor. – Você vai descobrir como fazer isso. – Ela interrompeu o abraço para olhar em meu rosto. Ela passou as mãos pelo meu rosto, secando as lágrimas que ainda estavam lá.
- Eu só queria que a minha mãe estivesse aqui para que pudesse chorar no colo dela. – Eu disse em meio a um fraco sorriso, enquanto me acalmava e parava de chorar.
- Eu sei que não é a mesma coisa, mas você pode chorar no meu colo se você quiser. – ofereceu, sorrindo com carinho.
- Eu gostei da ideia. – Eu aceitaria qualquer tipo de consolo. segurou a minha mão e me levou novamente até o sofá. Ela se sentou na ponta e eu me deitei, colocando a minha cabeça em cima da almofada que ela havia colocado em seu colo. assistia a cena, sentado no outro sofá. Ele ainda se surpreendia com a minha amizade com a .
- Talvez, possamos tentar ajudar. – queria fazer alguma coisa por mim. Eu continuei deitada, mas estava virada na direção dele. Eu estava aceitando qualquer tipo de ajuda. – Porque você não nos conta porque você ama cada um deles? De repente, se você falar, alguma coisa pode te ajudar na sua decisão. – Ele sugeriu.
- Eu posso fazer isso. – Eu afirmei com a cabeça. Eu já estava um pouco mais calma.
- Então, me conta: por que você ama o Mark? – perguntou, esperando a minha resposta.
- Eu amo o Mark porque... – Eu fiz uma breve pausa e sorri. – Ele é o melhor homem que eu já conheci. Ele sempre cuidou de mim. Até mesmo quando eu e o tínhamos as nossas brigas. Era ele quem me acalmava e secava as minhas lágrimas. Eu amo ele porque ele me transmite paz só com o olhar e o jeito que ele sorri pra mim faz com que eu me sinta a melhor garota do mundo. – Eu estava falando com o coração. – Além disso, também tem essa ligação entre ele a minha tia Janice. Eu amo ele porque estar com ele faz com que eu me sinta mais próxima da minha tia. Ele é tão parecido com ela. Ele me aconselha sempre e, às vezes, eu sinto como se fosse ela me aconselhando através dele. Eu amo o Mark porque ele sempre tira o melhor de mim. Perto dele, eu sempre quero ser melhor. – Meus olhos se encheram de lágrimas ao falar do Mark. – Eu não consigo parar de chorar. – Eu fiz careta, enquanto passava minhas mãos pelos olhos.
- Não tem problema nenhum em chorar. Se você precisa chorar, chore. Ajuda a acalmar o coração. – acariciou o meu braço.
- E o ? Por que você ama o ? – também queria que eu me expressasse a respeito da minha outra opção.
- ... – Eu rolei os olhos. – Ele é tão errado pra mim por tantos motivos, mas... eu sou maluca na nossa história. Eu amo ele porque mesmo com todos os problemas, nós construímos... juntos a melhor história que eu poderia escolher pra viver. Eu amo ele porque ele tem essa habilidade ridícula de fazer com que eu me sinta a garota mais amada de todas em um minuto e a mais idiota de todas no outro. Eu amo o porque quando estou com ele eu sinto como se tivesse 16 anos de novo. Eu gosto disso. – Terminei a frase com um fraco sorriso e mais algumas lágrimas presas nos olhos.
- Ok. Parece que isso não ajudou nada. – fez careta, percebendo que sua tentativa de me ajudar foi um fracasso.
- Tudo bem. – Eu neguei com a cabeça, enquanto sorria pra ele. – Eu amo vocês por tentarem me ajudar. – Olhei para a . – Eu vou ter que tomar essa decisão sozinha e não vou poder demorar muito, porque o voo do Mark sai daqui algumas horas. – Eu afirmei, depois de olhar o horário no visor do meu celular.
- Que horas é o voo? – perguntou. Eu não consegui responder, pois a conversa foi interrompida pelo toque do celular da .
- É a minha mãe. – fez careta. e ela trocaram olhares antes de ela atender a ligação. e eu ficamos em silêncio, enquanto conversava com a mãe pelo celular. Pela cara dela, ela estava ouvindo um sermão.
- Foi muito ruim? – perguntou, assim que a namorada desligou a ligação.
- Não muito. – rolou os olhos. – Ela só estava preocupada. – Ela completou.
- Eu sinto muito por prender vocês aqui. Vocês já deviam ter ido embora há tempos. – Eu me sentei no sofá, me sentindo culpada.
- , não tem problema. – tentou me tranquilizar.
- Tem sim. A mãe da está certa em estar preocupada. – Eu falei mais séria. – Além disso, o e a Brooke devem estar querendo ir embora há tempos também e eu estou prendendo vocês aqui. – Eu me lembrei que o e a Brooke tinham vindo de carona com o .
- Na verdade, eu acho que o não está se importando em ficar um pouco mais aqui. – me olhou como se tivesse algo para me contar.
- Por quê? – Eu fiquei curiosa.
- Ele... está com o Mark. Eu quero dizer... consolando o Mark. – fez careta.
- Ah, meu Deus. – Eu suspirei e em seguida levei uma das mãos até o meu rosto. – Eu vou pro inferno. – Eu neguei com a cabeça.
- Eu já disse pra você parar de se culpar. – me olhou mais séria.
- Essa é uma outra coisa que me preocupa. Eles são irmãos e mesmo eu estando com o Mark, eles conseguiram manter o bom relacionamento. Por que ameaçar isso novamente? – Eu estava tão irritada comigo mesma. – Eu nunca vou me perdoar se eu destruir tudo isso que eles construíram. – Eu desabafei.
- Ei. – se sentou ao meu lado, chamando a minha atenção. – Eles são irmãos. Ninguém pode quebrar esse vínculo. – Ele quis me tranquilizar. – Ok? – esperou que eu concordasse.
- Ok. – Eu disse, depois de respirar fundo. – Certo. Depois dessa sessão de terapia, vocês vão embora. Já são mais de 4 horas da manhã. Eu não quero mais prender vocês aqui. – Eu queria muito que eles ficassem, mas eu precisava pensar neles.
- Você tem certeza? Nós podemos... – começou a dizer, mas eu a interrompi.
- Eu tenho certeza. Vocês já fizeram muito por mim. Acreditem, ajudou muito. – Eu segurei a mão de ambos e sorri para cada um deles, enquanto eu dizia a frase. – Vocês são os melhores do mundo. – Eu completei.
- Somos os melhores, porque você é a melhor. – me abraçou de lado.
- Você promete que me liga se precisar de alguma coisa? – pediu, séria.
- Eu prometo. – Eu afirmei com a cabeça.
- Bom, eu sei que é uma pergunta idiota, mas... você não vai na Reunião de Alunos do último ano amanhã a noite, né? – já sabia a resposta, mas ele só queria ter certeza.
- Eu não tenho emocional pra isso. – Eu neguei com a cabeça. – Vai ser na escola mesmo, né? Eu soube que vai ter até jantar. – Eu disse, me lembrando sobre uma conversa que eu e a tivemos sobre o assunto.
- Vai ter mesmo. Soube que vai muita gente. Mal posso esperar para rever o Peter. – disse, me fazendo gargalhar junto com a .
- Só você mesmo pra me fazer rir, . – Eu ainda estava tentando parar de rir.
- Eu sou muito bom nisso. – ergueu os ombros, se gabando.
- Depois, vocês me contam tudo sobre a Reunião. – Eu pedi.
- Pode deixar. – piscou um dos olhos pra mim.
- Então, eu vou levar vocês até a porta. – Eu me levantei do sofá e os acompanhei até a porta.
- Promete que vai ficar bem? – me olhou com desconfiança. Já estávamos do lado de fora da casa. Ele e estavam de mãos dadas.
- Prometo. – Eu prometi, sem hesitar. – Muito obrigada por ficarem comigo e por terem escutado os meus dramas. Vocês fazem isso desde sempre. – Eu sorri para ambos. – E muito obrigada por se manterem neutros em toda essa história de escolha. Eu sei que vocês têm um favorito. – Eu me aproximei para abraçá-los e fiz isso de uma só vez.
- Independentemente da sua escolha, você tem o nosso total apoio. – beijou o meu rosto.
- Obrigada mesmo. – Eu disse, terminando o nosso abraço coletivo.
- Nos vemos em breve, eu espero. – disse, dando alguns passos para trás. o acompanhou.
- Me liga. – fez o sinal do telefone com uma das mãos.
- Pode deixar! Eu amo vocês. – Eu afirmei com a cabeça. – Façam boa viagem. – Eu desejei, vendo ambos se afastarem. Eles estavam indo na direção da casa do Mark.
- Amamos você. – Eles gritaram antes de acenarem pela última vez.

Nunca foi tão desesperador ficar sozinha. Entrei novamente na minha casa e fechei a porta atrás de mim, encostando o meu corpo nela, enquanto eu olhava para a minha casa. Sem dizer absolutamente nada, devo ter ficado aproximadamente uns 5 ou 10 minutos ali parada, buscando respostas em qualquer lugar. A casa me trazia boas lembranças do Mark, mas também me traziam boas lembranças do . Eu vivi bons momentos ali e não fazia nenhuma ideia de como e com quem seria os próximos momentos que eu viveria ali.

e voltaram para a casa do Mark e tudo estava exatamente como antes. Meg e Brooke dormiam nos sofás da sala e não havia nenhum sinal do e do Mark. Ambos deduziram que os irmãos continuavam juntos. , inclusive, hesitou algum tempo antes de decidir ligar para o . Eles precisavam ir embora e não podiam simplesmente deixar o e a Brooke lá. ligou uma vez para o celular do amigo e não foi atendido. Mesmo se sentindo péssimo, ele teve que tentar uma segunda vez.

- Oi, . – atendeu a segunda ligação do amigo, após ignorar a primeira ligação.
- Desculpa atrapalhar, cara. – fez careta ao olhar para a . Ela acompanhava a expressão no rosto do namorado.
- Tudo bem. – tentou tranquilizá-lo. – Eu ia te ligar mesmo. Achei que tivesse ido embora e me deixado aqui. – Ele brincou.
- Até parece. – afirmou.
- Vocês já estão indo? – deduziu que aquele era o motivo da ligação.
- Estamos se você estiver pronto. – não queria pressionar o amigo. Ele não sabia como estava a situação do Mark.
- Eu... – olhou para o Mark, que afirmou com a cabeça, como se dissesse que ele podia ir embora. – Eu já vou. Me esperem no carro que eu já vou. – Ele disse.
- Está bem. Eu vou acordar a Brooke. – avisou.
- Está bem. Valeu. – concordou.
- Até já. – desligou a ligação. – É pra esperarmos no carro. – Ele avisou a namorada.

e tiveram um pouco de trabalho para acordar a Brooke, pois ela havia bebido um pouco e estava completamente desmaiada no sofá. Depois de algumas tentativas, Brooke conseguiu acordar. Ela foi avisada que eles estavam indo embora e que iriam esperar o no carro. Brooke concordou e mesmo estando um pouco sonolenta, levantou-se do sofá. Eles optaram por não acordar a Meg, que também dormia confortavelmente no sofá. Silenciosamente, , e a Brooke saíram da casa e seguiram até o carro, onde passaram a esperar o .

- Você precisa ir. – Mark disse, depois do irmão desligar o telefonema.
- Eu preciso. – disse em tom de lamentação. – Se você quiser, eu posso... – Ele ia sugerir a hipótese de ficar.
- Não. Está tudo bem. – Mark negou na mesma hora. – Faz horas que você está aqui me fazendo companhia. Você já fez muito. – Ele completou.

- Eu não fiz nada. – negou com a cabeça. Ele levantou-se do chão. – Vamos. – Ele disse, estendendo a mão na direção do irmão. Mark o olhou e segurou a mão do irmão, que o puxou, colocando-o de pé. – Levanta essa cabeça, cara. – deu alguns tapinhas no ombro do irmão.
- Eu vou. – Mark sorriu pro irmão, agradecido com a preocupação do mesmo.
- Então, é agora que nós nos despedimos, certo? – sabia que não teria como evitar aquele momento constrangedor. O Mark ainda viajaria no dia seguinte e eles tinham que se despedir.
- Eu acho que sim. Você não vai chorar, vai? – Mark brincou, arrancando um sorriso do irmão.
- Eu estou me segurando bastante agora. – ironizou, colocando sua mão no coração.
- Idiota. – Mark gargalhou.
- Babaca. – devolveu o insulto, estendendo a mão. Mark apertou a mão do irmão e ambos se aproximaram para um abraço. – Se cuida, irmão. – Ele pediu em meio ao abraço.
- Você também. – Mark deu alguns tapinhas na costa do irmão.
- Você não vai desaparecer, vai? – tinha receio do irmão acabar se afastando por causa da distância.
- Não. Eu vou te ligar sempre que der. – Mark terminou o abraço para poder voltar a olhar no rosto do irmão.
- É bom ligar mesmo. – apontou o dedo na direção do irmão em tom de ameaça. – Se precisar da minha ajuda pra chutar uns traseiros belgas, é só me chamar. – Ele não conseguiu evitar a risada.
- Claro! Pode deixar. – Mark voltou a rir.
- Ah, eu já ia me esquecendo. – colocou uma das mãos no bolso de sua calça. – Eu tenho uma coisa pra você. – Ele entregou para o irmão um pequeno embrulho.
- Ah... não. Não acredito que você realmente está fazendo isso. – Mark negou com a cabeça, pois sabia que o gesto do irmão o tornaria um pouco mais vulnerável.
- Abra. – pediu. Mark abriu o pequeno embrulho. Olhou para o irmão quando um viu que tratava-se de um cordão. esperou que o irmão abrisse o cordão e visse o que estava dentro dele. – O que tem aqui dentro? – Ele perguntou, tendo um pouco de dificuldade de abrir o cordão. Quando abriu, deparou-se com uma foto atual sua e do . Eles haviam tirado a foto em um jogo do Yankees que eles tinham ido há alguns meses. – Uau. – Ele ficou visivelmente tocado com o gesto do irmão.
- Eu sei que você também tem aquele outro cordão do Steven, mas... nas fotos daquele cordão nós nem sabíamos da existência um do outro. Na foto desse novo cordão, nós já éramos irmão, certo? – ficou muito sem jeito ao tentar explicar o seu presente.
- Eu adorei, cara. – Mark fez questão de dizer.
- Não precisa nem usar se você não quiser. Eu só... – continuava sem graça.
- É claro que vou usar! – Mark disse em tom de bronca.
- Está bem, mas se você disser pra alguém que fui eu que te dei isso, eu vou negar até a morte. – falou sério, arrancando um novo sorriso do irmão mais velho.
- Eu não vou dizer. – Mark negou com a cabeça.
- Ok, agora que já atualizamos os momentos constrangedores entre irmãos, eu vou embora. – apontou na direção da porta. – Que horas é o seu voo mesmo? – Ele perguntou, antes de começar a se afastar.
- 1 hora da tarde. – Mark disse.
- Certo. Então, boa viagem. – deu alguns passos para trás.
- Obrigado. – Mark agradeceu e logo depois viu o irmão virar-se de costas e dar alguns passos na direção da casa.

Enquanto Mark observava o irmão se afastar, ele pensava sobre tudo o que havia acontecido naquela noite e, principalmente, na amizade e vínculo que eles haviam construído depois de muito esforço. Mark deixou de olhar para o irmão por um momento e encarou novamente a foto que estava naquele cordão. Um sorriso surgiu no canto do rosto dele, enquanto ele se dava conta do que ele já sabia há tempos: aquela irmandade entre eles era muito mais importante do que qualquer outra coisa no mundo.

- Ei, ! – Mark gritou antes que o irmão passasse pela porta. parou de andar e virou-se para trás. Ele começou a andar na direção do irmão mais novo e também foi na direção do irmão.
- O que foi!? – perguntou, sem entender.
- Eu preciso dizer uma coisa. – Mark ainda não sabia muito bem como dizer o que ele queria dizer.
- Estou te ouvindo. – afirmou com a cabeça, deduzindo que era algo sério.
- Eu quero que você saiba que... – Mark hesitou por um momento. – Não importa o que aconteça. Nós sempre vamos ser irmãos. Você sempre será o meu irmão. – Ele enfatizou bastante a última frase.
- Eu... sei. – estava um pouco confuso.
- Eu sei que... estaremos um pouco distantes agora e que muita coisa pode acontecer nesse tempo. – Mark estava um pouco tenso naquele momento e havia percebido. – Eu quero que você seja feliz. Não importa as circunstâncias. Eu só quero que você seja feliz. – Ele afirmou e demonstrou ser muito sincero em cada palavra.
- Por que você está me dizendo isso? – estava até um pouco assustado.
- Olha, eu estou indo pra Bélgica daqui a pouco e, talvez, você tenha que tomar algumas decisões difíceis e eu não vou estar aqui pra te dizer isso. – Mark aos poucos foi se acalmando.
- Ok. – ainda não sabia sobre o que o irmão estava falando, mas estava disposto a ouvir.
- Se você precisar tomar alguma decisão, eu quero dizer... qualquer decisão e, por um momento, você questionar a minha opinião sobre ela, apenas pergunte pra se mesmo... se isso vai te fazer feliz. Se a resposta for sim... – Mark sorriu. – Eu vou estar feliz também. Você entendeu? – Ele queria ter certeza de que o tinha entendido.
- Eu acho que sim. – continuava confuso, mas havia entendido o que o irmão tinha dito.
- Se vai te fazer feliz, faça! Ok? Nada vai mudar entre nós. Nada vai mudar o que está dentro desse cordão. – Mark mostrou o cordão. – E se eu descobrir que você fez diferente disso, eu juro por Deus que vou voltar pra esse país e vou matar você. Estou falando sério. – Ele disse em um tom ameaçador.
- Você estava se declarando e agora está me ameaçando? Sério? – abriu os braços.
- Entendeu ou não entendeu? – Mark continuou sério.
- Eu entendi! – afirmou, irritado. – Então, obrigado... eu acho. – Ele agradeceu mesmo sem entender sobre o que tratava-se aquela conversa.
- Agora você pode ir. – Mark afirmou com a cabeça.
- Você é estranho, cara. – fez careta ao olhá-lo.
- Cale a boca. Eu te levo até a porta. – Mark manteve-se sério.

Mesmo sem entender nada sobre aquela última conversa, não ficou muito preocupado com o assunto. Na verdade, ele nem ficou pensando mais sobre o assunto. Os irmãos seguiram até a porta e ao ver , e Brooke no carro, Mark foi até eles, pois queria se despedir. Todos desceram do carro e abraçaram o anfitrião e desejaram boa viagem e boa sorte. Apesar de serem meus amigos, Mark tinha muito carinho por todos eles. Ele gostava de pensar que também fazia parte daquele grupo de amigos tão incrível.

- Vejo você qualquer dia desses, Markey. – despediu-se novamente do irmão, só que mais rapidamente.
- Até qualquer dia. – Mark rolou os olhos ao ouvir o irmão chamando-o por aquele apelido mais uma vez.
- Não esquece que a Meg está morta no seu sofá. – avisou, já de dentro do carro.
- Eu vou acordar ela. – Mark riu com o comentário do .
- Manda notícias. – gritou, quando o carro começou a se movimentar.
- Foi bom te conhecer. – Brooke também gritou.

Umas das decisões mais difíceis da minha vida e eu não sabia nem por onde começar a tomá-la. Agora que eu estava sozinha, tentei chegar a uma conclusão. Tentei mensurar meus sentimentos pelo e pelo Mark e eu simplesmente não conseguia tomar uma decisão. Quando eu finalmente achava que conseguiria escolher um deles, saber que eu teria que me afastar do outro me fazia recuar novamente. Talvez, fosse tão difícil escolher porque a consequência dessa escolha me faria perder definitivamente um deles e eu não estava pronta para isso. Eu não queria perder mais ninguém.

Exausta de tanto pensar, chorar e sofrer por aquele assunto, subi até o meu quarto e deitei na minha cama. Fiquei encarando o teto como se a qualquer momento ele fosse me mostrar o caminho certo, como se ele fosse me dizer o que eu mais precisava ouvir naquele momento. Confesso que mais de uma vez, cheguei à conclusão de que o Mark era a minha melhor escolha. Não só pelo que eu sentia por ele, mas pelas circunstâncias em que nos encontrávamos. já tinha superado o nosso término. Ele estava feliz. Por que mexer nessa ferida? Mark e eu já estávamos juntos. Talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam. Eu estava feliz, certo? Mark me fazia muito feliz.

Ainda ciente de tudo isso, havia algo dentro de mim que ainda lutava pelo . Eu não sabia o que era. Eu não sabia que força era essa, mas ela era forte o bastante para me fazer repensar a minha decisão. Isso estava me matando.

Acabei adormecendo ali mesmo. Sem nem trocar a roupa. Minha cabeça estava implorando por descanso e o meu coração precisava de um pouco de sossego para se recuperar. Acabei dormindo por quase 6 horas direto. Acordei um pouco assustada quando vi que o dia já havia amanhecido. Quando confirmei que ainda faltava 4 horas para que o Mark embarcasse para a Bélgica, fiquei um pouco mais aliviada, mas não menos preocupada. Meu tempo estava acabando e eu ainda não tinha tomado a decisão que mudaria toda a minha vida.

Levantei da cama e me obriguei a entrar no chuveiro, depois de ver no espelho a minha expressão de ressaca. Eu não tinha bebido nada, mas parecia que eu tinha tomado todo o estoque de bebida do mundo. Eu estava péssima. Apesar do frio, entrei no banho sem hesitar. Eu só queria que toda aquela água levasse toda a angústia que eu estava sentindo. Independentemente da minha decisão, o dia seria muito triste, pois aquele seria o dia que o Mark viajaria. Eu o perderia naquele dia de qualquer forma, eu só não sabia se era temporário ou se seria para o resto da vida. Ficar sem ele doía muito, pois ele era alguém com quem eu convivia diariamente. Nós fazíamos absolutamente tudo juntos. Eu não estava pronta para me despedir dele.

A água do chuveiro ainda caia sobre a minha cabeça, quando algumas memórias vieram a tona. Eu me lembrei do dia que eu conheci o Mark ali mesmo naquela casa. Eu achei ele lindo na mesma hora, mas nunca imaginei que um dia descobriria que ele era ainda mais lindo por dentro. Eu me lembrei de quando ele foi me buscar, quando eu me perdi em um dos lugares mais perigosos de Nova York. Eu lembrei de quando ele me levantou e me trouxe de volta a vida, depois que eu e o terminamos. Eu lembrei daquela aliança que ele deixou guardada na gaveta, pois não tinha tido a oportunidade de me dar, mas que hoje, estava ali no meu dedo. Eu lembrei do fato de ele ter me salvado no momento mais difícil da minha vida. Eu me lembrei das nossas danças estúpidas. Eu lembrei da felicidade dele quando me viu pela primeira vez, depois de descobrir que eu ficaria com ele e não com o . Eu lembrei de quando ele me implorou para tirar o seu sangue para que ele salvasse o seu irmão e a sensação de não sentir mais a mão dele apertando a minha mão, quando ele desfaleceu diante dos meus olhos. Eu lembrei dos nossos lanches no capô do meu carro.

Minhas lágrimas se misturaram com a água que saia do chuveiro, mas elas não me impediram de buscar memórias do outro cara que eu amava. A redação que ele fez sobre mim na aula de sociologia e os momentos que passamos juntos no lugar onde só eu e minha avó frequentávamos. Eu me lembrei de todos os anos que ele esperou por mim sem que eu desse sequer um pouco de esperança. E quando já estávamos juntos, todas as dificuldades e lutas pelas quais passamos para continuarmos juntos. Eu lembrei de ter me apaixonado por ele duas vezes e mesmo sem fazer ideia do porquê, eu sabia que me apaixonaria mais 500 vezes se pudesse. Eu lembrei do orgulho que eu sentia ao vê-lo jogar em cada partida de futebol na escola e de todos os gols que ele dedicava pra mim diante da escola toda. Eu lembrei das músicas que compartilhamos juntos e das lágrimas que ele secou em meu rosto no dia do meu último baile da primavera. Eu me lembrei da noite em que nos reencontramos em Nova York e da sensação incrível de vê-lo novamente. Eu lembrei de quando ele me contou todos os planos que ele tinha pra nós, quando ele estava prestes a morrer, depois de levar um tiro para salvar a vida do meu pai.

Aquela tomada de decisão estava sugando tudo ao me redor. Eu não sabia mais o que fazer. Terminei o banho e com a toalha, sequei a água e as lágrimas que eu já havia derramado. Coloquei uma roupa quente e um jeans (VEJA AQUI), pois sabia que independente da minha decisão, eu teria que sair para encontrar o Mark. Ele teria que saber da minha decisão antes de entrar naquele avião. Penteei e sequei o cabelo e permaneci sentada na minha cama. Já era 11 horas e eu precisava tomar uma decisão.

Depois de dormir muito pouco durante a noite, Mark já tinha se arrumado e estava apenas guardando as últimas coisas dentro da sua mala. Meg tinha dormido a noite toda e ele estava apenas esperando a hora de ir para o aeroporto para acordá-la e se despedir. Ele havia cogitado mais de 10 vezes ir até a minha casa para se desculpar, mas ele tinha medo da minha reação. Ele tinha medo de ser tratado mal, depois de tudo o que ele havia me dito. Mark sabia que pegou pesado e estava ciente das consequências. Ele respeitaria o meu espaço e me deixaria no controle de tudo. Se eu quisesse conversar, eu iria até ele. Mesmo tendo ciência de tudo o que ele precisava fazer, o medo de entrar naquele avião sem se despedir de mim era enorme.

Com aparentemente tudo pronto para a viagem, Mark acordou a sua melhor amiga. Ela acordou um pouco assustada, mal sabia onde estava. Quando viu o Mark, ela lembrou de tudo o que tinha acontecido. Ela lembrou que ele ia viajar naquele dia e mesmo com ressaca, ela sabia que era o último dia que viria o seu melhor amigo nos próximos meses. Meg chorou abraçada ao Mark tudo o que havia segurado nos últimos dias. Ele disse que estava tudo bem, mas ela não parava de se desculpar por não ter ficado ao lado dele na noite passada.

- Escuta, vamos nos falar sempre. Eu prometo! Nós podemos usar o Facetime sempre que você quiser. – Mark quis consolá-la. Obviamente, ele também estava muito triste, mas ele tinha que se manter forte por ela. Alguém tinha que ser forte.
- Você vai voltar, não é? Você vai vir me ver? – Meg perguntou, engolindo o choro.
- É claro que eu vou! E eu consigo ficar muito tempo longe da minha melhor amiga? – Mark disse, conseguindo arrancar um sorriso dela.
- Para de ficar me fazendo rir. Eu estou triste e... de ressaca. – Meg fez bico.
- Eu notei. – Mark riu, sem emitir qualquer som.
- Você precisa de ajuda com a mala? – Meg perguntou, mantendo-se séria.
- Não. Já está pronta. – Mark mostrou a mala.
- Eu tinha planejado ir com você ao aeroporto, mas eu acho que não vou conseguir. Eu não consigo parar de chorar. – Meg disse, limpando as lágrimas de seu rosto.
- Eu sei. Não precisa ir. Eu até prefiro. Essa coisa de despedida é muito difícil. Eu quero evitar, sabe? – Mark foi sincero.
- Ok. Então, eu... – Meg apontou na direção da porta. – Eu não quero te atrasar. – Ela completou com os olhos marejados.

Meg deu um último abraço apertado em seu melhor amigo, beijou o seu rosto e saiu da casa sem olhar para trás. Ela se comportava dessa maneira quando ficava muito triste com alguma coisa. Ela apenas se retirava. Ela não gostava muito de demonstrar fraqueza e ela também não queria deixar o Mark ainda pior do que ele estava. Meg saiu da casa do melhor amigo e seguiu andando até determinado ponto. Quando chegou na avenida mais próxima, ela ligou para que a mãe fosse buscá-la.

Ainda se recuperando da despedida da sua melhor amiga, Mark fechou a sua mala e despediu-se rapidamente da casa. Não era um adeus. Ele sabia que voltaria, mas ainda não tinha certeza de quando. O taxi que ele havia pedido já tinha chegado há uns 3 minutos. Da minha casa, eu pude ouvir a buzina. Sentada na minha cama, eu sabia do que se tratava. Eu sabia que ele estava indo embora. Meus olhos se encheram de lágrimas e a tristeza que eu senti no peito era indescritível. Fechei meus olhos no momento em que eu ouvi a porta do taxi ser batida. Sofri em silêncio, enquanto ouvia o taxi levando o meu vizinho mais querido. Quando voltei a abrir os olhos, olhei para a nossa foto no meu porta retrato em cima do criado-mudo. O peguei nas mãos e o coloquei sobre a cama. Me inclinei novamente para abrir a última gaveta do mesmo criado mudo. Embaixo de algumas peças de roupa, peguei uma foto minha e do que eu havia guardado. As duas fotos foram colocadas lado a lado e eu não pude deixar de notar o quanto eu parecia feliz em ambas.

Eu já havia tentado de tudo para saber qual deles escolher. Olhando para ambas as fotos em cima da minha cama, eu cheguei à conclusão de que não conseguiria tomar aquela decisão sozinha. Eu sabia exatamente a quem recorrer. Era a minha última opção sim, pois eu não queria preocupar mais ninguém com aquilo, mas eu sabia que seria a opção mais eficiente de todas. Não só porque ela já tinha passado pela mesma situação que eu, mas porque ela havia tomado a decisão certa. Eu iria recorrer a minha mãe.

Era sábado de manhã e havia a possibilidade da minha mãe estar trabalhando, mas isso não me impediu de seguir em frente na minha busca por ajuda. Ainda sentada na minha cama, peguei o meu celular e disquei o número dela. A primeira ligação caiu na caixa postal, mas insisti. Eu liguei pela segunda vez e depois de chamar 3 ou 4 vezes, a ligação foi atendida. Só ouvir a voz da minha mãe foi muito reconfortante. Antes de dizer qualquer coisa, senti o peso no meu coração diminuir. Eu tinha certeza que ela me ajudaria a encontrar a resposta que eu tanto precisava.

- ? – Minha mãe me chamou, pois eu estava muda.
- Mãe. – Eu finalmente consegui dizer qualquer coisa.
- , o que aconteceu? – Minha mãe percebeu na mesma hora que tinha alguma coisa errada. Só pela voz! Mãe é mãe, né?
- Mãe, eu preciso da sua ajuda. – Eu tentei engolir o choro para não deixá-la mais preocupada. – Você é a minha última chance. – Eu implorei por ajuda.
- Calma, filha. Me fala o que está acontecendo. – Minha mãe se mobilizou na mesma hora.
- Eu não queria te ligar, porque não queria te deixar preocupada, mas eu não sei mais a quem recorrer. – Eu fui me acalmando ao telefone. – Você já esteve no meu lugar e vai saber como me ajudar. – Eu completei.
- Se acalma, está bem? Eu preciso que você se acalme e me conte o que está acontecendo. – Minha mãe estava com o coração saindo pela boca. Ela não sabia do que se tratava.
- Você sabe... o Mark está indo pra Bélgica hoje por causa do trabalho. – Eu comecei a contar.
- Eu sei! Aliás, o seu irmão foi ontem para a festa de despedida. – Minha mãe mostrou que estava informada.
- Sim! Ontem teve a festa e... o veio. – Eu hesitei por um momento. – Eu e o Mark acabamos brigando. Ele achou que eu... ainda sentia alguma coisa pelo . – Eu completei com um pouco de receio de ser julgada pela minha mãe.
- E você sente. – Minha mãe deduziu o óbvio.
- Eu sinto. Eu não queria sentir, mas eu sinto. – Eu fui sincera. Ela precisava saber de tudo ou não saberia como me ajudar. – Eu amo ele, mãe, mas... eu amo o Mark também. – Eu finalmente disse o problema. – Agora, o Mark está indo pra Bélgica e eu não sei o que fazer. Eu o esperaria quanto tempo fosse necessário, mas eu não quero prendê-lo sem ter certeza de que é com ele que eu realmente devo ficar. – Eu voltei a ficar nervosa. – E o , ele está namorando com outra pessoa e ele parece feliz. – Eu completei.
- Querida, a primeira coisa que você deve fazer é parar de se culpar. Isso só vai dificultar as coisas pra você. – Minha mãe falou com a maior serenidade de todas. – Você ama os dois e está tudo bem. Você pode confiar em mim. – Ela completou.
- Você também amava os dois, não é? O Steven e o meu pai. – Eu deduzi.
- Eu amei e, por isso, eu posso te afirmar... você não está maluca e nem é uma má pessoa por causa disso. – Minha mãe estava tentando me acalmar.
- Se você amava os dois, como você conseguiu escolher entre eles? Quer dizer, isso está acabando comigo. – Eu estava novamente pedindo ajuda.
- Eu me dei conta de que eu amava os dois, mas não da mesma maneira. – Minha mãe afirmou.
- É exatamente assim que eu me sinto. Eu amo os dois, mas o amor que eu sinto por um é completamente diferente do que eu sinto pelo outro. Nem menos, nem mais. Apenas... diferente. – Eu reconheci a coincidência.
- Eu sei exatamente o que você está dizendo. – Minha mãe afirmou na mesma hora.
- Então, você sabe que é muito difícil escolher. É muito difícil deixar um deles ir. – Eu disse com a voz embargada.
- Eu sei, querida, mas você precisa escolher. Você precisa deixar um deles seguir com a sua vida. – Minha mãe me disse o que eu já sabia, mas doía ouvir.
- Mas qual deles, mãe? – Eu perguntei aos prantos. – Você fez a escolha certa. Você escolheu o meu pai. Como eu faço isso? Como eu posso saber qual deles é o certo? – Eu precisava que ela me mostrasse a luz no fim do túnel. – Eu não sei o que fazer. – Era a minha última chance de tomar a decisão certa.
- Eu não posso te dizer qual deles escolher, mas eu sei como te ajudar a fazer isso. Eu só preciso que você se acalme e me escute. Eu vou te dizer exatamente o que você vai fazer e quando você fizer, você vai saber qual deles é o certo. – Minha mãe disse tudo o que eu precisava ouvir. Meu coração foi se acalmando. Eu estava disposta a fazer qualquer coisa para tomar a decisão certa. Eu precisava saber se eu teria que esperar pelo Mark ou se eu teria que lutar pelo . </p>









EM BREVE, O ÚLTIMO CAPÍTULO







Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


6 comentários:

  1. Nem acredito que será o último capítulo, muito ansiosa para o mesmo.Parabéns pela história tão envolvente.

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  2. Por causa de uma briga ta tendo esse rebuliço todo? Eu hein kkkk
    Mas to gostando, eu quero um Mark pra minha vida
    Acho q a personagem ta em um momento diferente sabe, ela cresceu e quer estabilidade emocional, tanto ela quanto o Jonas na vdd e eu acho q talvez tenham percebido que eles não eram estáveis, ainda era um romance meio imaturo de ensino médio mas eles não são mais adolescentes e por isso essa relação não cabe mais... Pelo menos é como eu vejo
    Eu vi um texto uma vez que dizia que se você ama duas pessoas então escolha a segunda, pq se amasse de vdd a primeira então a segunda nem seria cogitada. A primeira opção sempre foi o Jonas e então ela passou a enxergar uma outra opção que é o Mark e em como antes de tudo eles eram/são amigos, eles podem não ter nascido da relação de amor e ódio e de se completarem mas eles somam as qualidades que tem juntos, eles transbordam as coisas em comum e as vezes isso é mais importante.
    Como fã dessa fic eu vou gostar de qualquer final que você der a essa história mas seria interessante como a narrativa poderia surpreender dando um final que ninguém esperava, algo como La La Land, duas pessoas que se amam, se respeitam, amadureceram juntas mas que reconhecem que seguiram por caminhos diferentes, aquela conexão que podem sempre contar um com o outro mas que a melhor decisão para ambos foi não ser um casal. O Jonas tem um amor meio platônico pela personagem - (não consigo mais me ver na história, é como um livro e diria que você deve publicar um dia pq é muito bom) - e ele ta experimentando um amor mais realista com a Brooke, acho que vale a pena investir nesses dois casais.
    Acabei escrevendo muito, espero que leia e considere minha opinião e parabéns por esse trabalho incrível que venho acompanhando há mais de 5 anos acho haha

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  3. Mds
    Medo do final. Gente o Jonas é o Jonas...quero morrer agr
    AhhhhAhhhhhhh que raiva

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  4. Ansiosa nem descreve como estou para o ultimo capitulo, uma parte de mim pensa que talvez o melhor seria a pp com o Mark devido a como essa relação se desenvolveu, mas quando lembro do Jonas, nossa é uma história tão bagunçada mais ou mesmo tempo tão cheia de amor, todas gostariam de ter um Mark na vida com certeza, mas o Jonas é o Jonas, tenho certeza que o final será incrivel, você escreve muito bem, por mim ja faria um livro dessa história sensacional <3

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  5. Muito bom! Capítulo perfeito. Eu acho que ela amadureceu muito e o Jonas também. Eles se amavam mas não eram maduros pra lidar com uma relação. Agora eles são. O Mark é uma boa pessoa mas nunca me pareceu o certo pra ela sabe?! kkkkkk Enfim, muito ansiosa pra o último capítulo, já sei que estará ótimo. Parabéns pela escrita fantástica!!! ♡

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